É comum encontrar matérias jornalísticas que citam o Banco Mundial como fonte de informação, principalmente em temas relacionados à pobreza, meio ambiente e desigualdades. Mas, pera aí, um banco tão conectado a temas sociais? Curioso, não? Acontece que esse não é um banco comum, mas sim uma instituição financeira composta por diferentes organizações cuja visão apresenta como “reduzir a pobreza e gerar prosperidade compartilhada de uma maneira sustentável”. Vamos conhecer um pouco mais de como esse Banco surgiu e a que se dedica.
Um banco para o mundo pós-Segunda Guerra
Junto com o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial nasce no período pós Segunda Guerra Mundial em um acordo chamado Bretton Woods, assinado em julho de 1944 por 45 países que queriam re-organizar a economia mundial após a guerra.
Martin Alfaya, analista em comércio exterior, explica que grande parte da motivação dos Estados Unidos em liderar a criação do Banco era poder fornecer empréstimos aos países europeus. “Os Estados Unidos precisavam de uma Europa Ocidental forte para frear o avanço do comunismo da União Soviética. Então o Banco é criado e começa a dar empréstimos a esses países para que se reconstruíssem o mais rápido possível e entrassem do seu lado na dicotomia da Guerra Fria“, comenta.
Poucas décadas depois do conflito mundial, os países europeus já tinham se recuperado e gradualmente o foco do Banco se deslocou a nações com necessidades em outras regiões do mundo.
O pesquisador Germán Burgos Silva divide a história do Banco Mundial em quatro etapas em seu artigo “Estado de direito e globalização: o Banco Mundial e as reformas institucionais na América Latina”. Em uma primeira etapa, o Banco teria foco nos países europeus com o objetivo de ajudá-los em sua reconstrução. Logo, uma vez que esses países já tinham se re-estruturado, o Banco “descobre a pobreza” segundo o autor, quando começa a oferecer empréstimos a países subdesenvolvidos.
Organização interna
O Banco Mundial está dividido em distintas instituições, e cada uma possui um foco específico. O portal Projeto Bretton Woods, que entre outros objetivos busca informar sobre o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, explica quais são essas instituições e que tipo de apoio oferecem:
- BIRD (Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento): fornece empréstimos a países com ingressos médios (renda per capita entre US$ 1.500 e US$ 5.000) ou ingressos menores, mas que demonstram maior capacidade de saldar dívidas.
- AID (Associação Internacional de Desenvolvimento): oferece empréstimos a países mais pobres, com renda per capita inferior a US$ 800. Segundo o site do Ministério das Relações Exteriores, hoje em dia o Brasil é um dos principais países em desenvolvimento a contribuir com essa associação.
- CFI (Corporação Financeira Internacional): financia projetos do setor privado em países em desenvolvimento.
- MIGA (Organismo Multilateral de Garantia de Investimentos): concede garantias e seguros a investidores privados e outras instituições que fornecem empréstimos para fomentar o investimento estrangeiro em países em desenvolvimento.
- CIADI (Centro Internacional para a Arbitragem de Disputas sobre Investimentos): apoia a resolução jurídica de controvérsias relacionadas a investimentos e colabora para conciliar investidores internacionais.
Todo Estado cliente do Banco Mundial deve ser membro da instituição, mas nem todos os membros são clientes. Em seu estudo sobre a instituição, o historiador João Márcio Pereira verificou que somente quatro países-membros nunca receberam ajuda financeira do Banco: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Alemanha.
A atuação do Banco na América Latina
Segundo os pesquisadores Guillermo Perry e Eduardo Garcia, autores do artigo “A Influência de Organismos Multilaterais de Desenvolvimento em Estratégias de Desenvolvimento Latino-americanas”, o grau de influência do FMI e do Banco Mundial (também conhecidos como organismos multilaterais de desenvolvimento) nos países latino-americanos variou substancialmente de acordo com o país e sua situação econômica.
Durante os anos 80, conhecida como “década perdida”, houve um pico na quantidade de empréstimos fornecidos por essas instituições na região. Isso ocorreu porque durante esse período muitos países latino-americanos estavam passando por situações financeiras de crise e dívidas externas. Com o passar dos anos, graças a ajustes fiscais, a re-estruturação da dívida pública e o crescimento da região na década de 90, a participação do capital de organismos como o Banco Mundial diminuiu drasticamente, passando de cerca de 55% durante os anos 90 até chegar a menos do 10% entre 2011 e 2013.
Por essa razão, com a chegada do novo milênio o Banco Mundial precisou reinventar-se para seguir sendo relevante para essa e outras regiões do mundo. “Tratando de redefinir seu papel e de re-desenhar suas instituições financeiras, flexibilizando o acesso a linhas de crédito”, comentam Perry e Garcia.
O que é desenvolvimento para o Banco Mundial?
Ainda segundo Perry e Garcia, a visão do Banco Mundial sobre o que é o desenvolvimento evoluiu com os anos. Em seu início, durante as décadas de 1950 e 1960, o Bando entendia que desenvolver-se significava construir infraestrutura pública – assim, seus empréstimos estavam muito conectados a esse tipo de projeto.
Algum tempo depois, a criação de capital humano foi considerada cada vez mais importante para o desenvolvimento, o que levou o Banco a ampliar sua carteira de investimentos a setores sociais.
