Em 2023, o BRICS anunciou sua segunda expansão na história. Embora seja um bloco econômico consolidado há anos no cenário geopolítico mundial, esta novidade repercutiu nos quatro cantos do globo.
Neste texto, a Politize! irá te contar um pouco mais sobre os impactos da expansão do BRICS. Quais são os novos países membros? Por que este movimento de expansão aconteceu? Quais seus impactos nas relações entre os membros do BRICS e os demais países? Continue com a gente, pois todas estas questões serão abordadas aqui!
Veja também nosso vídeo sobre a retrospectiva de 2023!
O que é o BRICS?
Diferentemente do que se possa imaginar, o BRICS não é um bloco econômico formal. Segundo a definição do governo brasileiro, o BRICS é uma parceria entre cinco das principais economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (do inglês, South Africa). Daí, inclusive, se origina a sigla que define a aliança: a inicial de cada país é o que a forma.
Sozinhos, os membros que compõem a sigla que nomeia a aliança possuem expressiva relevância econômica e demográfica a nível global. O BRICS, após sua expansão, representa:
- Mais de 45% da população mundial;
- 30% do território do planeta;
- 29% do PIB global;
- Mais de 40% da produção total de petróleo no mundo;
- 25% da participação nas exportações globais.
Ao se considerar que estes números são atingidos por apenas 5 países, percebe-se de imediato sua importância enquanto parceria. Enquanto agenda interna, os principais interesses desta aliança são voltados ao estreitamento de laços comerciais e tecnológicos entre si. Como agenda externa, o BRICS possui coesão para se posicionar a respeito de diversos temas debatidos na agenda geopolítica mundial.
Quais são os novos membros do BRICS?
Na 15ª Cúpula dos BRICS, ocorrida na África do Sul em agosto de 2023, foi anunciada a inclusão de seis novos membros à parceria. Os países que agora também fazem parte do BRICS são: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã. Esta foi a segunda vez que uma expansão ocorreu. A primeira aconteceu em 2011, com o ingresso do país sul-africano.
Com isso, o BRICS passou a ser composto por 11 membros, distribuídos da seguinte forma:
O motivo pelo qual cada país foi escolhido pode não ser claro à princípio. Afinal de contas, as seis nações a ingressar no grupo possuem diferenças relevantes em diversos aspectos. Os impactos dessa expansão e o motivo pelo qual ela ocorreu, entretanto, caminham juntos. Em um primeiro momento, entenderemos juntos o contexto no qual cada país foi aceito como novo membro.
Arábia Saudita
A chegada da Arábia Saudita representa um impacto óbvio para as ambições do BRICS enquanto mecanismo atuante nas discussões globais. O país asiático é o segundo maior produtor de petróleo do mundo e detém o maior PIB do Oriente Médio. Além disso, possui a maior extensão territorial (2,149,690 km²) e a quinta maior população da região.
Os números acima evidenciam o peso positivo que a chegada da Arábia Saudita pode trazer ao BRICS. Fortalece, por exemplo, as pretensões do grupo de se posicionar cada vez mais como um ator relevante globalmente. Ao mesmo tempo, essa ampliação reforça o posicionamento recente do próprio país árabe de expandir suas relações externas.
Embora ainda seja um aliado próximo dos Estados Unidos, a nação árabe vem se aproximando da China e de outros países da região, como Israel, Irã e Síria. O ingresso da Arábia Saudita também pode ser visto como um movimento favorável à China na recente disputa por influência com os Estados Unidos.
Argentina
Embora viva uma grave crise econômica há anos, a Argentina ainda se sustenta como uma das maiores economias da América Latina. O país sul-americano possui o 3º maior PIB da região, atrás apenas de Brasil e México. Ainda assim, problemas como a desvalorização de sua moeda nacional e o aumento da inflação são recorrentes no país.
Uma consequência da instabilidade econômica enfrentada pelos argentinos foi a necessidade de recorrer a empréstimos bancários. Acordos com o FMI (Fundo Monetário Internacional) foram necessários para auxiliar a economia local em diferentes momentos. Os empréstimos têm como contraponto o compromisso a políticas públicas de austeridade definidas pelo fundo.
Neste cenário de fragilidade econômica, a chegada da Argentina ao BRICS traz consigo impactos em diferentes frentes. Primeiramente, representa uma vitória da política externa brasileira, fortalecendo laços com um importante vizinho. O ingresso da Argentina também reforça a posição do Brasil dentro do próprio BRICS, que apoiou sua entrada abertamente. O próprio presidente Lula também manifestou apoio a este movimento em outra ocasião.
