Sabemos que a água é um recurso natural essencial para a nossa sobrevivência, mas muitas fontes de água estão se tornando poluídas causando risco à saúde da população. Com isso, é cada vez mais necessário o monitoramento contínuo da qualidade da água.
E se fosse possível receber informações sobre a qualidade da água em tempo real? Essa condição já é possível através da internet das coisas e é sobre esse tema que a Politize! vai te ajudar a entender. Vem com a gente!
Primeiro, vamos entender o que é a Internet das Coisas (IoT)
A Internet das Coisas ( IoT, na sigla em inglês para “Internet of Things”) é um conjunto de objetos físicos que estão conectados à internet por meio de softwares, sensores e tecnologias, permitindo que troquem dados entre si.
As informações armazenadas podem ser acessadas no mesmo momento por qualquer pessoa através do monitoramento remoto.
O termo “internet das coisas” surgiu em 1999, com o pesquisador Kevin Ashton, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Ashton propôs a utilização da tecnologia de identificação por radiofrequência (RFID) para conectar objetos físicos à internet, mas foi recentemente com os avanços da tecnologia de sensores, redes sem fio, computação em nuvem e análise de dados que foi possível ampliar as possibilidades da IoT.
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Hoje, a IoT é uma realidade em nossas vidas, desde objetos domésticos até aplicações industriais, como:
- Transporte com rastreamento de produtos e otimização de rotas de entrega;
- Na agricultura, através do uso de sensores para monitorar as condições das plantações e do solo;
- Nas casas com dispositivos que podem ser controlados remotamente, entre outros.
Em seu dia a dia, você já deve ter visto algum objeto que coleta dados e responde de forma inteligente aos usuários. Lembra da Alexa? O dispositivo Echo Dot da Amazon responde a comandos de voz e quando conectado a objetos inteligentes pode controlar o sistema de câmeras e luzes da sua casa.
Outro exemplo, são os relógios inteligentes que através da internet das coisas verificam a frequência cardíaca e manda notificações se ela estiver muito alta ou baixa. Também é possível atender ligações, enviar e receber mensagens diretamente do seu pulso.
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A internet das coisas no monitoramento da qualidade de água
Como vimos, a internet das coisas tem se expandido para vários setores e a sua aplicação também chegou no monitoramento da qualidade da água. Através da IoT, é possível implementar sistemas de monitoramento em tempo real que coletam e analisam dados sobre a qualidade da água de forma eficiente e precisa.
Essa ferramenta permite detectar possíveis poluentes e tomar medidas preventivas, além de possibilitar a tomada de decisões para a preservação e gestão sustentável dos recursos hídricos. Por meio da IoT, é possível obter medições sobre parâmetros físicos e químicos da água, como:
- pH: indica a acidez ou alcalinidade da água, que garante a saúde humana e o funcionamento adequado de diversos sistemas;
- Turbidez: mede a quantidade de partículas suspensas na água, como areia, argila e microrganismos. A IoT possibilita o acompanhamento constante da turbidez, indicando a presença de contaminantes e auxiliando na otimização dos processos de tratamento da água;
- Temperatura: influencia a proliferação de microrganismos e a dissolução de oxigênio, com o monitoramento da temperatura podemos ter informações para o controle do processo de tratamento e a garantia da qualidade da água.
Exemplo de aplicação da internet das coisas no monitoramento da qualidade da água
Para explicarmos como a internet das coisas é aplicada no monitoramento da qualidade da água, vamos usar como exemplo o projeto EcoIoT, da Universidade Federal do Sul da Bahia.
O projeto está desenvolvendo sensores eletrônicos capazes de monitorar a qualidade da água dos rios e de zonas marinhas da região de Porto Seguro, no sul da Bahia, via internet das coisas.
O EcoIoT se destaca por se tratar de uma rede de monitoramento da qualidade da água, de baixo custo, com dados em tempo real e de acesso público, que permite a participação da sociedade na construção de conhecimentos a partir de informações geradas.
Para realizar o monitoramento será instalado um conjunto de sensores em superfície e outro conjunto no fundo, que permitirá a observação da estrutura vertical das variáveis analisadas. Nos ambientes com somente água doce, apenas um conjunto de sensores em cada local será suficiente. No total será instalada uma rede com 12 pontos de monitoramento.
Os dados gerados serão enviados para o armazenamento em nuvem a cada 30 minutos e estarão disponível na plataforma Watson IBM. Qualquer pessoa terá acesso às informações com indicadores e métricas da qualidade da água, podendo configurar o sistema para enviar alertas automáticos se a água estiver poluída.
