Os debates entre candidatos no processo eleitoral são tradicionais na história política do Brasil, mas, em 2020, ano de eleições municipais, eles foram cancelados por algumas emissoras em várias cidades do país, pode-se citar como exemplo as capitais São Paulo, Salvador e Belo Horizonte.
As emissoras de televisão, rádio e veículos na internet, costumeiramente, promovem os debates, que, juntamente do horário eleitoral, são considerados uma das mais relevantes oportunidades de divulgação da campanha. Mas por que os debates são importantes? O que os eleitores podem extrair nessa ocasião? E como as redes sociais impactam a dinâmica do processo eleitoral?
A importância dos debates
Nos debates, os candidatos possuem mais tempo para expor suas ideias, opiniões e propostas, além de poderem contestar os argumentos dos concorrentes. Essa dinâmica propicia ao eleitor uma oportunidade ótima para comparar os posicionamentos dos candidatos e formar uma opinião mais assertiva sobre qual deles tem um posicionamento mais congruente com aquilo que é prioritário para ele.
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Além disso, no decorrer dos debates, há perguntas sobre temas pré-definidos ou escolhidos livremente, o que possibilita aos eleitores conhecer os candidatos para além de um roteiro preparado para apresentar nas propagandas ou comícios. Ainda, é possível assim ver qual é a capacidade dos candidatos de lidar com a pressão e esclarecer pontos polêmicos.
Por outro lado, há eleitores que não consideram os debates tão decisivos para a escolha do voto. Afinal, em muitos momentos, os debates são utilizados para a troca de acusações entre os candidatos ao invés de apresentação de projetos de governo. Nesse contexto, o histórico do candidato é que seria utilizado como um fator determinante.
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Cancelamento de debates
E qual a justificativa para o cancelamento dos debates? Bem, um dos entraves no período de campanha do primeiro turno é a regra eleitoral e o número alto de candidatos.
A legislação determina que deve ter participação assegurada todos os candidatos cujos partidos têm elegido ao menos cinco representantes na Câmara dos Deputados. Essa obrigação faz com que em vários municípios a quantidade de participantes seja grande, deixando o modelo engessado pela limitação de tempo para cada candidato.
Expansão da influência das redes sociais na política
O contexto de pandemia deu ainda mais força para as redes sociais ao ter diminuído as possibilidades de eventos nas ruas. Além disso, deve-se considerar que, hoje, as pessoas se relacionam mais com o celular do que com a TV aberta. Nessa perspectiva, o mundo digital ganhou muito mais tempo e recurso nas campanhas, sendo esse fenômeno global.
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Desde a eleição de 2014, as campanhas políticas, de fato, são realizadas também nas redes sociais por candidatos, eleitores e militâncias. Tal cenário é uma exigência da sociedade digital atual com suas infinitas possibilidades de interação.
Para saber mais… existe um limite para o que falamos nas redes sociais?
A revista Tema se propôs a discutir a questão “redes sociais e eleições” e o impacto desse fenômeno no comportamento da população cibernética durante o processo eleitoral de 2014. Nesse estudo foram catalogados dados que demonstram o crescimento da utilização das redes sociais e o consumo de conteúdo sobre eleições por esses meios. Vejamos:
Diante disso, não é novidade que a internet tem grande poder de persuasão na vida da sociedade, sendo as eleições presidenciais de 2018 o caso mais emblemático dessa realidade. Jair Bolsonaro venceu as eleições após atingir grande número de seguidores durante a campanha presidencial e se negar a comparecer a muitos debates transmitidos em rede nacional. Até então, isso nunca havia ocorrido, já que a televisão sempre representou o principal veículo de propaganda e eleitoral de divulgação.
Nesse contexto, muitos candidatos têm dedicado parte de seus dias em manter contato direto com milhões de eleitores através da internet e essa tem sido a grande ferramenta em muitas campanhas eleitorais.
O impacto das redes sociais na democracia
A disseminação da utilização das redes sociais no processo eleitoral coincide com a ideia de Bernard Manin da “democracia de plateia” em relação à “democracia de partidos“. Isso porque, de acordo com o autor, pode ser visto uma diluição do poder dos líderes partidários – com sua máquina burocrática e seus aparatos de mídia propagandística – juntamente, com uma tendência de crescimento do vínculo do eleitor diretamente com o representante, ou melhor , com a imagem pessoal divulgada dele.
Isso quer dizer que as redes sociais transformam-se no principal fórum das discussões públicas em detrimento das instituições formais, tal como o Parlamento. Nesse processo, os candidatos passam a se relacionar com os seus eleitores por intermédio dos meios de comunicação digital e não mais pelos partidos. Assim, como considera Manin, existe uma tendência de diminuição da influência dos partidos como instância de mediação entre a sociedade e o poder político.
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Ainda, deve-se ter em mente que a ausência dos debates e a transformação do meio digital como o principal espaço de divulgação das propostas de campanha podem ter impactos diferentes nos candidatos. Afinal, ao mesmo tempo que esse destaque das redes sociais no processo político pode favorecer os candidatos mais conhecidos, ele pode também dificultar a inserção dos menos conhecidos, pois eles têm poucas chances de serem vistos e de conquistarem mais apoiadores.
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REFERÊNCIAS
Câmara dos Deputados: cancelamentos de debates entre candidatos
Huffpost Brasil: debates cancelados
SERPRO: eleições e redes sociais
Jus: redes sociais e a influência nas campanhas eleitorais
Mídia e política na teoria da “democracia de plateia” de Bernard Manin
Leonardo Avritzer: Impasses da Democracia no Brasil
Steven Levitsky; Daniel Ziblatt: Como as democracias morrem
Vitor Curvelo Fontes Bélem; Carla Costa Farias; Rebeca Andrade Avelar: Redes sociais e eleições municipais: um estudo sobre a campanha no Facebook do candidato Assis Ramos em Imperatriz-MA