O que é conclave?

Publicado em:

Compartilhe este conteúdo!

O conclave é o processo utilizado pela Igreja Católica para a eleição de um novo papa, um momento de grande importância para a Igreja e para o mundo. A seleção de um novo pontífice é uma prática que remonta à história medieval e o processo evoluiu ao longo dos séculos. 

O termo “conclave” vem do latim “cum clavis”, que significa “com chave”, uma referência ao isolamento dos cardeais durante a eleição. Este procedimento é cuidadosamente regulado por normas que garantem a confidencialidade, a liberdade e a imparcialidade do processo eleitoral. 

Quer saber tudo sobre a história de como o conclave surgiu e como ele é executado atualmente? Então acompanhe a leitura!

Como será o conclave para eleger o novo papa após a morte de Francisco?

A convocação dos cardeais para o conclave, que escolherá o próximo papa após a morte do Papa Francisco, aconteceu no dia 21 de abril de 2025. O reverendo Giovanni Battista, decano do Colégio dos Cardeais, enviou a carta de convocação para a primeira reunião, que ocorreu no dia 22 de abril de 2025 no Salão Sinodal, na Basílica de São Pedro.

Durante a sede vacante, período também conhecido como “trono vazio”, a Igreja Católica é administrada pelo camerlengo, um cardeal que atua temporariamente como assistente do papa. O conclave, o processo de eleição papal, só começa entre 15 e 20 dias após a morte, o que significa que, no caso de Francisco, a eleição deverá ocorrer entre os dias 6 e 11 de maio de 2025.

O Colégio dos Cardeais, composto por cardeais com menos de 80 anos, será o responsável por eleger o novo papa. Atualmente, 135 cardeais com direito a voto participam, com destaque para a Itália, que possui 17 cardeais aptos, seguida pelos Estados Unidos com 10 e o Brasil com 7.

Os brasileiros que votam são:

  • João Braz de Aviz, 77 anos, arcebispo emérito de Brasília;
  • Odilo Scherer, 75 anos, arcebispo de São Paulo;
  • Leonardo Ulrich Steiner, 74 anos, arcebispo de Manaus;
  • Orani Tempesta, 74 anos, arcebispo do Rio de Janeiro;
  • Sérgio da Rocha, 65 anos, arcebispo de Salvador. Ele conduz a arquidiocese mais antiga do país;
  • Jaime Spengler, 64 anos, arcebispo de Porto Alegre;
  • Paulo Cezar Costa, 57 anos, arcebispo de Brasília.

A história do conclave

A história do conclave, como prática oficial da Igreja Católica, tem suas raízes no século XIII, mais especificamente em 1271, quando a eleição do Papa Gregório X, realizada na cidade de Viterbo, se estendeu por mais de dois anos e nove meses, aprisionando cardeais contra suas vontades em razão da demora.

Ilustração de cardeais e civis reunidos no primeiro conclave.
Ilustração de conclave. Imagem: Getty Images.

O longo impasse durante esse período foi uma grande preocupação para as autoridades civis da cidade, que estavam frustradas com as dificuldades na escolha do novo papa. Em um esforço para acelerar o processo, as autoridades locais decidiram tomar medidas drásticas, trancando os cardeais em locais restritos e reduzindo suas porções de alimentação. 

O termo “conclave”, derivado de “cum clavis” (com chave), faz referência ao fato de que os cardeais passaram a ser fisicamente isolados e trancados em um local até que a eleição fosse concluída. Essa tradição de isolamento físico e o rigor no controle das comunicações externas permanece um dos pilares do processo até os dias de hoje.

Veja também: Quem escreveu a Bíblia?

Em resposta à demora e ao caos que se seguiram à eleição prolongada, o Papa Gregório X, já eleito, promulgou no Segundo Concílio de Lyon, em 1274, o Decreto “Ubi Periculum”, que instituiu pela primeira vez uma legislação oficial sobre o processo de eleição papal.

Esse decreto visava a assegurar que os cardeais fossem isolados em um ambiente seguro e sem interferências externas, para garantir uma escolha livre e imparcial. A medida foi uma forma de impedir a interferência de potências seculares que, anteriormente, exerciam considerável pressão sobre o processo de escolha papal. 

