Este texto foi atualizado em 08 de julho de 2024.
A criação da União Europeia, em 1993, estava baseada nos princípios de cooperação, não discriminação, solidariedade e democracia. Esses valores estão sendo questionados por alguns movimentos e partidos de extrema direita na Europa, que, motivados por insatisfações da população, retomam discursos nacionalistas, de controle das fronteiras e de protecionismo econômico.
Neste texto, a Politize! vai te explicar as origens desse fenômeno e o que defendem esses grupos.
O que é a extrema direita?
A extrema direita está relacionada a posicionamentos mais radicais nesse espectro político, principalmente ligados ao nacionalismo e valores conservadores.
Nos países onde a extrema direita costuma se desenvolver, o aspecto religioso cristão por vezes se relaciona com essa corrente, pela defesa de valores morais pautados na religião.
Alguns movimentos de extrema direita costumam defender valores de superioridade cultural e racial, e apoiam políticas anti-imigração. Um exemplo de movimentações dessa corrente política é o fenômeno do nazismo e fascismo, correntes que se espalharam na Europa no início do século XX e são marcados por essa característica anti-imigração e nacionalista.
Para saber mais: o que é extrema direita?
A ascensão da extrema direita na Europa
Em 2017 aconteceram eleições presidenciais para países chave da União Europeia, como a França, a Alemanha e a Holanda. Nesses três países, os partidos de extrema direita foram derrotados, mas tiveram nítido crescimento em relação aos anos anteriores. Marine Le Pen, a candidata à presidência da França que ficou em segundo lugar, faz parte de um movimento anti-União Europeia. Na Alemanha, o partido Alternativa para Alemanha tornou-se a terceira maior força política no parlamento alemão. E, na Holanda, o Partido para a Liberdade ficou em segundo lugar no pleito.
Além dos países chave, em outros países da União Europeia também observam-se fenômenos semelhantes. Polônia e Hungria, por exemplo, são países cujos governos são considerados de ultradireita; e na Grécia, o partido Aurora Dourada é avaliado por especialistas como neonazista.
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Quais as causas da ascensão da extrema direita na Europa?
As duas principais causas para o crescimento desse fenômeno na Europa são: a crise econômica enfrentada pelo continente e o aumento da imigração devido à crise humanitária que leva refugiados principalmente de origem síria a se deslocarem para países europeus. Vamos entender cada uma delas?
Recessão econômica e queda no padrão de vida
A Europa, que há décadas apresentava uma situação econômica e padrões de vida bastante satisfatórios, passou a enfrentar dificuldades, principalmente após a crise de 2008.
Os países europeus começaram a apresentar maiores índices de desemprego e dificuldades econômicas, que levaram a adoção de medidas de austeridade fiscal – controle de gastos – por parte dos governos. Com isso, os padrões de vida dos europeus sofreram certo declínio, o que levou à insatisfação da população.
Aumento da imigração (crise migratória)
Em paralelo às dificuldades financeiras, esses países passaram a receber muitos estrangeiros devido à crise migratória – a maior desde a Segunda Guerra Mundial – enfrentada, principalmente, pelos países da África e do Oriente Médio.
Esses imigrantes buscam abrigo no continente europeu devido a guerras, perseguição política ou dificuldades econômicas enfrentadas em seus países. Porém, eles são vistos como ameaças por parte da população europeia – que acredita que eles podem ocupar seus postos de trabalho ou sobrecarregar os serviços públicos, por exemplo. Dessa forma, passam a defender um maior controle das fronteiras. Essa situação faz crescer o sentimento de xenofobia e racismo em relação aos diferentes povos.
Esse contexto fez crescer a insatisfação dos europeus e fortaleceu a ideia do nacionalismo, que é uma ideologia relacionada à ideia de pátria, preservação das nações e defesa dos territórios e das fronteiras.
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Redes sociais: como elas contribuem?
Outro elemento que contribui para o crescimento da extrema direita, segundo o pesquisador Carlos Gustavo Poggio, são as redes sociais, pois através delas é possível disseminar informações que seriam bloqueadas pelos veículos de comunicação tradicionais.
