Borba Gato, um nome que evoca imagens de bravura e aventura, mas também de violência e exploração. Sua figura, envolta em lendas e controvérsias, representa um período crucial da história brasileira: o apogeu das bandeiras, expedições que marcaram o interior do Brasil e moldaram a formação do país.
Este texto desvenda a vida e a trajetória de Borba Gato, analisando sua importância histórica, seus feitos e as controvérsias que o cercam. Para entender melhor essa figura histórica, continue a leitura!
Quem foi Borba Gato?
Manuel de Borba Gato nasceu em 1649, em São Paulo. Ele era filho de João de Borba Gato e Sebastiana Rodrigues. Em 1670, casou-se com Maria Leite, filha do bandeirante Fernão Dias Paes, com quem teve três filhos: Francisco Tavares, Francisco de Arruda e Francisco Duarte de Meireles.
Borba Gato foi um colono brasileiro, bandeirante paulista, sertanista, proprietário de escravizados e descobridor de metais preciosos, que esteve envolvido no conflito da Guerra dos Emboabas (1708-1709).
A estreia de Borba Gato no movimento sertanista foi em 1674 na famosa expedição sob a liderança do seu sogro. Ela tomou a direção dos sertões do Sabaraboçu, em Minas Gerais. Esta foi a primeira penetração oficial e organizada em território mineiro e que resultou no estabelecimento de vários pequenos núcleos de povoamento.
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Trajetória: um bandeirante de destaque
Borba Gato se tornou um dos bandeirantes mais importantes do século XVII, liderando expedições que se aventuraram por vastas áreas do Brasil. Suas expedições tinham como objetivo a caça ao índio, a captura de escravizados indígenas e a busca por ouro e pedras preciosas.
– As bandeiras e a expansão territorial: as bandeiras, expedições organizadas por paulistas, desempenharam um papel crucial na expansão territorial do Brasil, avançando para além das áreas dominadas pelos portugueses. Borba Gato, com sua liderança e habilidade, se tornou um dos principais protagonistas dessa expansão.
– A busca por ouro e escravizados: as expedições lideradas por Borba Gato eram impulsionadas pela busca por ouro e pela captura de indígenas para serem escravizados. Essa busca, muitas vezes violenta e cruel, teve um impacto devastador sobre os povos indígenas, levando à redução de suas populações e à destruição de suas culturas.
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Vida política: um homem de poder
A influência de Borba Gato se estendia além das expedições. Ele participou ativamente da vida política da Capitania de São Paulo, sendo eleito, em 1664, deputado a Câmara Municipal de São Paulo. Sua atuação política demonstrava sua capacidade de liderança e seu interesse em influenciar os rumos da região.
A Câmara Municipal de São Paulo, na época, era um importante centro de poder local, com influência sobre questões como a administração da justiça, a arrecadação de impostos e a organização da defesa da região. A atuação política de Borba Gato, muitas vezes em conflito com as autoridades portuguesas, demonstrava sua independência e sua capacidade de desafiar o poder central.
Violência contra os indígenas
As expedições de Borba Gato foram marcadas por atos de violência e crueldade contra os povos indígenas.
A escravidão indígena foi uma prática cruel que marcou a história do Brasil. Os indígenas eram capturados, muitas vezes em expedições violentas, e forçados a trabalhar em condições desumanas.
E teve um impacto devastador sobre os povos indígenas, levando à redução de suas populações, à destruição de suas culturas e à perda de suas terras.
O legado da violência contra os indígenas ainda hoje é sentido no Brasil, com a persistência da desigualdade social e da discriminação contra os povos indígenas.
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Morte: um fim envolto em mistério
Borba Gato morreu em 1718 aos 69 anos, ocupava o cargo de juiz ordinário da vila de Sabará, em Minas Gerais. Embora sua atuação não fosse diretamente política, demonstrava uma certa influência local, pois os juízes ordinários eram figuras importantes na administração da justiça e da ordem nas vilas.
O nome da casa que abriga o Museu do Ouro de Sabará vem do bandeirante. A construção é de meados do século XVIII e a Câmara Municipal de Sabará batizou , em 1911, a rua onde ela fica com o nome de Borba Gato.
As narrativas sobre seu fim variam, alimentando lendas e mistérios. A versão oficial da história conta que Borba Gato foi morto em combate contra indígenas, durante uma expedição na região do Rio Grande, em Sabará. Essa versão, porém, é questionada por historiadores, que apontam para a possibilidade de um assassinato.
