Em 1987, um grupo de economistas na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU (Organização das Nações Unidas) apresentou o conceito de desenvolvimento sustentável. A ideia dessa nova forma de pensar o progresso estava alinhada com um crescimento em que se fosse analisado outras questões para além da renda, como qualidade de vida e meio ambiente.
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Desde então, houve significativos esforços para a mudança de mentalidade em relação a forma como os seres humanos estavam lidando com a situação ambiental. Todavia, até os dias atuais, ainda mensuramos o sucesso das nações através do PIB (Produto Interno Bruto), o que acaba indo de encontro com essa forma de pensar mais sustentável.
Neste artigo, vamos explicar o que seria o Inclusive Wealth (IW), e como ele pretende se tornar o indicador que busca mensurar o desenvolvimento sustentável das nações.
O que é o Inclusive Wealth?
O Inclusive Wealth (IW) – riqueza inclusiva, em português – nada mais é do que um novo indicador que busca medir o bem-estar da população de um determinado país ao longo do tempo. Através dele, os economistas acreditam que será possível fazer uma análise mais justa para expor as condições em que os cidadãos de uma nação vivem.
A grande diferença deste indicador para os existentes atualmente está na abrangência de sua análise, pois ele mede todos os ativos que foram produzidos para o bem-estar humano, incluindo o desenvolvimento das pessoas e a relação para com o meio ambiente. Sendo assim, é possível encontrar os países com potencial de manter o bem-estar para os seus cidadãos ao longo do tempo.
Por meio do resultado obtido pelo cálculo desse indicador, é possível fazer uma identificação mais clara de onde estão os problemas daquele país e, a partir disso, podem ser desenvolvidas políticas públicas para resolver tais problemas. Pois, como diria o vencedor do prêmio Nobel em Economia, Joseph Stiglitz, “se você não medir a coisa certa, você não fará a coisa certa”.
Ademais, ele surge como uma alternativa ao PIB, podendo até ser classificado como uma espécie de PIB sustentável. E também apresenta uma nova abordagem em relação ao que se é analisado no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
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Como ele é mensurado?
O cálculo do indicador é baseado na soma de 3 tipos de capitais: produtivo, humano e natural.
Por capital produtivo podemos incluir a situação do país em relação a sua infraestrutura, equipamentos, investimentos, ativos, população, crescimento, produtividade, etc. Nesse quesito, o indicador busca entender a capacidade com que a nação tem de gerar ganho de renda para os seus cidadãos, pois mediante a esse ganho de renda, é possível identificar a prosperidade e a evolução na qualidade de vida das pessoas.
No capital humano, é mensurado a situação relativa a educação, saúde, gênero, idade, população, mortalidade, desemprego, etc. Através dessa variável, os pesquisadores buscam saber como o desenvolvimento humano está posto em determinada região. Essa métrica é muito importante para entender se aquele país tem uma riqueza inclusiva e se o bem-estar do cidadão está evoluindo de forma justa e sustentável.
Por fim, o capital natural busca medir a quantidade de minerais e combustíveis fósseis que o país tem e como tais são usados, além de fazer uma vistoria sobre a situação do país em relação as suas florestas, rios, agricultura, oceanos, atmosfera, etc. É possível afirmar que o grande diferencial deste indicador reside aqui, pois o capital produtivo e o humano já apresentam algumas métricas consagradas, como o PIB e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), enquanto que o capital natural não tem.
Por meio da análise relativa ao capital natural, busca-se entender a forma como essa população está lidando com os seus recursos disponíveis – de forma sustentável ou predatória. Como o objetivo do indicador é mensurar o bem-estar em longo prazo, a situação do meio ambiente acaba sendo importante pois nos diz se aquele que aquele bem-estar pode ser mantido ao longo do tempo.
Quais foram os resultados do primeiro relatório?
A análise que consta no relatório publicado em 2018 faz a comparação do crescimento da IW dos países entre os anos de 1990 até 2014. O resultado geral dos 140 países analisados mostram que o mundo cresceu 44% nesse indicador, o que representa um crescimento anual de 1,8%.
Quando olhamos o crescimento mundial por tipo de capital vemos algumas tendências. No capital produtivo, o mundo cresceu a uma taxa de 3,8% ao ano, isso quer dizer que a capacidade de geração de riqueza pelos países teve aumento expressivo e constante, ou seja, nesse período os países se tornaram mais produtivos, investiram mais, melhoraram sua infraestrutura, etc.
