Mudar o nome de lugares tradicionais pode parecer meio estranho. Já pensou se a Amazônia deixa de ser chamada assim? E se isso acontecer com o Golfo do México?
O Golfo do México é uma bacia oceânica que se localiza entre a América do Norte e a América Central. As suas águas banham parte do território do México, Estados Unidos e Cuba, sendo utilizadas desde a antiguidade para a sobrevivência e desenvolvimento de civilizações dessa região.
Nas últimas semanas, a região apareceu nos noticiários e nas mídias sociais devido às declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald J. Trump, que inicia seu mandato em 2025.
A polêmica das declarações envolve a mudança de nome do Golfo do México, que gerou debates e contestações ao redor do mundo. Mas Trump pode realmente mudar o nome dessa bacia oceânica? A quem pertence esse território marítimo? Quais seriam as consequências disso?
Neste texto, a Politize! vai te ajudar a entender a polêmica entre o Golfo do México e Donald Trump.
A geografia e a história do Golfo do México
Primeiro de tudo, vamos compreender exatamente o que é o Golfo do México, quais suas características geográficas e a sua história. Em termos geográficos, é definido como uma área em que a água do mar adentra um continente, formando uma grande extensão de água salgada com conexão a um oceano.
Muitas vezes, um golfo é confundido com uma baía, devido às suas semelhanças. Contudo, a principal diferença se encontra nas suas dimensões, onde o primeiro é extremamente maior. Nesse sentido, é possível considerar que um golfo é uma baía de grandes dimensões, com uma larga abertura para o mar.
O Golfo do México é um corpo d’água internacional localizado entre os Estados Unidos, o México e Cuba, conectando-se ao Oceano Atlântico através do Estreito da Flórida e ao Caribe pelo Canal de Yucatán.
Com uma superfície de aproximadamente 1,6 milhão de km², ele desempenha um papel crucial como um elo entre a região norte e central do continente americano. Dessa forma, há muito tempo é utilizado para atividades econômicas e de exploração de recursos.
Historicamente, foi um ponto de encontro de culturas e civilizações. Povos antigos, como os Maias e os Olmecas, utilizaram as suas águas para o transporte e a pesca, sendo um importante recurso para as suas subsistências.
Já durante o período colonial mexicano, por exemplo, as potências europeias disputaram seu controle devido à riqueza de recursos naturais e à sua localização estratégica. Desde então, o Golfo do México se tornou um centro de intensa atividade econômica e política.
A importância econômica do Golfo do México e seu papel estratégico
Atualmente, o Golfo do México ainda é muito utilizado para o transporte marítimo e fluvial, bem como para a pesca, devido à sua grande biodiversidade de espécies marinhas. Mas a principal atividade econômica na região é a extração e exploração de recursos naturais.
Essa região marítima é rica em petróleo e gás natural. Assim, o setor energético forma o principal pilar econômico da região, com diversas plataformas em operação. Com isso, o Golfo do México é fundamental para a economia mexicana, sendo responsável pela maior reserva e extração de petróleo do país.
Também é uma área estratégica para os EUA, visto que segundo o U.S Energy Information Administration, 14% da produção estadunidense de petróleo e 5% da produção de gás natural ocorrem lá. Além disso, cerca de 48% do total da capacidade de refino de petróleo dos EUA se localiza na costa do Golfo, bem como 51% do total da capacidade de planta de processamento de gás natural.
Esses números demonstram a importância do Golfo do México no âmbito econômico para o México e para os EUA. No âmbito comercial, diversos portos estão localizados no Golfo ou com saída para ele, como o de Houston e o de Nova Orleans, que são de grande relevância para o comércio internacional.
Biodiversidade no Golfo do México e impactos ambientais
A relevância do Golfo do México não se restringe apenas a aspectos econômicos. Na área ambiental, a sua biodiversidade e riqueza natural são excepcionais. Suas águas abrigam uma vasta gama de espécies marinhas, incluindo peixes, corais, crustáceos e mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias.
Dessa forma, ele é considerado um grande ecossistema marinho, devido às suas características, como batimetria (medição de profundidade dos oceanos), hidrografia e produtividade biológica.
Em termos hidrográficos, o Golfo drena centenas de km de rios que desembocam em seu território. Como o rio Mississipi, nos Estados Unidos, e o rio Grijalva, no México. Além disso, manguezais, recifes de corais e estuários se localizam na região, sendo essenciais para garantir a sobrevivência de diversas espécies marítimas.
No ano de 2010, houve um dos maiores desastres ambientais dos Estados Unidos no Golfo do México. Isso ocorreu quando a plataforma Deepwater Horizon explodiu, resultando na morte de 11 pessoas e no maior derramamento acidental da história, com milhões de barris de petróleo despejados em suas águas. O acidente teve um grande impacto ambiental, comprometendo a vida marinha em algumas áreas e causando a morte de centenas de milhares de animais marinhos e aves.
Sendo assim, ações e políticas de preservação ambiental são muito importantes para a conservação da biodiversidade local e da riqueza natural.
