Ailton Krenak nasceu em 1953 em Minas Gerais, na região do vale do rio Doce. Ativista do movimento socioambiental e defensor dos direitos dos povos indígenas, participou da fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI).
Como uma liderança histórica no movimento indígena, exerceu um papel crucial na consquista dos Direitos Indígenas na Constituinte de 1988. É ambientalista, filósofo, poeta, escritor e também doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
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A história de Ailton Krenak
Ailton Alves Lacerda Krenak nasceu na década de 50, na região do Médio Rio Doce (MG), onde fica localizada a Terra Indígena Krenak. Mudou-se aos 17 anos para o Paraná com sua família e lá foi alfabetizado e tornou-se produtor gráfico e jornalista.
Nos anos 80, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985 fundou a ONG Núcleo de Cultura Indígena. Dois anos depois, durante a Assembléia Constituinte, protagonizou uma das cenas mais marcantes da redemocratização.
Como forma de protesto ao retrocesso na luta pelos direitos indígenas, Krenak pintou sua face com tinta preta do jenipapo durante seu discurso na tribuna. Para o seu povo, o produto é usado em situações de luto.
Em 88, participou da fundação da União dos Povos Indígenas. A organização buscava representar os interesses dos povos no cenário nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que desejava a demarcação de reservadas naturais da Amazônia onde fosse possível a subsistência econômica através do extrativismo.
Em 2005, co-escreveu a proposta da Unesco que criou a Reserva da Biofera da Serra do Espinhaço, que até hoje é membro do comitê gestor. Em 2017, sua tragetória foi tema do documentário “Ailton Krenak e o sonho de pedra”, do diretor Marco Altberg.
Passados os anos, sua voz continuou sempre relevante e ecoante. Em 2019 escreveu o livro Ideias para Adiar o fim do mundo e nos anos seguintes as obras O amanhã não está à venda e A vida não é útil.
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Significado de Krenak
O nome Krenak significa, em sua etimologia, cabeça (kre) da terra (nak). Os Krenak ou Borun são os útimos “Botocudos do Leste”, nome atribuído pelos portugueses no fim do século 18 aos grupos que usavam botoques auriculares ou labiais. São conhecidos também por Aimorés, para os Tupí e se auto-denominam Grén ou Krén.
Esse povo indígena, que da origem ao sobrenome de Krenak, possui hoje significativa parte de sua população localizada em Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce. Lá, onde o filósofo cresceu, a comunidade e ecologia encontram-se profundamente afetadas pela extração de minérios.
Em 2015, a catástrofe de Mariana (MG), devastou toda a fauna e vegetação do Rio Doce, atingindo a principal fonte de subsistência dos Krenak. O rompimento da barragem foi apenas mais um dos desafios enfrentados pela comunidade que resiste desde a chegada dos portugueses nas terras brasileiras.
Os Krenak hoje são representados por pouco mais de 600 sobreviventes que ainda ocupam a região.
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As ideias de Krenak
Durante toda sua carreira, Ailton Krenak é um crítico do sistema capitalista e do eurocentrismo na percepção da civilização. O capitalismo e o colonialismo presente no processo de formação do povo brasileiro são pontos principais de seu pensamento e temas recorrentes em suas obras.
Na série documental “Guerras do Brasil.doc”, disponível na Netflix, Krenak faz uma recuperação histórica e reflete sobre as invasões sofridas pelo país desde a chegada dos europeus. Ao contrário do que consta nos livros de História, o autor explica que nunca houve um momento de rendição por parte dos povos indígenas.
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Suas obras
Ideias para adiar o fim do mundo (2019)
Lançado em 2019, ‘Ideias para adiar o fim do mundo’ é o livro mais famoso de Ailton Krenak. A obra critica a ideia de humanidade como um conceito separado da natureza.
Foi escrito com base em uma palestra dada pelo autor em Brasília, que ressaltou a importância dos seres humanos encararem o meio natural como um membro da família. Essa premissa seria baseada no desastre socioambiental da nossa era, o Antropoceno.
A resistência indígena vem da não aceitação de que todos somos iguais. Somente através do reconhecimento da diversidade e da recusa da ideia do humano como superior aos outros seres, é possível dar outro significado às nossas existências e frear a caminhada para o colapso ambiental.
O amanhã não está à venda (2020)
Fruto da pandemia de Covid-19, ‘O amanhã não está a venda’ foi publicado em abril de 2020. Nele, Krenak fala sobre como a pandemia nos fez refletir sobre o que é a ‘normalidade’ e o que significaria voltar para esse status após a crise social, econômica e sanitária vivênciada.
O autor fala sobre as complexidades do isolamento e que, diante do modelo de vida contemporâneo, ninguém está a salvo. A necessidade de refletir sobre o fato vem da ideia de que seria insensato retornar a uma normalidade que devasta a natureza e reforça as desigualdades entre os povos.
A vida não é útil (2020)
Publicado no final de 2020, ‘A vida não é útil’ também abordou um diálogo sobre o cenário pandêmico. Na obra, Krenak volta a apontar as tendências destrutivas da civilização através da reunião de cinco textos adaptados de palestras, entrevistas e lives realizadas entre novembro de 2017 e junho de 2020.
Em meio a evolução da pandemia, a ascensão de governos de extrema-direita e os danos causados pelo aquecimento global, o autor critica a insistência na visão estreita e excludente sobre o que é a humanidade, que se autodestrói em um consumismo desenfreado e devastação ambiental.
Futuro ancestral (2022)
Em uma nova coleção lançada em 2022, ‘Futuro ancestral’ provoca com a radicalidade do pensamento insurgente de Krenak. A obra composta por textos produzidos entre 2020 e 2021 demove o senso comum e invoca o maravilhamento explorando a ideia de futuro.
Agora você já sabe quem é Ailton Krenak! Desde sua juventude, o escritor e militante vem sendo uma importante personalidade na defesa do meio ambiente e dos povos indígenas. Sua luta foi fundamental para a consquista de direitos básicos durante a redemocratização e é, até hoje, indispensável.
1 comentário em “Quem é Ailton Krenak?”
Quando ocupando o cargo de pró-reitor da PUC-Goiás conheci pessoalmente Ailton Krenak.
Sugiro também lerem os últimos artigos de Egydio Shwade sobre o direito dos povos originais.
Darcy Cordeiro (darcyc@terra.com.br)