Na imagem, Milton Santos.

Os quatro Brasis de Milton Santos

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Em um país com a extensão do Brasil, não é difícil entender o porquê deste ser dividido em quatro macrorregiões — Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Essa separação considera semelhanças geográficas, climáticas, econômicas e sociais, e auxilia o governo brasileiro a estabelecer políticas especializadas desde 1969, quando foi reconhecida pelo IBGE. Tendo em mente não apenas essas semelhanças, mas também inúmeras outras características que se desenvolveram nas diversas porções do Brasil ao longo dos séculos XX e XXI, o geógrafo Milton Santos desenvolveu sua teoria dos quatro Brasis.

Será que a primeira opção descrita acima é a melhor forma de regionalizar o nosso país?

Imagem do mapa mundi em uma parede, com a América do Sul em destaque e uma mão que aponta para o estado de São Paulo. Texto: Os quatro Brasis de Milton Santos.
O Brasil e a continentalidade de sua extensão. Imagem: Unsplash.

A forma de Santos de ramificar o país se une a uma crítica sobre a globalização e o capitalismo contemporâneo, entendendo de que forma esses dois fatores influenciaram as regiões brasileiras. Nas próximas linhas, a Politize! ajudará você a entender melhor esses quatro Brasis de Milton Santos.

E, para começar, que tal conhecermos um pouco mais do autor?

Quem foi Milton Santos?

Filho de professores, Milton Santos nasceu na Bahia, no município de Brotas de Macaúbas, em 3 de maio de 1926. Já na década de 1940, se graduou em Direito na Universidade Federal da Bahia (UFBA), nunca exercendo de fato a profissão. Com o diploma em mãos, se mudou para Ilhéus, onde passou a ensinar geografia nas escolas primárias e a escrever para o jornal A Tarde.

No fim dos anos de 1950, concluiu seu doutorado em geografia na França e retornou ao Brasil, onde assumiu a posição de docente na Universidade Federal da Bahia. Graças ao seu papel enquanto estudioso, militante político e funcionário da casa civil, Santos foi perseguido e preso pela Ditadura Militar brasileira (1964-1985) nos anos que se seguiram.

Esse fato acabou o levando a se exilar por um longo período, quando viveu em diversos países, sendo, durante esse tempo, professor e pesquisador nos Estados Unidos, Canadá, Venezuela, França e Tanzânia. Por onde passou, Milton nunca deixou de pesquisar, o que contribuiu para a abrangência de suas teses sobre a geografia moderna.

Imagem de Milton Santos, um homem negro, de cabelo curto, crespo, preto, sorrindo e usando óculos. Está sentado. Texto: Os quatro Brasis de Milton Santos.
Milton Santos, o geógrafo baiano que mudou o mundo com suas ideias. Imagem/Reprodução: Brasil de Fato.

Em 1977, ao retornar ao Brasil, Santos lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Universidade de São Paulo (USP), onde se manteve até sua aposentadoria. Em junho de 2001, após uma vida de rica produção intelectual, com uma série de livros publicados e prêmios internacionais conquistados, Milton Santos faleceu.

Os quatro Brasis de Milton Santos

Durante todos os percalços que compuseram sua vida, Santos se aprofundou em áreas da geografia que iam além dos quesitos físicos. Considerando também os aspectos sociais, históricos e econômicos, o pesquisador buscou entender o Brasil sobre outra lente. Para isso, ele se debruçou naquilo que, mais tarde, denominaria como meio técnico-científico-informacional.

De acordo com Santos, tudo se inicia no século XVIII, quando as tecnologias passam a fazer parte do cotidiano dos indivíduos, substituindo a natureza. Com a chegada da técnica, as relações entre os indivíduos e o território se transformam, fenômeno que se intensifica com o passar dos anos.

Tal questão adquiriu novos contornos com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse momento, temos a formação do meio técnico-científico. A partir de então, a organização socioeconômica brasileira transformaria a lógica que regia as regiões do país. Isso graças aos avanços que a ciência e técnica conferiam às indústrias que se formavam.

Com o fim do século XX, esse cenário se modificou novamente. Nessa ocasião, a revolução dos meios de informação se colocaram como motor das mudanças geoespaciais do território nacional, modificando novamente as relações inter-regionais. É o surgimento do meio técnico-científico-informacional.

Para Milton Santos, a junção desses aspectos, em associação com a globalização e à fervente ação do mercado internacional, faz com que o território ganhe novas noções. Tudo isso, graças às possibilidades que a produção e a circulação dos insumos, dos produtos, do dinheiro, das informações e dos homens gera. Há, então, uma clara recomposição da fluidez espacial.