Há quem acredite que Borba Gato tenha sido assassinado por inimigos políticos, que viam nele uma ameaça ao seu poder. Essa teoria se baseia em suas disputas com as autoridades portuguesas e com outros bandeirantes.
Estátua de Borba Gato: um símbolo controverso
A estátua em homenagem ao bandeirante começou a ser construída em 1957 e foi concluída seis anos depois, em 1963. De autoria do escultor Júlio Guerra, ela tem cerca de 10 metros de altura e fica em uma praça na Avenida Santo Amaro, uma das principais da capital paulista.
A estátua representa Borba Gato com um olhar firme e uma postura imponente, segurando uma lança e um escudo. Foi erguida como um símbolo de homenagem a um dos grandes bandeirantes paulistas, reconhecendo sua importância na história da cidade e do estado.
No entanto, a estátua é alvo de críticas por parte de historiadores e movimentos sociais que denunciam a romantização da figura de Borba Gato. A crítica se concentra no fato de que a estátua ignora o lado obscuro de sua história, como a participação na escravidão e na violência contra indígenas.
No dia 24 de julho de 2021, enquanto na Avenida Paulista ocorria mais uma manifestação contra o governo Bolsonaro, um grupo intitulado ‘Revolução Periférica’ se manifestou por outra via.
Eles fecharam a avenida Santo Amaro, cercaram o monumento e colocaram pneus no pedestal. Atearam fogo na estátua e estenderam uma bandeira/legenda da ação que disparou em todos os meios de comunicação: ‘Revolução Periférica: a favela vai descer e não vai ser Carnaval’.
Quatro dias depois, o ativista Paulo Lima (o “Galo”) foi preso pelas forças de segurança de São Paulo após comparecer de forma espontânea à delegacia para confirmar sua participação no incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato.
Em 16 de setembro de 2022, o juiz Eduardo Pereira Santos Júnior, da 5ª Vara Criminal Central da Justiça de São Paulo, condenou Paulo Lima, por incendiar a estátua de Borba Gato, bandeirante paulista que escravizou negros e indígenas. A Justiça fixou uma pena de três anos de reclusão em regime aberto, mas a substituiu por prestação de serviços comunitários.
Fruto de pesquisa da professora Drª Inez Peralta, vai ser lançado o livro “Manuel de Borba Gato: um mineiro santamarense”, em 11 de outubro de 2024. Nesta obra, a autora percorreu o mesmo trajeto do bandeirante após sair da Santo Amaro para entender e pesquisar sobre sua vida.
Borba Gato, apesar das controvérsia, representa um período da formação do país marcado pela expansão territorial, pela exploração de recursos naturais e pela violência contra os povos indígenas.
A estátua de Borba Gato, símbolo de um passado conturbado, nos convida a refletir sobre a forma como a história é representada e sobre a necessidade de uma análise crítica do passado.
E aí, você conseguiu entender quem foi Borba Gato? Ficou alguma dúvida? Deixe nos comentários!
Referências:
- Brasil de Fato – Paulo Galo, o Borba Gato e o terrorismo à brasileira
- Brasil Escola – Borba Gato
- Carta Capital – Justiça condena Paulo Galo por incêndio em estátua de Borba Gato, em São Paulo
- Demonumenta –Borba Gato: a estátua mais cafona e polêmica da cidade
- El Pais –Prisão de ativista que queimou Borba Gato provoca debate sobre a memória de São Paulo
- Exame – Estátua de Borba Gato é incendiada em SP em protesto; entenda as razões
- Galeria de racistas – Borba Gato
- Gazeta do Povo -Genocida e escravizador de indígenas? A verdade sobre Borba Gato, alvo da esquerda radical
- Grupo Sul News – Livro que conta história de Borba Gato será lançado em outubro
- G1 –Por que Borba Gato é alvo de projetos de lei que propõem tirar seu nome de espaços públicos em São Paulo
- G1 –Vai-Vai leva estátua de Borba Gato, alvo de protestos em SP, para a avenida; entenda
- OLIVEIRA LIMA, Elisângela; AUGUSTO MEDEIROS DA SILVA, Mário. Borba Gato em chamas: disputas pela memória social, lutas negra e periférica em São Paulo. Revista Direito e Práxis, [S. l.], v. 15, n. 2, 2024. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/revistaceaju/article/view/82372.
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