Este é o quarto e último texto de uma trilha de conteúdos sobre Israel e Palestina. Confira os demais posts da trilha:
- Entenda o conflito desde o início
- Conflito entre Israel e Palestina da resolução 181 aos anos 90
- Conflito entre Israel e Palestina de 1979 aos dias atuais
- Jerusalém
Em maio de 2018, os Estados Unidos inauguraram sua embaixada em Jerusalém, isso significa que eles passaram a reconhecer a cidade como a capital de Israel. Essa mudança gerou inúmeros protestos por parte dos palestinos, resultando inclusive em mortes. A grande polêmica por trás desse fato é que tanto judeus quanto palestinos reivindicam a posse de Jerusalém para si, como capital do seu Estado.
Mas, afinal, porque esses povos reivindicam Jerusalém? Qual a importância da cidade para eles? A resposta, como tudo o que envolve o conflito entre israelenses e palestinos, não é simples. Mas o Politize! tenta, nesse texto, te ajudar a entender.
Veja também nosso vídeo sobre o conflito Israel x Palestina!
Jerusalém e o direito divino
Jerusalém é uma cidade sagrada para as três maiores religiões do planeta: judaísmo, cristianismo e islamismo. Entenda os motivos:
Para os judeus, Jerusalém é considerada divina porque foi a capital do Reino de Davi. Esse também foi o local onde o Rei Salomão construiu o templo para guardar a Arca da Aliança – aquela que continha os restos das tábuas sagradas nas quais foram escritos os 10 mandamentos. O templo foi destruído pelos romanos em 70 d.C., mas uma das paredes dele ainda está de pé e é conhecida hoje como Muro das Lamentações – o lugar mais sagrado para o judaísmo.
Por sua vez, os cristãos acreditam que Jerusalém foi onde Jesus realizou diversos milagres e também foi traído, preso, crucificado e voltou dos mortos. No local onde acredita-se que Jesus foi sepultado e ressuscitou, foi construída a Igreja do Santo Sepulcro.
Já para os muçulmanos, Jerusalém foi a cidade para onde o profeta Maomé peregrinou depois de passar por Meca e Medina. No início do Islã, os seguidores rezavam virados para Jerusalém, pois foi onde Maomé subiu aos céus e encontrou-se com os outros profetas, inclusive Jesus. Isso teria acontecido no mesmo local onde estava o Templo de Salomão e a Arca da Aliança, e ali foi construída uma mesquita.
Ou seja, o mesmo lugar – chamado de Monte do Templo pelos judeus e de Esplanada das Mesquitas pelos islâmicos – é sagrado para essas três religiões. Além disso, tanto judaísmo quanto islamismo consideram a cidade o centro do mundo, onde Deus começou tudo. Isso faz de Jerusalém a cidade mais importante para essas duas religiões. Para o cristianismo, o local mais importante é a Santa Sé, o Vaticano.
Jerusalém e o direito humano
O primeiro plano sobre a posse de Jerusalém foi estabelecido no Plano da ONU para a partilha da Palestina, que criava o Estado de Israel e o Estado da Palestina em 1947. Segundo esse acordo, a cidade seria um caso especial – um “corpus separatum” – que deveria ter uma administração internacional. Isso devido à sua importância histórica e religiosa, que a impediria de “pertencer” a apenas um povo, mas que seria de toda a humanidade. Entretanto, isso nunca chegou a entrar em vigor.
Em 1948, logo após a guerra de Independência de Israel, os judeus entraram em disputa com seus vizinhos árabes – Egito, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano – que não aceitavam um estado judeu ali. No fim do conflito, Jerusalém foi dividida entre Jerusalém Ocidental – de controle israelense – e Jerusalém Oriental – sob controle da Jordânia, um país muçulmano que sempre apoiou os palestinos. É na porção oriental, sob controle árabe, que estava grande parte da cidade antiga – onde se localizam os pontos históricos sagrados.
A Guerra dos Seis dias e o controle de Israel
Um evento marcante na história das disputas entre árabes e judeus foi a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Com a justificativa de que estava se antecipando a um inevitável ataque dos vizinhos árabes, Israel iniciou um conflito surpresa e derrotou Egito, Jordânia e Síria. Com essa vitória, Israel anexou vários territórios – entre eles a Faixa de Gaza, ocupada por palestinos, e as Colinas de Golã, que pertenciam à Síria. Foi nessa guerra também que os judeus assumiram o controle da cidade de Jerusalém inteira.
Ao longo dos anos, na tentativa de legitimar a posse de Jerusalém Oriental, os israelenses construíram diversos assentamentos para judeus nesse território. Entretanto, a comunidade internacional não reconhece a área como território de Israel.
