Se você está estudando ou já estudou sobre a 1ª Guerra Mundial, deve ter ouvido falar do Império Otomano, certo? Ele foi um dos impérios mais poderosos do mundo durante os séculos XV e XVI, com uma duração de mais de 600 anos.
Em seu auge, abrangeu a maior parte do sudeste da Europa até os portões de Viena, incluindo a atual Hungria, a região dos Balcãs, a Grécia e partes da Ucrânia; porções do Oriente Médio e grandes partes da Península Arábica! Ele foi realmente gigantesco!
Mas o que foi exatamente esse Império? Por que não existe mais? Qual a sua relevância histórica e qual foi seu papel na 1ª Guerra Mundial? Isso tudo a Politize! te explica agora!
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Origens e expansão do Império Otomano (1299 – 1453)
As origens do Império Otomano estão na Anatólia, conhecida hoje como Ásia menor. No século 13, este território era dividido entre vários principados, e Osman I (1258 – 1324), chefe de um desses principados, foi o responsável pelo início da construção de um império. O nome “Otomano” inclusive deriva da forma árabe de Osman (ʿUthmān).
Nos períodos iniciais de expansão, os otomanos eram líderes dos guerreiros turcos muçulmanos, conhecidos como ghāzī (em árabe “invasor”), que lutaram contra o estado bizantino cristão. Os ancestrais de Osman I, eram membros da tribo Kayı, que haviam entrado na Anatólia junto com uma massa de nômades turcomenos Oğuz.
Esses nômades, migrando da Ásia Central, estabeleceram-se como a dinastia seljúcida no Irã e na Mesopotâmia em meados do século XI, dominaram Bizâncio após a Batalha de Manziquerta (1071) e ocuparam a Anatólia oriental e central durante o século XII.
Com a desintegração do poder seljúcida e sua substituição pela suserania mongol, principados turcos independentes – um dos quais liderado por Osman – surgiram no restante da Anatólia.
Osman I aproveitou o declínio e desintegração da dinastia Seljúcida e a divisão da Anatólia em diversos principados turcos durante o Século 13, um dos quais ele próprio liderava, para conquistar importantes territórios bizantinos. Em 1299, tendo conquistado vários territórios da região, fundou o Império Otomano.
Os otomanos foram capazes de aproveitar a decadência do sistema de defesa da fronteira bizantina e o aumento do descontentamento econômico, religioso e social no Império Bizantino e, começando sob Osman e continuando sob seus sucessores Orhan (Orhan governou 1324-60) e Murad I (1360-1389), assumiu territórios bizantinos, primeiro na Anatólia ocidental e depois no sudeste da Europa.
Mas foi sob Bayezid I (1389-1402) que a riqueza e o poder conquistados por essa expansão inicial foram usados para anexar os principados turcos da Anatólia.
Batalhas decisivas
Murad I (1360–89), terceiro líder do Império, incorporou ao seu território muitos vassalos europeus. Ele manteve governantes nativos locais, que em troca aceitaram sua suserania, pagaram tributos anuais e forneceram contingentes para seu exército quando necessário.
Essa política permitiu que os otomanos por muitas vezes evitassem a resistência local, garantindo aos governantes e súditos que suas vidas, propriedade, tradições e posições seriam preservadas se aceitassem pacificamente o domínio otomano. Também permitiu aos otomanos governar as áreas recém-conquistadas sem construir um vasto sistema administrativo próprio.
É importante destacar essa ação de Murad I pois essa será uma característica comum do Império Otomano ao dominar outros povos, pelo menos em seus primeiros estágios de expansão, e isso garantiu que a resistência de territórios conquistados fosse suprimida, em muitos momentos.
A Batalha de Kosovo travada entre Murad e o príncipe sérvio Lázaro da Sérvia, em 1371, culminou na derrota dos cristãos e garantiu a ocupação otomana nos Bálcãs. Já a vitória turca na Batalha de Varna em 10 de novembro de 1444, travada por Murade II, encerrou o último esforço importante das Cruzadas Europeias contra os otomanos.
A conquista de Constantinopla
Por ser um sultão jovem, Mehmed II (1444–46) que tinha apenas 19 anos, buscou mostrar seu valor ao se empenhar na difícil conquista de Constantinopla. Mehmed construiu a Fortaleza Rumeli no lado europeu do Bósforo, de onde conduziu o cerco (6 de abril a 29 de maio de 1453) e a conquista de Constantinopla.
