Este é o terceiro texto de uma trilha de conteúdos sobre Israel e Palestina.
Confira os demais posts da trilha:
- Entenda o início do conflito
- Conflito entre Israel e Palestina da Resolução 181 até os anos 90
- Conflito entre Israel e Palestina dos Acordos de Camp David até os dias atuais
- Jerusalém
No texto anterior falamos sobre a declaração de independência de Israel e da criação da Organização para a libertação da Palestina. Foram vários os componentes do conflito Israel-Palestina ao longo das últimas décadas: Guerra dos Seis Dias, Massacre de Munique, Guerra do Yom Kippur e várias ocupações do território diferentes do que havia sido estabelecido na partilha da ONU.
Nesse terceiro texto, vamos continuar a história desse conflito até os dias atuais, passando pela primeira e segunda intifadas, a declaração de independência da Palestina e a assinatura dos Acordos de Oslo.
Veja também nosso vídeo sobre o conflito Israel x Palestina!
Combate à Organização pela Libertação da Palestina – OLP
Apesar dos reconhecimentos da Liga Árabe e da ONU, para os judeus e para vários outros países, inclusive os EUA, a OLP era considerada um grupo terrorista. Em 1982 os israelenses invadem o sul do Líbano para combater a OLP, na chamada Operação Paz para Galileia. Em resposta a esse ataque, árabes libaneses mais radicais criam o Hezbollah.
A primeira Intifada (1987)
Dois dos marcos do conflito Israel-Palestina foram as intifadas.
A Primeira Intifada foi a rebelião popular palestina na Faixa de Gaza e na Cisjordânia contra as forças de ocupação israelenses. Foi um movimento espontâneo, cujo combustível era o rancor acumulado em mais de 40 anos de conflitos. Outra motivação foi e a indignação contra Israel por ter se apropriado daquelas terras, expulsando milhares de palestinos e impondo dura vigilância sobre os que ficaram.
Nesses confrontos, grande parte da população masculina jovem da Faixa de Gaza foi presa, ferida ou morta. Com isso, o ódio dos palestinos contra os judeus aumentou exponencialmente e foi criado o Hamas, acrônimo em árabe para Movimento de Resistência Islâmica.
Esse grupo era muito mais radical do que aqueles que formaram a OLP, principalmente o Al Fatah. Como um exemplo, o Hamas tinha como um dos objetivos, descritos na sua carta de fundação, “a destruição total do Estado de Israel”.
A Intifada também marca uma mudança importante nos conflitos entre Israel e Palestina: até então, os conflitos eram externos – forças em outros países atacavam. A partir desse momento, o conflito passou a ser, também, interno.
Os Acordos de Oslo e a Autoridade Nacional Palestina (1993)
Em 1991 os EUA, ainda comandados por George Bush (pai), começam a costurar um acordo de paz, que irá se tornar os Acordos de Oslo de 1993 (já sob a mediação de Bill Clinton). Esse acordo, assinado entre Yasser Arafat e Yitzak Rabin (primeiro ministro de Israel), é histórico porque avança em alguns aspectos.
Saiba a diferença entre um chefe de Estado e chefe de governo!
Israel e a Autoridade Nacional Palestina – como passou a ser chamada a OLP a partir da assinatura dos acordos – passam a reconhecer a existência mútua – apesar de vários países árabes ainda hoje não reconhecerem o Estado de Israel – e se comprometem a negociar a criação dos dois estados.
A Autoridade Nacional Palestina ganha autonomia na Faixa de Gaza e em Jerusalém Ocidental. A Cisjordânia é dividida em 3 áreas:
Zona A: controlada civil e militarmente pela Palestina;
Zona B: controlada pela Palestina, mas policiada pelo exército israelense;
Zona C: controlada civil e militarmente por Israel.
O primeiro-ministro de Israel, Yitzak Rabin – que desde 1992 já demonstrava grande esforço para desenvolver um diálogo de paz com seus vizinhos, divide o Nobel da Paz com Arafat.
Segunda Intifada (2000)
Nos anos seguintes aos Acordos de Oslo, houve ações positivas em direção a uma resolução: Israel e Jordânia assinam um tratado de paz (1994); o então presidente dos EUA George W. Bush (filho) pede por um Estado Palestino – algo importantíssimo vindo do principal aliado de Israel -; e a Arábia Saudita propõe um plano de paz, a Iniciativa de Paz Árabe.
Na prática, pouca coisa muda nos territórios ocupados e o conflito Israel-Palestina continuaram. O Hamas – grupo palestino radical surgido na Primeira Intifada – discorda dos métodos da ANP e Israel continua mantendo tropas do exército na Cisjordânia, como também continua criando assentamentos israelenses. Dezenas de tentativas de conversas entre as partes falham, em grande medida devido aos constantes ataques do Hamas a civis israelenses.
A possibilidade de paz se torna ainda mais distante em 1995, após o assassinato do primeiro-ministro Israelense Yitzak Rabin por um judeu opositor aos acordos de Oslo minutos antes de fazer um discurso histórico pelo fim do conflito com a Palestina.
