Você já parou para pensar qual é o destino do lixo produzido por países subdesenvolvidos, como o nosso (cujo desenvolvimento ainda é emergente), e daqueles amplamente industrializados, considerados desenvolvidos socioeconomicamente?
Explicaremos neste post quais são os países que recebem os resíduos de outras nações e por que isso ocorre, sendo considerado um grande desafio ambiental.
Origem e destino do lixo do planeta
Na sociedade em que vivemos, há a percepção de que os resíduos produzidos diariamente por cada cidadão somem para sempre após serem descartados e recolhidos por uma empresa de coleta seletiva ou domiciliar (daqueles que gozam plenamente o direito de saneamento básico).
Entretanto, essa noção limita-se somente a distância do nosso campo de visão, pois o lixo é retirado de nossas casas, mas não de nosso planeta.
Inevitavelmente, ele terá seu destino: em lixões e aterros de países subdesenvolvidos, os quais recebem – muitas vezes ilegalmente – diversas toneladas de lixo todos os anos sob a justificativa da reciclagem.
Isso se deve ao fato de que para empresas de países desenvolvidos, como o Reino Unido, Estados Unidos e Japão, é mais barato enviar lixo tóxico para outro país do que investir em uma infraestrutura própria – usinas para reciclar plástico, por exemplo – que atenda às exigências ambientais.
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Por que países subdesenvolvidos recebem lixo dos países ricos?
Embora os países ricos representem somente 16% da população mundial, eles produzem mais de um terço (34%) dos resíduos do planeta. O leste asiático e a região do Pacífico são responsáveis por quase um quarto (23%) do total de resíduos, aponta o Banco Mundial.
Sendo assim, o mercado internacional do lixo surgiu da necessidade de depositar, em algum local, a imensa quantidade de lixo produzido pelos países ricos, bem como da demanda, pelo setor industrial, por materiais recicláveis.
Toneladas de lixo no mundo
Partindo dessa premissa, dados de 2023 do Banco Mundial apontam que, todos os anos, são produzidos no mundo todo cerca de dois bilhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos.
Esse fato provém do desenfreado consumo humano de materiais sólidos, principalmente de produtos eletrônicos, considerados obsoletos precocemente, necessitando de melhorias e avanços modernos.
Com inovações criadas pela indústria eletrônica a fim de manter o mercado competitivo, gera-se uma grande quantidade de produtos descartados inadequadamente em lixões ou em indústrias não regulamentadas de reciclagem desse material.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, alertou que o lixo eletrônico descartado pela indústria do setor ameaça a saúde humana e a natureza.
Apesar do comércio do lixo tóxico (que compreende todo tipo de material descartado que traz riscos à saúde humana e ao meio ambiente) ser regulado fortemente em muitos países, em outros, as leis são mais frágeis.
E é aí que se infiltram as máfias: elas agem globalmente, ganhando dinheiro com atividades ilícitas que incluem o transporte e o descarte de lixo tóxico.
Um dos obstáculos para conter o contrabando é o aumento desenfreado da produção de lixo nas sociedades modernas. Há quem defenda a ideia de que cada país deve armazenar o seu próprio lixo.
Outros alegam que, em uma economia globalizada, é inevitável a livre circulação de mercadorias, inclusive de dejetos, desde que devidamente regulamentada.
Importação do lixo no Brasil
Poucas pessoas sabem, mas o Brasil compra lixo, de forma lícita, para abastecer a indústria nacional. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o índice de reciclagem no Brasil é de apenas 4%.
A falta de reciclagem adequada do lixo gera uma perda econômica significativa para o país. Uma pesquisa feita pela Abrelpe, em 2019, mostrou que somente os recicláveis que vão para lixões levam a uma perda de R$ 14 bilhões anualmente.
Enquanto isso, a indústria precisa de matéria-prima para produzir papel, roupas e embalagens. Sendo assim, a solução é importar.
De acordo com o Banco Mundial, o gerenciamento de resíduos pode ser o item orçamentário mais alto para muitas administrações locais em países de baixa renda, onde compreende quase 20% dos orçamentos municipais, em média.
Além disso, os impactos da má gestão de resíduos são terríveis e caem desproporcionalmente sobre a população mais pobre, que muitas vezes não são atendidos ou têm pouca influência sobre os resíduos que estão sendo descartados formal ou informalmente perto de suas casas.
Consequências ambientais
Apesar de saber que o plástico é derivado do petróleo, um recurso natural não renovável, ele ainda é descartado deliberadamente por boa parte da população.
Por ser considerado somente lixo, faz com que não seja reciclado (assim como outros resíduos que também não são, como alumínio, papel, etc.) e reaproveitado, resultando na poluição ambiental, como a contaminação da água, solo e ar.
