Desde crianças, somos ensinados a jogar fora tudo aquilo que não será mais utilizado por nós, como restos de comida, embalagens de alimentos, brinquedos quebrados… Enfim, diversos resíduos sólidos! Mas, pensando bem, para onde vai tudo aquilo que colocamos no lixo? Será que tudo é “lixo” mesmo? E você sabe o que são reciclagem, sustentabilidade e logística reversa? Vamos entender esses termos que vira e mexe aparecem no noticiário!
A classificação dos resíduos sólidos: afinal, o que é lixo?
No termo estabelecido pela ciência e legislação do meio ambiente, o que conhecemos como lixo é chamado de resíduo, ou seja, tudo aquilo que não é aproveitado por qualquer atividade humana. Os resíduos podem ser diferenciados em quatro categorias, que são: secos, úmidos, perigosos e rejeitos. Vamos entender qual lixo vai em cada categoria?
- Resíduos Secos: principalmente plástico, vidro, metal e papel;
- Resíduos Úmidos: basicamente restos orgânicos, alimentos (cozidos ou não);
- Resíduos Perigosos: pilhas, baterias, lâmpadas, aparelhos eletrônicos, entre outros;
- Rejeitos: cortiça, couro, papel higiênico, fraldas, cerâmica, trapo, entre outros.
Quanto geramos de cada tipo de resíduo?
Para fazer esse cálculo, focaremos nos resíduos secos, úmidos e rejeitos. A exclusão dos resíduos perigosos, nesta análise, deve-se à complexidade e diferenciação de geração por localidade. Como assim? Por exemplo, seria complicado comparar os resíduos gerados em uma região domiciliar – de casas – com aqueles gerados em uma localidade industrial – de fábricas. Sendo assim, a análise de resíduos perigosos tem de ser bem específica e criteriosa.
Utilizamos a composição gravimétrica dos resíduos secos, úmidos e rejeitos como ponto importante para conhecimento do que geramos. Esta composição significa o peso e o respectivo valor percentual de cada componente da massa total dos resíduos. O gráfico abaixo mostra uma média da composição gravimétrica dos resíduos sólidos gerados no Brasil.
A coluna Resíduos está dividida em três grupos: material reciclável (subdividido em metais, aço e etc), matéria orgânica e outros – isto representando tudo aquilo que geramos. Já a coluna Participação, representa a quantidade, em porcentagem, de cada resíduo na massa total de resíduos. E, por último, a coluna “Quantidade” destaca a massa, em toneladas, por dia que geramos de cada grupo de resíduos.
Analisando o gráfico, percebemos que aproximadamente 85,2% (material reciclável + matéria orgânica) do que produzimos tem potencial de ser reciclado, isto é, ser transformado no mesmo ou em outro material. Um exemplo é a transformação de sucata em arame ou de pregos e outras peças metálicas. Para a matéria orgânica, sua reciclagem consiste na transformação deste insumo em adubo orgânico. Sendo assim, somente 14,8% dos nossos resíduos são rejeitos. Na prática, rejeitos são tudo aquilo que, esgotadas as possibilidades de reutilização, reciclagem ou tratamento, devem ter uma destinação ambientalmente adequada.
Dois pontos são cruciais para a segregação e destinação corretas de quaisquer resíduos. Primeiro, a educação ambiental e o entendimento da responsabilidade compartilhada. Ou seja, entender que você participa da problemática dos resíduos sólidos. Cada um tem seu papel fundamental neste gerenciamento, seja você gerador, coletor, catador, responsável do setor privado ou público, político da área, entre outros. E o segundo ponto importante é a efetivação da coleta seletiva, que é a coleta de resíduos sólidos previamente separados conforme sua constituição ou composição, e posterior destinação ambientalmente adequada.
Ao gerar os mais diversos resíduos, como classificá-los?
A principal norma para classificação dos resíduos é a NBR 10004/2004, norma brasileira intitulada Resíduos Sólidos – Classificação. Os resíduos são agrupados em duas classes:
Os Resíduos Classe I são resíduos que apresentam periculosidade (perigo!) devido a uma ou mais dessas características: inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenecidade. Um exemplo são os resíduos de serviço de saúde, como os medicamentos e os resíduos contaminados com substâncias químicas, biológicas ou radioativas. A resolução responsável pelo correto gerenciamento desses resíduos é a RDC 306/2004.
Já os Resíduos Classe II são aqueles que não apresentam perigo. São subdivididos em dois grupos:
- II A – não inertes: têm propriedades como biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Exemplo: resíduos domiciliares.
- II B – inertes: se destacam os tijolos, as areia e as rochas, por exemplo.
Tudo está bem definido, mas… Para onde vão esses resíduos?
