José Maria da Silva Paranhos Júnior, você com certeza já ouviu falar um pouco sobre esta pessoa em algum momento da sua vida, certo? Ele foi figura importante da história do nosso país, deixando seu nome na história devido aos seus feitos no século XIX. Foi advogado, geógrafo, historiador e diplomata – oriundo de uma família nobre – seu pai foi o Visconde de Rio Branco, personalidade importante na vida política durante o segundo reinado do império do Brasil, e grande amigo de Dom Pedro II. Ele atendia por Juca Paranhos, mas é mais conhecido na história como sendo o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira.
Barão do Rio Branco nasceu na época do Império, e morreu acreditando no Império. Apesar de ser ferrenho defensor da monarquia, o Barão do Rio Branco sempre agiu de forma ética e moral, servindo a os interesses da República do Brasil, sem que houvesse qualquer tipo de interferência na sua forma de trabalho.
Do Rio de Janeiro para o mundo
Juca Paranhos nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 20 de abril de 1845, e desde muito cedo teve acesso as melhores instituições de ensino do Império, primeiro no colégio Pedro II, e mais tarde nas Universidades de São Paulo e Recife onde estudou Direito. Assíduo escritor, costumava produzir artigos sobre episódios e fatos históricos do país, publicando-os no jornal A Nação.
Seu “batismo” na vida política foi como deputado pelo Mato Grosso, cargo que ocupou entre 1869 e 1875. Desde muito cedo, Juca teve a oportunidade de conviver com pessoas importantes no império, o que o ajudou a consolidar a sua participação em círculos de pessoas importantes que seguiram com ele por toda sua vida.
Aos 19 anos de idade, acompanhou seu pai Visconde do Rio Branco em uma viagem ao Rio da Prata no Paraguai, recebendo o cargo de secretário de missão especial. Em seguida esteve envolvido no processo de negociação de paz entre os aliados (Brasil, Argentina e Uruguai) e o Paraguai – episódio que ficou conhecido como Guerra do Paraguai – o que o ajudou a consolidar a imagem de bom negociador, fama que o acompanhou ao longo de toda sua história.
Neste período, Juca Paranhos se aproximou de uma atriz e cantora Belga, conhecida como Marie Philomene Stevens, e os dois não demoraram a engatar um relacionamento. Ela rapidamente se tornara sua namorada e futuramente (1889) sua esposa, com quem tivera 5 filhos.
Em 1876, foi nomeado cônsul em Liverpool na Inglaterra, importante cidade por onde passava a maioria dos produtos da pauta exportadora do Brasil. Sua principal atribuição era registrar a entrada e saída de navios no movimentado porto da cidade, por onde passavam em média 50 navios por mês. Nesta época, os principais produtos que o império brasileiro exportava era o café, algodão e açúcar.
Em 1884 recebeu o título de conselheiro de Sua Majestade, maior honraria na época do império, devido a sua participação em um evento em São Petesburgo na Rússia onde promoveu o café brasileiro.
Mas foi apenas em 1888, que Juca Paranhos recebera o título de Barão do império, em virtude de ser filho do Visconde de Rio Branco, outro proeminente ator do período do império.
Adeus Império, bem-vinda República
Com o fim do império e a proclamação da República em 1889, o agora Barão do Rio Branco, seguiu com o mesmo cargo na Inglaterra até o ano de 1893, quando então foi convocado a retornar ao seu país natal para chefiar a missão de Palmas em virtude do falecimento do Barão de Aguiar de Andrada.
O episódio de Palmas ficou conhecido como sendo a disputa entre Brasil e Argentina – mediada pelos Estados Unidos – por parte dos territórios que hoje compõem parte dos estados do Paraná e Santa Catarina.
O argumento dos argentinos era baseado em tratados do século XVIII que mostravam que a divisão que existia pelos rios Jangada e Chapecó, correspondia a uma divisão entre Portugal e Espanha, o que favoreceria os hermanos Argentinos. Este ponto de vista negligenciava a versão brasileira, de que na verdade a divisão se dava pelos rios Pepiri-Guaçu e Santo Antônio.
O Barão do Rio Branco com ajuda da sua equipe conseguiu recuperar documentos e mapas em arquivos na Espanha e França que ajudaram a embasar o argumento brasileiro, entregando a defesa da causa em Washington em 1894. Foi necessário aguardar 12 meses, para que o presidente Cleveland – escolhido como árbitro – desse a sentença favorável ao Brasil.
Lábia afiada, prestigio reconhecido
Impulsionado pelo sucesso da Missão de Palmas em 1895, foi chamado dessa vez para ser o comandante brasileiro na Missão do Amapá. Dessa vez a discussão girava em torno da região Norte do país – Amapá e Guiana Francesa – e o embate se dava com a França.
Todavia, o desafio desta missão seria ainda maior para o lado brasileiro. A arbitragem ocorreu na Suíça, e contou com um exército de especialistas favoráveis a França, dando contornos dramáticos para resolução deste episódio. Se não bastasse todos estes fatores, o lado francês contava com a presença de Vidal de la Blanche, tido como um dos maiores geógrafos da época.
Contudo, após percorrer arquivos em vários países como Espanha, França e Inglaterra, o Barão conseguiu recolher documentos que deram parecer novamente favorável ao Brasil, fato que corroborou ainda mais para consolidar a reputação do Barão do Rio Branco como a de um grande diplomata.