Além disso, possibilita à Argentina, também, o acesso a novas linhas de créditos, com enfoque principalmente no Novo Banco de Desenvolvimento. Conhecido como Banco do BRICS e presidido por Dilma Rouseff, ele surge como alternativa ao FMI e ao Banco Mundial.
Egito
Assim como a Arábia Saudita, o Egito também é um dos principais países do Oriente Médio. O país possui a maior população do seu entorno regional, com mais de 100 milhões de habitantes, e o quarto maior PIB da região. Vale lembrar que, apesar de ser um país majoritariamente situado na África, a fronteira oriunda da região da península do Sinai também faz com que os egípcios sejam importantes atores nas relações geopolíticas do Oriente Médio. Desta forma, o Egito se une ao BRICS tanto como um ator relevante no contexto de representatividade africana, quanto na representatividade do Oriente Médio no grupo.
Diferentemente do país saudita e similarmente à Argentina, o Egito enfrenta uma crise econômica grave. Com uma inflação acima de 30% no mês de agosto e uma constante desvalorização de sua moeda local, o país do norte da África precisou recorrer ao FMI no fim de 2022. Vale lembrar que, ainda em 2021, o Egito foi aceito como membro do Banco do Brics.
A chegada oficial ao BRICS, todavia, pode viabilizar uma recuperação econômica egípcia ou, ao menos, oferecer novas alternativas para tal. Por fim, a importância geopolítica do Egito também fortalece a posição do BRICS enquanto grupo, promovendo o aumento da representatividade africana e árabe no bloco.
Emirados Árabes Unidos
Os Emirados Árabes Unidos surgem como o terceiro país árabe a ingressar no bloco. Este, tem a quarta maior economia da região, logo, a expansão do Brics em direção ao país permitirá uma expansão comercial por parte deste. A promessa de injeção de capital no Banco dos Brics pelo seu Ministro da Fazenda é uma sinalização nesta direção.
Etiópia
A expansão do Brics na direção da Etiópia possui alguns pontos em comum com os demais novos membros. Assim como ocorre com a chegada do Egito, a presença da Etiópia aumenta a representatividade do continente africano no bloco. O governo etíope enfrenta um cenário econômico fragilizado, ainda que o país seja um dos que mais cresce na África.
O conflito na região do Tigré, as consequências da pandemia de COVID e com constantes secas são os principais desafios. A chegada ao BRICS pode surgir como solução de médio prazo aos problemas econômicos. Uma maior proximidade com a China e com o próprio Brasil, pode auxiliar a nação etíope em seus desafios.
Vale lembrar que Egito e Etiópia não possuem a melhor das relações. Inclusive, apresentam fortes discordâncias em determinados assuntos, como as disputas sobre o uso das águas do rio Nilo.
Irã
Enfrentando sanções internacionais, principalmente dos Estados Unidos, o Irã foi o sexto país a contemplar a expansão do BRICS. Com relações comerciais limitadas com diversos países, o país persa se aproximou comercialmente de China e Rússia.
Seu ingresso no BRICS pode oferecer alternativas às sanções comerciais vigentes. Pode até mesmo viabilizar uma melhora nas relações exteriores entre Irã e outros países. Vale lembrar que Irã e Arábia Saudita restabeleceram relações diplomáticas após anos de divergência.
Ainda que isso tenha ocorrido, todavia, a chegada do Irã também “equilibra” o ingresso da Arábia Saudita. Desta forma, o BRICS consegue se manter como um bloco que consegue dialogar com diferentes frentes diplomáticas.
Quais as repercussões da expansão do BRICS?
Para os membros originais
Dentre os países que compunham a aliança original, a China é certamente o mais beneficiado. É possível dizer que ao menos o ingresso de Arábia Saudita e Irã eram de grande interesse para os chineses.
Ao se levar em conta a proximidade que a China vem estabelecendo com ambos os países, sua entrada no BRICS amplia ainda mais os possíveis horizontes desta parceria e fortalece a posição chinesa como importante ator global, econômica, política e comercialmente.
Embora as parcerias supracitadas sejam importantes, naturalmente, a chegada dos demais países também abre portas à China para aumentar sua zona de influência. Consolidam-se, por exemplo, dois movimentos chineses que ocorrem já há alguns anos: o aumento dos investimentos nos continentes africano e sul-americano.
Brasil e Índia, por outro lado, são os países que menos colhem frutos dessa expansão. Em ambos os casos, perde-se o privilégio de ter no BRICS um canal de comunicação exclusivo com a China. Além disso, a influência que os dois países antes possuíam corre o risco de ser diluída entre os novos membros. Ainda que Brasil e Argentina tenham relações próximas, e Índia e Emirados Árabes Unidos também, dificilmente terão o mesmo potencial chinês de influência.
