O que é a Semana Farroupilha?

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É durante a Semana Farroupilha que a “gauderiada” se reúne para participar de atividades como desfiles, apresentações de danças e músicas tradicionais, preparação de pratos típicos da culinária gaúcha, entre outras celebrações. É o que diz a Lei 4.850 de 1964 do governo do estado do Rio Grande do Sul, que estabelece que a Semana Farroupilha compreende o período que vai do dia 14 até o dia 20 de setembro.

A palavra “gauderiada” está relacionada ao termo “gaúcho” e é usada de forma carinhosa e informal para descrever um conjunto de pessoas que compartilham um interesse comum na cultura, nas tradições e nas festividades do Rio Grande do Sul. Apesar da referência direta à Revolução Farroupilha, a Semana Farroupilha é uma manifestação diversificada da cultura local rio-grandense.

Apesar da lei, atualmente, os festejos da Semana Farroupilha iniciam no dia 7 de Setembro e terminam no domingo posterior ao 20 de Setembro.

O que é comemorado na Semana Farroupilha?

Os festejos da Semana Farroupilha e o 20 de Setembro se tornaram, com o passar dos anos, uma comemoração ampla e democrática que celebra diversos aspectos e desafios enfrentados por gaúchos e gaúchas, sem se limitar à Revolução Farroupilha.

Veja também: Guerra dos Farrapos: revolução ou revolta?

Um exemplo disso é o tema escolhido pela Comissão Estadual dos Festejos Farroupilhas para as festividades de 2023: o centenário da Revolução de 1923, ocorrida quase 80 anos depois da Revolução Farroupilha.

Quem organiza os festejos da Semana Farroupilha?

Os festejos oficiais reúnem não somente Centros de Tradição Gaúcha (CTGs) e o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), mas diversas instituições estaduais e segmentos sociais que participam ativamente das celebrações. A lei que oficializa a Semana Farroupilha é atualizada de tempos em tempos para especificar quais entidades devem organizar os festejos. A atualização mais recente é de janeiro de 2023.

O Art. 2º está em vigor desde 2005 e diz que “organizarão as festividades da Semana Farroupilha a Secretaria da Educação, a Secretaria do Turismo, Esporte e Lazer, a Secretaria da Cultura, a Brigada Militar, a Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, o Movimento Tradicionalista Gaúcho e a Associação dos Piquetes do Parque da Estância da Harmonia e do Estado do Rio Grande do Sul”.

A lei convida outras entidades a participar das atividades, como escolas de 1º e 2º graus das redes estadual, municipal e particular de ensino, e entidades associativas, particulares, culturais e desportivas.

Em resumo, o MTG é a entidade que orienta, regula e coordena o movimento tradicionalista em larga escala, enquanto os CTGs são as células locais que implementam essas orientações e mantêm as tradições vivas no cotidiano das comunidades.

O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) na Semana Farroupilha

Para entender o papel do MTG na Semana Farroupilha, primeiro vamos conhecer a formação do MTG, que possui várias versões. Esta é a que encontramos na página do movimento:

A história do Movimento Tradicionalista Gaúcho pode ser contada a partir de vários momentos. Alguns reconhecem como ponto de partida a fundação do Grêmio Gaúcho, por Cezimbra Jacques, em 1889. Outros, a ronda gaúcha, no Colégio Júlio de Castilhos, de 1947. Ainda há quem defenda como marco inicial a fundação do 35 CTG, em abril de 1948 ou a realização do 1º Congresso Tradicionalista Gaúcho, em 1954, ou, ainda, a constituição do Conselho Coordenador, em 1959. Tenho comigo que, seja qual for o ponto de partida, o importante é que, em 1966, durante o 12º Congresso Tradicionalista Gaúcho realizado em Tramandaí, foi decidido organizar a associação de entidades tradicionalistas constituídas, dando-lhe o nome de Movimento Tradicionalista Gaúcho, o MTG.

O MTG é a entidade máxima que coordena e regulamenta o tradicionalismo gaúcho não apenas no Rio Grande do Sul, mas também em outras regiões do Brasil onde há comunidades gaúchas. Ele estabelece normas, diretrizes e orientações para as atividades culturais, educativas e recreativas ligadas à tradição gaúcha. Portanto, desempenha papel central na Semana Farroupilha.

