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Claudia Sheinbaum: primeira mulher eleita presidente do México

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Você saberia dizer quantas mulheres foram eleitas presidentes na América Latina? Até o momento, apenas oito alcançaram esse cargo. Nas eleições de 2024, Claudia Sheinbaum fez história ao se tornar a primeira mulher eleita presidente do México.

Mas quem é Claudia Sheinbaum? Qual é sua história e quais são suas bandeiras políticas? Neste texto, a Politize! explora a trajetória desta líder, suas conquistas e os desafios que enfrentará durante seu mandato.

Claudia Sheinbaun, eleita presidente do México em 2024.
Claudia Sheinbaum 2024. Imagem: REUTERS

Quem é Claudia Sheinbaum?

Claudia Sheinbaum Pardo nasceu em 24 de junho de 1962 na Cidade do México. Cresceu em uma família de classe média situada na região sul da capital. O ambiente familiar era culturalmente vibrante e receptivo às influências políticas de esquerda. Desde cedo, foi exposta a debates e ideias progressistas, moldando sua visão de mundo. 

Trajetória acadêmica

Formou-se em Física pela Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). Sheinbaum possui mestrado em Engenharia de Energia e doutorado em Engenharia Ambiental pela mesma instituição, e desde a trajetória acadêmica já demonstrava interesse em questões ambientais e sociais.

Durante sua juventude, o México vivia uma época de intensa agitação política e social. Os movimentos operários do início dos anos 1960 estavam em plena ascensão, buscando melhores condições de trabalho e maior justiça social.

Esses movimentos encontraram um terreno fértil nas universidades públicas, que se tornaram centros de efervescência política. A UNAM e o Instituto Politécnico Nacional (IPN) eram particularmente influentes nesse cenário. Nesses locais, estudantes e professores se engajavam ativamente em discussões sobre reforma social, direitos trabalhistas e a necessidade de uma mudança estrutural no país.

Foi nesse contexto que Claudia Sheinbaum iniciou sua carreira acadêmica como professora na UNAM e no IPN. Sua experiência nesses centros de ensino foi marcada pelo fervor dos debates políticos. A convivência diária com alunos e colegas politicamente engajados reforçou suas convicções. Isso a inspirou a se envolver mais com a política.

A combinação de seu ambiente familiar progressista e sua experiência nas universidades públicas durante um período de grande mobilização social, foram fundamentais para sua inserção na carreira política.

Ascensão política

Durante os quatro anos de seu doutorado, Claudia Sheinbaum residiu nos Estados Unidos. Fez parte do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Quando voltou para o México, retomou seu cargo de pesquisadora no Instituto de Engenharia da UNAM.

Também ingressou como assessora do Ministério de Energia e da Comissão Federal de Eletricidade, sua primeira incursão no serviço público.

Com diversas publicações em revistas científicas, Sheinbaum emergiu como uma das pioneiras no México em estudos sobre mudanças climáticas. Em 2000, com a eleição de Andrés Manuel López Obrador como chefe de governo da Cidade do México, Sheinbaum foi nomeada Secretária de Meio Ambiente. Durante o mandato, ela implementou políticas significativas, incluindo programas de transporte sustentável e a expansão de áreas verdes.

Em 2011, Andrés Manuel López Obrador, presidente antecessor à Sheinbaum, fundou o partido político Movimento de Regeneração Nacional (MORENA) do qual é líder até os dias atuais.

A proximidade de Claudia Sheinbaum com López Obrador e seu histórico de trabalho em políticas ambientais fortaleceram sua posição dentro do partido. Em 2015, foi eleita delegada de Tlalpan, uma das demarcações da Cidade do México, onde continuou a implementar políticas progressistas.

No ano de 2018, Claudia Sheinbaum foi eleita chefe de governo da Cidade do México, tornando-se a primeira mulher a ocupar este cargo por eleição direta.

Durante seu mandato, focou em questões como mobilidade urbana, segurança pública, combate à corrupção e desenvolvimento sustentável. Sua administração foi marcada pela implementação de programas sociais e infraestrutura para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.