É observando cada um desses pontos que o geógrafo baiano constata que nenhuma das teorias de regionalização existentes abarcavam a particularidade de todas essas características, segregando informações importantes.

Com isso em mente, Santos propõe uma nova forma de regionalizar o Brasil. Surge, assim, a teoria dos quatro Brasis. Nessa visão, o país se dividiria em quatro macrorregiões, todas ligadas por características que englobam seu meio técnico-científico-informacional, bem como sua historiografia. São elas: Região Concentrada, Região Centro-Oeste, Região Nordeste e Região Amazônica.

Região Concentrada

Sendo a primeira região que compõe os quatro Brasis de Milton Santos, é formada por São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, em uma junção das já conhecidas regiões Sul e Sudeste. Essa porção do Brasil, se formou a partir de um enorme contingente populacional, concentrando os investimentos do governo nacional e recebendo os maiores fluxos migratórios urbanos.

Na concepção de Santos, essa localidade se caracteriza pela maior consolidação da ciência, da técnica e da informação, tendo um meio técnico-científico-informacional mais estruturado. Com isso, possui a indústria e a economia mais desenvolvida, fazendo da mesma o maior polo de trabalho do país. Além disso, é onde a infraestrutura está mais robusta.

Região Centro-Oeste

Constituída por Goiás, Mato Groso, Tocantins e Mato Grosso do Sul, é considerada uma área de ocupação recente, onde o meio técnico-científico-informacional se estabeleceu sobre um território praticamente natural ou pouco explorado até então. Sob essa lógica, essa área é definida por Milton Santos como base da produção agrícola do país.

É um espaço novo, marcado pela mecanização e pela grande participação no mercado agrícola global, com cidades de recente surgimento. Essa estrutura agroindustrial pauta não apenas a economia regional e estrutura trabalhista da mesma, como também molda as políticas públicas e os recursos que chegam até o local.

Região Nordeste

Formada por Maranhão, Piauí, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, é a região do Brasil com o povoamento mais antigo, datado do início da Colonização portuguesa (1500-1822). Esse fator contribuiu para a formação de uma estrutura socioeconômica com pouca fluidez.

De acordo com Milton Santos, essa organização produz resistência para o desenvolvimento de um meio técnico-científico-informacional mais abrangente, que se desenvolve a partir de poucas infraestruturas e redes informacionais. A mesma precariedade recai sobre a circulação de produtos, dinheiro, informação e pessoas. Além disso, apesar de numerosos contingentes populacionais, a urbanização está concentrada nas capitais nordestinas.

Região Amazônica

Composta por Amapá, Pará, Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia, possui estrutura similar a do Centro-Oeste, com o meio técnico-científico-informacional se desenvolvendo tardiamente. Para Santos, essa região foi a última a ampliar sua mecanização, produção econômica e composição territorial. Sua ocupação decorre de modernos satélites e radares.

Sendo uma região com menor ocupação demográfica, suas grandes cidades são responsáveis por manter as relações entre a sociedade local e os grandes centros brasileiros. Nesse sentido, a Zona Franca de Manaus é considerada pelo geógrafo como o ponto central da vida socioeconômica da região.

Uma nova regionalização?

Mais de duas décadas após os estudos de Milton Santos, as características que deram base à formulação da teoria dos quatro Brasis seguem se aprofundando e adquirindo novas nuances. Em uma nação tão cultural, social e economicamente rica, é fácil perceber que o aceite de uma única regionalização não abarca todas as suas peculiaridades.

Os quatro Brasis de Milton Santos contribuem não só para um novo entendimento desse país, como também auxilia a formulação de medidas públicas especializadas para cada região. É um importante mecanismo político-social e deve ganhar cada vez mais notoriedade nos debates por uma nova forma de pensar o Brasil.

E então, conseguiu entender um pouco mais sobre a teoria dos quatro Brasis de Milton Santos? Já tinha ouvido falar dos estudos do geógrafo? Conta para a gente nos comentários!

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Conteúdo escrito por:
Me chamo Nina Sofia, sou piauiense e graduanda em Relações Internacionais na Universidade Federal de Sergipe. Minhas principais áreas de estudo são meio ambiente, literatura e geopolítica.
Castro, Nina. Os quatro Brasis de Milton Santos. Politize!, 15 de janeiro, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/milton-santos/.
Acesso em: 15 de jan, 2025.

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