Como saber se sou de direita ou de esquerda?

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Todo mundo fala que é importante votar e muitas pessoas sabem disso, mas a questão maior é em quem votar? Provavelmente, alguém já perguntou seu posicionamento político, se você é de direita ou esquerda, se você irá votar em determinado candidato ou canditada ou se é a favor de determinado partido.

Mas o que significa ser de direita e esquerda? É realmente necessário escolhermos um lado? Será que a divisão direita e esquerda ainda se encaixa na sociedade atual?

Para te ajudar a se posicionar e entender de uma vez por todas os significados de tais termos, a Politize! apresenta um texto trazendo o histórico, a definição e um teste para você saber de qual “lado” está na divisão direita-esquerda. Acompanhe-nos a seguir e fique antenado!

Veja também nosso vídeo sobre o espectro político!

Como surgiu a divisão direita e esquerda?

Imagem: VEJA.

A Revolução Francesa foi um episódio histórico que deu fim à monarquia absolutista na França, levando à formação de um órgão chamado Assembleia Geral. Dentro dela, formaram-se dois grandes grupos políticos: os jacobinos e girondinos.

Os jacobinos eram compostos pelos sans-culottes, nome dado a grupos pertencentes à baixa burguesia, como os artesãos e pequenos proprietários de terra, e defendiam que as mudanças da revolução fossem ainda mais profundas, por meio da formação de uma república.

Os girondinos, por sua vez, eram compostos por membros da alta burguesia, como os comerciantes e banqueiros. Eles acreditavam que as mudanças necessárias já tinham ocorrido com o fim da monarquia absoluta e a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte.

Durante as reuniões, aqueles que se identificavam com as ideias dos jacobinos sentavam-se à esquerda e os que se identificavam com as ideias dos girondinos, à direita. Foi desse modo que a definição de esquerda e direita se formou.

O que significa ser de direita e esquerda?

Considerando esses diferentes posicionamentos, podemos dizer, grosso modo, que os de esquerda seriam os revolucionários ou progressistas e os de direita, os conservadores.

Nesse sentido, é importante compreender que uma revolução altera o sistema vigente, como no caso da Revolução Francesa, que deu fim ao Antigo Regime e abriu caminho para o surgimento do liberalismo político no país, bem como o capitalismo. Uma reforma, por outro lado, provoca algumas mudanças, porém não altera o sistema como um todo.

Trazendo para a atualidade, os que são de esquerda seriam os mais identificados com o primeiro grupo, pois não estão contentes com o sistema capitalista e desejam mudá-lo, enquanto os de direita aceitam tal sistema e até almejam por mudanças, desde que não o alterem profudamente, ficando, no máximo, no campo da reforma.

O motivo da esquerda ser contra o sistema é que, para ela, as desigualdades são injustificáveis, enquanto a direita as considera naturais ou inevitáveis, entendendo ser o capitalismo um sistema que privilegia a liberdade individual.

Podem até existir ações de direita voltadas a questões sociais, como as políticas públicas, que são iniciativas capitalistas para diminuir os impactos sociais provocados pelo próprio sistema e para movimentar a economia. Porém, o foco da direita é a liberdade econômica, pois ela defende que é impossível acabar com a desigualdade sem prejudicar a sociedade em outros aspectos, como a geração de riqueza.

Portanto, dizer que a direita não é igualitária não é condená-la, mas sim reconhecer que, na sua maneira de enxergar, a desigualdade é essencial para o florescimento da liberdade e para a incessante luta pela melhoria da sociedade. Por isso, ela tende a defender a meritocracia.

A esquerda também almeja a liberdade, porém entende que só é possível alcançá-la com o fim do sistema capitalista e sua substituição por um sistema econômico mais igualitário, em que todos poderão ter as mesmas oportunidades, podendo vir a ser o socialismo ou comunismo.

Lógico que, quando se diz respeito à política atual, não significa que um partido de esquerda, ao chegar ao poder, irá derrubar o sistema vigente. Porém, algumas ações de tal governo podem ir de encontro às ações capitalistas, mesmo que ainda inseridas dentro do sistema. Uma visão de esquerda mais moderada, que aceita o capitalismo, mas propõe reformas que levem à redução das desigualdades é a social-democracia.

Na prática, um governo de direita, por exemplo, será a favor da privatização de empresas estatais, enquanto um de esquerda privilegiará a estatização. Isso porque a direita visa alcançar um Estado Mínimo em prol do crescimento econômico, ou seja, o Estado deve manter o mínimo possível de instituições e obras públicas, deixando aquelas que não são consideradas sua função para o setor privado.

