Sociedade e Desigualdade:

Norte

Sociedade e Desigualdade do
Norte

Sociedade e Desigualdades no Norte do Brasil

Publicado em:
Compartilhe este conteúdo!

A região Norte do Brasil, rica em diversidade cultural, é marcada por suas danças, canções e paisagens naturais que encantam o país. Como canta Zé Miguel em “Meninas da Amazônia”: “Meninas que dançam e cantam, mostrando a beleza do lugar”, mas, além da beleza, o Norte também carrega uma história de lutas. É uma região que, por muito tempo, tem sido esquecida por políticas públicas e enfrenta grandes desafios.

O que explica uma região tão vasta e rica ainda lutar por reconhecimento e equidade? Vamos entender melhor a sociedade e as desigualdades do Norte do Brasil!

A grandeza histórica do Norte no desenvolvimento do Brasil

Composta por sete estados (Amapá, Pará, Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia e Tocantins, sendo o segundo e o terceiro os maiores do país), a região Norte é a maior do Brasil em termos de área territorial. Além disso, é nela que fica a maior parte da maior floresta tropical do planeta, a Floresta Amazônica

As terras indígenas, que representam cerca de 23% da região, desempenham um papel central de preservação cultural e ambiental. E mais: 98,25% de todas as terras Indígenas do Brasil estão localizadas no norte.

Historicamente, a Amazônia ficou muito conhecida pelas jornadas voltadas para a captura de indígenas e a extração de drogas do sertão, populares na Europa. Ainda no século XVIII, as missões religiosas que tinham como principal objetivo a catequização dos povos nativos, dominaram a área, adjunta de expedições militares que queriam exercer controle sobre a região.

No século XIX, a exploração da borracha foi a principal fonte de renda da região Norte, trazendo mão de obra para o local devido aos altos lucros e a grande procura por látex. Entretanto, a estabilização de capital dos nortistas só veio com a decadência desse ciclo, pois isso lhe tornava uma região isolada do resto do Brasil. 

Foi apenas na década de 1960 que o Norte passou a se integrar com o resto do país. Esse isolamento geográfico  ao longo da história tem consequências até hoje.

A economia nortista continua dependente da natureza, em especial de  atividades extrativistas, agropecuárias e pecuárias, além da mineração e do“turismo sustentável”, que têm ficado mais importante nos últimos anos. 

E mesmo com toda a riqueza natural, a população vive em uma persistente situação de vulnerabilidade social, especialmente em comparação com outras regiões do Brasil, principalmente Sul e Sudeste. 

Demografia, oportunidades e vulnerabilidades  na região Norte 

Segundo dados do Panorama do Censo 2022 do IBGE, a região  Norte atualmente tem 17 milhões de habitantes,  67,2% dos quais se idenficam como pardos, 20,7% como brancos, 8,8% como negros e 3,1% como indigenas. Este último  número  pode ser maior devido à falta de acessibilidade nas regiões territoriais habitadas pelos povos originários. Ainda, 0,17% se declararam amarelos. Em termos de gênero, a divisão é bem simétrica:50,1% feminino e 49,9% masculinos. 

Um aspecto notável da demografia da região é a concentração desigual da população entre os estados. O Pará, por exemplo, abriga 47,77% de todos os habitantes da região, enquanto Roraima, com apenas 3,75%, representa a menor parcela. Na prática, essa lacuna cria dinâmicas desiguais entre os sete estados, pois enquanto Amazonas e Pará oferecem maiores oportunidades estruturais para sua população, Amapá e Roraima batalham para que os mais novos permaneçam na educação básica. Em parâmetros de comparação, no ENEM 2023, as duas únicas redações nota mil do Norte vieram dos dois maiores. 

Segundo a pesquisa “Desigualdades na Garantia do Direito à Pré-Escola”, 88,5% das crianças nortistas em idade pré-escolar (4 a 6 anos) frequentam a escola regularmente, em contraste à a média nacional de  94,1%.

