A democracia existe de diversas maneiras. As novas tecnologias, o poder de catarse da internet e o descontentamento com modelos antigos de fazer política levou várias pessoas ao redor do mundo a repensar a democracia nos moldes de vida e da sociedade do século XXI. É disso que se trata a democracia líquida.
DEMOCRACIA LÍQUIDA: MEIO TERMO ENTRE DEMOCRACIA DIRETA E REPRESENTATIVA
Para entender o que é a democracia líquida, precisamos entender os conceitos básicos de democracia direta e de democracia representativa.
Democracia direta: uma inspiração à democracia líquida
A democracia direta foi criada na Grécia Antiga, na qual não havia representantes e cada cidadão participava diretamente da política. A administração feita pela própria população permitia maior controle de votos e responsabilização dos cidadãos, que tinham o dever de estudar razoavelmente os temas a fim de tomar decisões, já que cada voto poderia alterar a direção de alguma política pública.
Tornou-se inviável a democracia direta nos moldes gregos por conta da complexidade das sociedades contemporâneas e dos problemas decorrentes disso, como o grande contingente populacional e a impossibilidade de reunir de forma razoável todos os habitantes de um país num mesmo espaço físico para votações diversas.
Democracia representativa: último recurso?
A saída foi adotar um modelo alternativo e que permitisse que a população ainda tivesse algum poder decisório. É o modelo representativo, em que a população se manifesta através do voto. Trata-se da forma mais disseminada de democracia hoje. De acordo com os idealizadores da democracia líquida, o modelo representativo retira a possibilidade de contribuição de grande parte da sociedade e faz com que o cidadão delegue toda a sua responsabilidade cívica à pessoa que ele elegerá.
Para entender mais sobre as diferenças entre os modelos, acesse nossos posts sobre democracia direta e democracia representativa!
DEMOCRACIA LÍQUIDA: VAMOS ENTENDER ESSE CONCEITO?
Com a transformação da democracia direta, na antiguidade, em representativa, hoje, passou-se de uma forma cidadã de fazer política, de participar e construir coletivamente políticas públicas, para uma quase completa delegação desse poder em fazer política. O sistema eleitoral nos faz ter de confiar quase que plenamente nos nossos representantes, já que eles tomam decisões em nosso nome. Isso não agrada a todos, o que pode ser visto pelo número alto de votos brancos e nulos nas eleições brasileiras. E quem não se sente 100% representado por uma opinião ou lei apresentada pelo político que elegeu?
Os defensores da democracia líquida criaram uma alternativa para isso. A democracia líquida seria um meio termo entre a democracia direta e a representativa, que busca aliar o melhor das duas.
COMO FUNCIONARIA A DEMOCRACIA LÍQUIDA?
O conceito de democracia líquida resgata a maneira cidadã de fazer política, trazendo os problemas sociais e discutindo-os junto à população. Mas isso não seria feito por meio de audiências públicas ou consultas populares, mas por meio da internet – mais especificamente, de um website. A fim de retomar o protagonismo dos cidadãos na tomada de decisões e de tirar a ideia de que o voto é o depósito total de confiança em um político profissional, existiria uma plataforma online em que todos os cidadãos poderiam discutir, opinar e votar em projetos de lei, por exemplo.
Mas, nessa plataforma há também a opção de escolher alguém em que você confia para tomar certa decisão por você. Ou seja, em vez de sempre ser o político profissional que você elegeu agindo em seu nome, pode ser você mesmo ou qualquer outra pessoa a fazer isso.
Por exemplo: no caso de uma proposta de lei que tenha a ver com o meio ambiente e você tem um professor de biologia que tem muito conhecimento de causa ou um amigo biólogo que saiba mais do que você; você pode delegar seu voto para essa pessoa nesse assunto. Quando aquela pessoa for votar, votará por duas. Você também pode retomar seu voto quando julgar necessário.
E a conversa sobre democracia também continua em nosso Instagram!
Confira nosso vídeo com 4 pontos para entender a democracia brasileira!