Por outro lado, um governo de esquerda considera que o Estado deve ser grande e manter um maior número de instituições ou obras públicas em prol da diminuição das diferenças sociais. O quadro a seguir apresenta um resumo das principais diferenças entre um governo de direita e um governo de esquerda:

Esquerda x Direita

Estado grandeEstado mínimo
Fim das desigualdadesEntende as desigualdes como naturais
EstatizaçãoPrivatização
ProgressismoConservadorismo

Vale ressaltar, no entanto, que essas descrições são generalizações didáticas para melhor entender esses conceitos. Na prática, as posições políticas possuem muitas nuances e outros temas além da maneira como elas enxergam o sistema econômico podem influenciar se estão mais à esquerda ou mais à direita.

Para entender isso melhor, veja também: Espectro político: só existem esquerda e direita?

Qual é melhor, direita ou esquerda?

A dúvida na hora de tomar um partido é se estamos escolhendo o melhor lado ou não. “Eu preciso me posicionar, mas qual é melhor para o Brasil, direita ou esquerda? Existe alguma forma de encontrarmos esta resposta?”

Não é possível definir os termos “direita” ou “esquerda” como positivos ou negativos. Ambos podem ter diferentes significados dependendo de quem está falando. Porém, serão sempre posições opostas, por isso não é possível assumir uma posição que seja, ao mesmo tempo, de direita e esquerda.

A definição de direita e de esquerda, contudo, não é fechada. O filósofo Jean-Paul Sartre, por exemplo, as classifica como duas caixas vazias. Portanto, podem existir muitas esquerdas e muitas direitas, que poderão discordar entre si, ou ainda poderão existir momentos em que a direita e esquerda concordem. É desta pluralidade de direitas e esquerdas que surgem as posições centro-esquerda e centro-direita.

Os movimentos sociais e o sistema político

Movimentos sociais são organizações coletivas civis que têm o objetivo de alcançar mudanças sociais através do debate político. Normalmente, são associados à esquerda, devido ao caráter mais progressista. Porém, os movimentos sociais estão à parte das arenas políticas, podendo existir independente do governo instaurado e alguns deles podem ter posicionamentos mais à direita.

A existência de tais movimentos também nos revela uma forma de atuação fora das arenas políticas, ou seja, por meio de organizações de iniciativa civil (uma ONG, conselho de bairro, organização popular, etc). É um modo de fazer política “de baixo para cima”, ou seja, as pessoas se organizam e começam a agir, e não somente esperam que os políticos o façam por elas.

O centrão e a Terceira Via

Muitas pessoas acabam por concluir que não são nem de esquerda e nem de direita e tomam um posicionamento “neutro”. Porém, quando se trata de política, até mesmo não tomar uma posição é tomar uma posição. Como abordado anteriormente, qualquer ação terá uma tendência que se desdobrará em esquerda ou direita.

Os que não se identificam com os candidatos da direita e da esquerda, normalmente buscam uma Terceira Via, que é uma política que não apresenta uma posição neutra, mas pretende superar os dois extremos existentes. É importante, porém, entender que mesmo a Terceira Via pode apresentar um posicionamento político com tendência à direita ou à esquerda, dependendo do contexto eleitoral.

Alguns eleitores posicionam-se ao centro. Porém, é importante que haja visões de mundo claras, para que seja evitado aquilo que acontece com o famoso “centrão” dentro da política brasileira, composto por partidos que oscilam entre situação e oposição de acordo com o que lhes convém no momento. Na verdade, esses partidos não tomam uma posição ideologicamente bem definida.

Veja também: Terceira Via: significado, história e eleições 2022

As ditaduras extremistas de direita e esquerda

Com certeza, você já ouviu falar das ditaduras de direita e esquerda. Vale notar que sua existência não significa que a direita ou a esquerda sejam ruins em si, mas mostra que dentro dos dois campos podem existir ideias extremistas e antidemocráticas. As ditaduras de extrema esquerda são as chamadas ditaduras comunistas e as de extrema direita, aquelas identificadas com o fascismo.

Veja também nosso vídeo sobre o que é ser de direita no Brasil!

Assim, comunismo e fascismo são extremos opostos. Cabe a ressalva de que “comunismo” pode ter diferentes significados, sendo coisas distintas a ideologia comunista e os regimes comunistas que tivemos na prática. O fascismo, no entanto, não pode existir fora de um governo ditatorial, pois é um regime excludente. Por isso, perante a Lei, uma pessoa pode se declarar comunista, mas uma pessoa se declarar facista é crime.

