A década de 90 no Brasil foi marcada por profundas mudanças políticas e econômicas que afetaram a estrutura produtiva e financeira nacional, com elevadas taxas de inflação – o crescimento dos preços chegou a 80% ao mês – cumulado com altos índices de desemprego e pobreza. Nesse contexto, o partido Agir, na época nomeado Partido da Reconstrução Nacional (PRN) elegeu o primeiro presidente pelo voto direto. Confira aqui essa história!
Origem do partido AGIR
O Agir, cuja sigla é a mesma que o nome, é um partido de centro-direita fundado em 1985 por Daniel Tourinho. Quando fundado, adotava o nome Partido da Juventude (PJ). Em 1989, o PJ foi renomeado como Partido da Reconstrução Nacional (PRN) e registrado em 1990 com esta nomenclatura.
Durante esse período, o Brasil passava pelo processo de redemocratização após a Ditadura Militar. A redemocratização teve início no governo do general João Batista Figueiredo, com a anistia aos acusados por crimes políticos.
Neste contexto, Daniel Tourinho, presidente do partido à época e no momento atual, fundou o PRN. Fernando Collor e seu vice-presidente, Itamar Franco, faziam parte do PRN e foram os primeiros candidatos à presidência da República eleitos pelo voto direto após derrotar Luís Inácio Lula da Silva do Partido dos Trabalhadores (PT) no segundo turno eleitoral.
Evolução eleitoral ao longo do tempo
O antigo Partido da Juventude (PJ) tornou-se PRN em 02 de fevereiro de 1989 após a entrada de dissidentes João Castelo do PDS, Darcy Ribeiro do PMDB e Fernando Collor do PSDB, ainda com Daniel Tourinho na presidência. Fernando Collor foi eleito presidente no segundo turno com 35.085.457 votos neste mesmo ano.
No Congresso Nacional, o PRN possuía como seus mais destacados líderes o senador Ney Maranhão e o deputado (e futuro senador) Renan Calheiros, que liderava o governo na Câmara dos Deputados.
Embora nenhum membro do PRN tenha sido nomeado para ocupar ministérios, o partido integrou a base parlamentar de Fernando Collor ao lado do PFL e do PDS. O partido elegeu 98 prefeitos em 1992, muito mais do que as três conquistadas em 1988, época em que se chamava Partido da Juventude. Entretanto, as acusações que pairavam sobre o presidente da República e o posterior impeachment em 1992 tiveram um efeito devastador, e a legenda elegeu apenas um deputado federal em 1994.
Nas eleições de 2002, o partido apoiou o ex-governador fluminense Anthony Garotinho, à época no PSB, como candidato à presidência. Em 2002, Ciro Moura foi lançado como candidato a governador de São Paulo com a coligação “Bandeira Paulista” (PTC / PRP / PSC / PT do B).
Nas eleições de 2008, o PTC lançou Ciro Moura como candidato a prefeito da cidade de São Paulo. Nenhum candidato do PTC conseguiu se eleger.
Em 2010, o partido formou com o Partido Progressitas (PP) a coligação “Em Defesa do Cidadão” e apoiou a candidatura de Celso Russomanno ao governo de SP. Também lançou Ciro Moura como candidato a senador, tendo este ficado em sétimo lugar, com 275.664 votos (0,79% das intenções de voto). Entre os candidatos a deputado federal e estadual, destacou-se o estilista Ronaldo Ésper, porém obteve votação pouco expressiva para a Câmara dos Deputados.
Em 2012, o PTC aumentou de 13 para 19 prefeitos eleitos, com destaque para a vitória em São Luís (MA), com Edivaldo Holanda Junior. Foi a primeira vez que o partido conquistou a prefeitura de uma das principais metrópoles do país e capital do Maranhão. Em 2016, recebeu novamente a filiação do ex-presidente e atual senador pelo estado de Alagoas, Fernando Collor de Mello, no qual ficou até 2019.
Em 2018, o partido desistiu de lançar o ex-presidente Collor para a eleição presidencial e apoiou o senador do Paraná, Álvaro Dias, do Podemos. Elegeu dois deputados federais – Benes Leocádio, pelo Rio Grande do Norte, e Marina Santos, pelo Piauí – e doze deputados estaduais, mas perdeu boa parte dos parlamentares.
Nas eleições municipais de 2020, o partido elegeu apenas um prefeito, no município de Pratinha (MG). Elegeu também 220 vereadores pelo país, um resultado pior que em 2016. Em 2022, o Agir não elegeu nenhum governador, deputado federal ou senador. Todavia, o partido elegeu cinco deputados estaduais ou distritais, dos quais dois se desfiliaram do partido após a eleição.
