Aquecimento global: o que está em discussão?

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Pessoas estendem faixa com os dizeres "we will move ahead" no chão durante a COP 22. Imagem do conteúdo sobre Aquecimento global.
Ativistas na COP 22 em 2016. Foto: Youssef Boudlal/Reuters.

Você com certeza já ouviu falar sobre o aquecimento global, não é mesmo? Este tema vem ganhando cada vez mais espaço nos jornais, televisão, debates políticos e, até mesmo, em conversas entre amigos.

Neste texto, vamos abordar alguns conceitos básicos para entender as mudanças climáticas, as causas do aquecimento global, o histórico de discussões deste tema e ainda o impacto da atividade humana nestas mudanças. Por fim, veremos como o Brasil e o mundo vêm atuando frente ao aquecimento global.

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Entenda os principais conceitos do aquecimento global

A atmosfera é uma camada de gases presa ao redor do  planeta Terra pela gravidade. Ela é composta por inúmeros gases com a capacidade de reter o calor produzido pelo Sol.

Após o Sol aquecer a superfície terrestre, o calor tenta se dissipar para o espaço. No entanto, os gases de efeito estufa (GEE) mantêm parte deste calor aprisionado na nossa atmosfera. Isso é fundamental para a manutenção da vida no nosso planeta (dentro das concentrações naturais).

Os principais gases de efeito estufa são o vapor d’água (H2O), gás carbônico (CO2), metano (CH4), monóxido de nitrogênio (N2O), ozônio (O3) e outros halocarbonos.

Mas este conceito sozinho não nos diz muita coisa na discussão que queremos aqui.

Um ponto importante é sobre a diferença entre as mudanças climáticas e o aquecimento global. Bom, as mudanças climáticas são variações do clima, seja na escala global ou na escala regional, com relação a sua série histórica. Portanto, podem fazer parte das mudanças climáticas as variações na temperatura, precipitação (por exemplo, chuva), nebulosidade e fenômenos naturais.

Já o aquecimento global refere-se ao aumento da temperatura média do planeta, ou de uma região de análise.

Assim, o aquecimento global faz parte das mudanças climáticas, sendo estas mais amplas do que o aumento da temperatura terrestre.

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Como o mundo debate as mudanças climáticas?

Diversas organizações e cientistas estudam a influência das atividades humanas no meio ambiente – como no clima, por exemplo. As discussões globais sobre o clima se intensificaram após a chamada Comissão Brundtland, em 1984, e seu Relatório Brundtland – “Nosso futuro comum”.

Resumidamente, a conclusão do relatório foi de que mesmo com os avanços tecnológicos e econômicos dos países nas últimas décadas, mais pessoas estavam empobrecendo enquanto o meio ambiente estava sendo cada vez mais degradado. Deste modo, tornavam-se imprescindíveis políticas e esforços globais para a redução dos GEE.

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Embasado nos pontos destacados pelo Relatório Brundtland, foram criados dois mecanismos de extrema importância para avaliar as mudanças climáticas: o IPCC e a UNFCCC.

O Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), é o principal órgão internacional que estuda as mudanças climáticas. São diversos pesquisadores, de diferentes países, que analisam a produção científica e elaboram relatórios periodicamente sobre o tema.

Por sua vez, a Convenção Quadro das Nações Unidas (UNFCCC) é um tratado internacional – finalizado em 1992 e ratificado por mais de 175 países – cujo propósito é estabilizar as  emissões dos GEEs.  Para a implementação dos objetivos do tratado são realizadas anualmente as COPs – Conferências das Partes.

As COPs são encontros onde os líderes mundiais discutem os caminhos para uma política climática e de emissões de GEE menos agressiva ao meio ambiente. Por exemplo, o Acordo de Paris principal acordo em debate entre os países – foi elaborado na 21ª COP em Paris, na França.

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Por que ressaltamos estes pontos neste texto?

Por dois motivos principais: referências e futuro.

Leia mais: Mudanças climáticas no verão: a hora de agir é agora

Para se aprofundar no tema das mudanças climáticas é fundamental consultar os relatórios do IPCC,  artigos e textos que o abordam. Assim como seus pesquisadores e autores, já que estas são as principais referências da área. Além disso, para entender os rumos da política do clima internacional e como isto pode impactar nos investimentos, meio ambiente e padrões de consumo é importante o acompanhamento das discussões das COPs.

