O Brasil pré-colonial é o período que começa com a vinda dos portugueses em 1500 e vai até o Brasil colônia que começou com a implantação das Capitanias Hereditárias. O termo pré-colonial é usado para descrever este período, uma vez que o prefixo pré significa anterior e se refere ao período anterior à colonização portuguesa.
As principais características do Brasil pré-colonial foi o escambo com os indígenas, a construção de feitorias e a exploração do pau-brasil.
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Contexto histórico
Ao longo do século XV, o Infante Dom Henrique, príncipe português, teve um importante papel nas Grandes Navegações ao incentivar e financiar as explorações marítimas. Fundou a Escola de Sagres, que era um centro de estudos náuticos e astronômicos, que ajudou a aprimorar as técnicas de navegação e mapeamento.
Nesse período, a burguesia mercantil portuguesa via nas navegações marítimas uma forma de ampliar seus negócios. Marinheiros também viam nas expedições marítimas uma forma de enriquecer. Na época, Lisboa era um importante centro comercial e Portugal reuniu todas as condições necessárias para a exploração das novas terras.
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Conforme a Carta de Pero Vaz de Caminha, o escrivão da esquadra de Pedro Álvares Cabral, quando os portugueses vieram ao território ainda não explorado pelos espanhóis, eles estavam em busca de metais preciosos e de outras preciosidades que enriquecessem a Coroa Portuguesa.
Os portugueses, comandados por Pedro Álvares Cabral, chegaram ao Brasil em 1500 na região onde hoje fica Porto Seguro, na Bahia.
Em 1500, os indígenas chamavam este território de Pindorama. Os portugueses deram o nome de Ilha de Vera Cruz (1500), Terra Nova (1501), Terra dos Papagaios (1501), Terra de Vera Cruz (1503), Terra de Santa Cruz (1503), Terra Santa Cruz do Brasil (1505), Terra do Brasil (1505), e, finalmente, Brasil, desde 1527.
As duas versões sobre a chegada dos portugueses no Brasil
Acredita-se que quando Pedro Álvares Cabral saiu de terras portuguesas, seu destino era Calicute, nas Índias. No entanto, em 22 de abril de 1500, ele chegou na região onde hoje está Porto Seguro, na Bahia. Os estudiosos, defendem duas versões históricas para este “desvio” ter acontecido.
A primeira narrativa sugere que, sob a influência da Espanha que descobriu terras do outro lado do Atlântico, Portugal pensou na possibilidade de haver mais terras a serem exploradas nesta mesma região. Já a segunda versão diz que ventos em alto-mar, fizeram Cabral desviar sua rota do Oriente, vindo parar na América do Sul.
Os portugueses não tinham grande interesse em estabelecer uma presença rigorosa no Brasil, porque sua prioridade era o comércio com as Índias.
Qual era a importância do comércio com as Índias para os portugueses?
As especiarias do Oriente, principalmente as indianas, agradavam ao paladar europeu e conservavam os alimentos por mais tempo, por isso, elas ganharam muito espaço na Europa. As cidades da Península Itálica fizeram acordos com o Oriente, possibilitando a exploração do mercado oriental. Quem quisesse comercializar as especiarias, teria que pagar impostos à Península Itálica.
Devido aos impostos, os preços desses produtos estavam cada vez mais altos, o que fez com que outros povos quisessem encontrar um caminho que os levasse direto à fonte: as Índias. A Península Ibérica, constituída por Portugal e Espanha, foi pioneira na busca de uma rota comercial para as Índias.
A vinda dos europeus pela primeira vez às Américas se deu com Cristóvão Colombo, um navegador e explorador italiano que estava a serviço da Coroa espanhola.
Os espanhóis traçaram uma rota, pelo Oceano Atlântico e chegaram onde hoje está localizada a América Central em 1492. Na época, Colombo acreditava que havia descoberto o caminho para as Índias e deu ao povo que aqui estava, o nome de índios.
Os portugueses, por sua vez, traçaram sua rota pelo Oceano Atlântico, contornando o litoral da África, assim, em 1498, Vasco da Gama encontrou um caminho que os levou às Índias. Portugal então deixou de pagar impostos às cidades da Península Itálica, podendo buscar as especiarias diretamente no fornecedor.
Como a história diz que os indígenas se comportaram?
Os indígenas inicialmente estranharam os europeus devido às diferenças culturais, levando a casos de canibalismo e antropofagia. No entanto, algumas tribos viram os europeus como potenciais aliados contra tribos rivais.
Leia também: A Carta de Pero Vaz de Caminha
Nesta época, havia o escambo entre indígenas e portugueses que consistia na troca de produtos regionais por itens como espelhos, joias e roupas. O escambo foi usado como forma de pagamento pelo trabalho indígena.