No Brasil, desde que o sistema de coleta de resíduos urbanos se estabeleceu nas cidades, a grande maioria delas envia seus resíduos para locais inadequados ao recebimento, como os lixões. Os lixões são locais a céu aberto, onde todo tipo de resíduo é disposto sem nenhum controle. Eles causam graves problemas para a saúde da sociedade e do meio ambiente. Mas por quê?
A decomposição dos resíduos produz gás metano (CH4), responsável por agravar o efeito estufa, e há também a produção de chorume – líquido altamente poluente que, ao infiltrar o solo e alcançar os lençóis freáticos, contamina a água para consumo. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), as regiões Norte e Nordeste dispõem 75% dos resíduos em locais inadequados, como lixões e aterros controlados. Já a região Sudeste dispõe 45% do seu lixo de maneira inadequada.
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Segundo a International Solid Waste Association (ISWA), o Brasil gasta R$1,5 bilhão anual com o sistema de saúde pública por causa dos lixões. Calcula-se que cerca de 1% da população desenvolva doenças graças à destinação inadequada dos resíduos sólidos.
Confira no site da Confederação Nacional de Municípios (CNM) o que acontece com os resíduos sólidos na sua cidade!
Qual a diferença entre lixão e aterro sanitário?
Para isso, os aterros sanitários deveriam receber somente os rejeitos. No entanto, eles estão sendo superlotados com resíduos passíveis de reciclagem, principalmente material orgânico (a nossa comida, por exemplo). Para percebermos o quanto temos que avançar, um estudo realizado pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), em 2016, apontou que somente 18% dos municípios brasileiros realizam, com alguns resultados positivos, a coleta seletiva.
1) O primeiro passo é buscar informações de como é a gestão dos resíduos na sua cidade. Saber em qual dia há a coleta seletiva, onde são os pontos de coleta de resíduos perigosos e, caso você gere algum tipo de resíduo diferente do habitual, se informar quanto à destinação correta.
As empresas responsáveis pela coleta usualmente informam, nos próprios sites ou central de atendimento via telefone, todas as informações pertinentes da coleta de cada resíduo. Caso não haja estes informes, você deve procurar a secretaria ou órgão ambiental municipal para se informar. Depois, seja agente da mudança, ou seja, tome a iniciativa de propor para a empresa esclarecimentos e que estas informações sejam mais facilmente encontradas. Não havendo resultados, faça uma queixa formalmente junto ao órgão ambiental competente municipal para que ocorra esta melhoria.
2) Separar os resíduos, principalmente entre secos e úmidos, na sua residência é de suma importância! Os úmidos, provavelmente, vão ser coletados pela coleta convencional, mas caso haja alguma outra forma de destinação, que seja melhor, você deve fazê-la. Os secos serão coletados pela coleta seletiva, de forma a serem enviados ao processo de triagem, verificando o que realmente será aproveitado na reciclagem.
3) Seja um disseminador de informação! Agora que você conhece como é feito o gerenciamento de resíduos, espalhe essas informações entre amigos, familiares, vizinhos, no trabalho ou escola. Só com uma sociedade integrada, os efeitos do gerenciamento trarão resultados satisfatórios!
4) Por último e não menos importante, se envolva com o futuro das políticas de gestão dos resíduos no seu município. Vote em pessoas capacitadas e comprometidas com esta questão, busque saber os pontos falhos e cobre dos responsáveis da sua cidade.
O avanço da geração, coleta e destinação dos resíduos não é só uma questão ambiental. Empregos, saúde e lucro são pontos cruciais que devem ser contemplados e incentivados nas políticas públicas. Tudo isso é possível e, acontecendo, o Brasil terá avanços sociais, econômicos e ambientais. Esse é o verdadeiro tripé da sustentabilidade a ser alcançado!
A fim de atingir isto, foram estabelecidas metas a nível nacional, em forma de lei, para proteger o meio ambiente e as pessoas, estimular a indústria da reciclagem e incentivar instrumentos para melhorar o gerenciamento dos resíduos sólidos. Assim, foi estabelecida a Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010, que é o tema do próximo texto dessa trilha! Sobre o que ela dispõe? Será que melhorou mesmo a situação neste tempo? E a indústria da reciclagem? Como o resto do mundo lida com essa problemática?
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Aviso: mande um e-mail para contato@politize.com.br se os anúncios do portal estão te atrapalhando na experiência de educação política. 🙂
Referências do texto: confira aqui onde encontramos dados e informações!
Política Nacional de Resíduos Sólidos
Regulamento Técnico para o Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde
Guia do Estudante – O problemas dos lixões no Brasil
Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos
O Tempo – Brasil perde 120 bilhões por ano ao não reciclar lixo
Abralatas – Reciclagem do Brasil em números
G1 – Lei que dá destino a embalagens e resíduos industrializados não pegou
CEMPRE – Radiografando a coleta seletiva
EcoDebate – Panorama dos resíduos sólidos no Brasil
Atualizado em 11 de setembro de 2018.