Durante muito tempo, os imperadores, reis e até a nobreza tentaram influenciar a escolha do papa, principalmente durante o período do Sacro Império Romano Germânico. No entanto, com o tempo, a Igreja conseguiu se isolar mais eficientemente, criando um sistema que resguardava a liberdade e a independência da eleição papal.

A eleição passou a ser vista como um ato exclusivamente espiritual, livre das influências do mundo secular.

Apesar da implementação do Decreto do Conclave em 1274, o processo de eleição papal continuou a evoluir ao longo dos séculos. 

Com o tempo, a eleição papal passou a ser regida por um conjunto cada vez mais restrito de normas, buscando garantir a imparcialidade, a confidencialidade e a liberdade do processo. 

Essa evolução culminou em várias reformas importantes, particularmente nas legislações dos séculos XIV e XV, que ajustaram e detalharam o processo do conclave, afastando ainda mais as influências externas, seja do poder imperial ou de outros interesses seculares. 

O que acontece quando um papa morre ou renuncia?

A vacância da Sé Apostólica ocorre quando o papa morre ou renuncia, deixando a Igreja sem um líder espiritual. Durante este período, o Colégio dos Cardeais, composto pelos cardeais com menos de 80 anos, assume a responsabilidade de organizar a eleição papal e de administrar a Igreja provisoriamente. 

Durante a vacância, no entanto, o Colégio dos Cardeais não tem autoridade para tomar decisões que cabem ao papa, como a alteração de doutrinas ou a nomeação de cardeais. Suas funções são limitadas, com o principal objetivo sendo a preparação da eleição do novo papa e a preservação dos direitos e responsabilidades da Igreja.

Imagem dos 10 últimos papas anteriores à Francisco. Texto: O que é conclave?
Imagem de 10 papas em ordem cronológica, da esquerda acima, para a direita. Imagem: A Fé Explicada.

Um dos primeiros passos durante a vacância é a realização de congregações gerais, onde todos os cardeais discutem as questões relativas à eleição do novo papa e à organização do conclave. 

Os cardeais também se comprometem a manter o segredo absoluto sobre o processo eleitoral, fazendo um juramento de confidencialidade. Este juramento assegura que todos os participantes do processo mantenham a integridade do conclave, sem interferências externas ou vazamentos de informações sobre os candidatos e o andamento da eleição.

Atualmente, o processo de escolha do papa é um dos momentos mais importantes da Igreja Católica e segue um conjunto rigoroso de normas e procedimentos. Todos os cardeais têm o direito de votar para eleger o próximo papa, sendo, tecnicamente, todos candidatos.

Entenda: O que foi a Reforma Protestante?

Quando os cardeais chegam a Roma, cada um recebe uma igreja local “titular”, onde devem rezar missa durante a sua estadia. Esta é uma forma de eles se fazerem conhecidos ao mundo e de estreitar os laços com os fiéis.

Quando o Colégio dos Cardeais se reúne oficialmente, a eleição acontece na Capela Sistina, onde os cardeais são trancados até que um novo papa seja eleito. 

Este isolamento total é uma medida de segurança e sigilo, com exceções apenas para condições extraordinárias. Apenas um pequeno número de assistentes têm contato com os cardeais eleitores, assegurando a integridade do processo.

Como funciona o conclave?

O conclave, por sua vez, começa quando os cardeais se reúnem na Capela Sistina, no Vaticano. Famosa por suas obras de arte, a capela se transforma em um espaço sagrado de oração e reflexão para os cardeais, que buscam discernir a melhor escolha para o futuro da Igreja. 

Durante o conclave, os cardeais são mantidos em total isolamento. Eles não podem ter contato com o mundo exterior, e o uso de qualquer forma de comunicação é absolutamente proibido. Isso inclui o uso de celulares, a troca de cartas ou qualquer outro meio que comprometa o sigilo do processo.

A votação é feita em segredo, sendo realizada em três fases: o pré-escrutínio, o escrutínio e o pós-escrutínio. 

Antes de a votação começar, são realizados preparativos detalhados, conhecidos como “pré-escrutínio”. Nessa fase, são distribuídas as cédulas de votação e os cardeais são designados para funções como coletar e contar os votos. 

