Este é o texto inicial de uma trilha de conteúdos sobre esquerda e direita. Veja os demais textos desta trilha: 1 – 2 – 3 – 4
Explicar a política envolve necessariamente abordar o que são a direita e a esquerda políticas. Esses termos são usados extensivamente nas discussões políticas. Enquanto a maioria das pessoas não saberia explicar o que significam – muitos até confundem esquerda e direita com situação e oposição! -, aqueles que acompanham o cotidiano da política já podem ter formado algum entendimento sobre o que representam. Mas quantas pessoas realmente entendem o seu significado?
As posições políticas costumam ser rotuladas como de extrema esquerda, esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, direita e extrema direita. Nas pontas do eixo encontramos ideias radicais e ideologias extremistas e que, portanto, acabam sendo pouco populares entre os eleitores. As posições mais centristas – como a centro-esquerda e a centro-direita – são as que possuem maior apelo eleitoral e formam a maioria dos governos democráticos do mundo. Geralmente, o centro representa algum tipo de sincretismo das ideias de esquerda e direita e pode se apresentar como uma “terceira via”. Assim, consegue dialogar com eleitores de ambos os lados do eixo.
O eixo esquerda-direita é usado constantemente para designar posições políticas. É um eixo que vai
da extrema esquerda à extrema direita passando por diversos graus. Elaboração do autor.
No discurso político cotidiano de democracias liberais, como o Brasil e a maior parte do mundo ocidental, o eixo esquerda-direita contrapõe socialistas das mais diversas vertentes na esquerda e conservadores e liberais na direita. Mas é importante compreender que não é factível resumir todas as posições políticas somente a um eixo esquerda-direita. O uso de um eixo como este para designar posições políticas pode ser simples e conveniente para o cotidiano, mas está longe de refletir toda a realidade. É muita presunção querer reduzir um assunto tão complexo e multifacetado como a política a apenas um eixo, rotulando todas as ideias e pessoas apenas como “direitistas” ou “esquerdistas”.
O espectro que vai da esquerda à direita tem um significado muito mais restrito do que geralmente se imagina. Para se ter uma ideia de como as designações de esquerda e direita são limitadas, basta notar que pensamentos políticos diferentes e antagônicos entre si podem compartilhar o mesmo lado do eixo, como por exemplo a social democracia e o comunismo soviético na esquerda e o conservadorismo e o libertarianismo individualista no lado direito.
Há ainda filosofias políticas que existem em ambos os lados do eixo, como o anarquismo e o libertarianismo. Devido à grande abrangência do eixo esquerda-direita, é uma tarefa desafiadora encontrar definições conceituais e identificar valores comuns que se apliquem a toda a esquerda e a toda a direita, mas ainda assim é possível estabelecer algumas bases filosóficas comuns, como veremos mais adiante.
Infelizmente, a complexidade do cenário político não impede que as pessoas tratem a esquerda e a direita como ideias políticas consolidadas e que disputam entre si numa espécie de competição entre dois times de futebol rivais jogando um clássico na final do campeonato brasileiro. Existe a ideia errada de que a esquerda e a direita são compostas por duas massas homogêneas de pessoas que compartilham das mesmas ideias e valores. Isso não poderia estar mais longe da realidade! A história mostra que muitos dos conflitos políticos mais acirrados se deram dentro do mesmo lado do eixo e criaram inúmeras variações dos pensamentos políticos originais.
E será que o anarquismo é de esquerda ou direita? Confira no vídeo!
É claro que este cenário de antagonismos e polarização política resulta em muita propaganda falsa, mentiras, boatos e táticas sujas. Cada um tenta puxar a brasa para a sua sardinha, colocando todas as virtudes no seu terreno e todos os defeitos no do outro. Quem não concorda com as ideias de um dos lados ganha apelidos e xingamentos ideológicos; ambos os lados acusam o outro de intolerância, mas também são intolerantes. Esse ambiente polarizado e por vezes radical cria muitos mitos, falácias e preconceitos sobre o que cada lado significa e representa. Então vamos tentar desmascará-los.