Quais as principais características do Brasil pré-colonial?
O Brasil pré-colonial foi um período marcado pelo reconhecimento desse território com a busca de boas possibilidades econômicas, metais preciosos e a expulsão de piratas. Neste período, o Brasil era um entreposto para os portugueses. Nos primeiros anos, os portugueses enviaram dois tipos de expedições para o Brasil:
- Expedições exploratórias: tinham o objetivo de explorar o território verificando possíveis riquezas, mapeamento do litoral e exploração do pau-brasil. Muitos registros sobre as características geográficas do Brasil, foram produzidos neste período;
- Expedições de patrulha: tinham como intuito proteger o território contra outros exploradores. O fato do Brasil ser um grande território, fez com que estas expedições não tivessem tanto êxito e as invasões por parte de países europeus, inconformados com o Tratado de Tordesilhas, continuaram.
As principais características do Brasil pré-colonial são:
- Construção de feitorias;
- Exploração do pau-brasil;
- O escambo com os indígenas;
- Pouco interesse da Coroa portuguesa;
- Trabalho indígena.
A exploração do pau-brasil no Brasil pré-colonial
A exploração do pau-brasil foi a primeira atividade econômica do Brasil pré-colonial.
O pau-brasil é uma árvore nativa da mata atlântica com o tronco e sementes avermelhadas, tendo sido utilizada para a produção de tinta para tingir tecidos. A boa qualidade de sua madeira também agradou aos europeus que a utilizaram na produção de móveis.
Os indígenas brasileiros chamavam o pau-brasil de ibirapitanga, que significa “árvore vermelha”, esse nome foi dado devido esta árvore ter um tom avermelhado.
Os europeus conheciam uma árvore asiática chamada Biancaea sappan, conhecida na Europa por diferentes nomes como brecilis, bersil, brezil, brasil, brazily, todos derivaram do latim: brasilia que significa “cor de brasa” ou “avermelhado”, fazendo menção à sua característica principal: a cor vermelha. Essa árvore asiática era usada na produção de um corante avermelhado muito valioso na Europa.
Ao serem apresentados ao pau-brasil, os portugueses viram uma grande possibilidade econômica para Portugal. Além do pau-brasil poder ser utilizado para a fabricação do valioso corante vermelho, usado para tingir tecidos, sua madeira era de excelente qualidade para a produção de móveis e para a construção das caravelas.
Em 1501, a Coroa portuguesa deu autorização para a exploração do pau-brasil ao português Fernão de Loronha em troca de garantir a defesa do litoral contra outros invasores, pagamento de impostos e a proibição de importação da variante asiática. Portugal queria o monopólio do produto. Loronha era o único que tinha autorização da Coroa portuguesa para exploração do pau-brasil.
A primeira grande exportação do pau-brasil ocorreu em 1511, cerca de 5 mil toras foram levadas a Portugal. O território ficou tão marcado por esta exploração do pau-brasil que, em 1527, deixaram de chamá-lo de Santa Cruz, passando a chamá-lo de Brasil.
Os povos nativos foram utilizados como mão-de-obra para a extração da madeira. Eles derrubavam as árvores, cortavam e transportavam as toras até o litoral, levando para as feitorias, onde as madeiras eram guardadas e os trabalhadores recebiam o pagamento pelo trabalho: espelhos, machados, facas e outros objetos sem valor para os portugueses, mas novidades para os indígenas.
Os portugueses cortavam as árvores e como não as replantavam, provocaram um término rápido da exploração. A exploração do pau-brasil foi tão intensa que essa espécie quase desapareceu e em 2004 entrou, oficialmente, na lista de árvores ameaçadas de extinção.
As feitorias no Brasil pré-colonial
As feitorias eram estruturas de madeira fortificadas que protegiam os portugueses. Também eram centros de atividades mercantis, escambo com os indígenas e armazenamento do pau-brasil. Além disso, tinham a função de defender o litoral brasileiro de outros invasores.
Quais as diferenças entre o Brasil pré-colonial e o Brasil colonial?
As diferenças entre o Brasil pré-colonial e o Brasil colonial se dão por meio das atividades econômicas, estruturas administrativas, interesses de Portugal e a datação histórica.
Brasil pré-colonial
Marcado pela invasão portuguesa em 1500. Os portugueses mantiveram acordos com algumas tribos e exploraram o território com apoio indígena, priorizando o comércio com as Índias e não interferindo muito nas terras dos nativos. O fim do período pré-colonial se deu quando os portugueses iniciaram o processo de colonização.
Brasil Colonial
Iniciado em 1534 com as Capitanias Hereditárias. O período colonial implantou um novo ciclo econômico no Brasil: o ciclo açucareiro. Portugal consolidou a colonização do território, resultando na perda de terras indígenas, interferência da Coroa, mortes por doenças, escravização e cristianização dos indígenas.
