Dólar: a moeda que molda a economia mundial

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Dólar: a moeda que molda a economia mundial

O dólar é a principal moeda usada para fazer transações comerciais no mundo. Isso significa que grande parte do que é comprado pelo Brasil, é comprado através de dólares. 

O dólar americano é muito mais do que a moeda oficial dos Estados Unidos, ele é uma peça-chave no funcionamento da economia global. Desde o comércio internacional até o cotidiano dos brasileiros, sua influência é sentida de diversas formas. 

Neste texto, explicamos o que torna o dólar tão importante, como ele afeta o Brasil e por que ele permanece no centro do sistema monetário internacional.

Acompanhe o texto para descobrir como o dólar se tornou a principal moeda do mundo, como ele é utilizado para transações e acordos comerciais, e quais são suas possíveis ameaças atualmente. Estaria o dólar perto de perder sua importância? Vamos te explicar tudo!

Por que o dólar é a moeda internacional?

A posição de destaque do dólar foi consolidada após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos emergiram como a principal potência econômica e militar. Em 1944, o Acordo de Bretton Woods estabeleceu o dólar como referência para outras moedas, garantindo sua conversibilidade em ouro. Essa decisão transformou o dólar no pilar do sistema financeiro global.

Mesmo após o fim do padrão-ouro, em 1971, o dólar manteve sua importância. Diversos fatores contribuíram para isso:

  • Confiança na economia dos EUA: a estabilidade econômica e política americana atrai investidores e governos;
  • Liquidez: a ampla aceitação do dólar facilita transações comerciais e financeiras em todo o mundo;
  • Precificação de commodities: produtos como petróleo, ouro e grãos são negociados em dólar, reforçando sua posição como moeda internacional.

Acordo de Bretton Woods

O Acordo de Bretton Woods, firmado em 1944, estabeleceu um novo sistema monetário global baseado no dólar norte-americano como a principal moeda de reserva, com a garantia de conversão em ouro. 

O objetivo era criar estabilidade econômica após a Segunda Guerra Mundial e evitar as políticas cambiais protecionistas que haviam contribuído para a Grande Depressão. As instituições criadas pelos Estados Unidos, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, visavam fornecer assistência financeira e promover o desenvolvimento global.

Segundo o IPEA, Bretton Woods ajudou a consolidar a prevalência do dólar, mas as limitações do sistema ficaram evidentes nas décadas seguintes, especialmente com as crises cambiais dos anos 1970, quando os EUA abandonaram a convertibilidade do dólar em ouro. 

O sistema também deixou de lado, países em desenvolvimento, que se viam à mercê das decisões das grandes potências. Com o fim do padrão ouro, o sistema de taxas de câmbio fixas foi substituído por uma era de flutuação cambial.

Imagem de dólares.
Imagem: Freepik.

O acordo visava a reconstrução econômica mundial, oferecendo garantias de estabilidade financeira e ampliando o comércio internacional. A criação do FMI e do Banco Mundial teve o propósito de financiar a reconstrução e garantir a estabilidade monetária entre os países, mas o sistema também foi visto como uma forma de dominância econômica dos EUA. 

Ao longo do tempo, no entanto, o sistema começou a falhar em atender às necessidades de um mundo globalizado.

Como o dólar afeta o Brasil?

A economia brasileira é profundamente influenciada pelo dólar, que impacta desde o comércio exterior até o custo de vida da população. O dólar é a principal moeda utilizada nas exportações e importações brasileiras. Produtos como soja, minério de ferro e carne são vendidos em dólar, e boa parte dos insumos industriais e tecnológicos importados também são pagos nessa moeda. 

Quando o dólar sobe, os exportadores brasileiros ganham competitividade, mas os custos de importação aumentam, o que pode gerar inflação. De acordo com uma análise publicada pela USP, as oscilações no preço do dólar são impulsionadas por uma série de fatores difíceis de prever, como mudanças nas taxas de juros internacionais, políticas monetárias dos Estados Unidos e a instabilidade econômica global, que podem criar um ambiente de incerteza e volatilidade.

O valor do dólar influencia diretamente os preços de bens e serviços no Brasil. Produtos importados, como eletrônicos, combustíveis e medicamentos, ficam mais caros quando o dólar sobe. Além disso, insumos dolarizados usados na produção interna, como fertilizantes, também encarecem os produtos nacionais. 

Outra questão importante é a dívida pública brasileira, que tem uma parte denominada em dólares. Quando o real se desvaloriza em relação ao dólar, o custo dessa dívida aumenta, pressionando as contas públicas. A flutuação do dólar pode ser exacerbada por fatores externos, como políticas monetárias em economias desenvolvidas e choques no mercado de commodities, resultando em um aumento das obrigações do governo brasileiro. 

