Imagem da extração do látex, matéria prima da borracha.

Exploração de borracha na Amazônia: um apanhado histórico-econômico

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A exploração de borracha na Amazônia foi uma atividade altamente lucrativa para o Brasil entre o fim do século XIX e início do XX. Nesse período, formou-se o que hoje entendemos como Ciclo da Borracha, que mobilizou milhares de trabalhadores vindos das diversas partes do país em busca de novas oportunidades de vida.

Esse processo serviu como um mecanismo de atendimento às necessidades internacionais do mercado capitalista. Por isso, se manteve em voga enquanto os consumidores externos viam necessidade de consumo dessa matéria-prima.

Atualmente, a exploração de borracha na Amazônia não exerce tanta força no mercado nacional, sendo vista apenas como um rastro de tempos gloriosos no Norte do país. Ali, os descendentes daqueles que fizeram parte dessa história ainda residem sobre as lembranças do passado.

Pensando nisso, a Politize! vai ajudar você a entender as nuances desse período histórico-econômico tão importante para o Brasil.

A Havea Brasiliensis e a exploração de borracha na Amazônia

Cientificamente denominada Hevea brasiliensis, a seringueira é uma árvore que pode chegar a até 30 metros de altura e 60 centímetros de diâmetro. Sendo natural da rica biodiversidade da Amazônia, pode se reproduzir em outras florestas tropicais que possuem terrenos alagados e argilosos.

É na casca dessa gigante amazônica que se encontra o tão cobiçado látex, líquido natural que é base para a produção da borracha. Das onze espécies dessa árvore da família das euforbiáceas, esta é a que produz o mais puro látex, o que explica o motivo do Norte do Brasil ter se tornado grande comercializador da mesma.

A Floresta Amazônica abrange 10% de toda a vida do planeta.
Floresta Amazônica. Imagem: Freepik.

A demanda internacional por exploração de borracha na Amazônia

Foi no decorrer da Revolução Industrial (1760-1840) que a borracha surgiu como uma matéria prima que transformaria para sempre a civilização humana. Isso porque, até aquele momento, não havia nenhum outro material que desempenhasse tão bem o papel de condutor de vibrações e resfriamento em maquinários.

Em um momento onde as máquinas passaram a adentrar diferentes facetas da vida humana, a borracha se consolidou como matéria prima da indústria internacional. A partir de então, a Floresta Amazônica — localidade com maior incidência de seringais no mundo — se tornava um grande polo de exploração da borracha.

Com a venda da mesma chegando a triplicar entre os anos 1850 e 1890, os produtores locais perceberam a necessidade de um sistema de produção mais eficiente. Nesse momento, começa a se desenhar os contornos do Ciclo da Borracha no Brasil.

Como se organizou a exploração de borracha na Amazônia?

Graças ao aquecimento do mercado internacional e a potencialidade que a região Norte representava para atender às necessidades do mesmo, os “barões da borracha” passaram a procurar trabalhadores para atuar na exploração de borracha na Amazônia.

No entanto, vários impasses dificultavam seus planos. O primeiro deles era a baixa densidade demográfica da Amazônia naquele período. Juntamente a isso, tínhamos o déficit de conhecimento sobre a região que, muitas vezes, afugentava a chegada de novos trabalhadores.

Dessa forma, surge um ator que seria central para o sucesso da exploração de borracha na Amazônia: o migrante nordestino.

A exploração de borracha na Amazônia, que é feita pela extração do látex, em cuias que coletam a seiva.
Extração do Látex. Imagem: Freepik.

O papel dos trabalhadores nordestinos na produção de borracha

Quem se interessaria em ir trabalhar em um local que, até então, era conhecido como selvagem, exótico e inóspito? Essa foi a pergunta que muitos dos produtores de borracha fizeram naquele momento.

A resposta parecia muito simples: os trabalhadores nordestinos. Naquela época, o Nordeste do Brasil vivenciava um episódio que ficaria conhecido como A Grande Seca (1877-1879). Esse momento ficou marcado pela morte de cerca de 500 mil pessoas, numa combinação de fome, doenças e abandono estatal. Estima-se que morreram 5% da população nacional.

Com isso, não parecia difícil acreditar que parte dos habitantes da região largaria tudo em busca de novas oportunidades de vida. E foi exatamente o que aconteceu. Atraídos pelas promessas de riqueza e prosperidade, esses trabalhadores deixaram para trás suas vidas, partindo para trabalhar na exploração de borracha na Amazônia.