Veja também: Colonialidade e Decolonialidade: você conhece esses conceitos?
A chegada dos portugueses no Brasil: descobrimento ou invasão?
Segundo alguns pesquisadores da história brasileira, a palavra descobrimento não deveria ser utilizada para este momento histórico. O professor de história da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Fabrício Lyrio, explica que a expressão é difícil de ser eliminada, mas o que ocorreu, na verdade, foi uma “invasão contínua”.
Para a população que já estava habitando o continente da América, não teve nada a ver com descobrimento. Foi uma chegada de pessoas estranhas seguida de uma invasão. (…) Há uma versão oficial da história que sempre vai tentar trazer de volta o termo ‘descobrimento’. Talvez fosse, de fato, uma novidade para o europeu, mas para os povos nativos foi muito mais uma invasão.
Outros autores também defendem que não houve “descobrimento do Brasil”:
(…) Qualquer que seja a hipótese aceita, o importante é saber que, quando os portugueses chegaram ao Brasil, há cerca de 500 anos, essa terra era povoada por aproximadamente 5 milhões de pessoas. Portanto, não podemos continuar afirmando que Cabral descobriu o Brasil (Silva 1996).
Veja também: Descobrimento do Brasil em 1500: descoberto ou invadido?
Durante um longo período da História do Brasil, uma das perspectivas levantadas para justificar a colonização era a ideia de que a cultura brasileira se desenvolveu principalmente a partir da chegada dos portugueses.
Os nossos “500 anos” vão muito mais além desse período e, para compreender nossa história, nossa cultura e nossa identidade, é necessário também conhecer a história dos povos que aqui viviam antes de 1500 — nossos primeiros “formadores de cultura” (Vasconcellos, Alonso & Lustosa, 2000).
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É relevante destacar que essas comunidades primitivas haviam adquirido habilidades técnicas que lhes permitiam subsistir de acordo com suas tradições, forjar suas próprias crenças e cultivar sua visão única do mundo (Faria e outros, 1996).
O papel dos livros didáticos e dos professores na História do Brasil
Os livros didáticos e a atuação dos professores em sala de aula, são extremamente importantes para o debate das versões sobre a história brasileira.
É importante desconstruir a história e entender que ela é sempre o ponto de vista de alguém. Toda história sempre tem mais de um lado. Ensinar os estudantes a questionarem as diferentes versões, é colaborar na construção do senso crítico.
E aí, você entendeu sobre o Brasil Pré-colonial e a importância de ter um novo olhar sobre este período histórico? Deixe sua opinião sobre a invasão dos portugueses nos comentários!
Referências
- Agência Brasil – Chegada dos portugueses ao Brasil: descobrimento ou invasão?
- Agrofloresta Amazônia – A árvore pau-brasil é uma espécie ameaçada de extinção
- Atlas Histórico do Brasil – As grandes navegações
- Beduka – Resumo do período pré-colonial: antecedentes, características e final!
- Brasil Escola – Capitanias Hereditárias
- Brasil Escola – Período Pré-Colonial
- Cultura Genial – Carta de Pero Vaz de Caminha (analisada e explicada)
- Domínio Público – A Carta de Pero Vaz de Caminha
- Escola Kids – Os primeiros anos do Brasil
- Escola Kids – Pau-brasil
- Guia do Estudante – Repertório: entenda conceitos da decolonialidade para usar na redação
- Instituto Brasileiro de Florestas – Árvore Pau-brasil: história e curiosidades que você não conhece!
- Multirio – O sistema de Capitanias Hereditárias
- National Geographic Brasil – Pau-Brasil: qual é sua história e importância
- Politize! – Burguesia: quem é e qual sua origem?
- Politize! – Colonialidade e decolonialidade: você conhece esses conceitos?
- Politize! – Descobrimento do Brasil em 1500: descoberto ou invadido?
- Politize!- Estatuto do Índio: o que diz? Qual sua importância?
- Politize! – Pau-Brasil: tudo sobre a árvore que deu nome ao nosso país
- Politize! – Tratado de Tordesilhas: tudo sobre esse acordo internacional
- Prefeitura de Araçariguama – Descobrimento do Brasil
- Prepara Enem – Período Pré-Colonial
- UERJ – Reflexões sobre a decolonialidade em uma perspectiva histórica
- Vasconcellos, C. M., Alonso, A. C., & Lustosa, P. R. (2000). A abordagem do período pré-colonial brasileiro nos livros didáticos do ensino fundamental. Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 10, 231-238.
- Pereira, Alan Ricardo Duarte. (2014). Por que ficamos diferentes? O ensino do Brasil Colonial nos livros didáticos. Revista Espaço Acadêmico, nº 157, junho de 2014, ano XIV.