Tancredo Neves: o presidente que poderia ser mas não foi

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Mineiro de São João del-Rei, nascido em 4 de março de 1910, Tancredo de Almeida Neves foi um advogado, administrador e político brasileiro. Esteve presente em alguns dos momentos de maior movimentação política e social do Brasil, como durante a Ditadura Militar e a redemocratização.

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Tancredo Neves ganhou destaque na política passando por cargos legislativos e executivos, também esteve presente durante o breve período parlamentarista da década de 1960 no Brasil. Mas a sua história é, até os dias de hoje, lembrada pelo momento final de sua vida, quando ele ganha as eleições indiretas, mas não toma posse.

Neste texto, a Politize! trás um pouco da história de Tancredo Neves, o presidente que não foi, mas que poderia ter sido. As suas participações políticas e a sua despedida da vida.

E você, sabe quem foi Tancredo Neves?

A vida de Tancredo Neves

Filho de Francisco de Paula Neves e Antonia de Almeida Neves, foi o quinto dos doze filhos do casal. Desde cedo Tancredo teve contato com a política, seu pai chegou a ser vereador do município de São João del-Rei.

Segundo o próprio Tancredo Neves seu pai foi uma de suas primeiras e principais influências na vida pública. Desde quando trabalhava como comerciante, o seu Francisco, já acompanhava e participava da atividade política da cidade.

Em abril de 1928, Tancredo Neves ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, localizada em Belo Horizonte.

Foi durante as eleições presidenciais de 1930 onde, de fato, Tancredo teve seu primeiro contato com a participação política nos episódios da Revolução de 1930. Apoiador de Getúlio Vargas, o estudante de Direito pregava os ideais de renovação política em apoio ao fim da República Velha.

Tancredo Neves na política

Em 1932, formou- se em Direito e retornou para sua cidade, São João del-Rei, onde atuou como advogado e como promotor, por pouco tempo. Apenas em 1935 foi que o mineiro foi eleito para o seu primeiro mandato político como vereador com a maior votação entre todos os que disputavam o cargo.

Tancredo Neves foi filiado ao Partido Popular (PP), sua primeira legenda dentro da vida política, e chegou a ser presidente da Câmara Municipal ao longo do seu mandato.

Contexto do Estado Novo no Brasil

Entre os anos de 1937 até 1945, o Brasil passava por um momento conhecido como Estado Novo, que foi durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930 – 1945). Foi um período caracterizado pelo nacionalismo exacerbado, o anticomunismo e pelo autoritarismo.

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Como o poder estava centralizado no presidente, ele decidiu fechar o Congresso Nacional e aprovar uma nova constituição, garantindo plenos poderes para si. E justamente neste período, quando a Ditadura do Estado Novo fechou os poderes legislativos, Tancredo perdeu o seu mandato e retornou a advogar.

Foi advogado do Sindicato dos Ferroviários e chegou a ser preso por participar de uma greve, mas foi solto dois dias depois. Neste mesmo ano, tornou-se diretor de uma empresa de tecelagem que vendia suas produções para o Estado de São Paulo. Durante o tempo do Estado Novo, ficou afastado da vida política.

Redemocratização do Brasil em 1945 e a volta de Tancredo Neves

Com o final da Segunda Guerra Mundial, Vargas foi retirado da presidência e o presidente em exercício, o ministro do STF, José de Linhares, convocou novas eleições para o final de 1945. Neste momento houve a liberação para que novos partidos políticos pudessem ser criados.

Com a volta democrática, novas eleições para Presidente da República e para a Assembleia Nacional foram acertadas. E após a promulgação da Constituição de 1946, as novas eleições de janeiro de 1947 para governadores, deputados federais e estaduais foram acertadas.

Nessa redemocratização, Tancredo Neves volta à vida política com um novo partido: o Partido Social Democrático (PSD). Nessa nova empreitada, Tancredo foi eleito deputado estadual em Minas Gerais em 1947, e participou como relator da constituição estadual mineira.

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Durante o seu mandato de oposição ao governo de Milton Campos da UDN, Tancredo precisou se preparar rapidamente para concorrer a deputado federal, pois o candidato que iria disputar desistiu de última hora. Mesmo assim, 1950 foi o ano em que o mineiro Tancredo Neves integrou o Congresso Nacional pela primeira vez.

