O que acontece com a recriação da Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos?

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A Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos do Brasil é uma entidade fundamental para a preservação da memória e da verdade sobre as violações de direitos humanos ocorridas durante o período da ditadura militar no país.

Houve discussões e movimentos em direção à sua recriação e fortalecimento. Você sabe o que foi a ditadura militar? E o motivo dela ser tão importante para a Recriação da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos?

Se não sabe ou quer aprender mais sobre o assunto continue lendo o nosso texto!

Como a ditadura está relacionada a comissão de mortos e desaparecidos?

A ditadura pode ser definida como um regime político autoritário, mantido pela violência, de caráter excepcional e ilegítimo. Ela pode ser conduzida por uma pessoa ou um grupo que impõe seu projeto de governo à sociedade com o auxílio da força. Normalmente, ditadores chegam ao poder por meio de um golpe de Estado.

A ditadura militar no Brasil iniciou-se em 1964 e encerrou, gradualmente, em 1985. Este foi um período marcado por violações de direitos humanos e também por crimes contra agentes do Estado.

Durante a ditadura militar, a censura, a perseguição política, e a tortura eram práticas comuns. Pessoas consideradas subversivas eram alvos constantes do regime. Este período deixou milhares de mortos e desaparecidos, cujas histórias foram silenciadas por décadas.

A Comissão da Verdade (CNV), grupo responsável por apurar violações contra os direitos humanos cometidas entre 1946 e 1988, concluiu, em 2014, que cerca de 400 pessoas faleceram ou desapareceram durante as duas décadas em que perdurou a ditadura militar. Além disso, a Comissão conta que pelo menos 8.350 indígenas foram assassinados nesse período.

Mas o que é a Comissão sobre Mortos e Desaparecidos?

A Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos é uma entidade governamental brasileira, criada para investigar e esclarecer as circunstâncias das mortes e desaparecimentos forçados de pessoas perseguidas por motivos políticos durante o regime militar, que vigorou no Brasil de 1964 a 1985.

A comissão é um dos mecanismos de justiça de transição adotados pelo Brasil para lidar com o legado de violações de direitos humanos desse período.

Reunião da Comissão Nacional da Verdade para verificar os crimes de tortura na ditadura.
Comissão Nacional da Verdade. Imagem: Fotos Públicas.

Para que serve a Comissão?

A principal função da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos é a investigação e a apuração de casos de mortes e desaparecimentos forçados ocorridos entre 1961 e 1988. Seus objetivos incluem:

1. Esclarecimento da verdade: investigar as circunstâncias das mortes e desaparecimentos, identificando os responsáveis e as causas dos óbitos.

2. Reparação moral e material: proporcionar reparação às famílias das vítimas, tanto no aspecto moral quanto no material.

3. Memória e justiça: contribuir para a construção da memória coletiva e a promoção da justiça, garantindo que tais violações não sejam esquecidas ou repetidas.

4. Recomendação de políticas públicas: sugerir medidas e políticas públicas que possam prevenir futuras violações de direitos humanos.

Quando a Comissão foi criada?

A Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos foi instituída pela Lei nº 9.140, de 4 de dezembro de 1995, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Esta lei foi um marco importante no reconhecimento oficial, pelo Estado brasileiro, das mortes e desaparecimentos de opositores políticos durante a ditadura militar.

Foram examinados e reconhecidos casos de morte ou desaparecimento ocorridos até 5 de outubro de 1988, data de promulgação da atual Constituição Federal.

Quem faz parte da Comissão?

A composição da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos é diversificada e inclui representantes de diferentes setores da sociedade e do governo. Tradicionalmente, seus membros são nomeados pelo presidente da República e incluem:

1. Representantes do governo: geralmente membros de ministérios como o Ministério dos Direitos Humanos.

2. Representantes da sociedade civil: incluindo advogados, ativistas de direitos humanos e familiares das vítimas.

3. Especialistas: profissionais com especialização em direitos humanos, história e outras áreas relevantes.

A diversidade na composição da comissão é essencial para garantir uma abordagem equilibrada e abrangente na investigação e na promoção da justiça.

Por que existe a Comissão?

A existência da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos é justificada pela necessidade de esclarecer os crimes cometidos durante a ditadura militar, proporcionar justiça e reparação às vítimas e suas famílias, e evitar a repetição de tais violações.

Ela foi criada com o objetivo de reconhecer e encontrar os mortos e desaparecidos em razão de atividades políticas durante a ditadura militar. Durante esses anos, a comissão também emitiu pareceres sobre solicitações de indenizações.

