O até então presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL), é um dos mais influentes nomes no campo político da direita no país atualmente. Todavia, pouco se fala sobre outros relevantes nomes que também fizeram história na nossa política. Bastante polêmico e dividindo opiniões, Enéas Carneiro, fundador do Partido de Reedificação da Ordem Nacional (PRONA), foi uma dessas figuras marcantes.
Mas afinal, quem foi Enéas Carneiro? Como foi sua trajetória política? O que pensava, de fato, o político? O atual governo (2018-2022) possui qualquer similaridade aos ideais ideológicos de Enéas? Por que seu nome volta aos poucos para debates nos dias mais recentes? É isso que pretendemos explicar no nosso texto!
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Quem foi Enéas Carneiro?
Conhecido, especialmente, pelo bordão “Meu nome é Enéas!”, nascido em 1938, na cidade de Rio Branco, no Acre, veio de família humilde e aos 30 anos de idade já acumulava carreiras: era médico, matemático e também físico.
Mas foi apenas em 1988, alguns anos após o fim da Ditadura Militar, com a volta da permissão para criação de partidos políticos no Brasil, que Enéas se voltou para o âmbito político.
É, então, no ano seguinte, que resolve fundar o Partido de Reedificação da Ordem Nacional – ou também chamado PRONA. O posicionamento de Enéas era fundamentalmente patriótico, e, também por isso, sua imagem foi construída nas bases das cores da bandeira brasileira, utilizando-se do verde e do amarelo.
Já nas primeiras eleições diretas no Brasil, Enéas Carneiro se apresentou para à presidência da República, mas com baixa representação e apenas duas apresentações de 15 segundos de propaganda eleitoral por dia, não conseguiu se eleger. Entretanto, o entusiasta político não desistiria facilmente.
Nas eleições seguintes, mesmo não tendo chegado à presidência, concorreu com disputados nomes na política, como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio da Silva (PT) e ficando, inclusive, na frente dos consagrados Leonel Brizola (PDT) e Orestes Quércia (PMDB).
Por fim, em 2002, conseguiu se eleger Deputado Federal pelo estado de São Paulo com cerca de 1 milhão e meio de votos. Nunca antes havia tido um número de votação tão expressivo como aquele. O recorde foi batido apenas nas últimas eleições, em 2018, por Eduardo Bolsonaro (PL), antes filiado ao PSL.
Assim, devido às regras de funcionamento do sistema proporcional, o agora eleito Deputado Federal consegue eleger mais cinco deputados do seu partido, mesmo sem votações significativas.
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Esquerda ou direita?
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Enéas Carneiro se via como uma “terceira via” para o cenário político-eleitoral de sua época, portanto, declarava não ser de esquerda e nem de direita. O candidato se autodenominava, de maneira direta, nacionalista. Sua posição era tão clara que, em uma de suas aparições, chegou a declarar que:
“[…] PSDB e PT e qualquer “P”, sempre estiveram juntos. É falsa a briga entre eles. Agora, se o senhor não aguenta mais ver “menor” abandonado na rua, tóxico, crime, tudo que não presta aumentando e o senhor quer expulsar pra sempre esses patifes do poder, só existe uma opção: 56. O senhor nunca me viu junto de nenhum deles. E comigo, o senhor vai ficar livre de todos eles. […] A decisão é sua. Meu nome é Enéas, 56.” (Enéas Carneiro).
Assim, Enéas se torna um conservador, passando a se colocar contra o liberalismo e suas práticas privatistas, pois, para este, as privatizações operariam em favor apenas dos milionários estrangeiros. Contudo, apesar de defensor de um Estado forte e intervencionista, também se posicionava contra o comunismo.
Quanto às questões de cunho mais social, estabelecia argumentos contra o aborto, a legalização de drogas e a adoção de crianças por parte de casais homossexuais. Já quanto uma de suas maiores polêmicas, o ex-Deputado Federal chegou a defender a construção de uma bomba nuclear no Brasil.
Entretanto, é de importante ressalva que, independentemente de ser contra a divisão nos termos do espectro “esquerda-direita”, Enéas recebia apoio de grande parte dos integrantes da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização política inspirada no fascismo italiano e localizada no campo da extrema-direita.
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O que foi o movimento Integralista?
O integralismo foi o movimento nacionalista de maior expressão já existente na história do Brasil e era liderado por Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale. Os valores se baseiam na tríplice: “Deus, Pátria e Família”.
Contando ainda com tendência militaristas, o movimento foi inspirado no fascismo italiano de Benito Mussolini e adaptado ao contexto brasileiro da primeira metade do século XX devido, principalmente, às nossas diferenças étnicas com a Europa. Os adeptos ao movimento se posicionavam contra o imperialismo, comunistas, liberais e capitalistas, pois acreditavam que seriam todos diferentes faces de uma mesma moeda.
Por meio de seus ideais, buscavam extinguir com a democracia de partidos, com o sistema de representação e conflitos inerentes da democracia, defendendo um Estado forte de partido único em nome da sociedade civil.
No que diz respeito à trajetória da AIB, foram apoiadores assíduos de Getúlio Vargas no período do Estado Novo e também responsáveis pela escrita do Plano Cohen. Porém, tamanho apoio não foi determinante para as decisões tomadas por Vargas que, tempo mais tarde, enquadrou o grupo como clandestino, reprimindo-os com sua polícia política e levando ao seu fim e à prisão e exílio de Plínio Salgado – fundador do movimento.
