Erika Hilton

Quem é Erika Hilton?

Publicado em:

Compartilhe este conteúdo!

Você sabia que a Erika Hilton é a primeira deputada federal travesti eleita na história do Brasil?

Nascida em Franco da Rocha, no estado de São Paulo, ela abriu as portas para a inclusão de pessoas trans e travestis no cenário político nacional. Representante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tem sua atuação voltada para questões de direitos humanos, combate ao racismo e transfobia, além de ter se destacado na mobilização pelo fim da escala 6×1.

Neste texto, a Politize! te apresenta a trajetória pessoal e política de Erika Hilton, além de detalhar sua atuação na Câmara de Vereadores e na Câmara dos Deputados.

Biografia de Erika Hilton

Erika Hilton, cujo nome de nascimento é Erika Santos Silva, nasceu em Franco da Rocha (SP), em 9 de dezembro de 1992 e cresceu na periferia de Francisco Morato. Foi criada por uma família de mulheres (mãe, tias e avós) e, desde cedo, pôde exercer sua expressão de gênero sem nenhum tipo de repressão.

No entanto, tudo mudou quando sua família se converteu ao cristianismo, pois foram convencidas de que sua identidade de gênero estava errada. Nessa fase de sua vida, Erika foi expulsa e passou a morar com tios, também evangélicos, em Itu. 

Naquela ocasião, a jovem Erika frequentou a igreja, mas não permaneceu na religião e, assim, aos 15 anos foi expulsa de casa e foi morar na rua, recorrendo à prostituição para sobreviver.

Após cerca de cinco anos morando nas ruas, foi resgatada pela mãe, que buscou reconciliação com a filha e a incentivou a voltar para os estudos. 

Foi assim que Erika concluiu o ensino médio pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) e, posteriormente, ingressou na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) onde iniciou e não concluiu o curso de gerontologia. Erika formou-se, portanto, em Pedagogia.

Foi durante a sua formação acadêmica que ela se envolveu com o movimento estudantil, o que marcou o início de sua carreira política

Erika Hilton se identifica como travesti e pede para não ser identificada como mulher transgênero ou transexual. Ela explica que o termo “travestigênere” é o mais adequado para ela e faz parte de seu posicionamento.

Fotografia de Erika Hilton.
Imagem: CFEMEA.

Carreira política

Sua entrada na política foi em 2015, após reivindicar o reconhecimento de seu nome social na carteirinha de transporte escolar. Na época, a legislação municipal que garantia o direito de identidade a pessoas trans não se aplicava a empresas privadas.

No contexto, fez um abaixo-assinado na plataforma Change.org que atingiu 6.175 assinaturas e conseguiu retificar seu documento na Viação Itu.

A repercussão desse caso chamou a atenção do PSOL, que a convidou para se filiar e integrar a Bancada Ativista, um mandato coletivo que a elegeu pela primeira vez como codeputada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) em 2018. Neste mandato, ela chegou a sofrer ameaça de morte.

Em 2020, deixou o mandato para lançar sua candidatura à vereadora. E assim, sua visibilidade aumentou a partir de sua vitória como a vereadora mais votada de São Paulo e a primeira pessoa transgênero a ocupar a cadeira na Câmara Municipal.

Em 2022, Erika foi eleita para a Câmara dos Deputados, onde continuou a se posicionar em defesa dos direitos humanos, a favor da redução das desigualdades sociais, com foco especial em políticas voltadas para mulheres, a população negra e pessoas trans.

Seu desejo para o futuro é se tornar a primeira travesti no Senado Federal.

Atuação na Câmara de Vereadores

Como vereadora, Erika Hilton foi responsável por uma série de iniciativas importantes. Dentre os projetos mais notáveis, destaca-se a criação da CPI da Violência contra Pessoas Trans e Travestis, uma das primeiras investigações desse tipo no Brasil.

Sua atuação no combate à transfobia e à violência contra as minorias fez com que Erika se tornasse uma das figuras mais influentes na política municipal de São Paulo.

Além disso, Erika propôs projetos de lei para a criação de fundos municipais voltados à segurança alimentar e à saúde pública, com foco no atendimento às minorias. 