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No esquema abaixo, você pode entender melhor como funcionará o sistema EcoIoT. Os sensores coletam os dados e são enviados às placas controladoras Arduíno. Assim, enviam os dados a uma torre de comunicação, onde os dados são convertidos e enviados à internet. Em seguida, são enviados a um sistema agregador de dados, onde serão processados e disponibilizados aos usuários.
O projeto tem como base alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como os ODS 3, 6 e 14, dada a relação entre saneamento ambiental, do qual o monitoramento da qualidade da água é essencial, com a saúde e bem-estar de seres vivos em bacias hidrográficas e áreas onde os ecossistemas terrestres se encontram com os ecossistemas marinhos.
Por que é importante monitorar a qualidade da água?
A água é fundamental para a saúde humana, para a produção de energia e alimentos, meio ambiente e desenvolvimento socioeconômico. No Brasil, a Agência Nacional de Águas (ANA) é responsável por monitorar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas do país, com base nos dados fornecidos pelos órgãos estaduais gestores de recursos hídricos.
Com esse acompanhamento, a ANA consegue autorizar o documento de direito de uso da água, realizar estudos e planos, entre outras atividades. No entanto, a contaminação da água, através dos lixões a céu aberto, estações de tratamento de esgoto e indústrias, é um problema crescente que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Em 2023, a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), divulgou o relatório com informações de que 26% da população global não tem acesso à água potável e cerca de 46% dos habitantes do planeta não possuem serviços de saneamento seguros, o equivalente a 3,6 bilhões de pessoas.
O relatório divulgado mostra que é necessário garantir o fornecimento de água limpa para todos, sendo importante ter soluções para enfrentar a sua contaminação, também do acesso limitado à água potável e ao saneamento.
O monitoramento em tempo real da qualidade da água através da internet das coisas com equipamentos que incluem sensores pode ser uma possível solução para entender onde estão os focos de poluição da água, e com isso os órgãos fiscalizadores podem tomar medidas preventivas e reparadoras.
Consequências da má qualidade da água
A água contaminada pode causar uma série de consequências que impactam a saúde humana e o meio ambiente. É importante evitar o contato com esgoto, enchentes, lama, rios com água parada e piscinas não tratadas com cloro. Algumas doenças que podemos destacar são:
- Cólera: é causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados com bactéria que podem ocasionar diarreia intensa e vômitos.
- Hepatite A: acontece por contato entre pessoas, por meio de água, ou alimentos contaminados com fezes. Os sintomas podem ser: fadiga, mal-estar, febre, dores musculares, enjoo, vômitos, dor abdominal, constipação ou diarreia;
- Febre tifoide: é transmitida por meio da ingestão de água ou de alimentos que estejam contaminados, também ocorre por meio do contato com as fezes e a urina de pessoas com a bactéria. Os principais sintomas, são: febre alta, mal-estar, dor de cabeça, diarreia com sangue, perda de apetite, aumento do fígado e do baço, inchaço no abdome, náuseas e vômitos;
- Esquistossomose: ocorre quando uma pessoa entra em contato com água doce onde existam caramujos infectados pelos vermes causadores da esquistossomose. No Brasil, é conhecido como “barriga d’água” porque o abdômen da pessoa infectada fica dilatado. Os sintomas variam de acordo com a fase da doença podendo apresentar alguns sinais, como: emagrecimento, endurecimento e aumento do fígado, falta de apetite, dor muscular, febre, entre outros.
Além disso, a poluição da água tem diversos impactos negativos no meio ambiente, como o crescimento excessivo de algas, fenômeno chamado eutrofização, levando a morte de peixes pela falta de oxigênio para respiração e de plantas que não conseguem realizar a fotossíntese devido à ausência de luz.
E aí, entendeu a importância da internet das coisas no monitoramento da qualidade da água? Comente abaixo o que mais te chamou a atenção e não esqueça de enviar esse texto para outras pessoas conhecerem sobre o tema!
Referências:
- EcoIoT – Página inicial
- Gov – Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico
- ONU – Consumo vampírico está esgotando a água no mundo, afirma secretário-geral da ONU
- ONU Brasil – Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável no Brasil
- Politize! – Água é um direito humano?
- Politize! – A história da saúde pública no Brasil e a evolução do direito à saúde
- Politize! – Comunicação comunitária e o diálogo com a comunidade
- Meio&Mensagem – Internet das Coisas: o que é, como funciona e como é utilizada
- UFSB – Pesquisadores da UFSB criarão rede de sensores de baixo custo para monitorar rios de Porto Seguro e região