Mais recentemente, a partir da década de 90, projetos relacionados à diminuição da pobreza e a busca por uma sociedade mais sustentável têm sido priorizados pelo Banco.
“As mudanças na visão dessas instituições foram constantemente influenciadas pela pesquisa acadêmica sobre o desenvolvimento, assim como pelas opiniões de formadores de políticas públicas na América Latina” (PERRY e GARCIA).
A influência dos países-membro
Mesmo depois de tantos anos desde a sua criação, o Banco, que está localizado em Washington, continua tendo uma grande influência dos Estados Unidos, o principal país a fornecer capital ao Banco Mundial. Cada país participante da instituição, que hoje em dia possui mais de 180 nações-membro, colabora economicamente com o Banco.
Como os países colaboram com o que podem de acordo com sua própria economia, as decisões são tomadas levando em consideração essas diferenças de aporte. Ou seja, cada país membro tem direito a votar as decisões do Banco, porém os votos não têm o mesmo peso: quem coloca mais dinheiro tem mais influência, seu voto vale mais.
Atualmente, os Estados Unidos seguem sendo o principal financiador do Banco, portanto seu voto é o de maior peso, correspondendo a cerca de 16% de todos os votos. Em seguida estão países como Japão, Alemanha, Reino Unido, França, e a lista continua.
“Entre 10 e 11 países têm mais de 50% dos votos, e são mais de 180 países membros. Dá pra ter uma ideia. Os votos de países pequenos ou até mesmo países grandes, mas com uma economia em mal estado, que não podem aportar muito dinheiro, têm valor ínfimo na deliberação“, explica Martin.
Embora o Banco tenha um objetivo global, muitas vezes as decisões tomadas em suas assembleias são influenciadas por temas políticos. Naturalmente, como o país de maior poder dentro do Banco, os Estados Unidos são os mais influentes. Além disso, os demais países com votos de peso historicamente são seus aliados.
“São países que concentram as porcentagens de voto e politicamente, a nível mundial, apoiam os Estados Unidos. Há lógica que apoiem suas decisões sobre que empréstimos conceder e as nomeações de Presidente que fazem. Em definitiva é um jogo político”, comenta o analista em comércio exterior.
Segundo Burgos, na atualidade o Banco Mundial perdeu a imagem apolítica que a organização tratou de manter desde sua criação. “Ainda que o papel do Banco tenha sido político desde o seu início, o argumento de ser apolítico que defendia e que colaborou para ganhar legitimidade frente aos Estados membros e financiadores hoje desapareceu. Se trata de um ator político capaz de influenciar decisivamente a ação dos Estados que recebem seus créditos”, afirma o pesquisador.
Críticas à influência norte-americana
Para o cientista político Eric Toussaint, autor do livro “Banco Mundial: o Golpe de Estado Permanente”, os requisitos que o Banco obriga os Estados apoiados a cumprirem têm uma motivação mais específica. Segundo ele, há 75 anos essa organização é uma ferramenta de controle dos Estados Unidos e países aliados. “O endividamento externo foi e continua a ser utilizado como instrumento de submissão dos devedores“, afirma em sua obra. De forma semelhante, John Saxe-Fernández e Gian Carlo Delgado-Ramos, em seu artigo “Imperialismo e Banco Mundial”, afirmam que essa instituição, junto ao FMI, são os instrumentos mais importantes dos Estados Unidos para ampliar seus interesses em outras nações.
Segundo sua pesquisa, os programas do Banco pressionam os países a pagar suas dívidas externas e muitas vezes exercem controle em seus movimentos financeiros em prol de interesses norte-americanos. “As operações do Banco Mundial e outros atores que trabalham de maneira coordenada com este têm um papel no desenho e na implementação de políticas que levam à desnacionalização de ativos estratégicos da região e na crescente inoperabilidade das estruturas produtivas locais”.
Objetivos do Banco Mundial em números
Em sua comunicação, o Banco Mundial enfatiza seu atual propósito de combate à pobreza.
Segundo seu portal, a instituição trabalha para alcançar as seguintes metas até 2030: reduzir a porcentagem atual de pessoas que vivem com menos de US$ 1,90 por dia (atualmente 10% da população mundial, cerca de 700 milhões de pessoas), a intenção do banco é chegar 3%.
Ademais de suas atividades financeiras, o Banco também busca levantar um panorama sobre a pobreza e os problemas que vivenciam os países membros, através de pesquisa e sistematização de dados, que depois são disponibilizados em forma de relatórios em sua página web.
Ainda segundo o portal oficial da Instituição, mais de US$ 45.000,00 milhões foram emprestados desde sua criação, correspondendo a mais de 12 mil projetos financiados em sua totalidade.
Conseguiu entender o que é o Banco Mundial e qual o propósito dessa Instituição? Deixe suas dúvidas e sugestões nos comentários!
REFERÊNCIAS
United Nations – The World Bank
El Fondo Monetario Internacional y el Banco Mundial. Sus relaciones con el poder financiero.
Banco Mundial, reforma dos Estados e ajuste das políticas sociais na América Latina.
1 comentário em “Banco Mundial: o que é e como funciona?”
É bem vindo o banco Mundial,faz que haja países envia de desenvolvimento crescem rapidamente.o objetivo é fazer crescer países com fraca económica.