O Programa Cozinha Solidária tem como objetivo ajudar pessoas em situação de insegurança alimentar. Somente no Brasil, são mais de 64 milhões de pessoas vivendo essa realidade.
Num cenário de intensa desigualdade social, devemos nos atentar às diversas formas de combate ao abismo que separa uma pancada de gente de uma vida de qualidade. E uma das diversas barreiras para se alcançar isso é a fome. Afinal de contas, de barriga vazia a gente não faz muita coisa, né?
Para que essa realidade seja combatida e transformada, diversos movimentos e organizações sociais trabalham duramente. Entre eles, estão as cozinhas solidárias. Seu trabalho é tão fundamental para enfrentarmos a fome que, em 2023, seu trabalho foi regulamentado como um programa governamental.
A Politize! te convida a conhecer um pouco sobre a história e o trabalho que geraram o Programa Cozinha Solidária!
As cozinhas solidárias e o MTST
Antes mesmo de se tornar um Projeto de Lei, cozinhas solidárias já atuavam por todo o Brasil. O MTST, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, foi o pioneiro dessa iniciativa.
Com um trabalho de base junto a famílias que não possuem moradia, o MTST atua majoritariamente na ocupação de imóveis em situação de irregularidade para que assim as pessoas tenham um teto sobre suas cabeças – mesmo que apenas de forma provisória.
O desemprego estrutural, a informalidade crescente do trabalho como já conhecemos a exemplo da uberização, a baixa dos salários, o aumento dos aluguéis – todos esses e outros processos sociais obrigam as pessoas a buscarem por soluções para os seus problemas.
E, afinal de contas, o que tudo isso tem a ver com o Programa Cozinhas Solidárias?
Chegaremos lá!
Antes do Programa Cozinha Solidária surgir, veio a crise
A historiadora Denise de Sordi analisa que, por conta de alguns acontecimentos políticos nos últimos anos do país, a principal ação do MTST precisou sofrer alterações. Em desacordo com os interesses políticos dos novos governos federais entre 2016 e 2022, o movimento precisou se articular de uma nova maneira.
Diante de uma população ainda mais precarizada e com necessidades ainda mais urgentes, as ocupações não foram tidas como prioridade. E para que essa população não se dispersasse de sua própria luta, ações foram tomadas.
Como é de costume do movimento, em suas ocupações, a cozinha é o primeiro barraco a ser levantado. Afinal de contas, as pessoas não precisam apenas morar, mas também se alimentar e se manter fortes.
Pensando nisso, o movimento articulou uma cozinha solidária, ainda em caráter experimental. Foi no ano de 2017, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, que isso aconteceu.
De início, a cozinha só funcionava para almoços aos domingos. Seu intuito era ser um ponto de encontro entre os atores que antes estavam mobilizados nas ocupações que foram desfeitas. Não demorou muito para que essa experiência fosse consolidada e inclusive expandida. Pouco tempo depois, a cozinha passou a agregar rodas de gestante e se tornou também uma espécie de creche.
Com a chegada da pandemia, suas atividades certamente foram impactadas.
O MTST tentou outras abordagens para ajuda, mas não foram tão eficientes. A distribuição de cestas básicas, por exemplo, não era a estratégia mais adequada. Eles viam que as pessoas adoeciam e, por conta disso, mal conseguiam cozinhar.
Considerando isso, o movimento intensificou as cozinhas e o projeto foi ampliado. As cozinhas foram adotadas especialmente por estados em que a violência policial e a falta de moradia chamavam mais atenção. E com essa ampliação, o movimento passou a atender não somente pessoas relacionadas às ocupações, mas a qualquer pessoa em situação de fome.
O Programa Cozinha Solidária
Finalmente em 2023, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL/SP) apresentou o Projeto de Lei nº 491/2023. Sendo um dos líderes do MTST, Boulos conheceu de perto a movimentação das cozinhas solidárias.
Esse tipo de iniciativa popular, comunitária e de luta é muito importante. Ela objetiva amenizar as condições precárias de vida. Assim, eventuais mudanças sociais podem até afetar essa população, mas não mais controlá-la pela barriga.
Agora, esse mega trabalho não depende apenas de doações voluntárias e da sociedade civil. Vinculado ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), o Programa Cozinhas Solidárias possui recursos próprios. E, claro, é apoiado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e do Combate à Fome.
Sendo assim, ele serve como uma importante ferramenta para o incentivo da produção local e do desenvolvimento econômico e social de áreas rurais. Sem contar, é claro, com o atendimento de pessoas em situação de insegurança alimentar.
Você pode se envolver com as cozinhas
Apesar do apoio governamental, o envolvimento da sociedade civil ainda se faz fundamental no Programa Cozinha Solidária. Afinal, a fome e a insegurança alimentar são um problema de todos.
Com a tragédia socioclimática que atinge o Rio Grande do Sul, por exemplo, as cozinhas solidárias já chegaram a entregar mais de 1,5 mil marmitas por dia. Sua mão de obra e sua doação ainda podem fazer a diferença. Vale lembrar que o trabalho das cozinhas não se restringe a um prato de comida. O envolvimento e o cuidado também são caros.
E esse é o Programa Cozinha Solidária.
E aí, entendeu o que é o Programa Cozinha Solidária? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!
Referências:
- Brasil de fato – Cozinha Solidária do MTST entrega mais de 1,5 mil marmitas por dia para afetados pelas enchentes em Porto Alegre.
- G1 – Fome diminui no Brasil: em cinco anos, mais de 1,6 milhão de pessoas saíram dessa condição.
- GOHN, Maria. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação, v. 16, n. 47, maio-ago. de 2011. pp. 333-361. Disponível em <http://educa.fcc.org.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.pdf>. Acesso em 16 de mai. de 2024.
- GOV – Programa Nacional de Cozinhas é criado para garantir segurança alimentar nos centros urbanos.
- MTST – Cozinha Solidária
- SORDI, Denise. Cozinhas Solidárias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST): solidariedade e reconstrução da esfera pública (2021-2022). Mundos do Trabalho, Florianópolis, v. 15, 2023. pp. 01-21. Disponível em <https://periodicos.ufsc.br/index.php/mundosdotrabalho/article/view/92392/53936>. Acesso em 18 de mai. de 2024.