Esses fatores tornam a gestão fiscal mais desafiadora, pois a desvalorização da moeda local não só eleva a dívida externa em termos reais, mas também pode criar uma espiral de desconfiança nos mercados financeiros, dificultando o controle das finanças públicas.

Por que o dólar sobe e desce?

O valor do dólar é determinado pelo mercado de câmbio, onde sua cotação reflete a relação entre oferta e demanda. Diversos fatores influenciam essas oscilações:

  1. Política monetária dos EUA: quando o Federal Reserve (Fed) aumenta os juros, o dólar se valoriza, pois atrai mais investidores em busca de rendimentos maiores;
  2. Cenário econômico global: em períodos de crise, como pandemias ou guerras, o dólar é considerado um porto seguro, aumentando sua demanda;
  3. Economia brasileira: instabilidades políticas e econômicas no Brasil reduzem a confiança dos investidores no real, levando à valorização do dólar;
  4. Fluxo de comércio: um país que importa mais do que exporta demanda mais dólares, o que pode elevar seu valor.

O valor do dólar pode subir ou descer devido à volatilidade cambial, sendo a flutuação do preço da moeda ao longo do tempo. Esse fenômeno é influenciado por diversos fatores, como mudanças nas expectativas dos investidores, notícias políticas e econômicas, e o comportamento do mercado financeiro.

Veja mais: Alta do dólar: quais as causas e consequências?

Quando há incertezas econômicas, como uma crise política ou uma possível recessão, o dólar tende a se valorizar, já que os investidores procuram a moeda como um porto seguro. Além disso, a variação das taxas de juros, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países, também pode afetar o valor do dólar, já que um aumento nas taxas pode atrair mais investimentos para a moeda, elevando seu preço.

Outro fator importante é a dinâmica de oferta e demanda no mercado cambial. A demanda por dólares pode ser impactada por mudanças no comércio exterior, como um aumento nas importações ou uma queda nas exportações. No entanto, fatores externos, como a política monetária de outros países e a instabilidade global, também têm influência direta no câmbio. 

Por exemplo, se a economia global está desacelerando, os investidores podem reduzir suas exposições ao risco, buscando mais dólares para proteger seu capital. Esse tipo de movimentação pode causar uma grande oscilação no preço da moeda. A volatilidade cambial é, portanto, um reflexo da complexa interação entre esses fatores.

Tipos de dólar e suas aplicações

Existem seis tipos principais de dólar usados em diferentes contextos financeiros:

Dólar Comercial:

  • Utilizado em transações entre empresas, como importações e exportações;
  • Base para a cotação da moeda em grandes negociações no mercado financeiro;
  • Taxa de câmbio usada pelo Banco Central nas suas intervenções cambiais.

Dólar Turismo:

  • Destinado ao uso de pessoas físicas em viagens internacionais;
  • Apresenta uma cotação mais alta devido a taxas cobradas por casas de câmbio e impostos;
  • Geralmente, é encontrado em serviços de câmbio para viajantes.

Dólar Paralelo (ou Negro):

  • Refere-se à compra e venda ilegal de dólares fora do mercado oficial;
  • Sua cotação pode ser mais alta, variando conforme a oferta e demanda clandestina;
  • Transações nesse mercado não são regulamentadas.

Dólar Futuro:

  • Negociado em contratos futuros, baseando-se na expectativa da cotação da moeda em determinado momento futuro;
  • Usado por investidores e empresas para proteger-se contra variações cambiais;
  • Normalmente, tem prazos para liquidação que podem ser de meses ou anos.

Dólar Ptax:

  • Média ponderada das taxas de câmbio praticadas por instituições financeiras, calculada diariamente pelo Banco Central;
  • Utilizado como referência para operações de câmbio no mercado oficial;
  • É a taxa usada para calcular o valor de transações como importações e exportações.

Dólar de Contado:

  • Compra e venda de dólares com pagamento à vista, em que a moeda é entregue no momento da transação;
  • Aplica-se a negociações rápidas, sem prazos de pagamento maiores;
  • Utilizado em negociações diretas entre bancos ou empresas.

Leia mais: Dolarização: por que alguns países adotam o dólar?

O dólar no contexto geopolítico

A influência do dólar também reflete o poder político e econômico dos Estados Unidos no cenário global. O dólar, como a principal moeda de reserva global, tem sido considerado um instrumento de poder geopolítico pelos EUA, permitindo ao país influenciar e, em muitos casos, impor sanções a outras nações. 

Essa posição, no entanto, pode enfrentar ameaças. Outras moedas, como o euro e o yuan chinês, buscam ampliar sua influência. A China, por exemplo, vem promovendo acordos comerciais em yuan para reduzir sua dependência do dólar. No entanto, o yuan enfrenta desafios, como as restrições de capital da China e a confiança global no dólar como moeda segura.