Algumas razões específicas para sua existência incluem:

1. Responsabilidade histórica: a responsabilidade do Estado de reconhecer e lidar com seu passado de violações de direitos humanos.

2. Justiça e reparação: oferecer justiça às vítimas e reparação às suas famílias, reconhecendo seu sofrimento e perdas.

3. Memória coletiva: contribuir para a construção de uma memória coletiva que impeça o esquecimento e a repetição das atrocidades passadas.

4. Fortalecimento da democracia: a comissão ajuda a fortalecer a democracia, promovendo a transparência e a responsabilidade do Estado.

Passeata contra ditadura, que possui relação direta com a Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos.
Manifestação em prol das vitimas da ditadura. Imagem: Fotos Públicas.

O debate da recriação da comissão

O debate sobre a recriação e fortalecimento da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos é complexo e envolve diversas perspectivas. Entre os pontos mais discutidos estão:

1- Necessidade de atualização e fortalecimento: muitos defensores dos direitos humanos argumentam que a comissão precisa ser fortalecida para lidar com casos pendentes e novos desafios. Isso inclui:

  • Ampliar os recursos: aumentar os recursos financeiros e humanos para garantir investigações mais completas e rápidas;
  • Maior autonomia: garantir maior autonomia à comissão para que possa operar sem interferências políticas;
  • Atualização das competências: adaptar as competências da comissão para lidar com novos tipos de violações e desafios.

2- Oposição e críticas: há também críticas e oposição à recriação da comissão, vindas de diferentes setores. Algumas das críticas incluem:

  • Custos e recursos: argumentos de que os custos envolvidos na manutenção e no fortalecimento da comissão são altos e que os recursos poderiam ser alocados de outras formas;
  • Polarização política: a comissão é vista por alguns como um instrumento de polarização política, que poderia ser usado para fins partidários;
  • Tempo decorrido: alguns argumentam que, devido ao tempo decorrido desde a ditadura, os esforços deveriam se concentrar em problemas contemporâneos.

3- Exemplos internacionais

A discussão sobre a comissão brasileira pode ser enriquecida pelo estudo de comissões semelhantes em outros países, como a Comissão da Verdade e Reconciliação na África do Sul e a Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas (CONADEP) na Argentina.

Essas comissões enfrentaram desafios semelhantes e podem oferecer lições valiosas sobre como lidar com o passado de violações de direitos humanos.

E por qual motivo a Comissão teve que ser recriada?

No dia 04 de julho de 2024, o presidente Lula (PT) determinou a recriação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos na Ditadura Militar, extinta no final de 2022.

A decisão de Lula coincide com a retomada de um julgamento na Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre a morte do estudante Eduardo Collen Leite, mais conhecido como “Bacuri”, preso e morto sob tortura em 1970.

Impacto nas famílias das vítimas

Um dos aspectos mais sensíveis do debate é o impacto nas famílias das vítimas. A recriação e o fortalecimento da comissão são vistos por muitos familiares como uma oportunidade crucial para obter respostas e justiça. Para eles, o trabalho da comissão é um passo essencial para a cura e a reconciliação.

Segundo o livroBrasil: nunca mais”, de Dom Paulo Evaristo, lançado em 1985, que aborda os crimes cometidos durante o regime militar brasileiro, mais de 1.800 casos de tortura e desaparecimentos de 125 pessoas no período foram documentados.

A Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos do Brasil desempenha um papel crucial na promoção da justiça, da memória e da reparação em relação às violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar.

Ao considerar a história e a importância da comissão, bem como os desafios e as críticas à sua recriação, fica claro que o trabalho dessa entidade é fundamental para garantir que as atrocidades do passado não sejam esquecidas e que as futuras gerações possam viver em um país que respeita os direitos humanos e a dignidade de todos os seus cidadãos.

Conseguiu esclarecer a importância da recriação da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos? Deixe suas dúvidas e sugestões nos comentários!

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Conteúdo escrito por:

Maicon Araújo Nunes de Jesus

Jequieense, nordestino até no frio, filho de dona Maria Lúcia, pai da Amora, técnico de Informática em constante aprendizado, instalador de sistemas fotovoltaicos, apaixonado por esportes, vegano, antifascista, anticapitalista e defensor dos direitos humanos. Formação humana moldada pelo Heavy Metal e Hardcore. Gosto de ler e escrever quando dá tempo.
Jesus, Maicon. O que acontece com a recriação da Comissão Sobre Mortos e Desaparecidos?. Politize!, 4 de outubro, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/comissao-sobre-mortos-e-desaparecidos/.
Acesso em: 28 de jan, 2025.

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