Em dezembro de 2021, os Estados Unidos anunciaram que não irão enviar representantes oficiais para as Olimpíadas de Inverno de 2022 que ocorrem em fevereiro, em Pequim, na China. Segundo a Casa Branca, trata-se de um “boicote diplomático” aos Jogos Olímpicos (ou Boicote Olímpico) como forma de protesto ao “genocídio e crimes contra a humanidade” cometidos pela China contra a minoria muçulmana uigur, na província chinesa de Xinjiang. Após o anúncio, oito países aderiram ao boicote liderado pelos Estados Unidos (até o momento de escrita deste texto).
Mas, afinal, esse movimento é novo na história olímpica? E o que boicotar as Olimpíadas tem a ver com política? Neste artigo, você entenderá mais do que é boicote olímpico e seu significado para o jogo político internacional.
O QUE É BOICOTE OLÍMPICO?
Boicote vem da língua inglesa “boycott” que significa, segundo o Cambridge Dictionary, “recursar-se a comprar, usar ou participar de algo como forma de protesto”. A origem da palavra vem do sobrenome de Charles Boycott. No final do século XIX, Boycott administrava as terras da propriedade de Charles Parmell e foi encarregado de comunicar aos inquilinos sobre o aumento do aluguel.
Contudo, a notícia não foi bem recebida pelos moradores, criando uma campanha de punição a Boycott. A estratégia era isolá-lo. Assim, os vizinhos pararam de falar com Boycott, as lojas deixaram de vender para ele, suas correspondências não foram mais entregues e até a igreja o proibiu de participar das cerimônias religiosas. Sozinho e sem opções, Boycott decide mudar-se para outra cidade, sua história ficou famosa, dando origem ao verbo boicotar. A partir de então, seu sobrenome passou a ser utilizado para designar abstenção voluntária como ato de protesto.
Para o esporte, o substantivo boicote significa um ato tanto individual, quanto coletivo de não participar de um evento ou manifestação pública esportiva previamente agendada. Dessa forma, um boicote olímpico indica que os atletas de dada seleção não irão competir nos jogos promovidos pelo país anfitrião das Olimpíadas. O objetivo é transmitir uma mensagem política de descontentamento para o país-sede ou alguma equipe participante sobre determinada questão.
Contudo, no anúncio realizado pelos Estados Unidos e outros países, as Olimpíadas de Inverno de 2022 contará com a participação integral dos atletas. Dessa forma, conforme os porta-vozes de tais nações, o que irá ocorrer será um “boicote diplomático”, ou seja, os Jogos apenas não terão a presença das representações oficiais das administrações de tais governos. Com isso, a mensagem a ser transmitida será direcionada ao campo político, não afetando os competidores.
5 OLIMPÍADAS QUE FORAM BOICOTADAS E VOCÊ NÃO SABIA…
As Olimpíadas de Verão foram boicotadas algumas vezes ao longo da história dos Jogos Olímpicos. Os boicotes ocorreram tanto de forma individual quanto em grupos e por razões político-ideológicas, servindo, na maioria dos casos, como forma de retaliar o país-sede ou alguma nação participante.
- Em 1936, ocorreu o primeiro boicote aos Jogos Olímpicos, em Berlim. Inicialmente, os Estados Unidos e outros países começaram a protestar contra a realização das competições na Alemanha Nazista por conta das violações aos direitos humanos realizadas por Hitler. Após intensas discussões, tais países decidiram participar normalmente das Olimpíadas. Contudo, a Espanha boicotou os Jogos e propôs as Olimpíadas Populares, em Barcelona, mas que foi cancelada dias antes de sua realização pela eclosão da Guerra Civil Espanhola;
- Em 1956, ocorreu o segundo boicote às Olimpíadas, em Melbourne. O ato teve três motivações, sendo elas: a Espanha, Holanda e Suíça não participaram em protesto a invasão soviética à Hungria; já o Egito, Iraque e Líbano pela intervenção militar da Grã-Bretanha e da França no canal de Suez; e a China pelo fato de Taiwan ser aceito como país competidor pelo Comitê Olímpico Internacional;
- Os Jogos Olímpicos de Verão de 1976, em Montreal, foram boicotados por vinte nações africanas. Estas, tentaram antes das Olimpíadas excluir a participação da Nova Zelândia e não conseguiram. Assim, impediram que os seus atletas de participassem das competições;
- O clima tenso da Guerra Fria promoveu o boicote de sessenta e seis países aos Jogos Olímpicos de Verão de 1980, em Moscou. Motivado pela invasão soviética ao Afeganistão, os Estados Unidos lideraram o maior boicote já registrado na história olímpica;
- Como represália ao boicote de 1980, a URSS liderou o boicote aos Jogos Olímpicos de Verão de 1984, em Los Angeles, levando dezessete nações a não participarem das competições.
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E O QUE OLIMPÍADAS TEM A VER COM POLÍTICA?
O esporte, assim como diversos segmentos da sociedade, sofreu incorporação de pautas políticas ao decorrer do tempo. Um exemplo disso é que nas primeiras Olimpíadas só participaram homens, brancos e ricos, demonstrando a exclusão de vários grupos sociais. Apenas na terceira edição que negros participaram e na décima que a primeira mulher competiu nos Jogos Olímpicos. Dessa forma, as práticas esportivas que hoje gozam de inclusão, nem sempre foram assim, ao contrário, também foram utilizadas como forma de manutenção de estruturas de poder.
Apesar da relação esporte e política ser desconsiderada por muitas pessoas, essa é essencial para a realização dos Jogos. Desde a escolha do país-sede até a realização das Olímpiadas, decisões políticas são tomadas tanto na política internacional quanto na interna. Para que o evento ocorra, o anfitrião necessita organizar internamente algumas questões, como: execução de obras para adequações de estádios e ginásios, promoção de acessibilidade e melhorias na infraestrutura das cidades. Logo, há um grande envolvimento político nacional que também afeta a economia do país.
Assim, boicotar os Jogos Olímpicos permite que o evento não atinja o sucesso esperado devido a sua invisibilidade internacional. Com isso, o país-sede é impactado tanto pela redução de competidores e/ou espectadores quanto pela redução da atração de investimentos estrangeiros. Portanto, o boicote, seja olímpico, seja diplomático, às Olimpíadas é utilizado com a finalidade de promover uma afirmação e pressão para a legitimação de alguma causa política internacional.
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Referências:
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