A transformação dessa cidade na capital otomana de Istambul marcou uma nova etapa importante na história otomana e do mundo. Foi com a queda de Constantinopla que historiadores consideram o fim da Era Medieval. Internamente, significou o fim do poder e da influência da antiga nobreza turca, cujos líderes foram executados ou exilados na Anatólia e cujas propriedades europeias foram confiscadas. Isso porque o conflito era muito mais do que uma guerra entre muçulmanos e cristãos.
Do lado do Império Otomano, havia líderes não muçulmanos, como um engenheiro chefe húngaro e católico, que criou o maior canhão até então e que foi usado no cerco contra Constantinopla. Já no lado bizantino, ortodoxos e católicos possuíam desconfiança mútua, prova disso é que o principal ministro bizantino demonstrava maior simpatia à muçulmanos em detrimento dos católicos.
Após a tomada da capital, a primeira ação tomada por Mehmed II foi transformar a Igreja Ortodoxa Cristã de Santa Sofia em uma mesquita. Externamente, a conquista fez de Mehmed II o governante mais famoso do mundo muçulmano.
Um fato interessante é que a captura de Constantinopla pelos otomanos fez com que muitos estudiosos fugissem para a Itália e trouxessem consigo conhecimentos que ajudaram a dar início ao Renascimento!
Expansão e apogeu do Império Otomano (1453 – 1566)
A conquista de Constantinopla foi seguida por uma expansão das fronteiras, indo em direção a Europa e norte da África. Essa ampliação também aconteceu por vias marítimas, onde a Marinha Otomana bloqueou as principais rotas comerciais marítimas entre a Europa e a Ásia.
Esse bloqueio comercial entre a Europa Ocidental e a Ásia é frequentemente citado como fator primário de incentivo a viagens marítimas, na busca por outras rotas de navegação. Esse foi o período em que reis da Espanha concederam tais financiamentos, e uma dessas viagens foi a do navegador e explorador Cristóvão Colombo, ocasionando em sua chegada no continente americano.
O Império manteve-se como uma potência expansionista até a Batalha de Viena em 1683, que marcou o fim da expansão otomana na Europa.
Para exemplificar um pouco o resultado expansionista em termos de população, em 1914 a população total do Império Otomano era de aproximadamente 25 milhões, dos quais cerca de 10 milhões eram turcos, 6 milhões de árabes, 1,5 milhão de curdos, 1,5 milhão de gregos e 2,5 milhões de armênios.
Nesse período a população estava cada vez mais homogênea em religião e idioma, embora uma variedade de idiomas continuasse a ser falada.
Declínio e dissolução (1566 – 1922)
Um fator importante no declínio do Império Otomano foi a crescente falta de habilidade e poder dos próprios sultões. Süleyman I (1520–66), 12º sultão a ocupar o poder do Império, se cansou das campanhas e árduas tarefas administrativas e se afastou cada vez mais dos assuntos públicos para se dedicar aos prazeres de seu harém, passando grandes responsabilidades para o grão-vizir, um cargo construído para ficar atrás apenas do sultão em autoridade e assuntos econômicos.
A autoridade do grão-vizir incluía o direito de exigir e obter obediência absoluta. Mas, embora ele pudesse substituir o sultão em funções oficiais, não poderia ocupar seu lugar como foco de lealdade para todas as diferentes classes e grupos do Império. A resultante separação entre lealdade política e autoridade central levou a um declínio na capacidade do governo de impor sua vontade.
Ainda internamente, o período também foi marcado por corrupção e nepotismo. Como resultado de tais atitudes, o que houve foi uma crescente paralisia da administração em todo o Império, crescente anarquia e desgoverno, e o começo de uma ruptura na sociedade.
Nessas condições, problemas econômicos também passaram a ser controlados com dificuldades. As dificuldades econômicas começaram no final do século XVI, quando holandeses e britânicos fecharam completamente as antigas rotas de comércio internacional pelo Oriente Médio. Como resultado, a prosperidade das províncias do Oriente Médio diminuiu.
A economia otomana foi perturbada pela inflação, causada pelo influxo de metais preciosos na Europa vindos das Américas e por um crescente desequilíbrio do comércio entre o Oriente e o Ocidente. No entanto, a ascensão do nacionalismo contribuiu drasticamente para o início do fim do Império.
A crescente do nacionalismo varreu vários países durante o século XIX, e o Império Otomano não ficou imune. A consciência nacional e étnica crescente, fez do pensamento nacionalista uma das ideias ocidentais mais significativas importadas para o vasto território.
Ele então foi forçado a lidar com esse momento de inflamação tanto dentro como fora das suas fronteiras, onde também houve um aumento significativo no número de partidos políticos revolucionários.
Levantes em território otomano tiveram muitas consequências de longo alcance durante o século XIX e determinaram grande parte da política do império durante o século XX. Muitos turcos otomanos questionavam se as políticas do Estado não eram culpadas.