Anos mais tarde, é fundado o Partido de Representação Popular (PRP) que tenta ressuscitar alguns dos valores integralistas. Em 1964, apoiam a tomada do poder pelos militares e se situam em favor da Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido político de sustentação política ao Golpe Militar de 1964.
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Legado de Enéas e suas ideias nos dias atuais
Em 2006 foi aprovada a cláusula de barreira pelo Congresso Nacional que ameaçou a existência do PRONA que acabou se fundindo, em parte, com o Partido Liberal (PL) e têm-se a criação do Partido da República (PR), que voltou a ser chamado de PL recentemente, numa tentativa de retornar às origens do partido. O atual presidente Jair Bolsonaro, assim como seus filhos, são filiados ao partido.
A outra parte, seguindo um outro caminho, aproxima-se do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), antiga filiação do atual vice-presidente, General Hamilton Mourão (Republicanos).
Ressalta-se ainda o alto comprometimento de Jair Bolsonaro com as ideias de Enéas Carneiro ao afirmar que o político tenha sido uma de suas grandes influências na política. A afeição com os ideias de Enéas se comprovam quando Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, tentaram, em 2017, indicá-lo a herói da pátria, sendo contestados por opositores.
Líder de grande presença e personalidade, Enéas Carneiro e seus posicionamentos seguem vivos em debates nos mais diversos grupos políticos brasileiros – sejam estes de direita ou de esquerda.
De um lado, grupos de direita contornam interpretações sobre toda a trajetória de Enéas, tentando adaptar para as condições de nossa atual conjuntura. Dessa maneira, costumam elencar o político como uma grande perda para a história brasileira e tentam recuperar esse “tempo que não foi”.
A esquerda, não tão esperançosa em relação a essas apostas, apontam alguns ideais de Enéas – especialmente sua contrariedade à política de Estado mínimo – numa tentativa de mostrar incongruências de pensamento entre os defensores do legado do político e suas principais reivindicações.
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Volta do PRONA?
Em 2019, foi protocolado, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o pedido para reativação do Prona, fundado por Enéas Carneiro. A intenção inicial era de lançar candidatos pela legenda já nas eleições de 2020 para que assim, fosse possível, seguir com o projeto e legado do marcante político.
Acreditava-se que o Brasil estaria pronto para presenciar uma nova fase da direita conservadora no jogo político com a volta dos ideais patrióticos e nacionalistas de Enéas, em nome “da Pátria, da vida e da família”.
E você, acha que Enéas Carneiro tinha boas ideias? Acredita que, se eleito, teria sido um bom presidente? Compartilha sua opinião com a gente!
Referências:
- BBC – O retorno de Enéas, ícone da extrema-direita e ‘herói’ de Bolsonaro
- Biografia – Enéas Carneiro
- Café história – Enéas Carneiro em dois tempos: do “voto cacareco” a um dos heróis da “nova direita”
- Campo Grande News – PR volta a ser PL para retornar às suas origens, anuncia deputado
- Estadão – Filho de Bolsonaro bate recorde de votos na Câmara
- Estadão – Integralistas estão de volta e resgatam camisas verdes
- Exame – Bolsonaros tentam indicar Enéas a herói da pátria, diz jornal
- FGV – Ação Integralista Brasileira (AIB)
- Paulo Fernando – A volta do Prona
- Prona – Grupos no Rio e em SP disputam direito de recriar o Prona, legenda de Enéas
- Prona – Enéas Carneiro
- Prona – O Prona vai voltar
- Vídeo – “PT e PSDB sempre estiveram juntos”
7 comentários em “Enéas Carneiro: o caminho da direita brasileira”
Obrigada pelo texto Ana Beatriz! Contemplou a trajetória política de Enéas de forma clara e objetiva.Parabéns!
olá meu nome é André e sou fã do blog de vocês seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigado
olá meu nome é Rodrigo e sou fã do blog de vocês seu conteúdo vem me ajudando bastante, muito obrigado
Bolsonaro virou o fantoche do sistema que Enéas tanto criticava!
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Parei na tentativa de rotular o grandioso Dr Enéas Carneiro à direita( primeira teoria política), o mesmo também não era da esquerda ( segunda teoria política). O saudoso Dr. Enéas Carneiro era nacionalista ( terceira teoria política) declarado e convicto.
Qualquer espectro ideológico tanto da primeira quanto da segunda teoria política são internacionalistas, logo são todos incompatíveis com o nacionalismo.
economicamente ele tinha muitas coisas em comum com a esquerda. ele defendia um estado forte, intervencionista, empresas estatais, protecionismo ect. o lula tbm defende essa práticas econômicas.
Ele sempre foi, os gados que chegaram a comparar Enéias com Bolsonaro nunca viu uma entrevado Doutor no Roda Viva, enquanto Enéias defendia uma soberania nacional, se livrar dos tentáculos do mercado financeiro internacional e a industrialização do Brasil, Bolsonaro trabalhou a favor de bancos, organismos internacionais, exploração do agronegócio e por fim, até bateu continência a bandeira dos EUA. Não dá pra comparar os dois.