As declarações de Trump e o “Golfo da América”
Durante o seu último mandato como presidente, Donald Trump fez algumas declarações polêmicas envolvendo o México e os mexicanos. Como dizer que o México pagaria pelo muro que ele iria construir na fronteira entre os países e insinuar que os imigrantes mexicanos são um problema para os EUA.
Recentemente, mais uma fala de Trump gerou discussão, por dizer que como presidente dos EUA, ele irá mudar o nome do Golfo do México para “Golfo da América”.
“Muito em breve anunciaremos a mudança… porque fazemos a maior parte do trabalho lá, e ele é nosso… vamos mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América”, disse Trump em uma entrevista coletiva.
O recém eleito presidente dos EUA não especificou quando deseja fazer a mudança, e nem como ela deve ocorrer. Contudo, a sua fala gerou polêmica entre os países vizinhos que possuem costa com o Golfo, como o México, com reação da própria presidente mexicana.
Além disso, a declaração também abre discussão sobre o papel e a atuação dos Estados Unidos na região, em relação ao uso compartilhado dos recursos do Golfo e respeito às fronteiras. Isso porque, em meio a essa fala, Trump também fez declarações sobre querer anexar regiões como a Groenlândia, o Canal do Panamá e o Canadá, não descartando o uso de força militar.
Sendo assim, é possível também questionar se ações mais proeminentes serão feitas na região do golfo, já que Trump não detalhou o que pretende fazer, mas enfatizou que uma mudança será realizada na relação entre EUA e México.
A quem pertence o Golfo do México?
O Golfo do México é compartilhado por três nações: Estados Unidos, México e Cuba. Isso significa que nenhum país é seu dono ou soberano. A área é compartilhada e há acordos internacionais que regulam o seu território e delimitam suas fronteiras.
A Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, por exemplo, regula as zonas econômicas exclusivas (ZEEs) e o uso dos recursos marítimos no Golfo, pelos países. Já a delimitação das fronteiras entre México e Estados Unidos, por exemplo, foi definida pela Organização Hidrográfica Internacional, principal autoridade na delimitação de mares.
O nome pode realmente mudar?
Uma mudança no nome do Golfo do México em nível internacional seria improvável e polêmica. O nome atual reflete séculos de história e geografia, sendo amplamente reconhecido internacionalmente.
O primeiro registro em que o corpo d’água foi chamado pelo nome que leva hoje remete ao século XVI, nos mapas europeus da época. No mapa “Vista de toda a rota da viagem de Sir Francis Drake às Índias Ocidentais”, da década de 1580, por exemplo, está escrito ‘Golfo do México’.
Outros mapas de períodos similares o registram como “Golfo da Nova Espanha”. Contudo, o nome que se perpetuou e continuou a ser utilizado com mais frequência nos últimos séculos foi Golfo do México.
Dessa forma, para que uma mudança em âmbito internacional ocorresse, seria necessário um acordo diplomático envolvendo os países que fazem fronteira com o Golfo, bem como o reconhecimento de organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU).
Mas isso não impede que Trump consiga realizar a mudança do nome em nível nacional, dentro dos Estados Unidos. Isso porque há mecanismos legais no país que permitem que o governo federal altere nomes de lugares geográficos.
Um exemplo é o Conselho para Nomes Geográficos, órgão que aprova ou rejeita nomes propostos por agências federais, governos municipais, estaduais ou pela população. Caso faça isso, Trump não será o primeiro presidente a mudar o nome de um local geográfico no país.
A importância do respeito à soberania nacional
O caso do Golfo do México envolve questões de soberania nacional. Trata-se de três países soberanos que compartilham fronteiras com um mesmo território. Assim, respeitar a soberania nacional nesse caso é fundamental para garantir a paz e a estabilidade na região, uma vez que esse corpo d’água é compartilhado pelos três países.
A soberania nacional assegura que cada nação tenha o direito de gerenciar seus próprios recursos naturais, proteger seu território e tomar decisões políticas e econômicas com autonomia. Nesse sentido, alterar o nome do Golfo do México em nível internacional sem o consentimento do México e de Cuba seria uma desconsideração com as suas soberanias e tende a gerar tensões políticas.
Nesse caso, respeitar a soberania nacional contribui para a resolução pacífica de disputas e contribui para que se evitem desconfortos diplomáticos entre as nações. Assim, se Trump prosseguir com o que disse, e os EUA mudarem a sua atuação na região, contestações e desentendimentos podem se tornar reais.
E aí, ficou alguma dúvida sobre essa polêmica envolvendo o Golfo do México? Deixe nos comentários!
Referências
DACHARY, Alfredo C.; ARNAIZ, Stella Maris. Golfo de México: Frontera y Geoeconomia. Observatório Geografico America Latina. Disponível em: <http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal6/Geografiasocioeconomica/Geografiaregional/94.pdf>.
G1 – México deve pagar por muro na fronteira, insiste Donald Trump
Mundo Educação – Golfo do México
UOL – Trump cogita ação militar no Panamá e promete rebatizar Golfo do México.
U.S Energy Information Administration – Gulf of Mexico Fact Sheet