A popularidade de Sheinbaum como política e sua ligação com López Obrador a colocaram em uma posição de destaque para a candidatura presidencial de 2024.

Em uma campanha focada na continuidade das políticas progressistas do então presidente, ela prometeu aprofundar as reformas sociais e econômicas iniciadas pelo governo atual.

MORENA: o partido político de Claudia Sheinbaum

Logo do partido Movimento Regeneração Nacional (MORENA)
Logo do partido Movimento Regeneração Nacional (MORENA). Imagem: Wikimedia Commons

O Movimento Regeneração Nacional, conhecido como MORENA, é um dos partidos políticos mais influentes e recentes do México, e foi fundado em 2011 por Andrés Manuel López Obrador, uma figura central na política mexicana.

O partido rapidamente se consolidou como uma força política significativa, principalmente devido ao seu foco em reformas sociais e combate à corrupção.

O MORENA surgiu como uma resposta às insatisfações populares com os partidos tradicionais do México, como o PRI (Partido Revolucionário Institucional) e o PAN (Partido de Ação Nacional). López Obrador, que anteriormente foi candidato presidencial por outros partidos, decidiu criar o MORENA para promover uma agenda mais progressista e alinhada com os interesses do povo mexicano.

A ideologia do MORENA é voltada para políticas progressistas, com ênfase em justiça social, igualdade e direitos humanos. O partido defende:

  • Combate à Corrupção: um dos pilares do partido é a luta contra a corrupção. Um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento do México.
  • Justiça Social: o MORENA busca reduzir as desigualdades sociais e econômicas. Promover políticas de inclusão e apoio aos mais desfavorecidos.
  • Sustentabilidade Ambiental: o partido defende políticas ambientais sustentáveis. Busca soluções para as questões climáticas e promover o uso de energias renováveis.
  • Democracia Participativa: incentiva a participação ativa dos cidadãos na tomada de decisões políticas. Promover maior transparência e accountability.

Desde sua fundação, o MORENA experimentou um crescimento impressionante. Em 2018, Andrés Manuel López Obrador venceu as eleições presidenciais com uma ampla margem de votos, consolidando o MORENA como o partido dominante no cenário político mexicano.

Entenda mais sobre as diferenças entre esquerda e direita através do texto: Esquerda e direita: valores individuais e coletivos

Disputa histórica nas eleições de 2024 do México

Pela primeira vez na história mexicana duas mulheres disputaram a cadeira presidencial do país: Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez. Vale destacar que Gálvez, empresária de origem indígena, era a candidata de oposição pela direita tradicional. Apostava na política de mega-prisões, como forma de enfrentar a crise aguda na segurança pública.

Gálvez defende uma política mais rigorosa com a construção de mega-prisões argumentando que essa é uma resposta necessária para conter o crescimento da criminalidade em curto prazo, algo que seus apoiadores veem como crucial dado o agravamento da violência.

Gálvez também propôs políticas voltadas para o estímulo à economia, acreditando que uma abordagem de livre mercado poderia ajudar a reduzir as desigualdades de forma mais rápida e eficaz do que as reformas sociais propostas por Sheinbaum.

Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez durante campanha eleitoral.
Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez durante campanha eleitoral. Imagem: Getty Images.

Violência de gênero no México

Segundo uma pesquisa do Instituto para Mulheres, Paz e Segurança (GIWPS) da Universidade Georgetown, que classifica 177 países quanto à qualidade de vida das mulheres, o México é identificado como o segundo pior país na América Latina e no Caribe, ficando atrás apenas do Haiti. A nação latino-americana tem o maior índice de violência política contra mulheres do mundo. Enquanto a média global é de 16 incidentes anuais, o país registrou 537 casos apenas em 2022.

Mulheres no México enfrentam a violência em um estado militarizado incapaz de controlar os cartéis de drogas.