Atualmente, a China busca utilizar a guerra da Ucrânia para reforçar a importância de deixar para trás a dependência do dólar. Uma análise do Financial Times revelou que a participação do yuan nas transações globais saltou de menos de 2% em fevereiro de 2022 para 4,5% em fevereiro de 2023, colocando a moeda chinesa mais perto do euro, que tem 6% de participação. 

imagem de yuans, moeda chinesa. Texto: 
Dólar: a moeda que molda a economia mundial.
Imagem: Freepik.

Mas mesmo nesse cenário, o dólar ainda domina com 84,3% do total, apesar de uma leve queda em relação ao ano anterior. O crescimento do yuan está ligado principalmente às sanções ocidentais contra a Rússia, que, ao ser excluída do sistema Swift, intensificou seu comércio com a China e passou a realizar transações em moedas locais. Além disso, outros países, preocupados com o uso do dólar como ferramenta de sanção, também passaram a adotar o yuan em seus negócios internacionais.

BRICS, Trump e o dólar

Nos últimos encontros do bloco BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), foi levantada a questão de reduzir a dependência do dólar nas transações internacionais entre seus países membros. 

A proposta de uma moeda alternativa, possivelmente uma “moeda digital” ou uma moeda comum para o bloco, tem ganhado força como resposta à instabilidade econômica global e ao domínio do dólar nas trocas internacionais. 

O objetivo principal dessa discussão é diminuir a vulnerabilidade econômica dos países BRICS, especialmente em relação às sanções financeiras e políticas externas que podem afetar suas economias, como já aconteceu com a Rússia devido à guerra na Ucrânia.

Os países do BRICS, que possuem economias significativas e diversas, buscam maneiras de evitar que o domínio do dólar prejudique suas economias, por meio de um sistema mais autônomo de troca e reserva. Isso incluiria a criação de sistemas alternativos de pagamento e a utilização de moedas locais nos acordos bilaterais, sem a necessidade de converter tudo para o dólar.

Entenda mais: O que é a moeda do BRICS?

A crescente tensão entre os países ocidentais e a Rússia, devido à guerra na Ucrânia, fez com que os EUA impusessem sanções econômicas à Rússia, o que intensificou a discussão sobre a dependência do dólar. A China se opôs ao domínio do dólar no comércio com outros países do BRICS, enquanto a Índia, com forte dependência do dólar, mostrou cautela quanto à sua substituição nas transações internacionais.

Donald Trump, presidente eleito dos EUA, recentemente fez ameaças contra os países que buscam substituir o dólar, sinalizando uma preocupação com os esforços do BRICS para enfraquecer sua predominância. Ele vê essas iniciativas como uma ameaça ao poder econômico dos EUA, que utiliza o dólar como ferramenta de influência global, e durante seu mandato demonstrou postura agressiva contra qualquer movimento que enfraquecesse a moeda americana.

O futuro do dólar

O dólar continua no centro do sistema monetário internacional, mas sua posição dominante é desafiada pela diversificação das reservas globais e pelo aumento do uso de moedas como o yuan. Apesar disso, o dólar ainda é considerado um ativo seguro, especialmente em crises, graças à estabilidade proporcionada pela política monetária dos EUA e sua ampla aceitação internacional.

Geopolítica e avanços tecnológicos também impactam o futuro do dólar. Países como China e Rússia têm buscado alternativas à moeda americana, enquanto a digitalização das economias acelera a adoção de moedas digitais, como as moedas digitais de bancos centrais (CBDCs), que poderiam modernizar o sistema financeiro global.

Mesmo com esses desafios, o dólar permanece a principal moeda de reserva devido à sua liquidez e à confiança na economia dos EUA, que segue como uma das maiores do mundo. Ele é amplamente utilizado no comércio internacional, no mercado de commodities e no financiamento de dívidas, o que sustenta sua posição.

A introdução de novas tecnologias financeiras, como criptomoedas e CBDCs, pode transformar o papel do dólar, mas as mudanças provavelmente serão lentas e graduais. A transição depende da capacidade dos EUA de manter sua liderança econômica e de adaptar o dólar a novas realidades tecnológicas e geopolíticas.

Embora incertezas sobre o futuro do dólar existam, ele permanece central no sistema financeiro global. Qualquer transformação dependerá de uma combinação de fatores, incluindo avanços tecnológicos, políticas econômicas e a resposta dos EUA aos desafios de um mercado global mais multipolar.

E aí, entendeu qual o papel do dólar na economia mundial? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

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Gonçalves, Júlia. Dólar: a moeda que molda a economia mundial. Politize!, 6 de dezembro, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/dolar/.
Acesso em: 11 de dez, 2024.

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