Este é o quarto texto de uma trilha de conteúdos sobre correntes de pensamento político e aborda o conservadorismo. Veja os demais textos desta trilha: 1 – 2 – 3 – 4 – 5 – 6 – 7 – 8 – 9
“O conservador pensa na política como um meio de preservar a ordem, a justiça e a liberdade. O ideólogo, pelo contrário, pensa na política como um instrumento revolucionário para transformar a sociedade e até mesmo transformar a natureza humana. Na sua marcha em direção à Utopia, o ideólogo é impiedoso.” Russell Kirk (1918 – 1994), teórico político americano
O conservadorismo é um pensamento político que defende a manutenção das instituições sociais tradicionais – como a família, a comunidade local e a religião -, além dos usos, costumes, tradições e convenções. O conservadorismo enfatiza a continuidade e a estabilidade das instituições, opondo-se a qualquer tipo de movimentos revolucionários e de políticas progressistas. Mas é importante entender que o conservadorismo não é um conjunto de ideias políticas definidas, pois os valores conservadores variam enormemente de acordo com os lugares e com o tempo. Por exemplo, conservadores chineses, indianos, russos, africanos, latino-americanos e europeus podem defender conjuntos de ideias e valores bastante diferentes, mas que estão sempre de acordo as tradições de suas respectivas sociedades.
Veja também nosso vídeo sobre ideologias políticas!
CONSERVADORISMO X POSTURA CONSERVADORA: CONFUSÃO SEMÂNTICA
É importante não confundir o pensamento político conservador com a atitude em relação às mudanças políticas chamada de conservadora (junto com outras como reacionários, progressistas e radicais). O conservador neste último sentido busca manter a situação política do jeito que está, independentemente do conjunto de ideias a que se aplica. É um termo normalmente aplicável a qualquer pensamento político que esteja no poder. Um socialista ou um liberal que esteja governando pode ser conservador nesse sentido, pois deseja manter-se no poder e almeja a continuação de suas políticas. Um revolucionário torna-se um conservador depois do sucesso de sua revolução.
O conservadorismo que será abordado aqui é aquele que existe no Brasil e tem diversas semelhanças com o conservadorismo ocidental existente na América Latina, na América do Norte e na Europa, pois todos eles têm como base a doutrina cristã e a adoção, em maior ou menor grau, das ideias políticas liberais. Mas é importante entender que mesmo o conservadorismo ocidental possui muitas variantes e é difícil identificar um posicionamento político específico. Partidos políticos conservadores podem até ter opiniões divergentes entre si sobre algumas questões.
VALORES CONSERVADORES

De todo modo, é possível determinar algumas características fundamentais do pensamento conservador ocidental. O conservadorismo tem como seus principais valores a liberdade e a ordem, especialmente a liberdade política e econômica e a ordem social e moral.
O conservador acredita que há uma ordem moral duradoura e transcendente, que no caso do conservadorismo ocidental é baseada na doutrina cristã e tem na religião a sua base. O conservadorismo valoriza a diversidade típica do individualismo e rejeita a igualdade como um objetivo da política.
O conservador, assim como o libertário, entende que a igualdade político-jurídica é suficiente para garantir a igualdade necessária entre as pessoas. Qualquer desigualdade material ou de resultado é consequência inevitável das diferenças naturais entre os indivíduos, de seus esforços e de suas decisões.
Na esfera política, o conservador procura preservar as instituições políticas e sociais que se desenvolveram ao longo do tempo e são fruto dos usos, costumes e tradições. O conservadorismo entende que as mudanças e o progresso são necessários para manter uma sociedade saudável, mas essas mudanças devem ser cautelosas e graduais.
Assim, a política do conservador é a política da prudência, sempre preferindo manter e melhorar as instituições estáveis e testadas do que tentar rupturas para implantar modelos de sociedade e instituições advindas da razão humana.
Essa postura coloca o pensamento conservador em conflito com ideologias essencialmente reformistas, que almejam criar uma sociedade “perfeita” pelo uso da política. Para o conservador, a política é a “arte do possível” e não um meio para se chegar a uma sociedade utópica.
Nas esferas social e moral, o conservador defende a manutenção dos usos, costumes e convenções, além de uma estrutura social e hierárquica tradicional. Na cultura, o conservadorismo valoriza as manifestações locais e uma identidade nacional.
Nessas esferas, os conservadores são coletivistas, pois entendem que toda a comunidade deve adotar certos padrões de comportamento e certos valores para garantir uma coesão social e a identificação dos indivíduos com a comunidade.
