O que foi a Companhia de Jesus?

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A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa da Igreja Católica com fundação em 1534. Também conhecida como Ordem dos Jesuítas, a organização possui cerca de 16 mil jesuítas atuantes em mais de 100 países no mundo todo.

Sua origem está inserida em um contexto complexo da história mundial, na disputa por poder no cenário europeu do século XVI. No entanto, suas ações ultrapassam as fronteiras nacionais, gerando diversas contribuições para a tradição de muitos países dos continentes americano, africano e asiático.

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O que é a Companhia de Jesus?

A Companhia de Jesus ou Ordem dos Jesuítas é um grupo católico originado no século XVI, na Europa. Foi fundada pelo hoje cânone Inácio de Loyola, um ex-soldado espanhol que se inseriu no sacerdócio após ter sido ferido na Batalha de Pamplona, em 1521.

A partir do lema Ad maiorem Dei gloriam (“Para a maior glória de Deus”), a Companhia de Jesus tem como principal pilar o trabalho missionário. Nesse sentido, os jesuítas se constituíram ao longo da história com a oferta de serviços educacionais e de assistência a enfermos.

Entre seus princípios seguidos, a organização acompanha o Livro dos Exercícios Espirituais, criado por Loyola, e as chamadas Preferências Apostólicas Universais. Nessa sequência, são destacados quatro pontos referenciais a todos aqueles interessados, integrantes e fiéis do catolicismo, ou pessoas de modo geral que queiram conhecer o segmento.

Mostrar o caminho para Deus com uso dos Exercícios Espirituais, Caminhar com os pobres em missão de justiça, Acompanhar jovens na criação de um futuro com esperança e Colaborar com o cuidado da Casa Comum (o mundo), se une a métodos de oração e retiros, formando assim os elementos fundamentais do trabalho jesuíta.

Pintura de Jesus utilizando túnicas marrons e um lenço azul segurando a bíblia
Jesus Cristo – Imagem: Pixabay

Como a Companhia de Jesus foi criada?

Com a autorização do Papa Paulo III, em 1540, Loyola consegue a permissão para a criação da Ordem, junto a outros integrantes da Igreja comovidos pela missão jesuíta.

O que começou com a intenção de converter árabes muçulmanos para a fé católica, logo se transformou em uma das mais importantes bases do poder político, social e econômico desempenhado pela Igreja no século XVI.

Nas disputas por autoridade na Europa e no processo de colonização do território mundial, a Companhia de Jesus possuiu um papel de destaque, aliando a missão religiosa com demais interesses dos reinos europeus.

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Para compreender o desenvolvimento dos jesuítas e a função exercida por eles nesse contexto, é preciso abordar alguns dos principais acontecimentos históricos do cenário mundial desse período.

A Reforma Protestante

Em 1517, quando um monge católico alemão produz uma ampla crítica à Igreja Católica e à forma de vida de seus representantes, é inaugurado na Europa um conflito religioso com imensas consequências para a sociedade da época.

Martinho Lutero e a divulgação de suas 95 teses dão início a chamada Reforma Protestante, ou Reforma Luterana. E, nesse sentido, passam a ameaçar a força de comando possuída pela Igreja Católica naquele contexto europeu.

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Reprovando práticas comuns à Igreja Católica, como a venda de indulgências e de relíquias sagradas, Lutero era abertamente contra a ação de negociação da salvação da alma pregada na época.

Assim, defendia a purificação pela fé, a partir de uma transformação nos preceitos da Igreja – e não necessariamente a criação de uma nova religião ou separação das bases católicas.

No entanto, a partir da reação católica a esses ideais reformistas, foi criado o Protestantismo, que se tornou bastante popular entre seguidores Luteranos ganhando muitos fiéis em países europeus, como a Alemanha e a região da Grã-Bretanha.

A Contrarreforma e o Concílio de Trento

A resposta da Igreja Católica ao avanço da religião protestante é chamada de Contrarreforma. A partir de uma série de ações realizadas pelos católicos, o objetivo dessa reação era impedir que outra religião adquirisse grande quantidade de fiéis, ameaçando assim o poder contido na Igreja.

Com base na reunião do Concílio de Trento, entre os anos de 1545 e 1563, foram organizadas diversas orientações e reafirmações da fé católica.

A partir da criação de alguns sacramentos, decretos e símbolos, a Igreja Católica buscava sustentar o seu legado construído até o momento.

Nesse sentido, uma de suas principais resoluções foi fortalecer a Companhia de Jesus, enxergando nesse grupo um importante potencial de catequização e divulgação do catolicismo.

As Grandes Navegações

Ao ser reconhecida e fortalecida, a Companhia de Jesus passou a atuar em muitos países europeus, como Espanha e Portugal.

Desse modo, a partir de financiamento das famílias reais, os jesuítas são enviados a outras localidades no mundo, inseridos no contexto da expansão territorial e marítima pela qual esses países passavam.

