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“Woke”: o que significa o termo que marcou as eleições dos EUA?

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A cultura “woke” tomou conta do debate político durante as eleições dos Estados Unidos em 2024. Por um lado, é associado a pautas progressistas, por outro lado, tem gerado intensos debates e polarização. 

Por isso, neste texto, vamos explicar o significado de woke, sua origem e como influenciou nas eleições dos EUA dos últimos anos.

O que significa woke?

O termo “woke” deriva do verbo em inglês “wake” (acordar), que, na prática, significa “estar esperto”. No contexto cultural dos Estados Unidos, ser “woke” refere-se à conscientização sobre questões sociais e políticas, especialmente ligadas à igualdade e à justiça social.

Assim como algumas pessoas se autodefinem como woke como uma denominação de orgulho, outras utilizam como um termo pejorativo. Na definição do dicionário Oxford, há dois significados para esta palavra.

  • Definição favorável: “conscientes das questões sociais e políticas e preocupados com o fato de alguns grupos da sociedade serem tratados de forma menos justa do que outros”. 
  • Definição crítica: “essa palavra é frequentemente usada de forma desaprovadora por pessoas que se opõem a novas ideias e mudanças políticas e acham que outras pessoas se incomodam facilmente com essas questões”.

Ou seja, para alguns, ser “woke” é ter consciência social e racial, questionando desigualdades históricas. Enquanto para outros, o termo descreve indivíduos que acreditam ser moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas sobre os demais.

Imagem de uma mão segurando um megafone e três mãos paralelas erguidas com o punho fechado, em sinal de resistência e protesto. Texto: ‘Woke’: o que significa o termo que marcou as eleições dos EUA.
Imagem: Freepik.

Como surgiu o termo woke?

De acordo com o BBC, o termo “woke” surgiu na comunidade afro-americana durante os anos 1960 para destacar a necessidade de estar consciente das injustiças raciais. Além disso, muitos acreditam que o termo foi popularizado pelo romancista William Melvin Kelley (1937-2017) devido ao artigo “If You’re woke, you dig it” (“Se você estiver acordado, entenderá”, em tradução livre), publicado, em 1962, no jornal The New York Times.

Leia mais: Entenda o que foram as Leis Jim Crow nos Estados Unidos

A palavra voltou para os holofotes com o movimento Black Lives Matter, motivado por denúncias de violência policial contra pessoas negras nos Estados Unidos. Neste período, a palavra popularizou para além da comunidade negra e passou a ser usada para um significado mais amplo sobre justiça e igualdade.

Foi então que, em 2017, “woke” ganhou significado no dicionário inglês Oxford, que também trouxe a distinção de uso, tanto para o aspecto positivo, quanto para o negativo. Para seus críticos, a cultura woke é usada para acusar as pessoas de serem misóginas, homofóbicas ou racistas.

Desse contexto, também foi pautado a cultura do cancelamento, ou seja, um boicote social e profissional, normalmente pelas redes sociais, contra pessoas que dizem ou fazem algo considerável “intolerável”. 

Para os “woke”, esta é uma forma de protesto não violento e também de exigir mudança de comportamentos considerados retrógrados. Para os críticos, este é um atentado contra a liberdade de expressão e aos valores tradicionais norte-americanos.

Disputa política

Nos Estados Unidos, o conceito de “woke” tornou-se um ponto de disputa política intensa entre democratas e republicanos. O que começou como um choque cultural, foi se transformando em enfrentamento político.

Para os democratas, “woke” passou a representar valores como inclusão, diversidade e igualdade, com líderes progressistas como os congressistas Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez, defendendo pautas sociais, feminismo, movimento LGBTQIA+, multiculturalismo, dentre outras pautas.

Já para os republicanos, a cultura “woke” é vista como uma ameaça aos valores tradicionais, sendo associada à censura e ao controle social. Donald Trump e outros líderes republicanos têm feito do combate ao “wokeísmo” uma das principais pautas de suas campanhas, considerando-o uma forma de “extremismo da esquerda” que coloca em risco a liberdade de expressão e o estilo de vida tradicional americano.

Em 2020, um dos eixos centrais da campanha de Donald Trump foi combater os “woke lefties”, ou seja, “esquerdistas despertos”, que, segundo o então candidato, estariam praticando “fascismo da extrema esquerda”. Já na visão dos democratas, o autoritário seria Trump, sobretudo devido a invasão do Capitólio, a quem atribuem a responsabilidade.

Em 2021, o governador da Flórida, Ron DeSantis (Partido Republicano), propôs uma lei chamada Stop-Woke (na tradução, “Parem os woke”). A lei regulamentaria o conteúdo sobre raça e gênero que poderia ser apresentado nas escolas da Flórida.

Por outro lado, alguns democratas nomearam essa disputa de “wokeísmo” e alegaram que isto estaria prejudicando seu partido, e que estaria fortalecendo os ataques dos republicanos.

Veja também nosso vídeo sobre a história de Donald Trump!

Cultura woke e eleições dos EUA

Durante a campanha das eleições legislativas americanas de 2022, conhecidas como eleições de meio de mandato, muitos partidários de Trump alertavam sobre os supostos perigos do “wokeísmo” democrata:

“Você pode perder o seu trabalho. Pode ser rejeitado na arena pública americana nas redes sociais. Pode ser perseguido na rua. Podem atirar coisas em você. Você pode ser agredido fisicamente (como ocorreu ao escritor) Salman Rushdie. Pode ser apunhalado na garganta se eles não concordarem com você”, afirmou a comentarista política Tammy Bruce na rede de TV Fox News.

Em sua defesa, os democratas destacaram que se tratava de uma retórica alarmista em busca de votos:

“A cada eleição, (os republicanos) inventam um novo bicho-papão, em vez de tentar resolver problemas e melhorar a vida das pessoas”, criticou o democrata Charlie Crist, à rede CBS News.

As eleições de 2024 nos Estados Unidos intensificaram a disputa em torno da cultura “woke”. A polarização em torno da cultura woke tornou-se, assim, um reflexo do estado atual da política americana, onde cada lado acusa o outro de ser uma ameaça aos valores fundamentais do país​.

Veja também: Eleições dos EUA: sistema eleitoral, apuração de votos e Colégio Eleitoral 

Donald Trump, em sua campanha, reforçou a oposição a essas pautas, prometendo combater o “wokeísmo” em diversas frentes, inclusive na área militar. Ele alegava que a cultura woke ameaça a democracia e que representa uma forma de “totalitarismo” da esquerda. 

Já o Partido Democrata, com Kamala Harris como candidata, defendeu a importância de políticas inclusivas e de justiça social. 

E aí, entendeu o que é a cultura woke? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

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Conteúdo escrito por:
Faço parte da equipe de conteúdo da Politize!. Cientista social pela UFRRJ, pesquisadora na área de Pensamento Social Brasileiro, carioca e apaixonada pelo carnaval.
Henrique, Layane. “Woke”: o que significa o termo que marcou as eleições dos EUA?. Politize!, 19 de novembro, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/cultura-woke/.
Acesso em: 20 de nov, 2024.

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