Argumentando que havia muita discussão e poucos resultados e que os palestinos continuavam oprimidos, em 2000, o Hamas começou a segunda Intifada, praticando diversos atentados suicidas. A partir desse ponto, israelenses e americanos passam a considerar o Hamas como um grupo terrorista.Temendo mais ataques terroristas, Israel constrói uma cerca de segurança na divisa com a Cisjordânia.
Na segunda Intifada o exército israelense mata ainda mais palestinos do que na primeira. A segunda Intifada acaba quando o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, buscando retomar as negociações de paz, determina a retirada das suas tropas da Faixa de Gaza. Yasser Arafat morre em 2004 e Mahmmoud Abbas, do Fatah, é eleito o seu sucessor.
A situação do conflito Israel-Palestina atualmente
Com o fim da segunda Intifada e a retirada das tropas de Israel (2005), o Hamas ganhou força e passou a governar a Faixa de Gaza. A Cisjordânia continuou sendo governada pelo Fatah, e os grupos começaram a discordar entre si sobre as atitudes que deveriam ser tomadas no interesse da Autoridade Nacional Palestina. Isso levou a uma ruptura entre Fatah e Hamas.
Nesses últimos dez anos, aconteceram diversos conflitos entre Israel e Palestina, invasões de Israel na Faixa de Gaza e inúmeras tentativas de acordos de cessar-fogo – nenhuma, entretanto, bem-sucedida. Israel continuou criando novos assentamentos nas zonas C da Cisjordânia, ato repudiado por palestinos e por organismos internacionais.
O Brasil e grande parte dos países do mundo reconhecem a existência do Estado da Palestinanas fronteiras estabelecidas pelo acordo de 1967 (antes da Guerra dos Seis Dias) e reconhece as Colinas de Golã como propriedade da Síria e a Cisjordânia como território palestino invadido. Atualmente, cerca de 20% da população de Israel é árabe. Há 4,5 milhões de palestinos em Israel e na Palestina e cerca de 8 milhões espalhados pelo mundo.
Hoje, a diferença entre os dois Estados é gritante. Israel conta com um dos exércitos mais bem equipados e preparados do mundo – devido, principalmente, ao apoio dos EUA. Sua economia também é fonte de tecnologia de ponta e ciência de alta qualidade, reconhecida no mundo inteiro.
Por outro lado, a Palestina segue com a divisão política entre a Cisjordânia do Fatah moderado e da Faixa de Gaza, do Hamas radical, e ainda sem o reconhecimento da ONU como Estado membro (é apenas um não-membro ouvinte, sem poder de voto). Sua economia se mantém fraca, sendo bastante prejudicada pela imposição de bloqueios por parte de Israel.
A visão de cada um (e porque o conflito Israel-Palestina não vai acabar tão cedo)
Na visão de Israel, a existência do seu país é legítima, primeiro porque foi garantido a eles por Deus. Segundo, porque seria uma espécie de merecida retribuição pelos séculos de expulsões e o extermínio que sofreram no Holocausto. Quanto ao Estado palestino e à presença do exército israelense na Cisjordânia, o argumento é de que eles, os israelenses, têm que se defender de possíveis ataques, tanto dos palestinos quanto dos países árabes vizinhos.
Afinal, apesar da Autoridade Nacional Palestina de tempos em tempos sentar para dialogar em busca de um acordo, há uma ala que prega a destruição de Israel e os israelenses precisam garantir a segurança do seu povo.
Na visão dos palestinos, eles foram expulsos das suas terras pelos israelenses e Israel ocupa um pedaço de terra que deveria ser dos palestinos (com o direito reconhecido pela ONU e por diversos países do mundo). Para eles, Israel é um povo invasor que usa força desproporcional para se manter nos territórios invadidos e que vem, há mais de seis décadas, expondo os palestinos a humilhações e os impedindo de viver com dignidade em um lugar que seria do povo árabe por direito.
Justamente os judeus, que foram tão perseguidos e sofreram tantas violências, agora fazem a mesma coisa com outro povo, dizem os palestinos.
Ambos os lados têm seus pontos e bons argumentos, o que torna o conflito Isarel-Palestina muito difícil de ser solucionado.
Bom, a história é longa e ainda não acabou! No último texto dessa trilha, trazemos para você um pouco sobre a importância de Jerusalém! Vem com a gente!
Atualizado em 02 de abril de 2019.
BBC – 10 perguntas para entender o conflito entre israelenses e palestinos
Youtube: A guerra dos seis dias
O’Malley, Padraig – The Two-State Delusion: Israel and Palestine–A Tale of Two Narratives. Viking, 2016
ADWAN, Sami & Peace Research Institute in the Middle East – Side by Side: Parallel Histories of Israel-Palestine, The New Press, 2012
Histórico do conflito e análise atual das ações do governo Trump – site da CNN