Em 2021, ela foi reconhecida com o prêmio “Generation Change” no MTV Europe Music Awards, uma honra que reafirmou seu impacto não apenas no Brasil, mas também internacionalmente. Além desse, também recebeu o prêmio Most Influential People of African Descent (Mipad), com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo reconhecida como uma das pessoas negras mais influentes do mundo.

Ainda como vereadora, foi nomeada como presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara e também foi líder da bancada do PSOL na Câmara. Também integrou a Comissão de Administração Pública como titular e foi suplente da Comissão de Educação e Cultura.

Nesse mandato, Erika Hilton propôs cerca de 162 projetos de lei. Seus projetos de lei aprovados incluem a lei que criou o Fundo Municipal de Combate à Fome e a lei que instituiu o “Dia Municipal pela Vacinação e em Defesa das Trabalhadoras da Saúde”.

Na lista, também há aprovação de projetos que homenageiam mulheres trans e travestis da cidade de São Paulo.

Seu mandato também foi responsável por realizar Audiências Públicas que abordaram questões sobre a população em situação de rua, saúde, negritude, dentre outras.

Durante a pandemia, como vereadora, destinou verbas por via de emendas parlamentares para a compra de vacinas, além de utilizar as emendas para financiar o Fundo Municipal de Combate à Fome e para proteção de vidas durante o frio e mobilizar campanhas de agasalhos.

Atuação na Câmara dos Deputados

Em 2022, foi eleita deputada federal e, no cargo, mantém sua posição política como defensora dos direitos das pessoas trans e das minorias, liderando discussões importantes sobre igualdade de gênero, racismo, políticas públicas e a inclusão de pessoas trans e travestis no mercado de trabalho.

Em 2023, ela foi eleita a líder da Federação PSOL-Rede na Câmara dos Deputados, a primeira travesti a ocupar uma posição de liderança no Congresso Nacional. Nesse mesmo ano, foi eleita por unanimidade como vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial.

Em sua atuação parlamentar, atuou na CPI de investigação da invasão ao Congresso em 8 de janeiro de 2023 em Brasília. Além disso, fez parte da votação do Projeto de Lei 5167/2009, que visava proibir a união civil entre pessoas do mesmo gênero no Brasil

Em decorrência disso, a deputada criou a Frente Parlamentar em Defesa da Cidadania e dos Direitos da Comunidade LGBTI+, com apoio de mais de 210 deputados e senadores.

Ainda neste ano, concorreu ao Prêmio Congresso em Foco, no qual ficou em:

  • Segundo lugar em “Melhor na Câmara pela internet”;
  • Segundo lugar na categoria “Melhores na Câmara pela internet – Região Sudeste”;
  • Sexto lugar na categoria “Melhores na Câmara pelo júri especializado”.

Em 2024, a votação do mesmo prêmio concedeu o primeiro lugar nas categorias de votação pela internet que já havia concorrido anteriormente, além de conquistar o terceiro lugar em “Melhores na Câmara pelos jornalistas” e ter ficado no pódio da categoria especial “Cidades inteligentes pelo júri especializado”.

Em 2024, Erika foi selecionada para ser líder da bancada do PSOL no Congresso Nacional.

Fim da escala 6×1

Uma das bandeiras políticas mais recentes defendidas por Erika Hilton é a proposta do fim da escala 6×1, que visa reduzir a jornada de trabalho no Brasil sem diminuir o salário. Além disso, o projeto propõe:

  • Adoção do modelo 4×3;
  • Redução da jornada de trabalho de 44h semanais para 36h;

A ideia surgiu em parceria com o Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que já discutia a sobrecarga de trabalho e a necessidade de um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

O representante do movimento, Rick Azevedo, eleitor vereador em 2024, iniciou junto a deputada, uma petição online chamada “Por um Brasil que Vai Além do Trabalho”.

Assim, em 2024, a deputada apresentou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) ao Congresso Nacional e solicitou uma revisão da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Saiba mais: Fim da escala 6×1: entenda a proposta da deputada Erika Hilton

Bandeiras políticas

Sua principal bandeira política é o combate às desigualdades, defesa do direito de pessoas negras e LGBTI+ e a inclusão social, bandeiras comuns à esquerda do espectro político.