Seu primeiro mandato na Assembléia Nacional foi de 1951 a 1955 e durante esse tempo também atuou em outros cargos políticos, como: Ministro da Justiça do segundo governo de Vargas de 1953 a 1954 e Diretor do Banco de Crédito Real, em 1955. Após esse primeiro período político, foi Diretor do Banco do Brasil de 1956 a 1958.

Contando com a experiência em bancos nacionais, Tancredo Neves foi Secretário de Finanças do estado de Minas Gerais entre 1958 e 1960 durante o governo estadual de seu companheiro de partido, José Bias Fortes.

Tancredo Neves no Poder Executivo

O início da década de 1960 no Brasil foi marcada por movimentos políticos que beiravam a instabilidade democrática. A entrada da década foi tranquila, Juscelino Kubitschek, também mineiro e colega de partido de Tancredo – no PSD – cumpriu os cinco anos de mandato na presidência, de 1956 a 1961.

Com o seu sucessor, Jânio Quadros, a história foi diferente. Jânio, além de ser o primeiro presidente a inaugurar Brasília com o início de mandato de um líder do executivo, não sustentou a pressão do congresso e renunciou ao cargo sete meses depois de ter iniciado.

Sua renúncia colocava o seu vice João Goulart como o sucessor do cargo de presidente, mas as Forças Armadas não o viam com bons olhos e estavam dispostos a darem um golpe de estado no político que tinha tendências trabalhistas. Visto o problema adiante, o Congresso rapidamente aprovou uma solução que agradava os dois lados.

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Em poucos dias – após a renúncia de Jânio, o Congresso Nacional aprovou o regime parlamentarista no Brasil. Onde João Goulart se tornou o presidente, sendo o Chefe de Estado, e Tancredo Neves tomando conta do Poder Executivo, foi o primeiro-ministro do Brasil.

Apesar do curto período como Chefe do Executivo, de 1961 a 1962, Tancredo teve a sua continuidade na vida política em um cargo que estava acima de qualquer outro que já esteve. Seu curto período no cargo foi substituído pela sua volta ao Congresso Nacional.

Contexto da Ditadura Militar no Brasil

Durante os seguidos mandatos de Tancredo na Assembleia Nacional, ocorreu no Brasil o período da Ditadura Militar. Em 1964, após declaração de vacância do Congresso Nacional e com a queda de João Goulart, os militares assumiram o governo no Brasil.

Tancredo se manteve presente como deputado federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Os relatos são de que ele nunca foi um opositor ferrenho da Ditadura, preferiu estar em uma posição menos radical para evitar o desgaste com os militares e se manter na vida política.

Tancredo Neves foi deputado federal durante quatro mandatos consecutivos, no período. De 1963 a 1979, quando se candidatou ao senado e cumpriu o seu mandato de 1979 a 1983. Se manteve no âmbito político, adquirindo mais experiência e bons olhos dentro do cotidiano público e político.

Enquanto Senador pelo estado de Minas Gerais, Tancredo – um dos políticos civis da época, foi uma das personalidades que mais ganharam destaque e influência na tentativa da redemocratização, já que os militares estavam sofrendo grandes críticas cada vez mais e em vários âmbitos políticos.

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Tancredo Neves como presidente

A década de 1980 começou não muito boa para a Ditadura militar. Pressões populares iam ganhando força e apoio ao redor do país. O movimento das Diretas Já, em 1983, iniciou com uma proposta de emenda na constituição do deputado Dante de Oliveira, do PMDB, que propunha eleições diretas para presidente.

A proposta era para a volta da democracia, com o povo escolhendo o seu presidente. Entretanto, a emenda foi rejeitada pela Câmara dos Deputados, faltando apenas 22 votos para ser aprovada e com um número alto de abstenções: 112.

Nesse período, Tancredo Neves renunciou ao senado, pois venceu as eleições para governo do estado de Minas Gerais. Filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Tancredo continuava tentando uma conciliação com o então Presidente da República João Figueiredo para tratar o movimento das Diretas Já com atenção.

Saiba mais: eleições diretas e indiretas.

