O Brasil se relaciona fortemente com as questões de política externa de outros países considerados seus parceiros. A relação brasileira com a Grécia não é uma exceção. O Brasil hoje mantém uma embaixada localizada na capital Atenas, e a Grécia, por sua vez, mantém uma Embaixada em Brasília e dois consulados gerais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Por isso, tendo em vista essa relação amigável entre os países, devemos estar próximos aos assuntos que sejam do interesse dos nossos parceiros. Mas para compreender melhor essa relação, primeiro temos de entender os envolvidos na crise econômica na Grécia. Vamos lá?
O que vou encontrar neste conteúdo?
- O que é o FMI
- A Grécia na União Europeia
- A crise econômica de 2011
- Causas e consequência da crise
- A atuação do FMI na crise
- Situação econômica na Grécia atual
O QUE É O FMI?
O FMI, da sigla em português, é o Fundo Monetário Internacional. Trata-se de uma organização internacional criada em 1944 com o objetivo de ajudar na reconstrução econômica no período pós-guerras mundiais e promover cooperação econômica e monetária entre os países. Embora o FMI tenha suas ações pautadas nos princípios de cooperação, ajuda e assistência internacionais, os empréstimos disponíveis são um recurso utilizado em último caso pelos países.
Isso se deve principalmente porque as negociações de empréstimos são feitas apenas mediante a adoção de uma “Carta de Intenções” que contém o que ficou conhecido como condicionalidades, isto é, condições tratadas no acordo do empréstimo que não somente estabelecem os termos da negociação, mas também auxiliam o país que pede o empréstimo a se recuperar da crise, sendo assim capazes de quitar a dívida com o FMI. A Carta, portanto, é responsável por estabelecer que o país responsável por tomar o empréstimo deva seguir à risca todas as condicionalidades previstas. Essa é uma forma de garantir que o Fundo não seja prejudicado na negociação e não seja ressarcido do valor emprestado.
Leia também: como é a relação do FMI com o Brasil?
A GRÉCIA NA UNIÃO EUROPEIA
A Grécia é um dos 28 Estados-membros da União Europeia e é também pertencente à Zona do Euro. Tem como capital e maior cidade Atenas, com 4 milhões de habitantes. O país inteiro tem quase 11 milhões, sua língua oficial é o grego e sua adesão à UE aconteceu no dia 1º de janeiro de 1981.
Segundo informações do site da União Europeia, em 2015, os principais setores da economia grega foram o comércio atacadista e varejista e os serviços de transportes, hospedagem e restaurantes (25,4 %), a administração pública, a defesa, a educação, a saúde e os serviços sociais (21,0 %) e o imobiliário (17,2 %). A Grécia exporta principalmente óleos de petróleo, medicamentos e azeite para países como a Itália, a Eslovênia e a Alemanha; e suas importações provêm sobretudo da Alemanha, da Itália e da Rússia.
Ainda segundo informações da União Europeia, atualmente, o total da despesa da União Europeia na Grécia é de 6,2 bilhões de euros (aproximadamente 22 bilhões de reais), e o total da contribuição da Grécia para o orçamento da UE é de 1,2 bilhões de euros (aproximadamente 4 bilhões de reais). Hoje, claramente, a relação que a Grécia estabelece com a UE é deficitária e essencial para o país que possui um PIB médio de 194,5 bilhões de dólares, segundo dados de 2016. Essa contribuição orçamentária da UE tem sido fundamental para ajudar nas despesas do país.
Que tal baixar esse infográfico em alta resolução? Clique aqui.
A CRISE ECONÔMICA DE 2011
No ano de 2011, uma grave crise econômica se instaurou na União Europeia. Essa situação, embora não tenha um início propriamente marcado, é fruto dos impactos que os países do bloco europeu sofreram com a crise de 2008 dos Estados Unidos. O que ficou conhecido como “Estouro da Bolha Imobiliária”, no mercado interno dos EUA, causou ondas de instabilidade pelo mundo todo, principalmente aos maiores parceiros econômicos. Os países europeus, historicamente aliados dos estadunidenses, receberam boa parte desse impacto negativo. O elevado endividamento público na UE (principalmente nos países como Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda e Itália) e a falta de coordenação política para buscar solucionar os problemas dessa dívida pública, foram agravantes consideráveis para a recessão.
A crise de 2008 foi apenas o gatilho que expôs esse panorama em que os países gastavam mais do que conseguiam arrecadar e realizavam uma série de empréstimos sem os devidos fundos para posterior pagamento das dívidas. Os países da Europa estavam desequilibrados economicamente e 2011 foi o colapso dessa instabilidade.
Um alto índice de desemprego se espalhou no continente. Somado a isso, podemos citar a fuga de capitais de investidores, isto é, quando os países perdem credibilidade pela alta da inflação. E, por consequência, ocorre a desvalorização da moeda e a queda do PIB, que leva investidores locais e estrangeiros a deixarem de investir no país. Isso, por sua vez, gera uma escassez de crédito. Ou seja, baixos investimentos devido à falta de acesso ao crédito por parte dos bancos e que acabam por afetar pequenos e médios empresários, aumentando ainda mais as taxas de desempregados. Somado a esse panorama de instabilidade, revoltas populares passam a ser também um ponto importante dessa crise que causou impactos muito negativos na população e nos pequenos e médios investidores.
