Com o decorrer do processo de industrialização, observaram-se mudanças na estrutura política e econômica, como também nos hábitos alimentares da população. Dessa forma, a sociedade no geral, mas principalmente os menores, passaram a ser influenciados por tendências midiáticas a consumirem cada vez mais alimentos não naturais.
Diante disso, constata-se o crescente quadro de obesidade infantil ao redor do mundo, questão essa que reduz a qualidade de vida e prejudica o infante em inúmeros processos de desenvolvimento.
Obesidade infantil, o que é?
Se enquadra como obesidade infantil toda criança de até 12 anos que apresenta um acúmulo de gordura corporal excessivo para o indivíduo em relação a sua idade e altura, conforme explicado pela OMS. Esse diagnóstico é geralmente feito pelo cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), em razão da sua praticidade, porém, outros fatores podem ser analisados para diagnosticar a criança, como histórico familiar, questões genéticas, entre outros.
Existe uma alarmante preocupação em torno da obesidade entre as crianças em virtude dessa não ser um problema isolado, mas por poder provocar também inúmeros danos no sistema cardiovascular e respiratório. Ao fim, isso reduz as condições de saúde do infante e, consequentemente, a sua qualidade de vida.
Problemas e qualidade de vida
Por afetar sistemas de vital importância para o bom funcionamento do organismo, as crianças acometidas pela obesidade começam a apresentar dificuldades na realização de simples tarefas do cotidiano. Isso porque tais atividades, por mais simples que sejam, demandam determinado esforço, equilíbrio e movimentação, o que ocorre em virtude da debilitação da área respiratória e cardiovascular.
Dessa forma, atividades como correr ou caminhar, e até mesmo dormir, tornam-se dificultosas, em virtude da obesidade gerar problemas como asma, apneia do sono, dermatite, enxaqueca e outros.
Além de problemas que podem ser solucionados com eficácia e rapidez, como as crises asmáticas que são solucionadas com o uso de nebulímetros ou popularmente conhecidas como “bombinha para asma”, a obesidade também provoca o desenvolvimento de doenças permanentes, entre elas a Diabetes mellitus e Hipertensão arterial.
Obesidade e depressão
Ademais, a obesidade infantil não se restringe à geração de problemas apenas na parte física, como também na psicológica. Diante disso, a obesidade pode estar relacionada à autoestima baixa, à depressão e à crises de ansiedade, o que pode ocorrer devido à insatisfação com a imagem corporal ou até mesmo pela dificuldade na realização de exercícios rotineiros.
De acordo com uma pesquisa realizada em 2010 no hospital-escola de Ribeirão Preto (SP), a qual buscava a ligação entre obesidade e efeitos psicológicos dessa, concluiu-se que as crianças encaixadas no grupo de obesidade apontaram 43,3% das respostas para uma nota acima do corte para depressão, enquanto as crianças fora do grupo, apontaram apenas 3,3%.Isso indica o caráter alarmante da situação e a necessidade de combate e tratamento não apenas físico, como psicológico.
Um problema no Brasil e no mundo
O dia 3 de junho é marcado pelo dia da Conscientização contra Obesidade Infantil, em virtude do avanço desse problema em diversos países, sobretudo, nos que apresentam alto grau de industrialização e consumo, onde os hábitos alimentares tornam-se cada vez mais deficitários de alimentos saudáveis. Segundo a OMS, existem atualmente 41 milhões de crianças com menos de 5 anos em quadros de obesidade.
O Brasil é classificado, juntamente com outros 3 das Américas, como um dos 10 países com os maiores índices de obesidade infantil do mundo, conforme o Panorama de Segurança Alimentar e Nutricional. Segundo o IBGE, 36,6% das crianças brasileiras estão acima do peso, o que preocupa estudantes da área, médicos, orientadores e pais acerca das causas e como solucionar essa questão que dificulta a produtividade e o pleno desenvolvimento da parcela infantil da população.