O evento conhecido como Grandes Navegações, então, para além de seus interesses econômicos, possibilitou a propagação da fé católica ao redor do cenário internacional.

Sendo a principal figura de representação dessa referência religiosa, a Companhia se consolidou como um dos fundamentos da presença europeia em colônias de outros continentes, como a América e a Ásia.

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Vitral de igreja católica com o nascimento de jesus no meio, ao lado de maria e josé, com 2 anjos em cada canto da obra.
Vitral Igreja Católica – Pixabay

A atuação da Companhia de Jesus no Brasil

No contexto da expansão marítima e do pacto colonial que colocava o Brasil como colônia de Portugal, os jesuítas se instalaram no solo brasileiro e promoveram diversas ações que os inserem na nossa herança cultural.

A Companhia de Jesus chegou ao Brasil Colonial em 1549, na expedição do 1º Governador Geral do país, Tomé de Souza.

Com a liderança dos jesuítas Padre Manuel de Nóbrega e Vicente Rodrigues, a Ordem se estabeleceu na Bahia. Assim, iniciou seu trabalho missionário com ensino religioso e de letramento para crianças indígenas e mestiças da região.

Nesse sentido, criaram alguns dos primeiros colégios religiosos do Brasil, como internatos para meninos, a exemplo do Colégio dos Meninos de Jesus, inaugurado em Salvador em 1550.

No contexto de interiorização e exploração do território brasileiro, os jesuítas são responsáveis pela abertura de diversos caminhos para regiões inexploradas do Brasil, como trechos do Rio Amazonas e regiões do norte do país.

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No ano de 1554, com a atuação do jesuíta José de Anchieta, a Companhia se instala no espaço da atual cidade de São Paulo, acontecimento que marca a fundação da cidade.

No século XVIII, em 1759, com a chegada de Marquês de Pombal ao cargo de secretário de Estado de Portugal, os jesuítas são expulsos da Europa e de suas respectivas colônias pela ação do Papa Clemente XIV.

Inserida no contexto das Reformas Pombalinas, a Ordem foi compreendida como uma associação autônoma, capaz de ameaçar o controle da metrópole em seus territórios coloniais.

Apenas em 1841, os jesuítas foram autorizados a voltar ao Brasil. Localizados na região sul do país, construíram lá muitos colégios e mantiveram sua missão educadora, passando depois a voltar à expansão em demais regiões brasileiras.

A missão educadora dos Jesuítas

Uma das características mais marcantes da missão da Companhia de Jesus refere-se a seus objetivos na área da educação.

Com a construção de colégios por onde passavam e de princípios de evangelização, os jesuítas são autores de métodos de ensino tanto religioso, como instrucional, com ensino de idiomas e demais conhecimentos.

Ao se colocar abertamente contra a escravização de indígenas, os missionários da Companhia se dedicaram a catequizar os nativos e ensinar-lhes idiomas europeus.

Uma das maiores inovações nesse sentido foi a criação de uma língua comum, falada por nativos, jesuítas e alguns bandeirantes no Brasil entre os séculos XVI e XVIII. Chamada de língua geral ou brasílica, esse idioma reunia vocabulários e fonemas predominantemente de origem tupi.

Também é importante destacar o trabalho realizado por José de Anchieta, com a criação da 1ª Gramática Tupi Guarani, instrumento muito utilizado por pesquisadores desse segmento de estudo.

A presença dos jesuítas na educação ainda é sentida até hoje, com algumas instituições de ensino e iniciativas histórico-culturais com atuação ativa. Os colégios São Francisco Xavier, São Luís e o Pateo do Colégio são exemplos desse trabalho na cidade de São Paulo.

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A Companhia de Jesus nos tempos atuais

Atualmente, a Companhia de Jesus segue como a maior Ordem existente na Igreja Católica e possui missões e evangelizações ao redor de todo o mundo.

O atual Papa da Igreja Católica, o argentino Jorge Mario Bergoglio, chamado Papa Francisco, é o primeiro membro da Ordem dos Jesuítas a alcançar a nomeação para o cargo.

Seguindo os preceitos deixados por Inacio de Loyola, a intenção missionária da organização permanece presente, assim como os ideais pregados na educação e seu compromisso com os votos de pobreza, castidade e obediência à Igreja.

Agora que você já conheceu a história da Companhia de Jesus, conta pra gente o que achou nos comentários! E para mais conteúdos sobre história, economia e sociedade não deixe de acompanhar a Politize!

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Conteúdo escrito por:
Mestre em Ciências Sociais pela UNESP/FCLAr, apaixonada por política, cinema e literatura distópica. Sempre disposta a debater filosofia, feminismos e cultura pop.
Campos, Júlia. O que foi a Companhia de Jesus?. Politize!, 22 de abril, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/companhia-de-jesus/.
Acesso em: 22 de nov, 2024.

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