Dados do censo 2022 mostram que a população brasileira está envelhecendo. Isso é reflexo da crescente expectativa de vida e da diminuição da taxa de fecundidade no país. Se, por um lado, é bom que estamos vivendo mais, por outro, isso tem sérias consequências. O que isso significa para o futuro do país? Quais são os desafios e as oportunidades que essa mudança demográfica traz? Neste texto, a Politize! explora alguns desses problemas.
Censo demográfico
O que é ‘censo demográfico’?
Os censos demográficos nada mais são do que a coleta sistemática e rigorosa de dados sobre os membros de uma população específica. No Brasil, o censo é realizado em todo o território nacional, a cada dez anos, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O objetivo é entender as características da população de modo a embasar a criação de políticas públicas, pesquisas acadêmicas e até decisões da iniciativa privada. Veja alguns exemplos de dados que podem ser coletados:
- Demográficos, como idade, sexo, status civil, fecundidade, nascimentos e óbitos, etc.;
- Socioeconômicos, como alfabetização, escolaridade, renda e ocupação;
- Domiciliares, como tipo de moradia, infraestrutura (água, saneamento, eletricidade, etc.), aluguel ou posse, pessoas por residência, etc.;
- Familiares, como chefia familiar, estrutura e tamanho, etc.;
- Raça ou etnia;
- Migração;
- Acesso a serviços públicos, entre outros.
O censo busca alcançar, idealmente, todas as pessoas da população alvo. Assim, ele difere de pesquisas por amostragem, as quais coletam dados de grupos representativos da população e fazem inferências sobre o total utilizando métodos estatísticos e probabilísticos. Nesse caso, os resultados variam dentro de uma margem de erro considerável e somente são úteis quando a amostra é de fato representativa do grupo representado.
Por exemplo, para entender as características de uma população de 10 milhões de pessoas, uma pesquisa por amostragem poderia entrevistar 5 mil pessoas, ou seja, 0,05% do total. Esses entrevistados seriam selecionados proporcionalmente à composição da população total (por renda, gênero, raça, etc.). Esse tipo de pesquisa é muito útil, e sua grande vantagem é produzir resultados mais rápidos e com custos muito menores.
Contudo, ela é limitada. Primeiro, não é muito confiável para fazer inferências sobre populações reduzidas, como a de municípios pequenos. Segundo, como dito acima, essa pesquisa precisa saber a composição da população total de modo a confeccionar a amostra mais adequada.
É aí que entra o censo demográfico: ele procura coletar dados não de uma amostra, mas da população inteira. Assim, consegue descrever precisamente as características da população em todo o território nacional, desde os pequenos municípios até às grandes metrópoles.
Por que fazer o censo demográfico?
Conhecimento é poder. Esse clichê sintetiza a importância do censo demográfico. Uma sociedade que conhece bem a si mesma será mais eficaz em construir um futuro melhor. Os dados coletados pelo censo são essenciais para desenvolver e executar políticas públicas mais assertivas, guiando a tomada de decisão do governo e a alocação de recursos limitados.
Nesse sentido, o próprio site do IBGE traz uma série de motivos que ilustram a importância do censo:
- Acompanhar o crescimento, distribuição e mudanças nas características da população;
- Identificar necessidades prioritárias de investimentos em saúde, educação, habitação, mobilidade, energia e assistência social;
- Identificar regiões que precisam de estímulos ao desenvolvimento econômico e social;
- Atualizar o número de deputados federais, estaduais e vereadores dos estados e municípios;
- Atualizar projeções demográficas futuras;
- Informar a distribuição de impostos para estados e municípios;
- Informar a iniciativa privada sobre locais para investimentos em novas fábricas, supermercados, lojas, restaurantes, escolas, etc.;
- Permitir a sindicatos e associações profissionais analisar o perfil dos trabalhadores brasileiros;
- Pesquisas acadêmicas sobre a população;
- Embasar reivindicações de cidadãos ao poder público.
Censo 2022: envelhecimento da população brasileira
O Brasil está envelhecendo. Essa é uma das principais conclusões do Censo Demográfico 2022, realizado pelo IBGE, que revelou os primeiros resultados sobre a população e os domicílios do país.
Segundo a pesquisa, o Brasil chegou a 203,1 milhões de habitantes, crescendo apenas 6,5% em relação a 2010. Isso representa apenas 0,52% por ano, a menor taxa desde 1872, ano do primeiro levantamento . Além disso, a proporção de idosos aumentou, enquanto a de crianças e jovens diminuiu.
O envelhecimento da população brasileira é resultado de dois fenômenos demográficos. O primeiro é a queda na taxa de fecundidade, isto é, na expectativa média de filhos que uma mulher terá ao longo da vida reprodutiva.
Na década de 1960, esse número era de 6,3 filhos por mulher. Em 2010, passou a 1,87. O número do censo de 2022 ainda não foi divulgado, mas estima-se uma queda para 1,7 filhos por mulher. Em outras palavras, cada vez mais mulheres optam por ter menos filhos, não ter filhos ou por adiar a maternidade.
