E se a gente te contasse que um dos partidos com maior destaque eleitoral no Brasil possui princípios e valores ligados à filosofia da democracia cristã?
Coincidentemente, o nome deste partido é Democracia Cristã (DC), cuja história se inicia logo após o fim do Estado Novo. A legenda já passou por processos de extinção, renomeação, conflitos e coleciona grande número de candidatos eleitos.
Acompanhe a história do Democracia Cristã, o partido que adicionou o nome de Deus na Constituição Federal de 1988.
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Origem do partido Democracia Cristã (DC)
O Democracia Cristã, cujo número eleitoral é 27, foi fundado em 1995, porém obteve o registro apenas em 1997, adotando o nome Partido Social Democrata Cristão (PSDC). Somente em 2017, o partido adotou o nome atual, sendo oficializado pelo TSE em 2018.
Para entender a origem desse partido, é necessário voltar uns anos na história. Vamos falar sobre a Segunda Guerra Mundial. Qual a ligação do Democracia Cristã com este evento histórico?
Segundo o próprio site do partido, a Democracia Cristã se expandiu no Brasil seguindo o exemplo da Europa. Isso porque, esta filosofia já estava presente no continente desde o século XIX, baseando-se nos princípios da dignidade humana, ou seja, colocando o indivíduo como elemento central do processo político-social, destacando a solidariedade e os valores de justiça e liberdade.
Os principais pensadores responsáveis por propagar a Democracia Cristã no século XX foram: Jacques Maritain, Emmanuel Moriner, Étienne Gilson e Louis-Joseph Lebret.
A partir desta filosofia, Alcide de Gasperi fundou o Partido Democrata Cristão (PDC) na Itália, em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, formando uma das principais resistências ao nazismo europeu.
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No Brasil, em 1945, Cesarino Júnior, professor de Direito da USP, foi um dos fundadores do Partido Democrata Cristão (PDC), na cidade de São Paulo (SP). A partir desse novo partido, políticos como Jânio Quadros, Franco Montoro, José Richa e Nelson Marchezan ingressaram na vida pública.
Sua história tem uma pausa de alguns anos, pois durante a Ditadura Militar e o Ato Institucional 2, o partido foi extinto. Entretanto, foi refundado 20 anos depois, em 1985, a partir da reabertura política e a volta da democracia ao país.
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Antes do PDC tornar-se DC, em 1993 fundou-se com o Partido Democrático Social (PDS), porém esta fusão não foi bem aceita pela base do partido. Foi então que, em 1995, liderado pelo então deputado federal constituinte, José Maria Eymael, que o Partido Social Democrata Cristão (PSDC) foi fundado, acrescentando o “S” à antiga sigla a fim de enfatizar o compromisso com a justiça social e solidariedade.
Mudança de nome: de PSDC para DC
A mudança de nome do partido ocorreu em 2017, no contexto da crise político-econômica de 2014, pois a organização pretendia obter melhores resultados nas eleições seguintes.
A troca de nome foi uma estratégia adotada por diversos partidos na época, visando desassociar-se dos escândalos de corrupção e proteger suas imagens perante os eleitores.
É possível associar esta medida ao desgaste da classe política tradicional brasileira, levando a diversos rebatismos e criação de novas siglas partidárias que inauguraram nas eleições de 2018. Alguns exemplos de partidos que mudaram de nome foram:
- PTN, tornou-se Podemos;
- PTdoB, tornou-se Avante;
- PEN, tornou-se Patriota;
- PP, tornou-se Progressistas;
- PMDB, tornou-se MDB;
- Dentre outros.
Feito isso, em 2018, Eymael, presidente do partido, oficializou sua candidatura à presidência do Brasil, sendo a sua quinta disputa para o cargo. O saldo eleitoral de sua candidatura foi de 41.710 votos (0,04% das intenções de voto), sendo a sua menor votação desde o seu primeiro lançamento como candidato, em 1998.
Bandeiras políticas
O Democracia Cristã é um partido de centro-direita, de orientação democrata cristã e tem como principal bandeira política, a defesa da liberdade, justiça social e solidariedade. Segundo o seu programa político, repudia tanto o capitalismo selvagem, que não promove a justiça, quanto o marxismo que retira a liberdade dos indivíduos.