Apesar de alguns sucessos nessa época, a capacidade do Estado para ter qualquer efeito sobre revoltas étnicas foi seriamente posta em dúvida. Apoiadas pelo Império Russo, Sérvia e Montenegro declararam guerra ao Império Otomano. Em 1821, a Grécia tornou-se o primeiro país dos Bálcãs a declarar a sua independência do Império Otomano (reconhecido oficialmente pelo império em 1829), após o fim da Guerra da Independência Grega.
Veja também nosso vídeo sobre nepotismo!
Jovens Turcos e as conspirações contra o governo
O nacionalismo motivou o que seriam várias conspirações contra o 34º Sultão otomano Abdülhamid. Em 1889, uma conspiração na faculdade de medicina militar, impulsionada pelos ideais nacionalistas, se espalhou para outras faculdades de Istambul.
Os conspiradores passaram a se chamar Comitê de União e Progresso (CUP), e eram comumente conhecidos como Jovens Turcos. Em 11 de junho de 1913, a CUP consegue estabelecer um governo sob Said Halim Paşa, permitindo a criação de um governo constitucional que garantiria direitos básicos.
O governo dos Jovens Turcos assinou um tratado secreto, estabelecendo uma aliança otomana com a Alemanha, contra um inimigo em comum: a Rússia. O Império Otomano entrou na Primeira Guerra Mundial, após o incidente Goeben e Breslau, na qual concedeu porto seguro para dois navios alemães que estavam fugindo de navios britânicos.
Estes navios, após terem sido oficialmente transferidos para a marinha otomana, mas efetivamente ainda sob controle alemão, atacaram o porto russo de Sebastopol. O Império foi arrastado para a guerra ao lado das Potências Centrais, na qual tomaram parte no fronte do Oriente Médio.
1ª Guerra Mundial
A entrada otomana na 1ª Guerra Mundial resultou de um vislumbre dos otomanos sobre as primeiras vitórias alemãs, e exceto pelo interesse da Rússia em Istambul e no estreito entre os mares Negro e Mediterrâneo, nenhuma potência europeia tinha interesses tão fortes no Império Otomano.
Sua posição poderia ter permanecido neutra, como a maioria do governo desejava, pelo menos até que a situação ficasse mais clara. Mas o atrito com a Tríplice Entente (França, Rússia e Grã-Bretanha) decorrentes do abrigo concedido pelo império aos navios de guerra alemães, e a hostilidade de longa data com a Rússia, ocasionou em uma declaração de guerra da Entente contra Istambul.
Durante a guerra, os Jovens Turcos também aproveitaram a oportunidade para atacar certas questões internas. O status autônomo do Líbano foi encerrado, vários nacionalistas árabes foram executados em Damasco (agosto de 1915 e maio de 1916), e a comunidade armênia no leste da Ásia Menor e na Cilícia foi massacrada ou deportada para eliminar qualquer apoio à Rússia. Entre 600.000 e 1.500.000 armênios foram mortos. Esses eventos são agora amplamente descritos como um genocídio do povo armênio.
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Um dos maiores genocídios da história
Em 1915, o exército russo avança na Anatólia Oriental com a ajuda dos batalhões de voluntários armênios da região do Cáucaso do Império Russo, ajudado por alguns armênios otomanos.
O governo otomano então se valeu de tal acontecimento para começar o seu extermínio de toda a população armênia. Através de marchas forçadas e os massacres, os armênios que vivem no leste da Anatólia foram tirados de suas terras natais e enviados para o sul, como as províncias otomanas na Síria e Mesopotâmia.
As estimativas sobre o número de mortos durante o genocídio armênio variam de um milhão de até 1,5 milhões de pessoas.
Fim do Império Otomano
Seu fim pode ter se dado por fatores internos, dentre eles a falta de ajuste aos avanços da era Moderna e a abrangência de seu território, o que dava margem para revoltas nacionalistas.
No entanto, o fato concreto que marca seu fim foi a derrota da Tríplice Aliança na 1ª Guerra Mundial. Em 30 de outubro de 1918 os otomanos assinaram o Armistício de Mudros, e em 1923 chegou ao fim oficialmente com a criação da República da Turquia, como conhecemos hoje.
E aí, gostou de saber um pouco mais sobre a história do longevo Império Otomano? Hoje podemos não ter dimensão de suas proporções, mas vivemos em um mundo que foi definitivamente moldado por ele. Agora aproveite para aprender mais sobre outros temas históricos aqui na Politize! e mandar bem na hora do debate!
1 comentário em “Império Otomano: desde sua origem até seu declínio”
Muito bom! 5 ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️