Espiral do silêncio: Do silêncio consentido à censura escancarada

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Espiral do silêncio é uma teoria da ciência política e comunicação de massa proposta em 1977 pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann. A teoria é o ponto de partida para pensar a expressão de opinião.

Sua ideia central é que os indivíduos não emitem o que pensam claramente quando seus pensamentos são conflitantes com a opinião dominante, isso devido ao medo do isolamento, da crítica, ou da zombaria.

Neste modelo de opinião pública, as opiniões emitidas são baseadas entre os pensamentos majoritários e minoritários. Os minoritários tendem sempre a se calar.

Gráfico representativo da teoria Espiral do Silêncio.

Quer entender melhor essa teoria? Continue a leitura!

A espiral do silêncio e seus três níveis

Na espiral do silêncio existem alguns pressupostos teóricos que são divididos em três níveis: individual, sistema midiático e social.

Veja também nosso vídeo sobre limite de liberdade de expressão!

Primeiro nível é o individual

Nesse nível o indivíduo teme perder sua popularidade ou desagradar seus pares, então observa em qual opinião ele pode se encaixar para evitar qualquer perda e, assim, ao falar se tornar mais confiante. Caso ele não concorde com a maioria, ele busca se isolar do debate para não revelar sua opinião.

Segundo nível é o sistema midiático

Isso pode acontecer de três formas: os media (termo que se refere aos meios a que as pessoas recorrem para comunicar e para transmitir ou conservar informação, a exemplo de radio,TV, jornal, cinema, áudio e vídeo), configuram impressões sobre quais opiniões são dominantes; configuram impressões sobre quais opiniões estão em crescimento e quais não estão; e configuram impressões sobre quais opiniões individuais podem ser articuladas em público sem risco de isolamento (Lin e Pfau, 2001).

Nesse nível, a opinião pública pauta os temas importantes, além de formar a opinião majoritária a qual será a mais aceita nas rodas de conversação.

Terceiro nível é a perspectiva social

Esse nível é parecido com o primeiro, com o medo do isolamento, a diferença é que na perspectiva social ele teme o isolamento da sociedade e acaba não apenas se levando pelas opiniões pessoais, mas pelas correntes sociais dominantes.

Falso consenso e o efeito espelho

Outras pesquisas ainda sugerem que o indivíduo apresenta um viés perceptivo, conhecido como projeção ou falso consenso, isto é, a tendência de ver a própria opinião como relativamente comum enquanto opiniões alternativas são vistas como menos comuns. E ainda existe o fenômeno conhecido como “efeito espelho”, no qual as pessoas tendem a ver suas visões pessoais refletidas por outros indivíduos no ambiente externo.

Leia também: Mídias sociais, comunicação pública e cidadania: como e por quê?

Espiral do Silêncio, conflito e democracia

Para a autora, Elisabeth Noelle-Neumann, a espiral do silêncio é um fato. As pessoas preferem seguir as opiniões dominantes, mesmo quando suas opiniões pessoais são diferentes. Isso ocorre por causa do medo do conflito. Mas, em uma democracia, debates e conflitos deveriam ser temidos? Não seria algo contraditório a repressão de opiniões diferentes em uma sociedade que se diz democrática?

As manifestações de opinião e o contraditório sempre fizeram parte da sociedade, em tempos de Reis e Imperadores muitos filósofos se levantavam contra a monarquia para defender regimes que, ao seu ver, seriam mais democráticos.

Um exemplo disso foi Voltaire, defensor ferrenho da liberdade de imprensa e da liberdade de expressão, além da liberdade religiosa e da tolerância. O filósofo foi oposição da coroa e um dos intelectuais que mais inspirou a revolução francesa.

Em alguns momentos da história, com os conflitos e debates, houve evolução. O contraditório sempre esteve presente na sociedade provocando enormes mudanças e segundo voltaire, a liberdade de expressão é essencial para uma democracia plena, ou em suas palavras, um Estado Liberal.

Leia também: A liberdade de informação jornalística e a democracia

Final do silêncio, começo da censura

Nas bases de uma democracia existe a liberdade de expressão, mesmo para as opiniões ofensivas, as quais devem ser rechaçadas de forma jurídica por aquele que se sentir ofendido. A teoria da Espiral do Silêncio nos traz uma das formas mais simples de cercear uma opinião.

Vivemos em tempos de cancelamentos e lixamento moral em redes quando o politicamente incorreto surge, o que ainda assim é uma vertente da liberdade de expressão. Cada pessoa é responsável pelo que fala, da mesma forma que outras pessoas têem o direito de condenar. Houve uma troca de “liberdades”.

Mas o começo da censura acontece quando um cidadão comum enfrenta uma instituição, seja ela o Estado, um parlamentar com foro privilegiado ou a própria justiça. Segundo Rui Barbosa, a justiça pode se tornar uma ditadura, e entre todas que existem, ela seria a pior.

