As pautas sobre feminismo são cada vez mais procuradas e problematizadas em variados segmentos. Além do campo das políticas públicas, o feminismo está presente em situações cotidianas: na educação, em campanhas da moda, enredos do cinema, personagens da literatura, na cultura e no mundo corporativo.
Nas redes sociais, pautas pela igualdade entre homens e mulheres ganharam visibilidade e narrativas sobre o feminismo são frequentes. Selecionamos 5 pontos para você aprofundar mais sobre esse assunto. Vem com a gente!
Veja também nosso vídeo sobre o que é feminismo!
1 – Pluralidades em Movimento: feminismo ou feminismos?
Movimento de mulheres, feminismos, movimento feminista. Provavelmente você já ouviu falar dos diversos feminismos. Feminismos? Isso mesmo, no plural! Não existe um feminismo, mas feminismos.
Assim como encontramos mulheres com vivências diferentes, existem necessidades de luta distintas, proporcionando o surgimento de vertentes feministas. A luta central do feminismo está em torno da igualdade dos direitos civis entre homens e mulheres.
Tal diversidade de pautas enriquece a compreensão da complexidade da condição feminina. Mulheres com contextos diferentes, mas que vivem em uma sociedade estruturalmente patriarcal, necessitam se organizar para transformar sua realidade.
Algumas vertentes feministas: feminismo liberal, feminismo radical, feminismo negro, ecofeminismo, feminismo interseccional, feminismo da diferença, feminismo institucional entre outras. Cada vertente pauta questões específicas relacionadas à luta das mulheres em determinado contexto.
Veja também: Feminismo Islâmico: a luta das mulheres no Afeganistão.
2 – Diferenças entre conceitos
Não é novidade, você pode ter se deparado nas redes sociais com discussões intermináveis sobre feminismo. Nelas, é fácil observar vários argumentos que demonstram frases compostas por uma confusão de conceitos. Antes de entrar em qualquer debate sobre feminismo, é interessante se esclarecer sobre os conceitos; machismo, femismo, feminismo, misandria e misoginia.
É utilizado frequentemente – e erroneamente – a argumentação de que no feminismo as mulheres pregam a superioridade do sexo feminino sobre o sexo masculino. Na verdade, o femismo prega a superioridade das mulheres sobre os homens. O machismo, por sua vez, prega a superioridade dos homens sobre as mulheres. Femismo é oposto de machismo, ao mesmo tempo em que é seu sinônimo.
Confusões conceituais como essas são usuais e por vezes intencionais. As pesquisadoras Elciane Gomes, Mariana Menezes e Adriana Barros nos relatam que os antifeministas tentam a todo momento deslegitimar o movimento feminista criando estereótipos para as mulheres com a intenção de descredibilizar o movimento (2020, p.3734).
A misoginia e a misandria são termos oriundos da Grécia antiga e atualmente são utilizados no ativismo virtual. A definição de misoginia é de um sentimento de desprezo e aversão pelo feminino, que consequentemente gera um comportamento machista.
Portanto, a misoginia atrelada à ausência de políticas do Estado tem provocado feminicídio, a morte de mulheres provocadas por homens em situação de poder sexual, jurídico, social, econômico, político e ideológico.
Leia também: As origens da misoginia
No Brasil, como no restante das Américas, os números de morte de mulheres por desigualdade de gêneros vêm crescendo. O Brasil só fica abaixo de El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia, os primeiros lugares da lista. Meneghel e Portella (2017) mostram dados do Mapa da Violência no país, que no período de 1980 a 2010 os coeficientes de mortalidade tiveram crescimento de 111%.(MENEGHEL; PORTELLA, 2017, p. 3078-3079)
Por sua vez, a misandria é discriminação contra os homens e um sentimento de aversão pelo masculino. Em 2019, um caso raro de misandria foi enfrentado pela 7ª Turma do TRT de Minas Gerais, em que um trabalhador não conseguiu preencher o cargo de gerente de uma empresa especializada em produtos de beleza por ser homem. Como sentença que condenou a empresa de cosméticos ao pagamento de indenização por danos morais, no valor de R$ 7.000,00 (Sete mil reais).
Veja também nosso vídeo sobre a história do feminismo no Brasil!
3 – Sororidade
O termo sororidade surgiu a partir da terceira onda do feminismo, na década de 1970. Busca estabelecer uma irmandade, uma aliança entre as mulheres para combater as consequências do machismo.
Já ouviu aquela frase: “Mulher não é amiga de mulher?”.
Na literatura, no cinema, nas novelas, nas propagandas, nas escolas, em escritórios, e nas relações familiares podemos observar perspectivas machistas que promovem e perpetuam a rivalidade feminina. E o que mais impressiona é que muitos dos comentários e atitudes agressivas contra mulheres são feitos pelas próprias mulheres.
A sororidade, pela definição, é uma experiência subjetiva pela qual as mulheres devem passar com a finalidade de eliminar todas as formas de opressão entre elas. É, além disso, conscientizar as mulheres sobre a misoginia.
