Os Encontros Feministas da América Latina e do Caribe (EFLAC) são eventos que reúnem movimentos feministas de todo o continente latino-americano com o objetivo de gerar sinergia entre países, cidades, comunidades e organizações diversas.
Os Encontros acontecem a cada dois ou três anos desde 1981. Em 2023, chega à sua 15a edição em El Salvador, de 22 a 25 de novembro.
Conheça mais sobre a história e as características desses encontros a seguir.
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EFLAC: surgimento e crescimento
A primeira edição dos EFLAC aconteceu em Bogotá, Colômbia, em 1981 e reuniu cerca de 250 participantes, segundo registros da organização do evento.
Desde então, os encontros cresceram em número de pessoas e países sede, como Perú, Argentina, Costa Rica, República Dominicana e até o Brasil em duas ocasiões, em 1985 e 2005.
Os EFLAC acontecem em diferentes pontos do continente latino-americano, para evitar a concentração em áreas específicas e assim ampliar a possibilidade de participação das mulheres da região.
Segundo o site oficial do evento, seu principal objetivo é “contribuir com o fortalecimento da democracia na América Latina a partir da incorporação dos direitos humanos das mulheres desde uma perspectiva feminista na agenda dos Estados e sociedades” (tradução livre).
Em 2023, o país escolhido para ser sede foi El Salvador, com o lema “unidas, resistindo e avançando”. Essa é a segunda vez que o evento ocorre em San Salvador, a capital do país salvadorenho.
A edição anterior dos EFLAC aconteceu em 2017, no Uruguai, e mais de 2000 mulheres estiveram presentes. A 15ª edição deveria ter acontecido em 2020, mas devido à pandemia da COVID-19, as organizadoras decidiram reprogramar o encontro presencial.
Na primeira vez que o evento ocorreu em El Salvador, na década de 80, o país estava saindo de uma guerra civil e o movimento feminista nacional ainda era incipiente. A realização do encontro nesse momento foi um grande passo para o feminismo centro-americano, nas palavras da própria organização dessa edição:
“Tomar a decisão de postular como sede do 15º EFLAC 27 anos depois significou a revisão de trajetórias, temas trabalhados e conquistas que o movimento feminista em El Salvador conseguiu. Também significou uma deliberação e diálogos entre gerações muito enriquecedores” (tradução livre).
O que os encontros defendem
Conforme novos coletivos e organizações feministas surgiram em distintos lugares da América Latina e do Caribe, a necessidade de encontrar-se e compartilhar suas realidades entre si foi se tornando cada vez mais presente.
Os EFLAC surgem como espaços para dialogar, debater e colocar em prática experiências, estratégias e ações de forma colaborativa e totalmente enfocadas no contexto latinoamericano.
Em sua comunicação oficial, os EFLAC afirmam que a diversidade de culturas e sociedades na nossa região também está refletida no movimento feminista latino-americano.
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Mais do que um único movimento, falam de feminismos com focos e características distintas: “Os EFLAC têm sido espaços de reflexão teórica e posicionamento político, e também espaços para confrontar as diferenças e discrepâncias do movimento, o que contribuiu para pluralizar os feminismos”, explicam em sua página web.
Algumas das mobilizações que ganharam a região a partir dos EFLAC foram as criações de datas importantes para o feminismo latino-americano, como o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher (25/11) e o Dia da Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe (28/09).
Essas datas foram estabelecidas nos EFLAC de 1981 e 1990, respectivamente.
EFLAC 2023: edição número 15
Qualquer mulher ou grupo organizado pode participar do evento. A entrada da edição 2023 ficou no valor de US$ 100,00 e inclui o acesso ao evento, assim como transporte do aeroporto ao hotel, estadia e alimentação durante os quatro dias. Cada participante precisa arcar com os custos da passagem até o destino do encontro.
Normalmente, as participantes dos EFLAC são mulheres envolvidas com organizações feministas e sociais e que realizam ativismo político feminista em suas localidades, como fomentar o acesso a direitos sexuais e reprodutivos, lutar contra o racismo, entre outros.
Em 2023, a organização do encontro em San Salvador esperava a participação de mais de 1500 mulheres. A Comissão Organizadora responsável por essa edição foi formada por doze comissões de trabalho que se encarregaram de planificar e executar diferentes atividades, desde aspectos logísticos até a criação da agenda do evento.
As organizadoras contaram com o apoio de várias voluntárias e também de companheiras que estiveram na organização de EFLAC anteriores, uma espécie grupo consultivo para tirar dúvidas e pedir apoio.
Uma das integrantes da organização 2023 foi Sara Garcia, parte da Comissão de Gestão e da Comissão de Conteúdos e Metodologias do EFLAC 15. Sara trabalha ativamente na luta contra a despenalização do aborto em El Salvador e essa é sua segunda vez nos EFLAC.
Em entrevista a Politize!, ela contou que o evento em El Salvador começou a ser gestado na edição anterior, no Uruguai, onde ela e outras 50 companheiras salvadorenhas receberam a sugestão de que seu país fosse novamente sede.
Dentre os temas tratados na agenda do evento de 2023, Sara destacou a descriminalização do aborto e a luta contra grupos anti-direitos. Segundo ela, nesse último tempo vários retrocessos causados pela ascensão de governos autoritários na região apontam a importância do evento para lutar pelos direitos das mulheres.
“Então por isso é tão importante para nós realizar esse encontro nessa região, porque além da América Central ser um espaço de retrocessos democráticos e autoritarismo, também é uma região que resiste. E essa resistência centro-americana é o que queremos colocar no centro e é o que nos possibilitou unir-nos e gerar as condições para voltar a encontrar-nos”, afirmou ela.
A agenda de cada evento está composta por diálogos abertos em plenária e grupos de discussões sobre temas diversos. Também há espaço para atividades autoconvocadas, nos quais grupos ou mulheres que quiserem usar o encontro para promover alguma ação podem se inscrever por meio da página oficial do evento.
“Queremos dar a possibilidade de que feministas de toda a região possam inscrever conversas, oficinas, apresentações de livros, exposições artísticas, etc.”, explicou Sara.
Outros aspectos da edição 15, como destacou a ativista, é o foco em ser um espaço inclusivo para pessoas trans, não-binárias, e outras diversidades. Além disso, o comitê organizador trabalhou para que o espaço fosse acessível para pessoas com deficiências e contasse com ferramentas de tradução para que mulheres que falam diferentes idiomas na região pudessem se sentir parte do diálogo.
“Estamos nos esforçando para romper a barreira e que esse encontro seja realmente latino-americano e do Caribe”, explica Sara.
Já conhecia os EFLAC? Ficou com vontade de participar de alguma edição? Deixe sua opinião e dúvidas nos comentários!