Para a Índia, em especial, também é importante mencionar a crescente disputa com a própria China no continente asiático, seja por influência econômica, seja por questões territoriais. Com o fortalecimento chinês através da expansão do BRICS, a Índia vê esta queda de braço pender em direção aos chineses.
Para o exterior
Para aqueles que veem de fora, sejam países não membros ou analistas e estudiosos, há diferentes pontos a observar. Fica claro o crescimento da influência chinesa e os benefícios potenciais para a China a nível diplomático e comercial.
Além disso, a aparente falta de critério para escolha de novos membros e os diversos governos autoritários que ingressaram no bloco compõem as principais críticas a este movimento.
A possibilidade de novos países ingressarem em futuras rodadas de expansão também foi mencionada em diferentes frentes. Afinal de contas, mais de vinte países já manifestaram tal interesse. Embora isso possa acontecer, não houveram garantias ou promessas de novos anúncios pelos atuais membros.
A expansão do BRICS também representa um novo movimento a nível global de questionamento à influência dos países desenvolvidos sobre as discussões geopolíticas. Isso não significa, entretanto, que países como Alemanha, França, Estados Unidos ou Reino Unido deixarão de ter relevância nestes temas.
No entanto, agora mais do que nunca, os países emergentes, cuja maioria é composta por nações do hemisfério sul, têm a oportunidade de ter uma voz mais forte em quaisquer assuntos que sejam debatidos a nível global.
E pra você, quais são os pontos positivos e negativos da expansão do BRICS? Conte para a gente nos comentários!
Referências:
- BBC News Brasil – China e Índia: o que há por trás da escalada de tensão que deixou 20 soldados mortos em choque na fronteira
- Bloomberg Línea – Emirados Árabes Unidos vão injetar capital em banco dos Brics, diz ministro
- Brasil de Fato – A expansão do Brics não é uma vitória exclusiva da China
- Brasil de Fato – Argentina entra para a Nova Rota da Seda e espera US$ 23,7 bilhões em investimentos chineses
- Brasil de Fato – Brics pode ser caminho para novos membros Egito e Etiópia saírem de crises
- CNN Brasil – Análise: expansão dos Brics fortalece posição da China dentro e fora do bloco
- CNN Brasil – Após anos com relações cortadas, Arábia Saudita e Irã concordam em reabrir embaixadas
- CNN Brasil – Brasil tenta emplacar Argentina como membro do Banco dos Brics
- CNN Brasil – Inflação anual na Argentina chega a 124% após subir 12,4% em agosto
- CNN Brasil – Mais de 20 países querem integrar os Brics, mas aprovação ainda é dúvida, dizem especialistas
- G1 – Dilma Rousseff toma posse como presidente do banco dos Brics
- G1 – Expansão do Brics é ‘sem critérios’ e pode prejudicar Brasil, diz criador do termo
- G1 – O que muda com a entrada de novos países no Brics, segundo especialistas
- Gov.br – História do BRICS
- Infomoney – Peso argentino deverá ter desvalorização de 70% até 2024, diz BofA
- International Monetary Fund – IMF Executive Board Completes the Combined Fifth and Sixth Reviews of the Extended Arrangement Under the Extended Fund Facility for Argentina
- International Monetary Fund – IMF Executive Board Approves 46-month US$3 billion Extended Arrangement for Egypt
- Monitor Mercantil – Egito é mais novo membro do Banco dos Brics
- O Globo – Lula defende entrada da Argentina nos Brics, mas não cita outros postulantes
- Poder 360 – China investiu US$ 34 bilhões na África na última década
- Politize! – BRICS: o que você precisa saber sobre esse mecanismo de cooperação
- Politize! – Novo Banco de Desenvolvimento: o banco do BRICS
- Relações Exteriores – A “Batalha do Nilo” entre Egito e Etiópia
- Statista – BRICS Expands Footprint in the Global South
- Statista – Gross domestic product (GDP) in Latin America and the Caribbean in 2022, by country
- Statista – MENA region: Gross domestic product (GDP) in 2022, by country
- Statista – MENA region: Total population 2022, by country
- UOL – Arábia Saudita expande atuação no xadrez internacional e mira Israel
- UOL – Etiópia vive profunda crise após dois anos de guerra
- Visual Capitalist – Visualizing the BRICS Expansion in 4 Charts
- Wikipedia – 15ª Cúpula do BRICS
- Wikipedia – BRICS
- Wikipedia – Admissão da África do Sul
- World Data – Saudi Arabia
- Worldometer – Saudi Arabia Population
- Wolrdometer – Oil Production by Country