Na água, os fatores naturais, como a filtração do mercúrio presente na crosta terrestre, podem contaminar os oceanos, rios, lagos, canais e barragens.
Porém, é mais habitual que a deterioração da água proceda de atividades humanas e de suas consequências, como: aquecimento global; desmatamento; atividades industriais, agrícolas e pecuárias; lixos e efluentes de águas fecais; derramamentos de combustível.
A contaminação do solo é causada pela presença de produtos químicos xenobióticos (estranhos ao organismo humano) ou outras alterações no ambiente natural do solo. É tipicamente causada por atividade industrial, produtos químicos agrícolas ou descarte inadequado de resíduos.
As principais causas da poluição de solos são: contaminação industrial; desmatamento; uso excessivo de fertilizantes e pesticidas; poluição do lixo.
O ar é considerado poluído quando há presença de contaminantes ou de substâncias poluidoras na sua composição, sejam eles gases, materiais particulados e compostos orgânicos voláteis (JACOBSON, 2010), que interfiram na saúde e no bem-estar humano, ou ainda causem efeitos danosos ao meio ambiente.
As principais causas da poluição do ar são: contaminação natural (poeira do deserto, sal marinho e emissões de enxofre vulcânicos e orgânicos libertados pela vegetação); contaminação industrial; transportes terrestres; utilização de energia residencial e comercial; produção de energia; incêndios florestais tropicais e desmatamento; agricultura.
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O que está sendo feito para mudar essa situação?
A fim de impedir os avanços maléficos produzidos pela poluição – como o acúmulo de lixo em depósitos dos países pobres –, foi promulgada, em 1992, a Convenção da Basileia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito, a qual visa proteger a saúde da população mundial, assim como o meio ambiente, frente aos efeitos prejudiciais dos resíduos perigosos.
A Convenção reconhece, ainda, o direito soberano de qualquer país para definir requisitos para a entrada e para a destinação, em seu território, de outros resíduos considerados ou definidos como perigosos em sua legislação nacional.
Em decorrência disso, a China, que era a maior importadora de lixo do mundo, vetou, em 2018, 24 tipos de resíduos sólidos, além de implementar um limite de contaminação de 0,5% para todas as outras importações de resíduos. Ainda no mesmo ano, os chineses proibiram a importação da maioria dos plásticos e outros materiais destinados aos processadores de reciclagem.
No começo de 2021, o governo chinês proibiu todas as importações de resíduos sólidos. A medida está alinhada com as políticas aplicadas para repressão à importação de resíduos estrangeiros.
Países como a Malásia que, após passarem a receber, de uma hora para outra, toneladas de lixo, tornou-se um dos maiores importadores de plástico do mundo. Mas o país não estava preparado para tal ocorrido.
Com isso, em regiões da cidade de Jenjarom surgiram muitas usinas de reciclagem ilegais que queimavam esse plástico clandestinamente. A fumaça que saía dessa queima – repleta de gases tóxicos – passou a envenenar os moradores da região. O problema é muito maior do que simplesmente realocar esse lixo.
Sabia que você, enquanto consumidor, pode contribuir para um consumo sustentável e preservar a nossa casa, a Terra? Se não sabe por onde começar, não tem problema! Nós, da Politize!, te ajudaremos.
Comece aos poucos: separe o lixo da sua casa, entre orgânicos e recicláveis, substitua as sacolas plásticas por sacolas ecológicas (sabia que está na moda entre os jovens?), evite mercadorias com muitas embalagens, e assim por diante.
E aí, conseguiu entender porque o destino do lixo é um grande desafio ambiental? Deixe sua opinião e dúvidas nos comentários!
REFERÊNCIAS:
- Uol – Importação de lixo – Destino dos dejetos é grande desafio ambiental
- Jornal da USP – Má gestão de resíduos sólidos transforma países em lixões do mundo
- Carta Capital – Importação clandestina de lixo vira problema nos portos brasileiros
- Ibama – Convenção de Basileia
- Agência Brasil – Índice de reciclagem no Brasil é de apenas 4%
- Uol – Produção de lixo no mundo pode aumentar 70% até 2050
- World Bank – Challenges to the Solid Waste Sector
- Lar Plásticos – Quais as consequências do consumo desenfreado?
- Verdades Sustentáteveis – A China não importará resíduos sólidos. Por que isso é importante?
- G1 – Três contêineres com lixo internacional são encontrados poe Ibama e Receita Federal no Porto de Santos, SP
- ONU News – Pnuma alerta que lixo eletrônico representa ameaça à saúde humana
- Iberdrola – A poluição da água: como não colocar em perigo a nossa fonte de vida
- AmbScience – Principais causas de solos contaminados
- INCA – Poluição do ar