Aquecimento global: consenso científico

Apesar de alguns líderes políticos e cientistas afirmarem o contrário, o planeta Terra está ficando mais quente. Dentre as evidências, podemos destacar por exemplo:


  • Em 2016, 16 das 17 temperaturas médias anuais mais altas já registradas eram do século XXI;



  • Estudos da Berkeley Earth, organização científica de análise das mudanças climáticas criada para refutar os argumentos dos negacionistas do aquecimento global, fizeram um comparativo das médias de temperatura de 1850 a 2018, evidenciando o claro aquecimento recente das últimas décadas;



  • Estudos da Universidade de Siegen, na Alemanha, destacam a crescente taxa de aumento do nível médio dos oceanos. Por exemplo, enquanto a média anual de elevação dos oceanos foi de 1,1 mm por grande parte do século XX, entre 1993 e 2012 a média de elevação foi de 3,1 mm;



  • A redução da espessura de gelo permanente no Ártico. Em 2018, por exemplo, foi a primeira vez registrada que houve o rompimento do gelo mais espesso da região do norte da Groenlândia com a camada mais antiga do Hemisfério Norte;



  • Também podemos destacar a morte das comunidades de corais, a diminuição das camadas de geleiras em montanhas, a perda das geleiras continentais, entre outras.


Por que o mundo está ficando mais quente?

As discussões que permeiam o aquecimento global e as mudanças climáticas são sobre a influência da atividade humana nestas mudanças! Entende-se atividade humana como as modificações que os seres humanos fazem no meio ambiente – principalmente, a liberação dos Gases de Efeito Estufa (GEEs) na atmosfera.

A grande maioria dos estudiosos consideram que a aceleração do aquecimento global e os impactos das mudanças climáticas estão sendo potencializados pela atividade antrópica. Mas há também uma minoria que acredita que a atividade humana não implica em alterações substanciais para o macroclima do planeta.

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O que você deve ficar atento nesta discussão?

Desde o início de pesquisas de climatologia, estudos sobre a influência dos vulcões, El Niños, raios e poeira cósmica, vulcões submarinos, aerossóis, variações na constante solar e as mudanças na composição atmosférica (com a influência da atividade humana) são os principais componentes de estudo para entendimento das mudanças climáticas.

Percebe-se que o aquecimento registrado nos últimos 150 anos não é restrito para os núcleos urbanos, mas é observado em todos os pontos do planeta – em especial nas regiões mais sensíveis, como as geleiras. Além disso, os estudos de modelagem de atribuição de causas para o aquecimento global indicam a mudança de composição atmosférica como o principal fator.

Isso porque a concentração de CO2 na atmosfera atingiu seu maior nível de concentração desde os primeiros registros da existência humana no planeta Terra.

Com o passar dos anos a probabilidade e os indícios de que a atividade humana tenha relevância para o aquecimento global é crescente.

As projeções futuras são incertas. Como será a população mundial e o seu uso de energia? E a quantidade de CO2 emitida por unidade de energia? Como o oceano e a vegetação sequestrariam o excesso de carbono? Como reagirão à circulação oceânica, os padrões de vegetação, as calotas polares, etc.?

Mas essas  incertezas não excluem a importância dos modelos e suas variações. Eles são valiosos para nos alertar e avaliarmos cenários.

O que diz o principal documento sobre as mudanças climáticas

Como falado anteriormente, o IPCC conta com os maiores especialistas e estudiosos do clima de diversos países. O relatório de 2023 destaca que:

  • O aquecimento global induzido pela humanidade, de 1,1ºC, tem registros de ocorrência em todas as regiões do mundo;
  • Os impactos do clima na vida das pessoas e dos ecossistemas são mais severos do que se esperava e os riscos tendem a aumentar a cada fração de grau de aquecimento;
  • É necessário aumentar o investimento financeiro para expandir soluções para este problema;
  • Alguns impactos climáticos já são tão graves que não é mais possível se adaptar a eles;
  • O mundo precisa parar de usar combustíveis fósseis, pois esta é a principal causa da crise climática;
  • A remoção de carbono é essencial para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C;
  • As mudanças climáticas vão aumentar a desigualdade se não agirmos o quanto antes.