Ademais, segundo um estudo realizado pela Global Burden of Disease Study 2013, existem atualmente 671 milhões de pessoas obesas no mundo, e esse número esta distribuído apenas entre 10 países.
Entre os países com o maior número de pessoas em caso de obesidade, estão: Estados Unidos, China e Índia, além da Rússia, Brasil e México. Além disso, o estudo feito também constatou que os homens lideram a obesidade nos países ricos, enquanto as mulheres lideram nos países pobres.
De acordo com Paulo Lotufo, diretor da Divisão de Clínica Médica do Hospital Universitário da USP, fatores como instrução e renda influenciam a obesidade em casos femininos, pois informa que em virtude da instrução e poder aquisitivos reduzidos, essa parcela não tem condições de prover uma alimentação variada, além disso, acrescenta a sua fala o valor reduzido dos alimentos altamente calóricos (industrializados), em detrimento dos naturais, tornando-se uma alimentação mais fácil de se manter.
Propagandas, praticidades e industrializações
Com a chegada de propagandas, anúncios e alimentos em rede fast-food, a alimentação diária das famílias começou a ser cada vez mais alterada, ficando ou mais natural ou mais “artificial”.
Dessa forma, em virtude da praticidade dos alimentos industrializados – como biscoitos, enlatados, sucos artificias e refeições preparadas – os produtos de origem natural – como verduras, legumes, carnes e outros – passaram a se fazer menos presentes na mesa das famílias ao redor do mundo. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde e analisada pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional-SISVAN, seis a cada dez jovens se alimentam mal, no qual 60% desses jovens comem alimentos industrializados regularmente.
Além da praticidade, a mídia como disseminadora de propagandas ideológicas promove o incentivo ao consumo de alimentos de origem não natural, ao exibir comerciais divulgando determinadas marcas e produtos, promovendo assim, o engajamento e inserção do público infante nessa alimentação não balanceada, o que auxilia no desenvolvimento da obesidade infantil.
Entre as estratégias utilizadas pelas empresas, encontra-se a adoção de mascotes para representar as marcas, fazendo com que essas se popularizem entre o público infantil pelo uso de figuras caricaturadas e divertidas, que são responsáveis não apenas pela transformação lúdica da marca, como também pelo engajamento das crianças.
Escolas, famílias e projetos na educação alimentar
Já pode se observar uma movimentação pelo país a respeito de uma intervenção no quadro de obesidade infantil, na qual se vê como necessária uma educação em relação a alimentação não só por pais e médicos, como também no ambiente escolar, já que é onde as crianças passam grande parte do seu tempo.
Entre os projetos que já podem ser observados, analisa-se o efetivado na escola Municipal de Educação Infantil de São Paulo, em que por meio da internet, a equipe que compõe a escola, além de dar dicas e informações a fim de fundamentar uma alimentação saudável, ainda conta também com palestras e reuniões para a conscientização de pais e mestres em relação à educação alimentar.
Ademais, observa-se um comportamento de conscientização semelhante na escola Favinho & Mel, localizada no Rio de janeiro, em que a equipe integrante aconselha os pais em relação ao que mandar para os filhos na lancheira. Segundo a fala da nutricionista da escola, Patrícia Grantham
“Também costumo orientar os pais para que deem uma olhada no cardápio e mandem lanches semelhantes ao que serviremos. Com isso, evitamos a entrada de alimentos extremamente processados, com excesso de açúcar, sal e gordura, bem como os conservantes e corantes.
Desse modo, as crianças que não se alimentam do que é oferecido na escola, também não serão submetidas a alimentos industrializados em demasiada.