É importante ressaltar que, devido ao forte poder e influência do continente europeu, a crise teve consequências em todo o mundo, inclusive no Brasil. Por quê? Ora, o Brasil é um país agroexportador, o que quer dizer que a maior parte da nossa economia vem da exportação de produtos desse gênero, como frutas, verduras, legumes; grãos, como café, açúcar; também envolve carnes como bovina, suína, de frango; enfim, produtos naturais.
Uma crise econômica diminui o poder de compra dos indivíduos e, consequentemente, o consumo será menor, pois menos produtos serão comprados. Logo, o consumidor europeu – que adquire muitos produtos do Brasil – não vai comprar tanto como antes da crise, gerando menos dinheiro para o nosso país e todos os outros dos quais ele comprava. Essa redução de consumo causa um panorama de Déficit Privado no país exportador, isto é, quando os investidores locais começam a ter em suas contas uma redução do lucro ou até um prejuízo. No mercado local, devido a essa redução causada pela crise externa, pessoas serão demitidas e isso reduz a renda, desacelera o consumo local e causa mais déficit privado em outros setores.
A CRISE ECONÔMICA NA GRÉCIA: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
O país mais afetado pela crise europeia foi a Grécia, cuja dívida estava em torno de 300 bilhões de euros (ou um pouco mais de 1 trilhão de reais). Parte deste gasto é devido à grande quantidade de dinheiro público gasto na manutenção das atividades básicas do Estado, além do aumento do salário de funcionários do governo. Podemos comprovar no gráfico o impacto da crise no PIB da Grécia, no infográfico.
Quando a crise chegou, o país foi fortemente impactado. Por esse motivo não somente a Grécia como também outros países viram-se forçados a diminuir seus gastos públicos e aumentar as taxas de juros como uma medida que busca pagar boa parte do prejuízo estatal. O ato de aumentar a taxa de juros freia ainda mais o consumo, embora seja positivo em certa medida para a recuperação econômica do país, pois permite que o governo tenha mais dinheiro em caixa ao reduzir a inflação – porém, a população sai prejudicada nessa decisão. O volume de empregos decresce, por exemplo, tendo em vista que as altas taxas de juros inviabilizam novos investimentos por parte dos empresários e vale ressaltar que a decisão de aumentar as taxas de juros é extremamente impopular dentro da política e tomada em último caso.
A nação grega cogitou abandonar a moeda europeia e a própria União Europeia como estratégia econômica. Dessa forma, já que ela usava a moeda comum e estava economicamente debilitada, acabou por enfraquecer o Euro e levar outros países, num efeito dominó, à crise. É simples: se a economia de um país enfraquece (o que quer dizer que isso acontece em todo o seu território), sua moeda perde força no mundo inteiro. Agora imagine que vários países utilizam a mesma moeda e a economia de um deles enfraquece. Logo, a moeda também perderá força em todo o território que utilizar essa moeda. Não teria como o Euro perder força apenas na Grécia se a França e a Alemanha, por exemplo, usam exatamente a mesma moeda.
Por esse motivo de grandes quedas no orçamento, Grécia, Portugal e Espanha tentaram abandonar o Euro e reestruturar suas economias. Assim, os países poderiam permitir a desvalorização da nova moeda nacional e, assim, melhorar a competitividade, porque com a moeda desvalorizada, seus produtos seriam baratos para os outros países com moedas mais caras.
Caso a Grécia viesse a abandonar o Euro ela voltaria a usar nacionalmente o Dracma, moeda utilizada pela última vez em 2001, quando foi substituída pelo Euro. A nova moeda seria muito desvalorizada em relação ao Euro e ao Dólar: estimativas indicam que 1 Euro teria um valor aproximado de 340 Dracmas, um valor muito baixo e muito positivo para a recuperação econômica. Com a moeda desvalorizada, seria possível que os principais produtos nacionais – como os derivados de petróleo e os manufaturados – tivessem mais credibilidade internacionalmente, pois o baixo valor de mercado faria com que fossem comprados mais facilmente, melhorando a economia do país e ajudando a impulsionar a economia grega. No entanto, o bloco europeu não deseja abandonar a união monetária e acalmou os investidores que viam uma possibilidade de prejuízo na divisão, descartando a ideia de que países iriam abandonar a moeda. Então, como ajudar a Grécia?
A ATUAÇÃO DO FMI NA CRISE ECONÔMICA NA GRÉCIA
Para superar essa situação de crise econômica, medidas como a implementação de um pacote anticrise foram lançadas, no fim de 2011. O FMI e o Banco Central Europeu agiram ativamente na Grécia e nos demais países assolados pela crise, oferecendo ajuda financeira. Em maio de 2010, o primeiro pacote foi aprovado pela União Europeia e o FMI, no qual o governo grego recebeu 110 bilhões de euros (ou 380 bilhões de reais).