Isso pode ser causado por diversos fatores, como a popularização de métodos contraceptivos e educação sexual, a entrada de mais mulheres em universidades e no mercado de trabalho e custos crescentes para manter um filho.
O segundo fenômeno por trás do envelhecimento populacional é a maior expectativa de vida — o tempo médio que uma pessoa nascida em determinado ano viveria. A expectativa de vida de um brasileiro nascido em 1960 era de apenas 48 anos. Em 2010, alcançou 73,4 anos. Em 2022, esse número subiu para 77 anos.
Assim, o número de brasileiros mais velhos está aumentando, enquanto o de jovens está diminuindo. Isso leva a um alargamento no topo da pirâmide etária, e um achatamento na base, conforme o gráfico abaixo.
Quais são as consequências do envelhecimento da população brasileira?
As consequências do envelhecimento populacional podem variar de acordo com a perspectiva de análise. Uma dessas perspectivas olha para os impactos no desenvolvimento econômico do Brasil. Nesse sentido, dois conceitos podem ser destacados: bônus demográfico e armadilha da renda média.
Bônus demográfico
O bônus demográfico é o período mais favorável da estrutura etária de um país para o crescimento econômico. Nesse período, a proporção de pessoas economicamente ativas em relação às inativas é maior. Esse bônus ocorre quando a população em idade ativa cresce mais rápido do que a população total (que inclui crianças e idosos).
Isso significa que há mais pessoas trabalhando e produzindo, gerando riqueza para o país, enquanto há menos pessoas dependentes, que absorvem parte da renda gerada. Por isso é que o bônus demográfico pode ser uma grande oportunidade para os países crescerem economicamente, acumularem riqueza e investirem no futuro da população.
Em outras palavras, mais pessoas trabalhando podem gerar mais riqueza. Por sua vez, ela pode ser investida em saúde, educação, desenvolvimento tecnológico, infraestrutura e produtividade, com o propósito de assegurar uma qualidade de vida melhor à sociedade no futuro.
Perceba que essa é uma possibilidade. O bônus demográfico não é garantia de crescimento econômico, pois isso depende de políticas públicas adequadas e de um ambiente favorável para o desenvolvimento.
Nesse sentido, a pior consequência do envelhecimento populacional para o Brasil, do ponto de vista econômico, é o Brasil se tornar velho antes de se tornar rico. O nome disso é armadilha da renda média.
Armadilha da renda média
Esse conceito descreve a situação de países que alcançaram uma renda per capita mediana, mas não conseguem avançar para um patamar mais elevado de desenvolvimento econômico e social, com renda mais alta. Como explicado acima, o bônus demográfico pode ajudar nesse salto. Contudo, ele é temporário e depende de políticas públicas que aproveitem o potencial produtivo da população.
Alguns especialistas acreditam que o Brasil está desperdiçando seu bônus demográfico. Isto é, o Brasil estaria subutilizando sua força de trabalho, seja pelos altos níveis de desemprego, seja pelo grande número de pessoas em trabalhos de baixa qualidade (como informais e entregadores de aplicativo).
Idealmente, essas pessoas estariam contribuindo mais para o país em ocupações mais bem pagas e produtivas. Se o país não reverter esse quadro, pode ficar preso na armadilha da renda média e enfrentar sérios problemas sociais e fiscais no futuro.
O bônus demográfico do Brasil ainda não terminou. Alguns dizem que ele pode se estender até 2035, um pouco antes ou depois. Mas a janela está se fechando. Para assegurar o bem-estar da população cada vez mais velha no futuro, é necessário retomar o quanto antes o desenvolvimento econômico de qualidade.
Isso passa inevitavelmente por políticas públicas assertivas e estratégicas. Nesse sentido, os dados do Censo 2022, que ainda estão sendo divulgados pelo IBGE, serão essenciais. Eles darão aos governantes informações valiosas para agir.
O que você pensa sobre os resultados do censo 2022 e o envelhecimento da população ? Deixe-nos saber nos comentários!
Referências
- IBGE – De 2010 a 2022, população brasileira cresce 6,5% e chega a 203,1 milhões | Agência de Notícias
- IBGE – Por que fazer o Censo demográfico – Censo 2022
- IBGE – População cresce, mas número de pessoas com menos de 30 anos cai 5,4% de 2012 a 2021
- IBGE – Censo Demográfico
- G1 – ‘Renda per capita tende a aumentar’, diz ex-presidente do IBGE sobre crescimento populacional abaixo do previsto
- Estadão – Brasil cresce menos e envelhece, segundo IBGE. ‘Sonho de 1º mundo pode ir pelo ralo’, diz sociólogo
1 comentário em “Censo 2022 e o envelhecimento da população brasileira”
*Envelhecimento populacional e saúde dos idosos*