Democracia líquida no Google
O Google Votes foi uma iniciativa, apresentada pelo engenheiro Steve Hardt, em que foi testado o modelo da democracia líquida dentro da própria empresa. Os funcionários fizeram fóruns de discussão e votação sobre questões relativas à empresa, como a reforma de ambientes, o local em que a máquina de café iria ficar, entre outros.
Para assistir ao vídeo de Steve Hardt explicando o Google Votes, acesse este link!
Hardt utiliza uma metáfora para explicar a democracia líquida: você tem cabos de internet e grandes torres de energia. Os dois transmitem algo que você não pode levar de um ponto a outro. O cabo de internet é a ferramenta que leva informação, os cabos de luz levam energia – o “poder”. A analogia é feita com as redes sociais e a cidadania: com as redes sociais, há proliferação de informação, assim como o cabo de internet. O argumento de Hardt é que para além de disseminação de informação, as redes sociais podem também ser a ferramenta de empoderamento dos cidadãos e levar a “energia” a eles.
DEMOCRACIA LÍQUIDA NO BRASIL: A “LIQUECRACIA”
Em vários lugares do mundo, outras formas de democracia vêm sendo discutidas, assim como a validade dos sistemas eleitorais e como a democracia poderia se adaptar à Era da Internet e da Informação. Mas não pense que o Brasil ficou de fora: um grupo criou um projeto chamado Liquecracia em maio de 2017.
Este grupo chegou à conclusão de que é bastante difícil impor mudanças aos sistemas e mecanismos que regem, principalmente, as propostas de lei, as votações e representações parlamentares no país. Por isso, o Liquecracia tem dois pilares na sua proposta: o partido e a plataforma.
O partido político Liquecracia
Os fundadores e membros do Liquecracia pretendem formar um partido político próprio para levar a ideia da democracia líquida às cúpulas de decisão. O partido Liquecracia, de acordo com seus membros, “…assim como qualquer político que venha a ser eleito por ele, tem o único papel de representar a opinião das pessoas dentro do sistema democrático brasileiro.”
Dessa forma, convocam por meio de seu site pessoas que estejam interessadas em contribuir com o projeto ou mesmo que se interessem em saber mais sobre a democracia líquida ou o próprio Liquecracia.
Dê uma olhada nas propostas do Liquecracia aqui!
A plataforma de democracia líquida do Liquecracia
Como a ideia principal do Liquecracia é buscar a implementação da democracia líquida no país, os membros estão desenvolvendo uma plataforma digital que seja confiável para aplicar o debate, o poder de decisão, votação ou mesmo a escolha de uma pessoa delegar seu voto a outra.
Com a plataforma, seria possível: 1) votar quando quisermos em qualquer questão que nos interesse; 2) delegar nosso voto a alguém de confiança e mudar quando quiser, não apenas de 4 em 4 anos; 3) discutir sobre qualquer tema e propor mudanças sempre que achar necessário, sem ter que implorar ajuda a um político.
Assista a este vídeo dos membros do Liquecracia, em que explicam tudo sobre o projeto!
Como afirmam no próprio projeto, o grupo do Liquecracia busca a experimentação para chegar ao melhor tipo de democracia. Sobre a democracia líquida, observam que buscam sempre melhorar e se desenvolver melhor. “Tem como filosofia buscar sempre estar melhorando. Isso quer dizer que continuará a se desenvolver e melhorar, sendo observada de perto por todos, e continuará se reformulando e evoluindo para que atenda cada vez mais os anseios da maioria, buscando alternativas às minorias e evitando corrupções e vícios.”
O que você pensa da nossa democracia e de seu futuro? Acredita que a democracia líquida poderia ser uma alternativa? Compartilhe sua opinião conosco nos comentários!
Referências:
- Democracialíquida.org
- Elon Musk – pro-anarquist
- Estadão – Democracia líquida
- Liquecracia – Democracia Líquida
- TED talk – Pia Mancini: Como atualizar a democracia para a era da internet
- Why Maps – Democracia líquida
- Wikipedia – Democracia líquida