Do ponto de vista do capital humano, a humanidade também melhorou, apresentando um aumento de 2,1% ao ano. Esse crescimento pode ser explicado pela melhoria nas condições de saúde e educação da população, isto é, o mundo conseguiu reduzir os índices de analfabetismo, a mortalidade caiu, a expectativa de vida aumentou, entre outros progressos.
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Por outro lado, o capital natural sofreu uma queda anual de 0,7%. A queda nesse indicador está em linha com o esperado, pois no período analisado o mundo aumentou a sua produção de poluição, reduziu o número de florestas, fez uma extração de recursos minerais além do que a natureza produz, etc.
O relatório também trouxe a composição dos tipos de capitais no índice, sendo que o capital humano representava 59% do total, sendo 26% para a educação e 33% para a saúde. O restante ficava dividido entre 21% para o capital produtivo, e 20% para o capital natural.
Mas o que essa composição quer dizer? Simples. Para o IW, 59% da melhora, ou piora, do bem-estar das pessoas estão ligados com o capital humano. Valendo ressaltar que essa composição é volátil, podendo citar o capital natural como um exemplo, pois hoje ele representa 20%, mas com os avanços de problemas gerados pela falta de cuidados com ele, pode fazer com que a sua representatividade no bem-estar das pessoas aumente.
O gráfico abaixo nos revela como foram a evolução média por ano do IW, durante o período analisado, em todo o globo.
Adentrando aos resultado do Brasil, pode-se exprimir que obtivemos avanços de forma geral, com um crescimento anual de 1,2% no IW, e de 0,6% quando se é analisado per capita. Os resultados positivos acabaram sendo impulsionados pelos avanços no capital produtivo (2,3%), ao passo que a nossa economia apresentou crescimentos consecutivos no PIB durante esse período, e no capital humano (2,2%), na qual foi-se exposto avanços no Brasil relacionados a qualidade de vida de seus cidadãos, como aumento de escolaridade e no acesso a saúde de qualidade.
Pelo lado negativo, o Brasil apresentou uma queda no capital natural durante esse período de 0,4% ao ano. Inclusive, o próprio relatório cita o caso do Brasil como um exemplo negativo, por causa dos avanços da agricultura na Amazônia e do consumo de combustíveis fósseis.
Como o IW se diferencia do PIB e IDH?
Ao contrário do PIB, o IW é capaz de fazer uma abordagem mais completa, pois baseia-se no entendimento de que bens e serviços só têm valor por contribuírem ao bem-estar humano. Além disso, o IW mede estoque, enquanto que o PIB mensura fluxos de riqueza. Devido à isso, é possível entender as condições indutoras capazes de gerar riqueza e bem-estar para os cidadãos naquela sociedade com mais facilidade pelo IW.
O IW segue a lógica do desenvolvimento sustentável e, por isso, ele incorpora diversos pontos sensíveis para a elevação da qualidade de vida das pessoas, indo desde o ganho de renda até as questões mais humanas, como educação, e ambientais, tal qual o uso dos combustíveis fósseis.
Sir Partha Dasgupta, conselheiro científico por trás do relatório do IW, escreveu recentemente sobre as diferenças entre o PIB e o novo indicador.
“A palavra desonesta em PIB é bruto. Ao analisar o crescimento com nada além da produção de bens e serviços, não há como explicar a destruição da base produtiva da economia – a degradação de seus ingredientes naturais”
Por fim, como o IW avalia um amplo espectro de tipos de riqueza, acaba-se fornecendo percepções únicas sobre quando um tipo de capital está sendo sacrificado para construir outro, e como o aumento em determinado tipo de capital pode influenciar o outro, e vice-versa, como ocorre com a relação entre o uso de combustíveis fósseis e saúde pública.
E você acredita que uma economia sustentável é possível?
O IDH é um indicador com uma visão holística do bem-estar humano, porém, ele ainda carece do olhar ambiental, de modo que é possível ter países bem classificados por esse indicador e com uma relação predatória nos seus ecossistemas naturais.
Um outro ponto que traz uma diferença significativa entre o IW e o IDH está na longevidade das análises. O IW traz uma visão de longo prazo, ancorada pelo conceito de desenvolvimento sustentável, pelo fato de querer extrair a sustentabilidade daquela nação para com a relação entre os 3 tipos de capitais, enquanto que o IDH nos dá um valor referente ao desenvolvimento humano atual, desconsiderando se esse bem-estar tende a se perpetuar.
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REFERÊNCIAS