Entre as razões para essa discrepância,, destaca-se a dificuldade de locomoção às escolas, principalmente para quem mora em áreas rurais. Muitas vezes, o tempo que se leva para ir e voltar, excede o que se passa dentro de sala. Famílias em situação de pobreza extrema também tendem a não botar os filhos na escola, preferindo que eles ajudem na renda da casa. 

[FIGURA 1 – FREQUÊNCIA ESCOLAR DE CRIANÇAS ENTRE 4 E 5 ANOS SEGUNDO SITUAÇÃO DOMICILIAR POR REGIÃO]

FONTE : FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL, 2022.

 visibilidade através da tragédia

A pandemia de Covid-19 trouxe à tona muitas das desigualdades já presentes na região Norte, especialmente nas áreas de educação e saúde. De acordo com um estudo da UNICEF, publicado em abril de 2021, a evasão escolar entre jovens de 6 a 17 anos disparou no Brasil, atingindo 28,4% no Norte. A falta de acesso à internet e a dispositivos eletrônicos tornou o ensino à distância inacessível para muitos, obrigando adolescentes a abandonarem os estudos e ampliando ainda mais as disparidades educacionais.

Além disso, o sistema de saúde da região mostrou-se insuficiente para lidar com a crise. O município de Oiapoque, no Amapá, por exemplo, teve que buscar ajuda da Guiana Francesa, devido à falta de infraestrutura médica adequada. Em Manaus, a falta de oxigênio em UTIs gerou uma crise hospitalar sem precedentes, destacando a dependência de doações externas e da solidariedade popular para suprir as necessidades básicas.

A precariedade do sistema de saúde na região também se reflete nas altas taxas de mortalidade infantil. Em 2019, o Amapá registrou a maior Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) do Brasil, com 22,9 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos, colocando a região Norte acima da média nacional

[FIGURA 2 – TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL NO BRASIL ENTRE 2017 A 2019]

FONTE : MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2021

É justo lembrar que, ainda segundo esse mesmo boletim, o Pará e o Amapá investigam menos de 70% desses óbitos.

Perspectivas para o futuro: inclusão, respeito e desenvolvimento no Norte do Brasil

Há sinais otimistas no horizonte para o Norte do Brasil. A renda per capita da região, atualmente em  R$1.359,43, tem apresentado crescimento constante, assim como o índice de empregabilidade, com destaque para o setor comercial.

A escolha de Belém, capital do Pará, como sede da COP 30 em 2025, trará visibilidade internacional para a região, o que pode incentivar melhorias na infraestrutura regional. E a luta por visibilidade também se estende à cultura: artistas locais, como Fafá de Belém e Gaby Amarantos, têm batalhado por maior representatividade em eventos nacionais, como o Rock In Rio. 

Os nortistas se manifestam por meio da dança, da música, da culinária, dos contos, além das suas paisagens naturais. A diversidade, algo tão exaltado no Brasil, tem elementos da cultura da região Norte. Para que alcancemos um abraçamento real, tanto político, quanto social, muito precisa ser feito. É necessário que haja projetos concretos que busquem melhorar o básico para a população de forma permanente, investimentos em políticas públicas que beneficiem, sem tirar o que torna o Norte tão característico.  

A luta continua por inclusão e respeito continua, e é através da força de sua população que a região vai finalmente conquistar seu tão sonhado espaço ao lado de suas colegas que ajudam a compor o Brasil. Afinal, como entoa Zé Miguel sobre “as meninas que dançam e cantam, mostrando a beleza do lugar”, o Norte segue cantando e dançando, mostrando sua história e buscando respeito.

REFERÊNCIAS: 

WhatsApp Icon
Compartilhe este conteúdo!
Conteúdo escrito por:
Estudante de Relações Internacionais na UNIFAP, atualmente em mobilidade acadêmica na UNB. Estagiária na Assessoria Especial de Assuntos Internacionais no Ministério do Meio Ambiente. Gosta de explorar questões sociais e culturais, e no tempo livre, apaixonada por leitura, música e culinária, especialmente doces. Sempre em busca de aprendizado, tenta equilibrar a vida acadêmica com os interesses pessoais, explorando como esses elementos se conectam no mundo ao seu redor.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!

Pular para o conteúdo