Rui Barbosa dizia: “A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer.”

Isso por que não teria a quem recorrer quando a censura vem da própria justiça, quando é ela que deve julgar ou proteger os direitos do cidadão. A justiça não pode exercer um papel de censor, pois ao fazê-lo instaura um estado de exceção no país.

A justiça não toma iniciativa, deve ser provocada. E é nesse ponto que se entende com clareza a sutil diferença entre o silêncio consentido (Espiral do silêncio) para evitar conflitos e aborrecimentos, e o silêncio da censura pelo medo.

Veja também nosso vídeo sobre democracia!

Diferença entre a espiral do silêncio e a censura

Os dois casos, o silencio da Espiral e o silêncio da censura, trazem um nível diferente em relação a liberdade de expressão no país.

Silêncio consentido

Segundo a teoria, se uma sociedade tem uma maioria com um pensamento igual, aqueles que pensam diferente, sendo minoria, evitará demonstrar sua opinião contrária. Já se outra sociedade tem uma população bem plural, com pensamentos diferentes, a tendência é uma liberdade maior de expressão.

Nesse caso, o nível da liberdade de expressão terá uma variação, entretanto, quando se trata da teoria da Espiral do silêncio, a não expressão da opinião é uma escolha pessoal tomada mediante o medo do isolamento.

Silêncio da censura

Na questão do Estado, uma instituição ou a própria justiça cercear a opinião de um cidadão sem seu devido trâmite legal, a liberdade de expressão certamente não existirá, pois o individuo poderá ser púnido sem mesmo ter o direito a ampla defesa.

Leia também: Censura no Brasil é coisa do passado?

Ensinamentos sobre a Espiral do Silêncio.

Quanto mais uma sociedade dialogar, aceitar pensamentos diferentes, debatê-los e respeitá-los, mais próximo ela fica de um verdadeiro Estado democrático de direito.

Existe uma frase que é atribuída a Voltaire, que na verdade é de sua biografia Evelyn Beatrice Hall, no qual ela sintetiza o pensamento do Autor e que resume bem a essência da liberdade de expressão.

“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.” – Evelyn Beatrice Hall

A liberdade de expressão tende a se findar no momento que atinge o direito alheio, o que deve ser bem analisado e ter os ritos jurídicos seguidos a risca para que uma sociedade não entre no terreno da censura.

E você o que pensa sobre a teoria da espiral do silêncio? Para você onde termina a espiral do silêncio e se inicia a censura? Comente abaixo.

Referências:
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3 comentários em “Espiral do silêncio: Do silêncio consentido à censura escancarada”

  1. Achei a pergunta mal formulada, honestamente. “Onde termina a espiral do silencio e se inicia a censura?”. A espiral do silencio é uma escolha pessoal, de alguem que se intimida em emitir uma opiniao contraria a da “aparente maioria”, por medo de exclusao daquela roda social, ou mesmo familiar. Totalmente diferente é a censura, que é feita por terceiros, que condenam a opiniao de alguem por ser diferente ou oposta a que professam. Uma nao termina e a outra começa, sao bestas diferentes, mesmo assim bestas que precisar ser fortemente combatidas. Pessoalmente acredito que uma minoria muito vocal pode ser confundida com maioria, portanto é um fato a “maioria silenciosa”, que se porta assim por ser enganada pelo barulho de uma minoria vocal.

  2. Júlio Bastos Belchior

    Os pensamentos pré moldados contribuem para a espiral do silêncio, principalmente num mundo cheio de influencers ( sem nada ou com muita titica na cabeça), além de grandes empresas ditando o ritmo da vida através da moda, da música… e até mesmo desencadeando processos de aceleração cultural só pra lucrar. Nessa dança, quem é observador, quem pensa, quem toma decisões, ou seja, aquele que é autêntico acaba ficando de fora. Dessa maneira vejo sim uma relação com a censura, e vou além… ocorre ainda ditadura e aprisionamento. Perceba que o que está disponível em uma loja de roupas, ou na programação de uma rádio/TV se baseia na espiral. Vai falar do jogo do Mengão, que aquilo é sem sentido, pura distração. Ou que o hit do momento é pavoroso. Ou que a dancinha do tik tok é tosca. Assim, seus pensamentos, além de inadequados são censurados quando expostos. Por isso ficam aprisionados, em uma prisão invisível, sem grades, a pior delas.

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Conteúdo escrito por:
Pernambucana residente na Paraíba, Cientista Política e Estudante de Relações Internacionais. Administradora do Perfil Conservadorismo em foco. Apaixonada pela Política.
Lira, Ravele. Espiral do silêncio: Do silêncio consentido à censura escancarada. Politize!, 12 de janeiro, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/espiral-do-silencio/.
Acesso em: 23 de nov, 2024.

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