Em 2020, a questão da dívida externa foi o foco dos debates na Argentina. O país totaliza, atualmente, 324 bilhões de dólares de dívida, cerca de 90% do PIB. No dia 31 de agosto de 2020, o país conseguiu reestruturar 99% da dívida externa após meses de negociações com os credores. Isso significou uma renegociação da dívida – a Argentina pagará US$ 54,8 para cada US$ 100 em dívidas, o que representa uma economia de cerca de US$ 30 bilhões. Essa renegociação constituiu a primeira conquista política do Presidente Alberto Fernandez.
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Já explicamos aqui no Politize! que a Argentina vem enfrentando uma intensa crise que dura aproximadamente 30 anos. Essa crise levou a uma série de instabilidades econômicas como a desvalorização do peso argentino, alta taxa de inflação e pedidos de ajuda do país ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
E o que significa dizer que um país tem dívida externa?
Dívida externa é a parcela da dívida pública que deve ser paga em moeda estrangeira – quase sempre em dólar americano. Isso ocorre porquê uma das alternativas que o governo dispõe quando precisa de recursos financeiros é contrair dívida pública e, como já explicamos, a dívida pública pode ser interna ou externa.
A dívida externa é, portanto, o somatório de empréstimos e financiamentos contraídos no exterior pelo próprio governo, por empresas estatais ou privadas. Os recursos são provenientes de governos estrangeiros, entidades financeiras internacionais (como o FMI ou o Banco Mundial) e também bancos ou empresas privadas.
A existência de uma alta parcela da dívida pública em moeda estrangeira deve ser observada com atenção, pois o país pode estar mais vulnerável à instabilidade econômica. Nesse cenário, a moeda local se deprecia e o dólar sobe, causando um aumento exponencial no valor da dívida. Além disso, a quantidade de dívida externa que um país possui pode ser considerado um “indicador de confiança” por parte dos investidores estrangeiros, ou seja, os investidores preferem não assumir dívida junto aos países com alta dívida externa, pois não confiam na manutenção do poder de compra da moeda local e, portanto, no pagamento do empréstimo.
Como a dívida externa deve ser liquidada em moeda estrangeira, a saída de uma grande quantia de dinheiro dos cofres públicos pode fragilizar a economia do país. Por conta disso, em geral, a política adotada é pagar os juros da dívida externa, sem priorizar o pagamento do principal. Isso faz com que a dívida fique sob controle e o país mantenha-se com um status “confiável”.
Dívida externa brasileira
Atualmente, a dívida pública do Brasil é composta principalmente por dívida interna. Informações de fevereiro de 2020 mostram que o Brasil possuí um índice de dívida pública de 88% do PIB. Segundo a representante do FMI, Joana Pereira, embora o Brasil tenha entrado em uma crise causada pela Covid-19, o país apresenta o “ponto forte” de ter uma dívida pública “mínima em moeda estrangeira”. A dívida externa bruta do ano de 2019 foi estimada em US$ 326,9 bilhões, 17,7% do PIB.
Entretanto, a situação do Brasil com relação à dívida externa nem sempre foi assim. O histórico de tomada de empréstimos estrangeiros data da Independência do Brasil, quando o país obteve, em 1824, 3,7 milhões de libras esterlinas destinadas à Portugal pelo reconhecimento da independência. Outro momento em que a dívida externa brasileira deu seu maior salto foi durante a Ditadura Militar, entre as décadas de 1960 e 1980. Antes do golpe de 1964, a dívida externa do Brasil era de 12 bilhões de dólares e, no final da ditadura, a dívida alcançou as casas dos 100 bilhões.
Já no ano de 2008 foi anunciado pelo Banco Central do Brasil que o país deixara de ser um país devedor para um país credor. Essa informação, no entanto, não significa que o país não possuía dívidas com outros países, mas sim que suas reservas internacionais tornaram-se maiores que a dívida externa daquele momento.
E aí, conseguiu entender o que é dívida externa? Conta para gente nos comentários!
REFERÊNCIAS
Balanço de Pagamentos – Ministério da Economia
Dívida externa do Brasil: trajetória da dívida externa brasileira
Como o Brasil se compara com os países mais endividados do mundo