O mineiro de São João del-Rei apoiou o movimento das eleições diretas, indo nos comícios, participando ativamente da virada política no Brasil. E após períodos de tensão, a abertura política se consolidou e marcou eleições indiretas para Presidente da República após mais de 20 anos do governo ditatorial.

Tancredo Neves estava disposto a participar das eleições com a sua candidatura. Junto dele, Paulo Maluf – do PDS, disputou a vaga para o cargo do executivo nacional. Tancredo teve sua popularidade alcançada durante os comícios das Diretas Já, e utilizou essa aproximação do povo para fazer a sua campanha eleitoral por todo o país.

E após reunir os votos do Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985, Tancredo de Almeida Neves foi o escolhido, com mais de 72% dos votos, para assumir o cargo da presidência da república. Depois de 21 anos, o Brasil voltava – mesmo que de forma indireta, a ter um político civil como Presidente.

Morte de Tancredo Neves

A posse só seria realizada no dia 15 de março de 1985, dois meses depois da eleição. Tancredo Neves e seu vice escolhido, José Sarney, também do PMDB, iniciaram – após o resultado, uma agenda cheia de viagens e reuniões para articular com políticos do Congresso, Senado e governadores dos estados.

Entretanto, durante os compromissos, e com a proximidade do dia da posse, Tancredos vinha sofrendo fortes dores abdominais e mesmo com recomendação médica para procurar tratamento, Tancredo insistia em esperar pela posse presidencial.

Sua insistência era baseada no temor de que os militares da linha dura, ainda na vida política, não deixassem o seu vice assumir em seu lugar. E na véspera da posse, dia 14 de março, Tancredo passou por dores agudas, cada vez mais fortes e foi internado em estado crítico no Hospital de Base do Distrito Federal.

Nesse momento a notícia percorria todo o país que entrou em estado de alerta sobre qual seria o destino não apenas do então presidente eleito, mas também ficaram preocupados com o destino do país. Tancredo Neves precisou passar por cirurgia no mesmo dia, devido a uma infecção generalizada.

A posse precisou ser adiada e a desconfiança da sobrevivência de Tancredo só aumentava. Ao todo, o mineiro precisou passar por sete cirurgias, ficou internado por semanas em Brasília e depois mais um tempo em São Paulo. Mas não resistindo às complicações, Tancredo Neves faleceu na noite do dia 21 de abril de 1985, aos 75 anos.

Com sua morte, José Sarney assumiu a Presidência da República e tocou os primeiros passos da redemocratização brasileira. E mesmo cheio de desconfiança, instaurou a nova constituição de 1988 – ainda vigente, e cumpriu o seu mandato oficial até as próximas eleições em 1989.

A causa da morte é discutida até hoje. Os médicos disseram que ele foi vítima de uma diverticulite, outros afirmaram ter sido vítima de um leiomioma, mas a população acreditava ser por uma infecção generalizada.

Anos depois, em 2010, o historiador Luís Mir, após investigação e pesquisa de documentos, concluiu que a morte do mineiro de São João del-Rei foi resultado de diversos erros médicos durante as cirurgias. A família apoia esta conclusão e contesta os erros cometidos até os dias de hoje.

Tancredo Neves entrou para a história do Brasil como uma das figuras que poderia mudar o rumo da nação após os anos de ditadura. A confiança popular era grande e a esperança precisou ser depositada em seu vice. Tancredo deixou a sua marca política e é reconhecido para sempre como o presidente que não foi, mas poderia ter sido.

E você, aprendeu algo novo sobre a história de Tancredo Neves? Nos conte nos comentários! E para saber mais sobre as histórias dos políticos brasileiros, continue lendo os textos da Politize!

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Conteúdo escrito por:
É nascido e criado no ABC Paulista, Bacharel em Relações Internacionais e tem grande interesse por assuntos relacionados à América Latina, Política Externa Brasileira e Educação. Tem experiência em coordenar projetos de Simulações das Nações Unidas. Ativista a favor do acesso à educação, acesso à oportunidades de aprendizado e preservação do meio ambiente.
Jeremias, Matheus. Tancredo Neves: o presidente que poderia ser mas não foi. Politize!, 15 de junho, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/tancredo-neves/.
Acesso em: 23 de nov, 2024.

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