Você já deve ter ouvido que o Brasil é um dos maiores exportadores de commodities agrícolas do mundo’. Muitas pessoas, ao escutarem isso, automaticamente pensam no café, morango, batata e soja. Mas você sabia que nem todos esses produtos são de fato commodities agrícolas? Neste post, vamos entender o que caracteriza uma commodity agrícola e qual sua importância na economia nacional.
O que é commodity?
O termo commodity vem da língua inglesa e sua tradução literal para o português é mercadoria. Entretanto, quando se trata de comércio internacional – que é basicamente a troca de bens e serviços entre diferentes países -, o termo abrange todos os produtos que são ofertados no mercado sem qualquer tipo de diferenciação significativa. Ou seja: uma commodity que está sendo negociada no mercado europeu não será diferente do mesmo tipo de commodity que está sendo negociada no mercado sul-americano, já que a localização na qual ela é produzida não afetará de forma significativa o resultado final do produto por possuírem características semelhantes.
É preciso ressaltar que existem diferentes variedades de commodities: nem todas são agrícolas. Algumas são produtos comercializados que possuem características homogêneas, ou seja, produtos uniformes. Como alguns exemplos de commodities não-agrícolas temos o petróleo, ouro e o minério de ferro, que são commodities minerais. Esses produtos têm uma característica em comum com os agrícolas: eles não passam por processos de industrialização. Posto isso, temos também algumas commodities que passam por processo de industrialização, como é o caso do papel kraft, que é produzido através da mistura de inúmeras fibras de celulose adquiridas na polpa de madeiras.
Além das commodities agrícolas e das minerais, existem as commodities financeiras – como os títulos públicos do governo federal, o real, o dólar, o euro e a libra – e as commodities ambientais – como a água, a madeira e os créditos de carbono.
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Mas o que faz um produto ser uma commodity agrícola?
Nesse sentido, as commodities agrícolas são aqueles artigos primários e homogêneos advindos das lavouras. Entretanto, não são todos produtos advindos do campo que são denominados commodities. Por exemplo, a batata não é uma commodity, apesar de ela ser um bem agrícola relativamente homogêneo e cultivado na terra. Então, o que faz com que um produto agrícola se torne uma commodity?
Para um produto ser considerado uma commodity agrícola ele tem de ser comercializado nas bolsas de valores e de mercadorias em todo o mundo, por meio da compra e venda de ações e, para que isso ocorra, deve ser um bem de alto valor comercial e/ou estratégico. Como exemplo, pode-se citar a soja: cultivada e vendida como grão, sendo assim, um produto homogêneo, que possui alto valor no mercado internacional e que passou a ter certa importância estratégica para o Brasil, uma vez que é um dos principais produtos exportados pelo país e, dessa forma, é um dos principais responsáveis por alavancar a economia brasileira.
Outra característica das commodities é de terem seu preço definido pelo mercado internacional. Ou seja, as bolsas de valores e de mercadorias que determinam o quanto valem as commodities, baseando-se na oferta e demanda das ações destes produtos homogêneos – dessa maneira, quanto maior é a oferta de ações das commodities, menor é o seu preço, ou mesmo inversamente, quanto maior é a demanda por essas ações, maior é o seu preço.
O Brasil e suas commodities agrícolas?
O Brasil, desde o período colonial, tem como característica ser um grande exportador de commodities agrícolas, como cana de açúcar, café e algodão, que, na época, ainda não eram conhecidos como commodities, mas fizeram com que o Brasil ficasse marcado pela sua grande produção e pelo seu clima propício para plantação agrícola. Geralmente, esses produtos eram enviados para as metrópoles, ou seja, para os países detentores das colônias, e pouco ficava para o consumo local.
Dessa maneira, o Brasil ficou muito conhecido por sua produção de bens agrícolas e por ser uma das colônias exportadoras mais lucrativas na época, e a mais lucrativa para o reino português. Contudo, a exportação brasileira perdeu um pouco de espaço quando as colônias holandesas, inglesas e francesas das Américas Central e do Norte começaram a cultivar produtos como algodão e cana de açúcar com igual intensidade.