Veja também: Afinal, o que é ditadura?

A divisão política direita-esquerda ainda existe atualmente?

Pode ser que você esteja lendo este texto e pensando no quão inútil é um debate sobre esquerda e direita nos dias atuais. Talvez até tenha certeza que já não existe um partido de esquerda e de direita e que isso seja mais uma forma de induzir o público a votar em determinado candidato ou partido. Mas será mesmo que essa discussão não tem utilidade?

O primeiro ponto a se pensar é que afirmar “não existe direita e esquerda” é um sinal claro de que existe um sentido conhecido, mesmo que vagamente, de “direita” e “esquerda”. Ou seja, as ideologias estão vivas. Mesmo que as ideias tenham sido substituídas por outras, a distinção esquerda-direita ainda existe.

Há também a argumentação de que, em uma sociedade democrática, não faria sentido “limitar” os pensamentos em esquerda e direita, já que existem diversos grupos de opinião com ideias que se contrapõem ou se sobrepõem e podem se integrar e depois se desintegrar.

Essa objeção é pertinente, porém não é decisiva, pois a distinção entre direita e esquerda é, como define Bobbio “uma linha contínua sobre a qual entre a esquerda inicial e a direita final, ou, o que é o mesmo, entre a direita inicial e esquerda final, se coloquem posições intermediárias que ocupam o espaço central entre os dois extremos, normalmente designado, e bastante conhecido, com o nome ‘centro’.”

Qualquer ideia sempre se dará no espaço entre a esquerda e a direita, sendo mais ou menos próxima de cada uma. Precisamos entender nossos posicionamentos nas diferentes questões e buscar um candidato ou candidata que nos represente para que a democracia continue a existir plenamente.

Pode ser, por exemplo, que você se entenda como de esquerda, mas hoje não encontre uma esquerda que represente completamente suas visões. Se essa for sua situação, você não deve deixar de participar do processo eleitoral, e sim buscar um(a) candidato(a) que mais se assemelhe com seu pensamento.

Lembre-se que, quando você não se posiciona, outras pessoas o fazem por você. Não se posicionar já é um ato político, daí a importância de exercer a democracia.

Nós não participamos diretamente das tomadas de decisões do governo, porém votamos em pessoas que nos representam dentro da Câmara, Senado e demais órgãos do Estado.

Isso não significa, no entanto, que devemos apenas esperar que os parlamentares e governadores façam algo. Podemos ser parte, por exemplo, de alguma iniciativa civil (uma ONG, conselho de bairro, organização popular, manifestações, etc) e iniciar uma mudança “de baixo para cima.”

Caso queira saber mais sobre sua posição política, realize um teste clicando nesse link. E lembre-se: este teste não irá definir a sua posição final, isso é você quem faz!

E aí, ainda ficou alguma dúvida sobre os conceitos de esquerda e direita? Deixe seu comentário!

Referências:
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2 comentários em “Como saber se sou de direita ou de esquerda?”

  1. Walter Varejão

    Larissa

    Parabéns pelo vídeo e clareza crítica.
    Sou educador e empresário da área

    Admiro sua colaboração com as escolas EMANCIPA, de quem sou admirador.

    Sugiro apenas que faça uma classificação melhor do Socialismo com suas diferentes vertentes, e hoje, algumas vertentes como o socialismo democrático não propõe a abolição da propriedade privada e estatização de todos os meios de produção. Eu deixaria mais claro os conceitos de comunismo e suas flexibilizações históricas.

    Parabéns e Obrigado

  2. Contém um erro ai… O Comunismo não existe sem um golpe de estado e sem uma ditadura!

    Se acha contra, cite um exemplo de comunismo que não tem ditadura!

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Conteúdo escrito por:
De São José dos Campos, interior de São Paulo, licenciada em História pela Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP). Professora, autora de materiais didáticos, artigos científicos e palestrante em diferentes congressos. Idealizadora e líder de um projeto de reconstrução histórica utilizando a História Oral. Voluntária em projetos sociais de cursinho pré vestibular voltado a educação popular, como o Emancipa Pinheirinho e o CASD, ambos de São José dos Campos – SP. Ama produzir conteúdos digitais, como vídeos, nas horas vagas. Apaixonada por Ciências Humanas, especificamente História e Ciências Políticas.
Souza, Larissa. Como saber se sou de direita ou de esquerda?. Politize!, 2 de março, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/como-saber-se-sou-de-direita-ou-de-esquerda/.
Acesso em: 20 de nov, 2024.

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