Como a polarização é percebida no Brasil e no mundo
Pesquisa com cidadãos de diferentes países mostrou alta tensão entre diferentes grupos sociais.
Já explicamos aqui no Politize! que a polarização é a divisão política entre dois lados que radicalizam o discurso e resistem ao diálogo. Também mostramos como ela é um fenômeno antigo na humanidade, mas que tem tido um momento de alta nos últimos anos.
Porém, não é fácil comprovar essa tendência com dados objetivos e comparáveis com outras épocas e lugares. Uma das possibilidades é coletar a percepção das pessoas sobre como elas sentem o clima político em suas sociedades.
É isso que o Instituto Ipsos fez em uma pesquisa recente. Os resultados mostram como pessoas de diferentes locais percebem a polarização e trazem reflexões importantes para nós, brasileiros. Vamos conhecer e analisar esses resultados!
A polarização na visão das pessoas
A pesquisa, divulgada no final de junho, chama-se “Culture wars around the world: how countries perceive divisions” (algo como: “Guerras culturais pelo mundo: como os países percebem divisões”).
Nela, o Ipsos, por meio de sua plataforma online, coletou respostas de 23.004 pessoas entre 16 e 74 anos que vivem em 28 países diferentes.
Segundo o próprio instituto, no caso de alguns países, entre eles o Brasil, os respondentes são mais urbanos e possuem mais educação e renda que a maioria de suas populações, o que deve ser levado em conta ao analisar os dados.
Os pesquisados responderam qual nível de tensão percebem em diferentes disputas e divisões na sociedade. O estudo traz as porcentagens de respostas “fair amount” e “great deal”, equivalente a “muito” ou “muitíssima”.
A média global já mostra pistas importantes sobre as disputas que as pessoas vêem como mais polarizadas. As cinco principais são as seguintes.
Dessa forma, segundo os resultados, existe maior tensão entre diferentes setores da sociedade (ricos e pobres e diferentes classes sociais) e entre aqueles que têm ideias políticas diferentes.
A título de curiosidade, as relações com menor percepção de polarização são entre pessoas com e sem diploma universitário (47%), jovens e velhos (46%) e aqueles que vivem dentro e fora das grandes cidades (42%).
A polarização no Brasil e no mundo
Para entender e contextualizar a percepção dos brasileiros que participaram da pesquisa, vejamos as porcentagens de suas respostas em comparação com a média dos países pesquisados e com os três primeiros em cada quesito.
Das doze situações apresentadas pela pesquisa, o Brasil ficou acima da média em onze, em um claro sinal de que a polarização é vista como alta em nosso país.
Não surpreende que os Estados Unidos estejam no primeiro lugar deste ranking. Por lá, assassinatos de homens negros por parte da polícia levaram a diversos protestos em várias partes do país. Na África do Sul, que esteve por décadas sob o regime de divisão racial apartheid, também é esperado esse alto nível de tensão.
Em nosso país, onde jovens negros também são alvos preferenciais da polícia e o racismo tem sido mais discutido recentemente, o nível de tensão ficou um pouco abaixo, mas igualmente alto e acima da média.
A disputa entre progressitas e conservadores em torno de temas comportamentais e culturais – como descriminalização da maconha e do aborto, educação sexual em escolas, direitos de minorias etc. – pautou a eleição presidencial de 2018 em nosso país e contribuiu para a polarização que vemos nos últimos anos.
Segundo as respostas dos brasileiros, a tensão ainda é alta em torno desses temas e é possível imaginar que eles estarão presentes nas eleições em 2022 e nas discussões políticas por mais tempo.
Quando se fala da polarização entre apoiadores de diferentes partidos, o Brasil ficou em nono lugar na pesquisa, mas com um nível bastante alto: 83% dos respondentes apontaram “muita” ou “muitíssima” tensão entre esses grupos.
O resultado corrobora aquilo que especialistas têm apontado e pode ser visto em discussões políticas nas redes sociais, onde o diálogo é abafado por ofensas, acusações e generalizações.
Os níveis de tensão também são altos ao redor do mundo, seja em democracias consolidadas, como Estados Unidos e Coreia do Sul, seja em países nos quais ela se encontra sob forte ameaça, como é o caso da Hungria.
Mais uma vez, a percepção de polarização dos brasileiros fica acima da média global. Oito em cada dez participantes veem uma alta tensão entre os pobres e os ricos. Não é um resultado que surpreende para o oitavo país com maior desigualdade de renda no mundo.
A pesquisa não detalha quais são as “classes sociais” às quais se refere na pergunta, o que leva a crer que é uma divisão parecida com aquela entre ricos e pobres da questão anterior.
Até por isso, as respostas coletadas em nosso país foram parecidas em ambos os casos. Para quase 80% dos brasileiros, existe muita tensão entre essas classes.
Os dados em perspectiva
A pesquisa realizada pelo instituto Ipsos não é uma prova definitiva e incontestável de que vivemos um momento de alta polarização na sociedade, mas é uma amostra útil da percepção dos cidadãos de diferentes partes do mundo.
Em oito das doze questões colocadas, mais da metade dos respondentes percebe muita ou muitíssima tensão entre diferentes grupos sociais. Coreia do Sul, Chile, Hungria e Argentina foram os países que mais figuraram nas primeiras posições.
O Brasil não esteve entre os países com maior presença no topo dos rankings, mas em quase todas as vezes ficou acima da média. Com a aproximação das eleições gerais de 2022, a tendência é que essa tensão aumente e tenhamos um cenário parecido com o que vimos em 2018.
Por isso, são cada vez mais importantes iniciativas para promover o diálogo e a tolerância no debate público, sejam elas individuais ou coletivas. Aqui você pode conferir a campanha criada pelo Politize! para apoiar a cultura do diálogo.
Para ler os resultados completos, acesse a pesquisa clicando aqui.