O processo de votação é feito por escrutínio (votação secreta). Cada cardeal escreve o nome de seu candidato em uma cédula, e essa cédula é depositada em uma urna. 

Para um papa ser eleito, é necessário que ele receba dois terços dos votos dos cardeais presentes. Caso isso não aconteça, o processo continua até que um consenso seja alcançado. 

A votação inicial ocorre no primeiro dia do conclave. Caso nenhum cardeal seja eleito, no segundo dia e nos seguintes, são realizadas até quatro votações por dia. Se, após três dias sem sucesso, o Colégio não tiver alcançado um consenso, faz-se uma pausa para oração e reflexão. 

Caso o ciclo de quatro dias se repita mais sete vezes sem uma eleição bem-sucedida, entra-se na fase de desempate, onde se selecionam os dois candidatos mais apoiados.

Esse sistema de maioria qualificada é uma das características que torna o conclave único e garante que a escolha do papa seja um reflexo do desejo da grande maioria dos cardeais eleitores.

Durante o “pós-escrutínio”, os votos são tabulados, confirmados e, depois, queimados.

Quando o processo de votação chega ao fim, o Cardeal Decano pergunta ao eleito se ele aceita a eleição e qual nome ele escolhe. Se o eleito aceitar, ele se torna o Bispo de Roma, e, caso não seja bispo, ele é imediatamente ordenado como tal.

Após a eleição, o novo papa aparece na varanda da Basílica de São Pedro para fazer sua primeira aparição pública e dar a Bênção Apostólica Urbi et Orbi, com grande celebração. 

No conclave de 2013, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, eleito papa Francisco, apareceu na varanda, em 13 de março de 2013.

O processo de votação: fumo branco e fumo preto

Uma parte essencial do conclave é a famosa “fumata” (a queima dos boletins de voto). O fumo que sai da chaminé da Capela Sistina comunica ao público o andamento do processo. 

Quando o novo papa é eleito, o fumo branco sai da chaminé, sinalizando a escolha bem-sucedida. Caso não haja eleição, o fumo preto é emitido. Esta prática de queimar os votos remonta ao final do século XIX ou início do século XX.

Saiba mais sobre: Cristianismo: origem, mudanças e suas ramificações

Antes disso, não se sabe exatamente quando a prática de fumar os votos começou, mas ela se tornou uma das tradições mais reconhecíveis do conclave.

Fumaça branca é vista do teto da Capela Sistina, indicando que o Colégio dos Cardeais elegeu um novo Papa em 13 de março de 2013 na Cidade do Vaticano, Vaticano.
Fumaça branca é vista do teto da Capela Sistina. Imagem: Peter Macdiarmid/Getty Images.

O significado espiritual do conclave

O conclave não é apenas um evento administrativo ou político, mas também é um momento profundamente espiritual para a Igreja Católica. Para os cardeais, a eleição do papa é uma responsabilidade divina. 

Eles não estão apenas escolhendo um líder humano, mas sim alguém que será o guia espiritual da Igreja Universal. Durante o conclave, os cardeais se dedicam à oração, buscando o discernimento divino para tomar a decisão mais acertada para o bem da Igreja e da humanidade.

O papa é visto como o representante de Cristo na Terra, e sua eleição é considerada uma ação guiada por Deus. O conclave, portanto, é um ato de fé, onde os cardeais se colocam sob a orientação divina para escolher o papa que conduzirá a Igreja ao longo de seu pontificado.

Além disso, o conclave é um reflexo do compromisso da Igreja com a tradição. A independência da Igreja em relação às pressões externas é fundamental, e o conclave foi criado exatamente para proteger essa independência.

Entendeu tudo sobre a eleição do papa, também conhecida como conclave? Se ficou alguma dúvida, deixe nos comentários!

Referências

WhatsApp Icon

Deixe um comentário

Conectado como Lay. Edite seu perfil. Sair? Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

Conteúdo escrito por:

Júlia Christina Gírio Gonçalves

Faço parte da equipe de conteúdo da Politize!.
Gonçalves, Júlia. O que é conclave?. Politize!, 24 de abril, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/conclave/.
Acesso em: 23 de abr, 2025.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!