Para se ter ideia do tamanho do seu prestígio, em 1900 um dos intelectuais mais respeitados do seu tempo – Ruy Barbosa – teceu o seguinte comentário a respeito da mais nova vitória do Barão:
“Hoje, literalmente do Amazonas ao Prata, há um nome que parece irradiar por todo o círculo do horizonte um infinito de cintilações: o do filho do emancipador dos escravos, duplicando a glória paterna com a de reintegrador do território nacional “
O Acre da Bolívia, vira o Acre do Brasil
Depois das inúmeras conquistas e da notoriedade recebida pelos seus feitos, Barão do Rio Branco ansiava por assumir cargos de prestígio fora do país. E assim o logo o fez, quando em 1901 foi nomeado ministro em Berlim. Todavia, rapidamente o cenário mudou, e a pedidos do presidente Rodrigues Alves, cedeu a pressão e aceitou o cargo de Ministro das Relações Exteriores, retornando ao país no dia 01 de dezembro de 1902.
Frente a função de Ministro, o Barão do Rio Branco logo iria se deparar com um dos maiores seus desafios da sua carreira: o Acre. Esta região foi reconhecida desde 1750 como território boliviano. Devido ao difícil acesso do seu povo, e em virtude da alta concentração de seringais, os seringueiros brasileiros começaram a se mudar para lá em 1879 explorando o látex no que ficou conhecido como o Ciclo da Borracha.
Diferente das conquistas anteriores, neste episódio havia uma diferença primordial. Por jamais ser reconhecido como território brasileiro, uma eventual decisão arbitral baseada em documentação histórica – que foi a estratégia adotada pelo Barão nas vitórias narradas acima – reduzia as chances de vitória brasileira. Dessa forma ele não poderia fazer o uso do princípio do direito internacional conhecido como “Uti possidetis” segundo o qual, os que de fato ocupam um território possuem direito sobre este. Sabendo disso, o Barão resolvera então apostar em um acordo do tipo direto.
Este acordo ficou conhecido como o Tratado de Petrópolis, assinado em 17 de novembro de 1903 na cidade de Petrópolis no estado do Rio de Janeiro. O acordo estabelecido previa que para ficar com o Acre, o Brasil cederia parte do território de Mato Grosso mais o adicional de 2 milhões de libras esterlinas. Outro ponto importante neste tratado, foi a construção da ferrovia Madeira Mamoré que beneficiaria os dois países. Com o aceite dos bolivianos, foi incorporado ao território brasileiro mais de 190 mil quilômetros quadrados.
Ministro das Relações Exteriores até o fim da sua vida
O Barão continuaria a frente do cargo de Ministro das Relações Exteriores até o final da sua vida em 1912. Desse modo, vale destacar que ocupou o cargo em quatro governos com presidentes diferentes: Rodrigues Alves (1902-1906), Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910) e Hermes da Fonseca (1910-1914).
Durante este período, além da incorporação do Acre, o Barão tivera outros momentos marcantes, como quando articulou para que em 1905, o Brasil fosse o primeiro pais sul americano a criar uma embaixada em Washington – já prevendo que o centro do mundo sairia da Europa e passaria a ser os Estados Unidos. E ainda, quando esteve envolvido na delimitação territorial em mais 5 episódios: Equador (1904), Holanda (Guiana, 1906), Colômbia (1907), Peru (1909) e Uruguai (1909). [artigo]
O Barão do Rio Branco morreu em 10 de fevereiro de 1912 aos 66 anos idade. Por mais que fosse uma figura imponente – alto, gordo com enorme bigode e com fama de boêmio era uma figura que gozava de enorme popularidade no Brasil.
Tamanha era sua popularidade, que faltando uma semana para carnaval do Rio de Janeiro, quando confirmada sua morte, houve muito burburinho na cidade de que havia chances de que o carnaval seria postergado. O presidente da época Hermes da Fonseca havia informado que o carnaval daquele ano seria em abril, porém esquecera de combinar este detalhe com a população. Por mais que alguns blocos tenham cancelados os desfiles em respeito a memória do Barão, a tradicional festa brasileira fora mantida mesmo em fevereiro, com o diferencial de que foi repetida com louvores em abril.
A memória do Barão segue viva em diferentes cidades do país que você provavelmente encontrará ruas que foram batizadas em sua homenagem, ou ainda, pergunte para mais antigos sobre cédula de 5 cruzeiros ou olhar para o rosto que estampa a moeda de 50 centavos, em ambos casos, você encontrará o rosto do Barão do Rio Branco.
O Barão do Rio Branco foi responsável por negociar pacificamente e anexar mais de 900 mil quilômetros quadrados, o que representa aproximadamente 10% do território nacional. Levando em consideração que o Brasil faz fronteira com 10 países, ele pode ser considerado uma das poucas nações que tem seus limites fixados a mais de um século sem que nenhum tiro ou guerra tenha sido declarado. Isso tudo foi obra do Barão do Rio Branco, e da sua capacidade ímpar em negociar todos estes litígios.
Se fizermos um paralelo e comparamos as negociações harmoniosas que o foram estabelecidas pelo Barão do Rio Branco, com os conflitos no continente europeu do último século, veremos a quantidade de conflitos e guerras que se deram por motivos territoriais no continente Europeu. Seu maior legado para o país foi a consolidação das fronteiras brasileiras.
Conseguiu entender quem foi o Barão do Rio Branco e qual sua importância para a história da diplomacia brasileira? Deixe suas dúvidas e sugestões nos comentários!
REFERÊNCIAS
Gestão educacional – Biografia Barão do Rio Branco
Clodoaldo Bueno – O Barão do Rio Branco no Itamaraty
Paulo Brossard – Barão do Rio Branco
Conhecimento científico – Tratado de Petrópolis
Folha – O ano em que o carnaval foi adiado
BBC – As aventuras de Barão do Rio Branco pelo Brasil
Toda Matéria – Barão do Rio Branco