Além desses projetos, observa-se também a existência de uma legislação que vigora desde 2001 em Florianópolis, e que depois se espalhou para o resto do país, a qual proíbe a comercialização de alimentos industrializados dentro dos ambientes escolares públicos e privados de educação básica. Isso, além de influenciar em uma alimentação mais balanceada e saudável, também ajuda no processo de educação alimentar. De acordo com o professor da UFSC Francisco de Assis Guedes de Vasconcelos:
“A legislação é uma maneira de proteger a saúde”
Causas e combates
A diversidade de causas para a obesidade mostra-se como uma questão problemática, sobre a qual é necessária a supervisão não apenas dos pais, como de um acompanhamento médico em casos extremos.
Ao observar o desenvolvimento das sociedades, consegue-se perceber a cada dia uma maior industrialização do que é colocado a dispor das crianças, sobretudo, na parte alimentar, sendo essa prejudicada com a chegada de refrigerantes, salgadinhos e outros produtos artificiais que passaram a substituir gradativamente os bens naturais e orgânicos.
Aliado à má alimentação, o sedentarismo destaca-se como um potencial propiciador do quadro de obesidade entre as crianças, pois com a revolução tecnológica – responsável pela introdução de videogames e formas lúdicas sem esforço – a prática de atividades físicas e que exigem movimentação demasiada passou a ser considerada ultrapassada por muitos infantes, que agora preferem ficar na sala de casa comendo enquanto jogam alguma coisa.
Entretanto, as causas desse problema não se restringem a questões alimentares e físicas. Fatores géneticos e o histórico familiar podem ser um dos contribuintes do quadro de obesidade infantil. De acordo com uma pesquisa publicada no periódico “Frontiers in Endocrinology“, foi comprovado que além de questões metabólicas, o histórico familiar mostrou-se como um importante fator, conclusão realizada após estudos com uma amostra de 250 pessoas jovens com obesidade , na qual entre as crianças analisadas, as que eram filhas de pais e avós com registros de obesidade mostravam-se mais propensas a desenvolverem os mesmos problemas.
Combates e movimentos de mobilização
Como exemplo de mobilização em prol da educação alimentar e do combate à obesidade, encontra-se o “obesidade infantil NÃO”, elaborado em 2014 pela Amil – empresa brasileira de assistência médica – que tem como objetivo aumentar a conscientização da sociedade a respeito do problema. Por meio de atividades em suas plataformas, a empresa busca convencer os responsáveis acerca da extrema importância de serem estabelecidos hábitos saudáveis tanto na alimentação como em outras áreas desde a infância.
Além disso, a Amil disponibiliza para os pais uma série de entrevistas e debates com médicos e especialistas da área, com o intuito de salientar a necessidade de engajamento na luta contra o problema.
Alimentação
Como responsabilidade dos pais, a alimentação dos menores deve ser balanceada, isso não significa que produtos industrializados devam ser completamente eliminados do cardápio, mas a moderação é necessária.
De acordo com a coordenadora de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Gisele Bortolini, a orientação destinada aos pais é descascar mais e desembalar menos, consumir mais alimentos in natura e evitar os alimentos ultraprocessados. Dessa forma, compreende-se que a tendência ao consumo de produtos industrializados ocorre, principalmente, em virtude da facilidade e praticidade que vem acompanhada dos alimentos processados, facilidade essa responsável por camuflar os problemas da obesidade infantil.
Exercícios
Além da alimentação balanceada, a limitação em relação ao tempo gasto em frente aos televisores e consoles de jogo faz-se essencial, de modo que a inserção dos jovens em atividades físicas como natação, corrida, futebol, entre outras, contribuem no combate ao sedentarismo e , consequentemente , à obesidade infantil.
“As crianças estão comendo menos feijão e arroz, e comendo mais alimentos ultraprocessados. Estão brincando menos, ficando muito tempo na frente das telas”- disse Gisele Bortolini.
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REFERÊNCIAS
Ana Carolina Reiff e Vieira; Rosely Sichieri: Associação do status socioeconômico com obesidade
Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia: o que é obesidade infantil
Terra: México é o país com mais obesos no mundo
Veja: quase um terço da população mundial está obesa ou acima do peso