Os Centros de Tradição Gaúcha (CTGs) na Semana Farroupilha

Os CTGs são as unidades locais onde a cultura e as tradições gaúchas são praticadas no dia a dia. Eles funcionam como clubes ou associações que reúnem pessoas interessadas em manter vivas as tradições gaúchas. Cada CTG tem certa autonomia para organizar eventos, atividades culturais e programas voltados para a sua comunidade.

Durante a Semana Farroupilha, os CTGs, seguindo as diretrizes do MTG, organizam eventos locais e regionais, promovendo desfiles, apresentações artísticas, cavalgadas e celebrações que envolvem diretamente a comunidade local.

Quais as origens dos festejos da Semana Farroupilha?

Segundo as fontes consultadas para este artigo, na década de 1940 a sociedade negava hábitos, costumes e tradições gauchescas. Este declínio dos costumes tradicionais teria motivado um movimento estudantil orgânico.

À meia noite do dia 7 de setembro de 1947 teriam fundado o Movimento Tradicionalista Gaúcho: Paixão Côrtes, Cyro Ferreira, Antônio Siqueira, Orlando Degrazia, Fernando Vieira, Cyro Costa, Cilço Campos e João Vieira, que compunham “Os oito bombachudos”, como viriam a ficar conhecidos.

Barbosa Lessa teria se juntado ao grupo para capturar uma fagulha da chama da Pira da Pátria utilizando um cabo de vassoura com trapos enrolados na ponta para transladar, a cavalo, até o saguão do colégio Júlio de Castilhos em Porto Alegre, a fagulha e os restos mortais do general Davi Canabarro, um revoltoso da Revolução Farroupilha.

Esta teria sido a 1ª Ronda Crioula que se tem notícia. Ali, teria permanecido acesa em um candeeiro crioulo até o dia 20 de setembro daquele ano em homenagem aos líderes farroupilhas.

Hoje já se sabe que Canabarro, na verdade, traiu os lanceiros negros no episódio derradeiro da Revolução Farroupilha conhecido como o massacre de Porongos.

Voltando à década de 1940, a ação denominada Ronda Crioula teve o intuito de retomar o sentimento de orgulho das coisas tradicionais. É visto como um movimento estudantil orgânico, com alunos de diversas camadas sociais e segmentos étnicos, que levantou-se em favor das tradições.

O objetivo era achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional e combater a descaracterização. Em suma: procuravam a identidade da terra gaúcha.

Sendo assim, a estética gaúcha que habita o imaginário contemporâneo tem origem numa série de referências sobrepostas ao longo das décadas de construção desse imaginário.

Quais as ligações dos festejos da Semana Farroupilha com a Revolução Farroupilha?

A data de 20 de setembro de 1835 marca o início da Guerra dos Farrapos e a Tomada de Porto Alegre. Neste dia, os farroupilhas venceram o confronto da Ponte da Azenha e invadiram a cidade liderados por Bento Gonçalves da Silva, o comandante militar da então província de São Pedro do Rio Grande do Sul – hoje o estado do Rio Grande do Sul.

Um ritual simbólico é citado na lei nos festejos farroupilhas: “a Chama Crioula não será extinta no encerramento da Semana Farroupilha, e deve ser levada ao município de Piratini, onde permanecerá acesa o ano inteiro no Palácio da República Rio-Grandense”.

Em 2023, a cerimônia de acendimento da chama aconteceu na cidade de Cristal, na casa que foi de Bento Gonçalves da Silva, um dos principais líderes da Revolução Farroupilha.

Diversos homens estão montados a cavalo e de costas para quem vê, e de frente para um casarão branco. Texto sobre a Semana Farroupilha.
Cerimônia de Acendimento da Chama Crioula dos Festejos Farroupilhas de 2023. Reprodução: RBS TV

Para se ter uma ideia de quanto a Revolução Farroupilha se faz presente no cotidiano de gaúchos e gaúchas até hoje, a atual sede do governo do estado do Rio Grande do Sul se chama Palácio Piratini, nome que vem da República Piratini, referência à primeira capital da República Rio-grandense, e que significa “peixe barulhento” em sua origem tupi-guarani.