Em 1980, Israel criou uma lei anexando oficialmente Jerusalém Oriental ao seu território. A Organização das Nações Unidas e vários países consideraram a medida ilegal – status que permanece até hoje – e, por essa razão, transferiram suas embaixadas para Tel Aviv. O entendimento era o seguinte: se mantivessem suas representações diplomáticas em Jerusalém, esses países estariam concordando que Jerusalém seria a capital de Israel, ou seja, de que a cidade pertencia apenas aos judeus.
Em 1993, israelenses e palestinos assinaram os Acordos de paz de Oslo, com o objetivo de resolver o conflito. Nesse acordo, entre outras coisas, palestinos e israelenses se reconhecem mutuamente como povos e, portanto, com direito a ter seus respectivos Estados. No entanto, ficou estabelecido que a situação de Jerusalém seria discutida no futuro, quando os entendimentos entre os dois povos já estivessem mais consolidados. Ou seja, dada a complexidade e a sensibilidade do assunto, ele foi deixado “em aberto”.
A situação atual de Jerusalém
Dentro de Jerusalém, nos bairros onde moram judeus, muçulmanos e cristãos, vive-se em relativa paz e harmonia, com todos os moradores exercendo seu direito de devoção religiosa. Entretanto, há acusações de segregação e de diferenciação sócio-econômica – subempregos, piores condições de moradia e desigualdade salarial, por exemplo – entre os árabes residentes – cujos documentos foram expedidos pela Autoridade Nacional Palestina – os árabes israelenses – cidadãos israelenses –, assim como os judeus israelenses. Além disso, há também acusações de que os judeus – com o apoio do governo israelense – estariam pouco a pouco comprando as casas e ocupando espaços de muçulmanos no bairro árabe.
O que significa a mudança da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém?
Os Estados Unidos, desde a criação do Estado de Israel no final da Segunda Guerra Mundial, foram aliados dos judeus. Essa aliança se tornou ainda mais estreita depois da Guerra do Yom Kippur em 1973, na qual a ajuda norte-americana por meio de envio de armas e dinheiro foi essencial para que Israel não fosse derrotada.
Ainda assim, os Estados Unidos sempre buscaram agir de forma neutra, inclusive se colocando como mediador para a resolução do conflito entre israelenses e palestinos. Não por acaso, o tratado de paz de 1978 foi assinado em Camp David, nos EUA, sob a supervisão do presidente Jimmy Carter.
Com a iniciativa dos Estados Unidos de inaugurarem sua embaixada em Jerusalém, Donald Trump demonstra que o país não está mais tão neutro e assim favorece seus aliados históricos israelenses. Para justificar os motivos que o levaram a tomar essa atitude, coisa que seus antecessores vinham evitando nas últimas décadas, Trump argumentou que nada do que vinha sendo feito até agora tinha dado resultado. Portanto, não adiantava continuar agindo da mesma forma e por isso era necessário tomar novas atitudes. Ou, nas palavras dele: “Não estamos próximos de um acordo de paz duradouro. Seria loucura assumir que a repetição da mesma fórmula poderia conquistar algo diferente.”
Alguns outros países como Guatemala, República Tcheca e Romênia sinalizaram que podem fazer o mesmo. Já a maioria da comunidade internacional, como a União Europeia e o Brasil, são contra a mudança e defendem que o que vale é o acordado em 1947, ou seja, a administração internacional de Jerusalém.
No dia 18 de julho de 2018, o parlamento israelense aprovou uma Lei Básica – legislação de mais alto grau no país, algo equivalente à nossa Constituição, por exemplo. Essa normativa especifica formalmente os símbolos nacionais, como bandeira, hino, idiomas e religiões oficiais do Estado. Em um dos parágrafos, dispõe-se que “Jerusalém, completa e unida, é a capital de Israel”. Toda a comunidade palestina, e inclusive alguns grupos israelenses, consideraram a lei discriminatória e dizem que ela pode piorar ainda mais os conflitos.
A posse de Jerusalém é um assunto complexo, motivado por parte de uma história ainda mais antiga e complexa que é o confronto entre judeus e palestinos, o qual dura há mais de um século. A única certeza que podemos ter é que ainda estamos longe de ver uma solução.
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BBC: “Oito perguntas para entender o conflito entre israelenses e palestinos”
G1: “O que faz de Jerusalém uma cidade tão sagrada e disputada”
Canal Nerdologia: De quem é Jerusalém
Carta Capital: “A nova Jerusalém”
2 comentários em “Jerusalém: entenda o conflito por esse território”
Diante dessa notícia vejo que o povo onde quer que existe um sempre tem conflitos,esse patamar material de quem pertence isso ou aquilo fica coisas mais sérias a levar encontra.precisavam eles lá ver que tudo passa,que se tem memórias de tudo,e assim olhar para o hoje,na bíblia mesmo fala que estos debaixo da graça.assim devemos crer e viver sempre melhorando e não guerrindo,e fazendo novas histórias.
Jerusalém devia ser considerada território livre. Não pertencer nem a Israel, nem aos palestinos.
A cidade seria governada pelos moradores e os governantes, eleitos pelo voto popular.