Diariamente convivemos com uma enorme quantidade de informação, entre elas um tipo específico conhecido como desinformação. Apesar deste termo estar por todos os lados, será que você sabe mesmo o que ele significa?
Na chamada era da informação, esses conteúdos são produzidos das mais diversas formas e, consequentemente, com os mais diferentes níveis de veracidade. Por isso, desvendar o que eles são e seus impactos não têm sido uma tarefa muito fácil. Neste artigo vamos abordar sobre o fenômeno da desinformação e qual o efeito dele para nossa sociedade.
Um mar de informação em velocidade máxima
Em primeiro lugar, é importante compreender que a desinformação é mais do que uma definição sobre um tipo de conteúdo. Ou seja, estamos falando sobre um fenômeno, um acontecimento complexo e com muitos aspectos envolvidos.
Em 2020, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a infodemia, uma grande parcela desse acúmulo de informações tratava-se de informações verdadeiras, mas usadas de maneira estratégica para induzir ao erro.
Onde a fake news encontra a desinformação?
Nos últimos anos, se popularizou o termo “fake news” para designar notícias falsas. No entanto, o uso das palavras no inglês, em tradução literal, leva ao equívoco de que tais conteúdos são totalmente impostores ou criados.
Todavia, a complexidade do problema se mostrou ainda maior. Atualmente, autores enfrentam a dificuldade de trazer uma definição mais abrangente aos tipos de conteúdos nocivos.
Encontrar uma taxonomia, uma definição categórica, tem sido um desafio e autores como Claire Wardle e Hossein Derakhshan apontam que fake news já está defasado. Eles preferem usar o conceito “desordem informacional”, onde cabem três tipos de informação: disinformation (desinformação), misinformation e mal-information (informação com má intenção).
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Disinformation ou desinformação: informação mentirosa e intencionalmente nociva
A desinformação refere-se à disseminação deliberada de informações falsas ou enganosas com o objetivo de enganar, ou manipular o público. Esta prática é intencional e visa provocar confusão, influenciar comportamentos e opiniões, ou obter vantagens políticas, ou econômicas.
Misinformation: informação errada e sem a intenção de causar dano
A misinformation é a divulgação de informações incorretas sem a intenção de enganar. Geralmente ocorre quando alguém compartilha algo que acredita ser verdadeiro, mas que, na verdade é falso. A misinformation é disseminada por pessoas que não sabem que estão passando adiante informações falsas.
Malinformation ou má informação: informação verdadeira distribuída com má intenção
Má informação é a distribuição de informações verdadeiras, mas apresentadas de uma forma que intencionalmente prejudica ou causa danos. A malinformation pode incluir a exposição de informações privadas ou sensíveis, usadas para atacar ou descredibilizar alguém.
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Desordem informacional: 7 tipos de informação para ficar de olho
Dentro dessas três grandes categorias de desordem de informação, existem sete tipos mais frequentes de informações que são distribuídas nessa teoria em uma escala de nocividade.
Aqui vamos apresentá-las em uma gradação onde a sátira é a menos nociva e o conteúdo fabricado o mais nocivo. Dessa forma, é possível entender um pouco mais sobre a complexidade desse ecossistema informacional.
1. Sátira ou paródia
Conteúdo criado para ser humorístico ou satírico, mas que pode ser interpretado como factual por pessoas que não reconhecem o contexto humorístico. Isso pode levar à disseminação involuntária de informações falsas.
2. Conexão falsa
Quando uma manchete, imagem ou legenda não corresponde ao conteúdo real da matéria. Isso inclui clickbaits que atraem leitores com títulos sensacionalistas, mas irrelevantes ao texto.
3. Conteúdo enganoso
Informações que utilizam dados verdadeiros de maneira enganosa para moldar uma narrativa específica. Por exemplo, estatísticas apresentadas sem contexto ou de forma parcial para apoiar um argumento tendencioso.
4. Contexto falso
Informações verdadeiras apresentadas fora do seu contexto original, o que altera seu significado. Um exemplo seria uma foto de um evento antigo sendo compartilhada como se fosse recente para enganar as pessoas.
5. Conteúdo impostor
Fontes de informações que fingem ser outra pessoa ou organização para enganar o público. Isso inclui sites que se passam por fontes de notícias legítimas ou perfis falsos nas redes sociais.
6. Conteúdo manipulado
Imagens, vídeos ou áudios que foram alterados ou editados para transmitir uma mensagem falsa ou enganosa. Exemplos incluem deepfakes ou fotos editadas para distorcer a realidade.
7. Conteúdo fabricado
Informações totalmente inventadas, criadas para enganar e confundir o público. Essas informações não têm base na realidade e são projetadas para parecerem notícias reais.
A esfera pública digital
A ascensão da desinformação é uma das consequências mais marcantes da era digital. Ela reflete profundas mudanças na forma como a sociedade se organiza, comunica e interage.
Com a popularização da internet, principalmente por meio dos smartphones, a população global transformou por completo seu comportamento. No Brasil, onde 84% da população têm acesso à internet, isso significa muita coisa, visto que somos mais de 215 milhões de habitantes.
No entanto, essa esfera pública digital ainda é composta e manipulada por outros atores que contribuem para catalisar o fenômeno da desinformação. São os chamados “bots sociais”, perfis automatizados que se comportam como usuários. Pesquisas acadêmicas de escuta das redes apontam que a desinformação já atua como um sistema lucrativo.
Muito além do tio do zap
Sendo assim, a desinformação não é um mero conteúdo compartilhado de forma equivocada, mas um plano de mobilização da opinião pública nas redes sociais.
Apelando para o uso do anonimato, indivíduos ou grupos podem espalhar informações falsas sem medo de represálias, ou consequências legais. Esse anonimato cria um ambiente propício para a manipulação da opinião pública e a polarização social.
A natureza viral das redes sociais permite que a desinformação se espalhe rapidamente. Informações falsas ou sensacionalistas tendem a ser mais compartilhadas do que notícias verificadas, devido à sua capacidade de gerar reações emocionais fortes, como medo, raiva ou surpresa.
Desinformação, redes sociais e plataformas digitais: o futuro da internet
Debater as complexidades da internet requer uma série de conceitos e aprendizados. É um assunto com muitas camadas e espaços de reflexão. Precisamos entender o que estudiosos chamam de plataformização da vida, o impacto do monopólio das Big Techs, os algoritmos, e a mais recente ferramenta pop, a inteligência artificial.
Por isso, hoje nosso assunto acaba por aqui, mas caso você tenha alguma dúvida, deixe um comentário e explore mais sobre o tema em nosso site!
Referências:
- Firs Draft – Information disorder: ‘The techniques we saw in 2016 have evolved’
- O Globo – Conselhos tutelares: eleições cresceram, mas presença conservadora ainda é desafio
- Politize! – Redes Sociais e Fake News: como a combinação impacta a sociedade?
- Politize! – Notícias falsas e pós-verdade: o mundo das fake news e da (des)informação
- CNN – Cerca de 84% dos lares brasileiros têm acesso à internet, diz pesquisa