Em Porto Alegre, a capital do estado, há um bairro e um parque chamados de Farroupilha, uma avenida chamada Farrapos, e outra, Bento Gonçalves. Estas são algumas das inúmeras referências e homenagens aos farroupilhas na cidade e no estado.

O hino rio-grandense atual é o hino da República Rio-grandense de 1836.

O que é o Acampamento Farroupilha?

O Acampamento Farroupilha é o maior evento alusivo à cultura tradicionalista gaúcha e tem duração de aproximadamente duas semanas. Teve início logo após a inauguração do parque da Harmonia, em 1981, em uma área de aterro à beira do lago Guaíba em Porto Alegre.

Cavalos, churrasco, bebida e música tocada em gaita ponto e violão reuniram grupos de amigos em torno do piquete considerado “pioneiro”, o Piquete Chimango, da família Carrão, fundado em 1979.

De acordo com a organização do Acampamento Farroupilha, em 2024 o evento tem um caráter solidário. Durante os 16 dias de festa, doações podem ser feitas nos 185 piquetes para as famílias atingidas pelo desastre climático que devastou o estado.

A pavimentação de alguns espaços do parque gerou embate na política local ao longo de 2023 e 2024. A organização alega que as melhorias tornam o evento mais acessível e confortável para os visitantes. As obras cortaram cerca de ⅓ das árvores do parque, equivalente a 400 árvores.

Preparativos para o Acampamento Farroupilha.
Preparativos para o Acampamento Farroupilha. Imagem: Pedro Piegas/PMPA em 12 de agosto de 2023

Como a Semana Farroupilha lida com os separatistas?

O orgulho ferrenho das tradições gaúchas pode causar efeitos colaterais indesejados. A ideia de separar o Rio Grande do Sul do resto do Brasil esteve presente – e ainda está – no imaginário de gaúchos e gaúchas de várias gerações. Com o advento da internet, os grupos se organizaram com mais facilidade.

Um colunista do jornal Zero Hora, o maior do estado, chegou a dizer em 2017, que os separatistas estavam certos em suas reivindicações, mas que a solução não seria separar o estado do resto do país.

Na realidade, foi uma forma de não contrariar parte de seus próprios leitores, uma vez que o movimento separatista O Sul É o Meu País tinha acabado de realizar um plebiscito informal, de caráter simbólico e sem valor legal, nos estados do Sul, com a participação de mais de 340 mil pessoas.

Resultado do plebiscito informal de 2017 divulgado na página do movimento O Sul É o Meu País.
Resultado do plebiscito informal de 2017 divulgado na página do movimento O Sul É o Meu País. Infográfico: Reprodução

Na ocasião, os organizadores espalharam 2.500 urnas em 900 cidades de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e esperavam cerca de dois milhões de votantes. Mas a participação ficou bem abaixo dessa expectativa.

Apesar da baixa adesão, a maioria votou pela separação, resultado que pode ser explicado quase integralmente pelo fato de que quem vota em uma consulta deste tipo, provavelmente é favorável à causa.

Nove anos antes do plebiscito informal, em 2008, o desfile oficial da Semana Farroupilha foi acompanhado por separatistas de outro movimento. Portavam bandeiras do MRR (Movimento Pró-República Riograndense) e uma faixa que dizia “Rio Grande do Sul Independente”.

Um repórter da Zero Hora relata que o movimento foi ignorado por todos no entorno, inclusive a então governadora, Yeda Crusius, que acompanhava o desfile a poucos metros do movimento separatista.

O 10º item da Carta de Princípios do MTG diz o seguinte: “Respeitar e fazer respeitar seus postulados iniciais, que têm como característica essencial a absoluta independência de sectarismos político, religioso e racial.

E aí, já conhecia a Semana Farroupilha? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

Referências:

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Conteúdo escrito por:
Tiago é jornalista e pós-graduado em Ciências Humanas, e trabalhou na área comercial de livros por mais de 15 anos. Escreve sobre política, tecnologia e desafios contemporâneos da sociedade e vende discos no seu blog Vida Indigital.

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17 set. 2024

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