Portanto, o partido defende a filosofia da democracia cristã, que promove os valores da justiça sem destruir a liberdade, através da prática da solidariedade. Além disso, acreditam que o cidadão deva estar no centro do processo político, social e econômico, dessa forma, o Estado deve estar a serviço da sociedade, não o contrário.
O Democracia Cristã também acredita que, para a existência da sociedade ideal e plenamente democrática, deve haver uma efetiva igualdade de oportunidades e iguais condições de desenvolvimento. Da mesma forma, a dignidade é um direito inalienável da pessoa humana e, por isso, deve ser assegurado a todos o direito à moradia, à saúde, à educação, ao trabalho com remuneração justa, à segurança e à liberdade responsável de expressão.
O partido defende os valores cristão e, nesse sentido, durante a Assembleia Nacional Constituinte, no processo de redemocratização do país, o Democracia Cristã defendeu a permanência do nome de Deus no preâmbulo da Constituição Federal de 1988.
Ainda nesse contexto, algumas das propostas defendidas pelo partido foram:
- A valorização da família;
- O apoio às micro, pequenas e médias empresas;
- O apoio à educação, à cultura e à defesa do meio ambiente;
- O combate a toda e qualquer forma de corrupção ou abuso, no trato da coisa pública.
Desempenho eleitoral do DC
Vamos fazer um breve histórico do desempenho do DC nas eleições desde a redemocratização do Brasil.
Vamos começar por 1986, ano em que o Democracia Cristã elegeu cinco deputados federais constituintes, incluindo José Maria Eymael, o presidente do partido. Foram mais de 72 mil votos distribuídos pelo estado de São Paulo.
Nas eleições de 1990, o PDC cresceu consideravelmente, elegendo 22 deputados federais, dois senadores (um por Amazonas e outro por Maranhão), passando a ocupar quatro cadeiras no Senado (já tinham um senador pelo Espírito Santo e outro por Goiás).
Outra eleição de destaque foi as eleições de 1992, quando foram eleitos 211 prefeitos e centenas de vereadores em diversas cidades do país.
Devido ao seu desempenho até este momento, em 1993, apenas oito anos após o seu ressurgimento, o PDC já era considerado uma das principais forças políticas do país.
Em 1998, após mudar o nome para PSDC, o deputado federal constituinte, José Maria Eymael, concorreu ao cargo de presidente da República pela sigla. O destaque de sua campanha foi ter sido o único candidato ao cargo a visitar todos os estados brasileiros, sem exceção.
Outro notável crescimento foi nas eleições municipais de 2000, quando a legenda elegeu uma bancada de vereadores quatro vezes maior em relação às eleições municipais de 1996.
Os anos 2000, foi o período em que a legenda alcançou a imagem de um partido nacional e independente em todo o país. Destaque para as eleições municipais de 2012, quando o PSDC elegeu 457 vereadores em 11 capitais brasileiras, alcançando um total de um milhão e seiscentos mil votos.
Já nas eleições de 2020, o partido elegeu apenas uma prefeitura (em Bom Município, no Piauí) e 123 vereadores pelo país.
Conclusão
Como vimos ao longo do texto, o DC enfrentou alguns desafios ao longo da história, porém continua a ser um partido de destaque na política brasileira. Uma característica marcante no partido é a sua fidelidade aos seus princípios fundamentais desde a época de sua fundação, orientando a sua construção política.
O Democracia Cristã é um partido que tanto no passado, quanto no futuro, buscou reinventar-se e compreender as novas demandas da sociedade para os representantes políticos.
E aí, conseguiu entender um pouco mais sobre o partido Democracia Cristã? Deixe sua opinião nos comentários!
1 comentário em “Democracia Cristã (DC): o partido que escreveu Deus na Constituição”
Na verdade não foi Deus que estes partidos colocaram na política , foi a podridão fétida de usar o nome de Deus para proteger os crimes perpetrados por seguidores de certas “religiões”. Deus certamente não está em NENHUMA DESSAS CHAPAS, OU IGREJAS DISVARÇADAS DE PARTIDOS POLITICOS.