Nos últimos anos, a exportação de soja ganhou destaque, ultrapassando a de café e tornando o Brasil o maior exportador de soja a nível mundial e o segundo país em maior produção, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Assim como a soja, outras commodities agrícolas têm sido relevantes para o comércio brasileiro com outros países, como ilustra a figura abaixo:
Com exceção do suco de laranja, todas as commodities agrícolas acima são exportadas para a produção de novos produtos: a soja vira leite, óleo e molho; o café pode ser moído e usado não só para beber, mas também na preparação de sobremesas; o algodão se transforma majoritariamente em roupas e é usado na confecção de tecidos para uso geral (cama, mesa e banho); o trigo é modificado em farinha (que é usada para a fabricação de pães, massas e outras diversos alimentos que consumimos no dia-a-dia), além de ser um componente para a produção de cerveja; e a borracha, originada do látex extraído da árvore seringueira, é utilizada para a fabricação de pneus, luvas de borracha, brinquedos, utensílios de cozinha e preservativos.
A importância econômica das commodities agrícolas
Assim como o Brasil, muitos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento dependem da exportação de produtos primários para impulsionar suas economias. Sendo assim, as commodities, muitas vezes, são as responsáveis por garantir um superávit na balança comercial, ou seja, assegurar que o país receba mais dinheiro com as exportações do que gasta com as importações.
Além disso, no nosso país, as commodities têm um peso maior por estarem associadas ao agronegócio – segmento da economia brasileira que contempla diversas atividades produtivas associadas à agricultura e pecuária, com alta utilização de tecnologia a fim de aumentar a sua produtividade. É interessante destacar que, de acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), atualmente o agronegócio é responsável por cerca de metade das exportações brasileiras. Além disso, em 2017 o setor representou uma parte considerável das riquezas produzidas no Brasil, correspondendo a 21% do PIB (Produto Interno Bruto).
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O ciclo do algodão
Inicialmente, o algodão era usado para a confecção de redes e faixas. Apenas após o crescimento das indústrias têxteis, ele começou a servir de matéria-prima para a produção de peças de vestuário. Como em muitos países o clima para a plantação não é favorável, a única saída é comprar o produto de outros lugares. Os maiores compradores do algodão brasileiro em 2017 foram Indonésia, Vietnã, Bangladesh, Turquia e China. Todos esses países utilizam a commodity para a confecção de roupas de todos os modelos. Nesse caso, o algodão é a matéria-prima do produto final e ele acaba voltando para o nosso país em forma de mercadoria. Vejamos abaixo como funciona o ciclo do algodão:
O algodão sai das plantações brasileiras e é exportado para os países asiáticos onde são feitas as confecções. Quando o produto final está pronto, as empresas e multinacionais do mundo todo compram para vendê-lo em suas lojas e chegar até os consumidores. O Brasil compra a mercadoria final de todos os países para os quais o algodão brasileiro é enviado.
Podemos ver isso sendo realizado através das importações brasileiras que, no ano de 2017, tiveram a China e Bangladesh entre os primeiros três lugares que mais venderam camisetas para o Brasil. Os países asiáticos trocaram de posição apenas com o Peru (o único país da América Latina que exporta esses produtos para o Brasil em quantidade considerável). Os demais países como Vietnã, Turquia e Indonésia também tiveram uma grande parcela de suas vendas para o mercado brasileiro, sempre ficando entre os 15 países que mais exportavam a mercadoria final.
Afinal, exportar commodities agrícolas é bom para o Brasil?
Em resumo, a exportação de commodities agrícolas representa uma parcela bastante significativa do comércio internacional brasileiro, tendo em vista que do ano de 2016 para o ano de 2017 as exportações desse setor aumentaram de US$79,15 bilhões para US$101 bilhões, o que configurou um aumento de 28,7%. Isso significa que 46,4% das exportações brasileiras em 2017 foram commodities – quase metade do total de exportações. Ou seja, muito dinheiro entrou no país por conta desses produtos.
Posto isso, é perceptível que grande parte das exportações brasileiras são matéria-prima para produção de produtos finais em outros países, ao passo que o Brasil importa muitos produtos industrializados que são produzidos no exterior com matéria-primeira brasileira, ou seja, produzimos por um preço barato e compramos de volta por um preço mais caro, pagando um preço muito mais alto do que se houvesse a produção de tais produtos internamente.
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Referências do texto:
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