Essa ajuda foi oferecida para que a Grécia pagasse suas contas, que eram principalmente com bancos privados europeus. Não sendo suficiente, o empréstimo aumentou para 240 bilhões de euros, ou 832 bilhões de reais. Porém, a Grécia ficou sob a condição de implementar medidas rígidas de moderação e controle da economia. Alguns exemplos como: diminuir os gastos públicos; aumentar os impostos, o que deixaria os produtos mais caros e faria com que as pessoas gastassem menos dinheiro, já que diminuiria o poder de compra.
A Grécia também contraiu empréstimos e assumiu o proposto pelo FMI em sua Carta de Intenções, mas a relação entre o Fundo Monetário e a Grécia só foi de mal a pior a partir disso. Atualmente, o país tem uma dívida com o FMI no valor de 21,4 € bilhões e o Fundo Monetário é apenas o quinto maior credor do país. Atualmente a Alemanha, que ocupa a primeira posição, é responsável por empréstimos totais de 68,2 € bilhões, o que demonstra que a situação instável com o FMI é apenas uma amostra da má situação econômica em que o país se encontra.
Segundo economistas, a economia do país encolheu em 25% desde que começou com as medidas de moderar a economia, resultando em uma dependência de crédito externo – aquele crédito que vem de agências de países estrangeiros, organismos internacionais (como o FMI) ou instituições financeiras estrangeiras.
Leia mais: 3 formas de cooperação entre a União Europeia e o Brasil
SITUAÇÃO ECONÔMICA NA GRÉCIA ATUAL
O estado financeiro em que se encontra a Grécia ainda é caótico, por tentar de forma lenta e gradual se livrar do endividamento que a crise a submeteu. Em 2015, o país foi o primeiro desenvolvido a dar um calote no FMI, surpreendendo economistas por todo o mundo e fazendo com que a relação que já se mostrava instável, por conta da crise aqui discutida, piorasse ainda mais. O FMI emitiu uma nota afirmando que o país somente poderia contrair novos empréstimos caso pagasse o que devia ao fundo, dificultando ainda mais a situação grega. A dívida externa da Grécia já assume valores altíssimos, principalmente no ano do estouro da crise. Depois, volta a ter uma queda razoável pelas ajudas externas como podemos observar no infográfico.
Atualmente, economistas interpretam que a situação grega já pode ser vista como o “século perdido”. Os parâmetros do FMI tentam barrar sem sucesso os gastos do governo em sua Carta de Intenções, nas atuais circunstâncias. Os gastos feitos pela Grécia, embora estejam acima do que se espera para uma recuperação econômica, estão no limite: ou seja, o país está consumindo apenas o essencial para manter o Estado em funcionamento. O FMI agora tenta pressionar os credores para que aliviem as dívidas, rearranjando o espaço econômico europeu.
Em julho de 2017, o terceiro pacote de ajuda anticrise foi aprovado, com um empréstimo de 1,8 bilhão de dólares. O FMI também alertou que só o fará se ocorrer uma grande diminuição na dívida do país, aliviando a economia. Além disso, a Europa precisaria concordar com um plano claro de alívio da dívida para que o empréstimo fosse desembolsado pelo FMI.
A organização estabeleceu um limite de 325 bilhões de euros, que é o máximo de dinheiro que a Grécia poderá dever, e isto deve impedir que o governo grego levante dinheiro nos mercados no futuro próximo. A situação da Grécia continua instável. O FMI, embora tenha nutrido um relacionamento complicado com o país, tenta ajudá-lo a se reerguer da crise que não só coloca em risco a Grécia, mas diversos outros países da União Europeia. Embora o Fundo parece disposto a cooperar essa atuação não é vista com bons olhos por todos economistas, e muitos acusam a piora na crise Grega pela atuação do FMI, portanto, precisamos manter atenção redobrada nos próximos acontecimentos desse problema.
Conseguiu entender a atuação do FMI na crise econômica na Grécia? Comente se ficou com alguma dúvida!
Referências
SABBI, Alcides Pedro. O que e FMI. São Paulo: Brasiliense, 1991. 76p;
SEABRA, Fernando. Comércio exterior: [módulo 7]. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC, 2009. 150;
BBC. Entenda a crise na Grécia, 2010.
DIAS, Anne. Economista explica como a crise na Europa afeta seu bolso, 2012.
CRISE na União Europeia; ENTENDENDO a Crise na Europa; GRÉCIA na UE;
CHADE, Jamil. Após sete anos, crise na Grécia vira depressão, 2017.
GONZÁLEZ, Alícia. Grécia se torna primeiro país desenvolvido a deixar de pagar o FMI, 2015.
O GLOBO. FMI diz que dívida de Grécia é ‘explosiva’ a longo prazo, 2017.