A sororidade é um processo, mas também uma atitude. No artigo de Dantielli Assumpção Garcia e Lucília Abrahão e Sousa, tem uma definição interessante que mostra essa necessidade de agir, significando a sororidade como um “esforço pessoal e coletivo de destruir a mentalidade e a cultura misógina, enquanto transforma as relações de solidariedade entre as mulheres”.
4 – Inovação e Criatividade
Atos públicos, como marchas de protesto, greves de fome, criatividade nas reivindicações. Muito além de tendências, foram táticas criadas e desenvolvidas pelo movimento de mulheres que concebeu uma maneira não violenta de reivindicar. Esse método tem como objetivo clamar pela atenção pública, com o propósito de gerar influência, reflexão e mudança.
As ideias não violentas se diferenciam das ideias conhecidas sobre resolução de conflitos. As sufragistas, movimento de mulheres inglesas que pautou o direito ao voto, chamou a atenção sobre a causa, através da não violência. Elas utilizaram o potencial criativo, ensaiando, provando e consolidando novas formas de protesto.
As sufragistas inovaram: interrompiam oradores por meio de perguntas sistemáticas, faziam greve de fome, deitavam-se no chão para chamar atenção, cantavam durante passeatas, faziam cartazes provocativos entre outras formas de protesto.
Quando falamos em não violência, Gandhi é um nome reconhecido mundialmente. Com a filosofia Satyagraha – Satya (verdade) e Agraha (firmeza constante) – lutou pela independência da Índia que estava sob domínio britânico. Gandhi observou e estudou a luta do movimento sufragista, declarando que o movimento contribuiu com as táticas da não violência. Conheça mais sobre essas contribuições do movimento de mulheres.
5 – Conquistas para a sociedade
Talvez você não se declare como feminista, mas é a favor de alguma das pautas que as feministas conquistaram. Por exemplo, se você é a favor do voto feminino, das meninas frequentarem as escolas e posteriormente universidades, das mulheres casadas não precisarem mais da autorização do marido para trabalhar ou viajar. E também, de terem direito ao divórcio, de poderem candidatar-se a cargos políticos e até de ter direito a cartão de crédito.
Todas essas conquistas foram do movimento de mulheres e da pauta feminista. No Brasil, o movimento feminista foi importante na luta contra a ditadura militar e na Constituição de 1988.
Mulheres não eram consideradas iguais aos homens em direitos e deveres até 1988
Passaram a ser vistas como cidadãs pela legislação brasileira e como iguais aos homens, em direitos e deveres, apenas após a Constituição.
E não parou por aí, conquistaram – enquanto sociedade e pelo trabalho das feministas – a Primeira Delegacia de Defesa da Mulher (1985), a classificação do estupro como crime hediondo (1990), a proibição de práticas discriminatórias, como a exigência de exame de gravidez e esterilização para admissão profissional (1995), a tipificação da lei do assédio sexual (2001), a criação da lei Maria da Penha (2006) e da lei de Importunação Sexual (2018).
Saiba mais sobre a História do feminismo no Brasil.
Agora que você aprofundou seu conhecimento, pode ajudar a esclarecer e debater sobre a importância da luta feminista e do(s) feminismo(s) com seus amigos(as) e familiares!
Referências:
- GARCIA, Carla Cristina. Breve história do feminismo. 3 ed. São Paulo: Claridade, 2015. 120 p.
- GARCIA, Dantielli Assumpção; SOUSA, Lucília Maria Abrahão. A sororidade no ciberespaço: laços feministas em militância. Estudos linguísticos, São Paulo, vol. 44, n.3; p.991-1008, set. – dez, 2015.
- GOMES, Elciane Silva. MENEZES, Mariana Rocha. BARROS, Adriana Lima. A Sociedade e os papéis atribuídos para homens e mulheres. Questões de Gênero, Raça/Etnia e Geração, Anais III, SINESPP 2020 (Simpósio Internacional sobre Estado, Sociedade e Políticas), UFPI, Teresina, p.3725-3735, 2020.
- MENEGHEL, Stela Nazareth. PORTELLA, Ana Paula. Feminicídios: conceitos, tipos e cenários. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 22, n. 9, p. 3077-3086, Sept. 2017.
- Art Ref – Qual a diferença entre feminismo e femismo?
- Pressenza – Flores da Resistência: Mulheres e não violência
1 comentário em “5 pontos sobre feminismo que você precisa saber”
femismo = feminismo que não tem medo de denunciar a violência masculina sem os floriamentos do feminismo que a autora defende o tal feminismo liberal pro-status quo. nunca vi nenhuma delas matando homens por aí como eles nos matam,o que demostra ignorância ao compará-lo com machismo.
misandria = acusação feita contra mulheres que exigem justiça/punição das violências que sofrem ou que sentem aversão á homens devido suas violências contra nós (afinal, eles não nos dão nenhum motivo para odiá-los, somos todas loucas quando o fazemos). Novamente: nunca vi nenhuma “misândrica” matando homens por aí como eles nos matam
Eu não sei como tem tanta garota que se diz “pelas mulheres” se são completamente ignorantes a respeito desses detalhes ,criados para floriar os horrores da violência masculina( coitadinho dos homens, né migucha? temos que compreende-los sempre!) e manter nossa situação.