Assista ao nosso vídeo sobre o Conservadorismo no Brasil
Conservadorismo na economia
O conservadorismo defende o individualismo na esfera econômica. A defesa da propriedade privada também é vista como uma questão intimamente ligada à liberdade, pois não é possível ser livre se os meios de sobrevivência de um indivíduo estão nas mãos de outros, dos quais acaba se tornando dependente.
Entretanto, a defesa de uma economia de livre mercado não é assunto de consenso entre os conservadores de vários países do mundo, inclusive os brasileiros. Mesmo os conservadores que defendem a globalização e a abertura dos mercados ao capital internacional tentam manter essa integração somente no âmbito econômico e financeiro, protegendo a cultura e a identidade nacionais de influências externas. Mas, como o conservadorismo costuma ter fortes traços de nacionalismo, as ideias econômicas acabam sendo influenciadas e, assim, boa parte dos conservadores nacionais prefere políticas econômicas desenvolvimentistas, nacionalistas e protecionistas. Esse fato não impede que políticos conservadores sejam até hoje chamados de neoliberais na América Latina, o que não é uma designação correta na maioria dos casos, visto que muitos conservadores advogam políticas intervencionistas no âmbito econômico.
Críticas ao conservadorismo
A crítica mais comum ao conservadorismo é a sua ideia de que toda a sociedade deve acatar o código moral e a estrutura social tradicionais, o que é uma visão conflituosa com as ideias progressistas. Para os seus críticos, é uma contradição o conservadorismo defender indivíduos autônomos na esfera econômica enquanto defende a aceitação de padrões na esfera social e moral.
Outra crítica comum ao conservadorismo é sua rejeição ao multiculturalismo e ao cosmopolismo cultural, comuns nos grandes centros urbanos. Para o conservador, uma cultura local ou nacional compartilhada por todos os membros da sociedade é uma condição necessária para criar coesão social e espírito de comunidade.
Para entender: multiculturalismo normalmente se refere a casos em que culturas distintas convivem no mesmo espaço, o que é diferente das culturas formadas pelo sincretismo de diversas fontes, como a cultura brasileira, e que costuma ser designado como um interculturalismo. Como o Brasil sempre teve um sincretismo cultural e religioso muito forte, o multiculturalismo – culturas muito diferentes convivendo no mesmo espaço – não é muito comum por aqui. No Brasil, são mais comuns as culturas formadas pela mistura de diversas influências e que acabam originando a cultura local e os usos e costumes da sociedade, que são, portanto, parte do que os conservadores defendem como a cultura da sociedade brasileira.
Na esfera política, o principal embate entre os conservadores e seus adversários ocorre em torno do valor da igualdade. Os conservadores, assim como os liberais, elogiam a diversidade e entendem que não é papel do Estado promover políticas igualitárias para além da igualdade político-jurídica. Mas os seus opositores argumentam que não basta promover uma igualdade político-jurídica de cunho formal se esta não se concretiza pela igualdade material e de resultados.
Na mesma linha de pensamento, os conservadores entendem que a assistência estatal deve limitar-se somente aos que realmente precisam dela e não deve se estender a toda a vida das pessoas, como é proposto pelo Estado do Bem-Estar Social, o que atrai as críticas daqueles que entendem que o Estado deve prover uma rede de segurança aos cidadãos durante todas as fases da vida e que cubra um grande leque de situações.
E agora que você sabe o que é conservadorismo, que tal continuar aprendendo e entender o que é o progressismo? Confira abaixo!
Nota: este conteúdo foi extraído e adaptado do Livro Urgente da Política Brasileira.
3 comentários em “Conservadorismo: entenda o conceito em 4 pontos”
Gostei! Parabéns pelo texto!
Simplesmente nega todos os valores de solidariedade, compaixão e misericórdia proposto por Jesus de Nazaré e não só isso é o conservadorismo responsável por todo o processo de escravidão nas Américas e pela exterminação indígena dos peles vermelhas nos Estados Unidos de 1837 a 1843 assassinando 10 milhões de indígenas em nome de seres calvinistas supostamente superiores.
Tanto edmund Burke como outras referências conservadoras refutam veementemente todos os valores de Jesus de Nazaré como solidariedade misericórdia. Ascensão social da classe trabalhadora também é refutada pelos conservadores que ajudaram a criar o século 21 nomes famosos como Adolf Hitler, Benito Mussolini, Francisco Franco Salazar em Portugal sem contar todas as ditaduras da América do Sul em nome de Jesus obrigou-se até práticas sexuais entre cachorros e seres humanos.