Todos os dias dez mulheres são assassinadas no México, e apenas um em cada quatro casos são enquadrados como feminicídio. Metade das mexicanas já foi vítima de estupro. Há uma crise de desaparecimentos que atinge particularmente crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos.

A pesquisadora mexicana especialista em gênero do Crisis Group, Angelica Ospina, enfatiza que “o domínio do narcotráfico sob grande parte dos territórios do país cria um cenário de violência no qual os abusos contra mulheres são naturalizados ou considerados crimes de menor importância.”

Com a crise de segurança pública no centro da campanha, Sheinbaum e Gálvez destacaram a importância de uma abordagem de gênero. Ambas candidatas reconheceram a urgência de combater o aumento dos feminicídios. Elas também reconheceram os altos índices de desaparecimentos de meninas e mulheres.

Durante a campanha eleitoral, Xóchitl Gálvez prometeu tolerância zero para a violência sexual e de gênero. Afirmou que aumentaria as investigações e o apoio às vítimas.

A oponente de Sheinbaum acredita que uma abordagem mais rigorosa na segurança pública, com maior participação militar e construção de prisões, é necessário para conter o crescimento da criminalidade no país. Seus defensores argumentam que a insegurança atual exige respostas rápidas e duras.

Claudia Sheinbaum prometeu categorizar todos os homicídios de mulheres como feminicídios e apoiar promotorias especializadas. No entanto, declarou que continuaria apoiando a militarização, algo entendido por especialistas como prejudicial para a segurança de mulheres e meninas.

Embora Sheinbaum tenha prometido uma abordagem mais humanizada para a segurança pública, críticos alertam que a continuidade da militarização pode agravar a violência contra mulheres, uma questão que ela prometeu combater.

O especialista em Segurança Nacional, Jorge Chabat, defende que a presença militar é necessária em situações de extrema violência, como a enfrentada pelo México.

Segundo Chabat, “em áreas controladas por cartéis, a resposta militar pode ser a única forma de restaurar a ordem rapidamente”.

No entanto, críticos como Laura Carlsen apontam que a militarização, em vez de diminuir a violência, frequentemente resulta em mais abusos contra os direitos humanos, principalmente contra mulheres e meninas.

Desafios do governo de Claudia Sheinbaum

Nas eleições de 2024 Sheinbaum saiu vencedora. A candidata da ala à esquerda obteve 59,3% dos votos (ou 33,2 milhões de votos), ante 27,9% da sua oponente da direita. É a presidente mais votada da história política do México. Dos 31 estados e o Distrito Federal, apenas um estado a candidata da direita Xóchitl Gálvez teve maior votação com 46% em Aguascalientes.

“A política é a ferramenta mais poderosa que temos para transformar a realidade de nosso país, para construir uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais solidária.” – Claudia Sheinbaum

Sheinbaum tem enormes desafios à frente. A título de exemplo:

  • altos índices de violência e o crescimento ameaçador do crime organizado e dos cartéis;
  • a pobreza que afeta um terço da população;
  • crise de 110 mil pessoas desaparecidas;
  • mitigar o impacto crescente das mudanças climáticas em um país com secas e escassez de água;
  • administrar a complexa relação com os Estados Unidos que inclui o fornecimento de drogas e migração irregular.

A eleição de Claudia Sheinbaum como a primeira mulher eleita presidente do México é um marco na história do país. Sua trajetória e suas bandeiras políticas refletem um compromisso com a justiça social, a inclusão e o desenvolvimento sustentável.

Neste cenário, Claudia Sheinbaum prometeu aprofundar as reformas sociais do mandato de Obrador e governar para os desfavorecidos.

Você já conhecia Claudia Sheinbaum? Deixe seu comentário! Sua partipação é muito importante para o debate.

REFERÊNCIAS:

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Conteúdo escrito por:
Pesquisadora. Graduada em Direito pela UFRRJ. Mestranda em Ciência Política pela UFF. Ativista Social. Advogada (mas só nas horas vagas).

Claudia Sheinbaum: primeira mulher eleita presidente do México

01 out. 2024

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