MITOS E PRECONCEITOS SOBRE ESQUERDA E DIREITA
“Extremos à direita e à esquerda de qualquer disputa política estão sempre errados.” – Dwight Eisenhower (1890 – 1969), general e presidente dos Estados Unidos
Existem muitas ideias pré-concebidas e mitos sobre o que significam e o que representam a esquerda e a direita políticas. Enquanto o leitor não superar esses paradigmas, não conseguirá entender de maneira objetiva as propostas das correntes de pensamento político que existem de cada lado. Algumas destas ideias e mitos são:
Tabela com alguns exemplos de preconceitos e mitos sobre o que significam esquerda e direita na política. Elaboração do autor.
Enquanto algumas destas ideias podem se aplicar para alguns elementos extremistas de ambos os lados, na maior parte das vezes são visões erradas e fruto de propaganda dos adversários. Ao mesmo tempo, as caraterísticas comuns aos dois lados do eixo são muito mais frequentes do que um partidário gostaria de admitir. Em ambos os lados existem intolerantes, ideias autoritárias, ataques a grupos específicos da sociedade, corrupção, táticas sujas e assim por diante.
Além disso, num sistema democrático onde todos votam e no qual a maioria da população é pobre ou de classe média, não é sustentável uma proposta política que seja contra a maior parte da população ou defenda abertamente o fim do próprio regime democrático.
Portanto, é muito mais justo afirmar que tanto direita quanto esquerda, em sistema democrático, desejam a continuação da democracia e a melhoria das condições de vida das pessoas mais pobres. Mas os caminhos propostos para se chegar até lá de fato podem ser bem diferentes – como veremos na continuação desta trilha.
No próximo texto, vamos começar a compreender o que são esquerda e direita, analisando a origem histórica desses termos.
Nota: este conteúdo foi extraído e adaptado do Livro Urgente da Política Brasileira. Baixe o eBook gratuito agora mesmo para ficar por dentro dos principais conceitos da política!
7 comentários em “Esquerda e direita: mitos e preconceitos”
[…] Esquerda x direita: veja alguns mitos e preconceitos […]
Muito interessante mas não consegui ir para o próximo nem baixar o ebook
Muito bom.
Esquerda e direita são termos complexos, não homogêneos, mas que, se tratando de um pensamento vigente na história do Brasil, ideais conservadores, autoritários e colonizadores, estiveram, em suma, ligados à direita. Há, por parte das esquerdas, uma maior representatividade quanto à grupos excludentes.
Obrigado pelo material e por manterem aberto o espaço de comentários para o contraditório. Ao contrário dos portais de notícias que gostam mesmo do modelo rádio e tv, com uma sentindo único, e retiraram as seções dos comentários.
Na verdade, não. O conceito pode ser simplificado sem cair em erro. Esquerda é o espectro político e social que defende a redução ou eliminação da desigualdade social. Todo o resto é desdobramento deste princípio.
Paz e bom dia. Apenas uma opinião, óbvio! Não concordo que seja mito as frases que distinguem as duas correntes, e não creio que estou sendo, totalmente raso, ao dizer isto: Claro que o estudo profundo norteia de forma mais claro correntes políticas, mas é válido, no meio comum, as pessoas dizerem o que está em sua tabela (e não vai significar ignorância nem inverdade), e nem tudo é mito, como você escreve. Em se falando de maioria numérica (no Brasil) as frases que o autor considera mito são verdades: Tanto as positivas quanto as negativas. Sim a esquerda, em sua maioria, tende a ser amiga dos mais pobres e necessitados e apoia minorias de classe. E sim a direita tende a apoiar os ricos e os abastados empresários. O conceito anterior serve, em parte, para ideia do “apoiado por…”. Outro item é a representação: povo x capitalistas. Está ideia é óbvia e didaticamente demonstrada em nosso país quanto a esta representação, clara e transparente? Não, mas óbvia em sua maioria de atos e fatos.