“Fui eleita como uma trabalhadora do povo e tenho uma entrega a fazer. Quero que as pessoas olhem para a Câmara Municipal e pensem: ‘Eu me vejo no corpo dessa mulher que é negra e travesti, mas que fala de orçamento, cultura, esporte e educação e que tem um projeto para a cidade.”, disse em entrevista à Vogue.

Assim, uma das principais bandeiras de sua atuação política tem sido a luta contra a discriminação de gênero e a violência contra a população LGBTI+. Além disso, Erika se destaca por seu ativismo em prol da população negra.

Outro ponto central de sua atuação é a educação, pois acredita que este é um dos maiores instrumentos de transformação social e defende que o Estado brasileiro deve investir mais na formação das novas gerações, criando políticas de inclusão que garantam o acesso à educação para todas as crianças e jovens, independentemente de sua origem social ou identidade de gênero.

Com o seu mandato, também acredita ser uma inovação política.

“A política como conhecemos é quadrada, cafona, chata, feita da mesma maneira durante muito tempo e pensada e formulada pelos mesmos grupos. Quando outros grupos vão se apropriando desse lugar, o fazer político vai renascendo. A política precisa ser renovada porque a forma hegemônica de fazer política sempre atende apenas aos interesses dos políticos e da elite econômica do Brasil. Então, renovar a política também é mudar a prioridade dela.”, disse em entrevista à Marie Claire.

Essa forma de fazer política, associando referências do universo pop aos debates políticos, tem conquistado eleitores mais jovens.

Como ativista, também faz críticas à esquerda conservadora que acredita que o foco deva ser somente o combate ao capitalismo, sem absorver as pautas do movimento LGBTI+ como prioritárias e centrais. Acredita que para pautar o fim do capitalismo, não podem ignorar as pautas de gênero, raça e sexualidade.

Veja também: Identitarismo ou movimento identitário: o que é e seu impacto

Críticas à Erika Hilton

Apesar do amplo reconhecimento por sua atuação política, Erika também enfrenta crítica, sobretudo de setores mais conservadores e alguns adversários políticos. As principais críticas são em relação aos seus posicionamentos sobre questões de identidade de gênero e às recentes propostas trabalhistas, como o fim da escala 6×1.

Opositores ao movimento LGBTI+ acreditam que as demandas de políticas públicas específicas para pessoas trans são “excesso de privilégio” para uma minoria. Além disso, acreditam que as pautas de identidade tem menor importância em comparação com outros problemas sociais, como a economia e a segurança pública.

A principal crítica é o foco de seu mandato em pautas de identidade de gênero em detrimento de outras pautas, que também afetam uma parcela maior da população.

Ameaças à Erika Hilton 

Além das críticas políticas, Erika Hilton também sofre ataques pessoais motivadas pela sua identidade. Durante sua trajetória, foi alvo de ameaças e preconceitos nas redes sociais e no debate político.

Em 2019, quando ainda integrava a Bancada Ativista na ALESP, o deputado estadual Douglas Garcia (PSL) disse que “tiraria no tapa” uma transexual que usasse o mesmo banheiro que sua mãe ou irmã. Este parlamentar foi punido com advertência verbal pelo Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo.

Na CPI dos atos antidemocráticos, o deputado Abílio Brunini (PL) foi denunciado por um suposto comentário que afirmava que a deputada Erika Hilton estaria “oferecendo seus serviços”. Este comentário teria ocorrido durante a fala da deputada na sessão.

Em 2025, a deputada teve seu gênero alterado para masculino ao tirar um novo visto para entrar nos Estados Unidos. No contexto, ela protestou afirmando ter sido vítima de violência e transfobia de Estado. Este caso é reflexo da ordem assinada por Donald Trump em seu primeiro dia de mandato.

E aí, já conhecia a história da Erika Hilton? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

Referências

WhatsApp Icon

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

Conteúdo escrito por:

Layane Henrique

Faço parte da equipe de conteúdo da Politize!. Cientista social pela UFRRJ, pesquisadora na área de Pensamento Social Brasileiro, carioca e apaixonada pelo carnaval.
Henrique, Layane. Quem é Erika Hilton?. Politize!, 16 de abril, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/erika-hilton/.
Acesso em: 18 de abr, 2025.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!