Diferentemente do que muitos acreditavam, a vida nos seringais não era fácil. Esses indivíduos já chegavam ao Norte com inúmeros débitos da viagem, patrocinada pelos “barões da borracha”, que iam se somando a dívidas para adquirir materiais de trabalho e suprimentos básicos.

Sob essa lógica — com uma forma de trabalho análogo à escravidão — a economia da borracha vingou, dando lucros exorbitantes ao Brasil e sua elite comercial.

A participação da extração da borracha na economia nacional

Agora que contava com a junção perfeita entre mão de obra e amplo mercado consumidor, a produção gomífera crescia em níveis exponenciais. Segundo dados do IBGE, a exploração de borracha na Amazônia já representava 21% do total de exportações realizadas pelo Brasil em 1901, chegando a atingir 39% em 1910.

No embalo dessa prosperidade, Manaus e Belém se tornaram o resumo de toda a riqueza proporcionada pelo látex. Para muitos estudiosos, as capitais nortistas vivenciaram uma verdadeira belle époque, semelhante àquela vivenciada pelos Estados europeus.

Durante o curto tempo de sucesso da borracha brasileira, a renda per capita dessa localidade cresceu 800% e a população sofreu um boom demográfico de 400%. Com isso, as cidades amazônicas passaram a vivenciar uma série de transformações.

Construções opulentas como o Theatro da Paz e o Teatro Amazonas, apresentações de companhias de balé italianas e francesas, inauguração de lojas com produtos importados, todos esses eventos eram apenas parte da opulência presente na região durante o sucesso da exploração de borracha na Amazônia.

Entretanto, como muitos já imaginam a esse ponto, tal prestígio não durou muito mais tempo.

O declínio do Ciclo da Borracha na Amazônia

Em 1876, o pesquisador britânico Henry Wickham fez uma visita ao coração da Floresta Amazônica, berço dos imensos seringais que sustentavam o comércio brasileiro. De lá, ele levou cerca de 70 mil sementes da espécie Hevea brasiliensis, que desembarcaram pouco tempo depois na Inglaterra.

As mudas que cruzaram o Oceano Atlântico foram cultivadas nas estufas do Jardim Botânico Real, onde apenas duas mil germinaram. Pouco tempo depois, o governo britânico autorizou a plantação das mesmas no sudeste asiático, movimento que transformou para sempre a exploração da borracha na Amazônia.

Ainda em 1910, o mercado nacional não suportava competir com a pressão causada pela produção asiática e o grande ciclo da borracha amazônica perdeu sua hegemonia. Dados do IBGE mostram que a participação gomífera nas exportações brasileiras caiu para menos de 5% em 1920.

Com uma forte dependência sobre o comércio da borracha, a região amazônica entra em crise e, com ela, as suas cidades.

Uma nova onda da exploração de borracha?

A exploração de borracha na Amazônia viveu um intervalo de constante e rápida decadência, que perdurou até 1942. Nesse momento, o governo de Getúlio Vargas passou a incentivar a ida de mais trabalhadores nordestinos à região.

Mas, por qual motivo havia interesse em reviver a economia da borracha? Naquele momento, a Segunda Guerra Mundial entrava em cena.

O envolvimento britânico e asiático nos conflitos que se seguiram até meados de 1940 fez com que estes participassem menos do comércio gomífero, que ainda necessitava da matéria prima.

Assim, a Amazônia experienciou o Segundo Ciclo da Borracha. Mesmo com investimentos governamentais e a demanda externa mais aquecida, a produção naquele período era extremamente mais tímida que a do derradeiro ciclo histórico.

Consequentemente, não demora muito para que a Guerra acabe e, com ela, mais um capítulo da história econômica da Floresta Amazônica.

Hoje, novos arranjos entre os seringueiros e o setor privado vem gerando um breve crescimento nas vendas de borracha brasileira. A estratégia desses grupos visa utilizar o látex como uma mercadoria sustentável, capaz de gerar renda para populações locais e ajudar a preservar a floresta.

Os debates acerca dessa economia sustentável são novos, mas parecem uma alternativa promissora para milhares de famílias que vivem nos interiores da floresta. Quem sabe estejamos a um passo de assistir a uma nova fase do comércio da borracha amazônica?

E aí, conseguiu entender um pouco mais sobre a extração de borracha na Amazônia? Conta para a gente nos comentários!

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Castro, Nina. Exploração de borracha na Amazônia: um apanhado histórico-econômico. Politize!, 8 de outubro, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/exploracao-de-borracha-na-amazonia/.
Acesso em: 8 de out, 2024.

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