Você já ouviu falar em etnocentrismo?
Conviver com pessoas diferentes não é fácil, por isso a tendência é sempre impor a nossa cultura sobre o outro. Essa atitude é considerada etnocêntrica. Mas o que é isso?
Neste texto, a Politize! te explica o que é etnocentrismo.
O que é o etnocentrismo?
Antes de definir o que é etnocentrismo, é preciso entender o conceito de cultura e como ele está interligado com o conceito de etnocentrismo. Cultura é um conceito amplo, existem vários tipos de definições.
Para o antropólogo Franz Boas:
“Cultura abrange todas as manifestações de hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo afetado pelos hábitos do grupo em que vive e o produto das atividades humanas, como determinado por esses hábitos.” (Boas, 1930, tradução própria)
A palavra etnocentrismo é um conceito que vem dos radicais “etno” (etnia) e “centrismo” (centro), portanto, etnocentrismo é o ato de julgar a cultura do outro baseado na sua própria crenças, moral, leis, costumes e hábitos.
Por exemplo: achar que a cultura ocidental é o modelo de sociedade correta e a cultura do oriente médio é errada ou vice-versa.
Leia também: Cultura: O que é e quais tipos existem?
Quem inventou o conceito de etnocentrismo?
O antropólogo britânico Edward Tyler (1832-1917) em seus estudos utilizava a corrente evolucionista que embasava a existência de cultura superior e inferior. A corrente evolucionista acredita que a sociedade começa de forma primitiva até chegar ao progresso.
Conforme as palavras de Edward Tyler:
Comparando os vários estágios de civilização entre as raças conhecidas da história, com ajuda da inferência arqueológica derivada dos restos de tribos pré-históricas, parece possível formar uma opinião, ainda que grosseira, sobre uma condição anterior geral do homem. Do nosso ponto de vista, essa condição deve ser tomada como a primitiva, mesmo que na realidade, algum estágio ainda mais remoto possa ter existido antes dela. Essa condição primitiva hipotética corresponde, em considerável medida, à das tribos selvagens modernas que, apesar da diferença e distância entre si, têm em comum certos elementos de civilização que parecem resíduos de um estágio anterior da raça humana em geral. Se essa hipótese for verdadeira, então, apesar da contínua interferência da degeneração, a tendência central da cultura, desde os tempos primevos até os modernos, foi avançar, a partir da selvageria, na direção da civilização (TYLOR, 2005).
Entretanto, o etnocentrismo sempre existiu. Os europeus acreditavam que a cultura europeia era a certa e que todas as outras culturas deveriam compartilhar dos mesmos valores.
Ao longo da história vários momentos etnocêntricos foram acontecendo, a exemplo a Segunda Guerra Mundial com o Nazismo, que acreditava na superioridade da raça ariana sobre as outras, e a Guerra Fria onde os Estados Unidos da América – EUA e União Soviética competia para impor qual cultura era melhor.
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Quais são os tipos de etnocentrismo?
O etnocentrismo existe até hoje e pode ser expressado de diversas formas, desde as mais explícitas e até veladas. São práticas para classificar, subjugar e inferiorizar outras culturas.
A sua narrativa é sempre impor uma opinião, julgamento, doutrina, moral, valores, segundo a sua própria visão de mundo ou de determinado grupo. Ela não busca compreender o mundo na visão do outro, e sim utilizar a violência verbal ou física.
São exemplos de etnocentrismo a intolerância religiosa e a xenofobia. No caso da intolerância religiosa, ou etnocentrismo religioso, o intolerante acredita que sua religião é a certa e todas as outras devem seguir os mesmo preceitos.
Por último, a xenofobia, o xenofóbico acredita que existe uma cultura superior, denominando a de “primeiro mundo” e a cultura inferior que seria o “terceiro mundo”. E todas as demais culturas devem seguir seus hábitos, moral e vestimentas.
Logo, o etnocentrismo não aceita o diferente, sua visão de mundo é centrada nele mesmo, em sua própria cultura e modo de vida.
Ouça também nosso podcast sobre intolerância religiosa!
Que críticas recebe a visão etnocêntrica?
Foi com o pai da antropologia, o alemão Franz Boas (1858-1942) que a palavra etnocentrismo foi rompida, contraponto com o relativismo.
O relativismo compreende que não existe uma cultura certa ou errada, desenvolvida ou subdesenvolvida, primitiva, e sim culturas diferentes.
O relativismo entende que a cultura de uma pessoa ou grupo não pode ser avaliada segundo o preceito de uma cultura dominante e sim compreendida através dos próprios valores daquela cultura.
O relativismo cultural é reconhecer a diversidade de todas as culturas, porém, não significa normalizar o absurdo, mas, sim, entender a cultura no ambiente do outro, independente do julgamento de valor.
E você, consegue identificar atitudes etnocentristas no seu dia a dia?
Referências:
- BOAS, Franz. “Anthropology”. Em: Encyclopedia of the Social Sciences, vol. 2
- Brasil Escola – Franz Boas
- ROCHA, Everardo Pereira Guimarães. O que é etnocentrismo?. Col. Primeiros Passos. 5. Ed. São Paulo: Brasiliense, 1988
- TYLOR, E. B. A ciência da cultura. In: CASTRO, Celso (org.) Evolucionismo cultural. Trad. Maria Lúcia de Oliveira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005
2 comentários em “Etnocentrismo: entenda a que se refere esse conceito”
Texto claro, objetivo e exclarecedor? Parabéns!
O etnocentrismo é a atitude de julgar outras culturas com base nos valores e padrões da própria cultura, muitas vezes considerando-a superior. Essa visão pode gerar preconceito e discriminação, dificultando o entendimento e a valorização da diversidade cultural. Ao reconhecer o etnocentrismo, podemos desenvolver uma postura mais aberta e respeitosa em relação a outras culturas, promovendo o diálogo intercultural e combatendo a intolerância.