Desafios nas disputas pela presidência
Após o impeachment de Collor, o PRN enfrentou diversos desafios. Nas eleições de 1994, o empresário baiano Walter Queiroz foi lançado candidato à presidência. No entanto, foi expulso do partido durante a campanha e foi substituído pelo gaúcho Carlos Antônio Gomes, que obteve apenas 387.611 votos.
Nas eleições presidenciais de 1998, ainda filiado ao partido, Collor tentou disputar a eleição presidencial, mas sua candidatura foi negada pelo TSE, pois sua inelegibilidade de oito anos, devido ao impeachment, ainda não havia se encerrado. A partir deste momento, Collor deixou o PRN e filiou-se à época ao Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB).
Transformações ao longo do tempo: de Partido da Reconstrução Nacional a Agir!
Após o desgaste sofrido na reputação do partido com o impeachment de Fernando Collor, em 2000, as lideranças do PRN deliberaram pela mudança de sigla. Surgiu então o Partido Trabalhista Cristão (PTC), que se considerava uma organização política aberta a todos os segmentos religiosos, e permaneceu com esse nome até 2021.
Em maio de 2021, ocorreu o encontro nacional do partido, durante o qual foram apresentados o novo nome, adotando a atual nomenclatura “Agir”. Em março de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral aprovou o nome “Agir” e o novo estatuto.
Atualmente o partido se autodenomina no site oficial como “o partido do autista”, por ter o primeiro e único político autista do país, o vereador Jorginho Mota de Guarulhos.
Candidaturas curiosas e emblemáticas
O PTC abrigou em seus quadros alguns artistas que tentam se candidatar: o cineasta José Mojica Marins, o “Zé do Caixão”, tentou candidatar-se a vereador na cidade de São Paulo, sem muito sucesso (falecido em 2020).
Em 2006, o estilista e apresentador de TV Clodovil Hernandes (falecido em 2009, quando já era filiado ao PR) conquistou uma vaga na Câmara dos Deputados, também pelo estado de São Paulo, ao obter uma votação expressiva para o cargo – a terceira maior em todo o país.
Considerações finais
Em junho de 2023, o Colegiado do TRE-RJ julgou como não prestadas as contas anuais do diretório estadual do partido Agir, referentes ao exercício financeiro de 2018, quando ainda se chamava Partido Trabalhista Cristão (PTC).
Com a decisão, o repasse de cotas do Fundo Partidário para a legenda ficou suspenso e o diretório deve regularizar sua situação para participar das eleições de 2024.
Percebe-se que, apesar do Agir ser um partido antigo e com muitas candidaturas ao longo do tempo, sua trajetória evidencia um enfraquecimento de seu protagonismo no contexto político brasileiro.
E aí? Gostou de conhecer a história do partido Agir? Deixe aqui seu comentário!
Referências
- Site oficial do partido Agir
- Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro – Mais de 120 diretórios estaduais e municipais devem regularizar sua situação para participar das Eleições 2024
- Tribunal Superior Eleitoral – TSE aprova alteração e Partido Trabalhista Cristão passa a se chamar Agir
- Arquivo Nacional – Centro de Referência de Acervos Presidenciais
7 comentários em “AGIR: conheça a trajetória do chamado “partido do autista””
Gostei do material. Oportunizou conhecer o que e de onde veio mais um partido disfarçado com uma sigla que busca negar a ele mesmo. A pesquisa histórica desse material permitiu a afirmação da mixormia que é a constituição de partidos que não apresentam nenhuma ideia que não interesses de grupelhos pensados em se apropriar quer viver a sombra do fundo partidário.
Excelente apanhado, é importante contextualização para que se entenda, basicamente, quem é o grupo por trás da sigla.
Obrigado!
Já não é mais o partido do autista e virou o partido da inclusão… só agir36 agora… e tudo isso no meio de um processo eleitoral. Site em manutenção e com informações confusas e sem uma nota oficial explicando a tal da mudança.
Pelo que entendi agora existe também o PA que é o Partido do Autista e não é o Agir36.
Uma trajetória de altos e baixos ocorreu ao longo do tempo e com isso, pra quem não estudar a história do partido fica sem saber a origem e quem foram seus fundadores.
É ótimo ter uma história detalhada assim pra mostrar as origens dos sugadores de “fundão eleitoral” e um partido que já abrigou Renan Calheiros não pode ser boa coisa. Temos que acabar com “partidos”, esses parasitas não deixam o país se desenvolver e ainda destroem o pouco que há.
Material bem informativo, frisando dentro de uma linha do tempo o rol de politicos acolhidos, como por exemplo Renan, Collor e Itamar, só aí já dá para ter uma base do que foram as suas raizes. Infelizmente ficou pendente a informação do que o partido apoia e o que não apoia, assim sendo só se enxerga os integrantes acima, e julgar o partido com base no que e estas conhecidas figuras fizeram.
Excelente matéria! Conhecimento no ano eleitoral.
Parabéns!