O dia mais quente já registrado no planeta

3 de julho de 2023 foi o dia mais quente já registrado no planeta. Esse dado foi registrado no Centro Nacional de Previsão Ambiental dos EUA. O recorde anterior era de 2016.

A temperatura média global foi de 17,01ºC, superando a média de 2016, quando foi registrado 16,92ºC. O que explica este aumento são as mudanças climáticas e o impacto cada vez maior do fenômeno El Niño.

A cientista de pesquisa do Berkeley Earth, organização sem fins lucrativos da Califórnia que estuda o clima, informou ao G1 que:

“Infelizmente, essa é apenas a primeira de uma série de novos recordes que serão estabelecidos neste ano, à medida que as emissões crescentes de dióxido de carbono e gases de efeito estufa, juntamente com um evento de El Niño em desenvolvimento, empurram as temperaturas para níveis cada vez mais altos”.

Para se ter uma ideia, no norte da África, os termômetros já registram temperaturas próximas dos 50ºC. Na Antártida, mesmo em período de inverno, as temperaturas estão cada vez maiores.

Junto às mudanças climáticas, o fenômeno El Niño também é apontado como outro responsável. Este fenômeno são alterações significativas na distribuição da temperatura da superfície da água do Oceano Pacífico, provocando grandes alterações no clima e, há milhares de anos, influencia chuvas e secas em partes do mundo.

Veja também: O que é Estado de Emergência Climática?

O aquecimento global é real… e agora?

O aquecimento global é real e precisa ser combatido. Projeções dos principais cientistas do planeta alertam que um aquecimento médio maior que 2°C trará consequências perigosas para a manutenção da vida de algumas espécies, diminuição da capacidade agrícola, ampliação da seca em diversos pontos do globo, entre outros.

Vale ressaltar que do período que antecedeu a Revolução Industrial até o século XXI, a temperatura média global já aumentou em 1°C.

Um dos princípios que rege a política/direito ambiental é o Princípio da Precaução! Mesmo os cientistas que não confirmam a atividade antrópica como a impulsionadora do aquecimento global, em sua maioria alertam para a necessidade de diminuir as emissões de Gases de Efeito Estufa, haja vista a possibilidade existente e também outras implicações desse gases, como a poluição atmosférica.

A questão é que os países têm que priorizar a pauta climática. Desde o início das discussões ambientais, outro princípio que sempre esteve em pauta foi da responsabilidade comum, porém diferenciada. Ou seja, os países desenvolvidos, que emitiram mais GEEs, têm o dever de desempenhar maiores investimentos e metas mais ambiciosas de redução, bem como auxiliar os países em desenvolvimento.

Na COP 25, realizada em dezembro de 2019, poucos avanços práticos e políticos foram alcançados. Se por um lado a mobilização social para o evento foi o grande destaque, um grande progresso seria a regularização do mercado de carbono, que não aconteceu.

O mercado de carbono refere-se a possibilidade de compra de créditos de carbono por parte dos países que ultrapassaram suas metas de emissão de gases de efeito estufa. O que ocorre na prática é que, cada governo, determina um limite de emissão desses gases, ou seja, qual é o limite de poluição permitido. Quando uma empresa polui menos do que o limite determinado, ela pode vender essa diferença como crédito para outra empresa que ultrapassou este limite.

Além disso, países fundamentais para avanços na política do clima global vêm na contramão do esperado – o que é o caso do Brasil. O governo federal anunciou que o Brasil será sede da COP30 e será realizada em Belém, no Pará. Este encontro está marcado para 2025.

O meio ambiente é complexo e grandes alterações podem trazer riscos para a manutenção da vida no planeta. Combater que as atividades humanas modificam a terra, as águas e o ar é essencial para o nosso principal objetivo – possibilitar o mundo para as futuras gerações.

E você, o que já ouviu falar sobre mudanças climáticas e aquecimento global? Conhece alguma boa referência? Compartilha com a gente aqui nos comentários!

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Guerra, Gabriel. Aquecimento global: o que está em discussão?. Politize!, 9 de março, 2020
Disponível em: https://www.politize.com.br/aquecimento-global/.
Acesso em: 3 de dez, 2024.

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