Conteúdos explicitamente discriminatórios ou violentos geralmente seriam evitados pelos veículos de comunicação mais consolidados, porém, nas redes sociais, esses conteúdos circulam com mais facilidade.
Entenda: notícias falsas e pós verdade
O que defende a extrema direita na Europa?
Os movimentos de extrema direita na Europa defendem o acirramento das fronteiras e a imposição de barreiras à imigração; o protecionismo na economia (são contra as tendências de globalização e a integração econômica dos países) e desejam fortalecer a identidade nacional. Os movimentos de extrema direita defendem a saída ou o fim da União Europeia – também chamados de eurocéticos.
O projeto da União Europeia tinha como ideal a cooperação e ajuda mútua entre os países, mas, em contrapartida, deve-se obedecer a certas regras comuns. Quando há uma sensação de que determinadas regras podem prejudicar seu país, o sentimento de cooperação é substituído pela ideia de nacionalismo.
Exemplos do fenômeno nacionalista na Europa
Para você entender melhor essa situação, a Politize! selecionou alguns exemplos de movimentos nacionalistas na Europa.
Extrema direita na Alemanha
Em 2024, o partido de extrema direita, Alternativa para Alemanha (AfD), alcançou 11 cadeiras para o parlamento alemão com o resultado das eleições, o que demonstrou um aumento significativo desse espectro político na Alemanha.
Um dos membros do partido, Maximilian Krah, chegou a afirmar em entrevista a CNN que nem todos os membros de um grupo paramilitar nazista durante a Segunda Guerra Mundial eram criminosos, o que gerou uma atenção a aproximação dos membros partido com ideais nazistas. A coalizão de partidos de extrema direita chegou a expulsar a AfD do grupo, enquanto o partido suspendeu Krah como membro e se retratou das alegações do mesmo.
A ascensão desse partido ao Parlamento e a mais locais da política alemã, atentam ao aumento do extremismo e às ideias de supremacia branca crescentes no país. Isso gerou diversos protestos da população, que pedem a cassação do partido.
Extrema direita na França
Assim como na Alemanha, houve uma ascensão desse extremismo na França em 2024, apontando a disputa entre o partido Frente Nacional (FN), de extrema direita, que estava com um bom número nas pesquisas de intenção de voto, contra os partidos de centro e esquerda do país.
O FN foi fundado em 1972, e desde então busca aumentar sua influência na política do país, chegando a emplacar um candidato no segundo turno das eleições presidenciais, o fundador do partido, Jean-Marie Le Pen. Este foi expulso da sigla anos mais tarde, após ter feito um discurso abertamente antissemita, e sua filha assumiu a liderança do partido Marine Le Pen.
O partido cresceu nas intenções de voto em 2024 graças às redes sociais do candidato a ser primeiro-ministro, Jordan Bardella, que possui 1,8 milhão de seguidores em seu TikTok. Ele foi um candidato jovem, com 28 anos, e enfatizava seu discurso anti-imigração e de negação da existência do aquecimento global.
Após um acirrado processo eleitoral que apontava a vitória do candidato de extrema direita no segundo turno, as eleições francesas de 2024 terminaram positivas à coligação de esquerda do país, chamada de Nova Frente Popular, no qual os partidos que formaram essa coligação retiraram mais de 200 candidatos da disputa para fortalecer as candidaturas de esquerda do país.
Partidos de extrema direita
Há vários exemplos de partidos de extrema direita na Europa, como é o caso mencionado da Alternativa para a Alemanha (AfD), a Frente Nacional na França (FN), além de outros partidos como o Partido da Liberdade da Áustria (FPO) e o Aurora Dourada na Grécia. Nas eleições de 2024, esse espectro político avançou na conquista de votos em diversos países europeus.
Esses partidos e movimentos têm em comum o ideal nacionalista, o desejo de saída da União Europeia e o controle rígido das fronteiras contra a entrada de imigrantes. O entendimento do estrangeiro como uma ameaça está relacionado à crença de que os interesses de uma pessoa que nasceu no país devem ser priorizados em relação aos estrangeiros.
Brexit
O Brexit significa “Britain” (Bretanha) e “Exit” (saída) e refere-se ao processo de saída do Reino Unido da União Europeia, conforme decidido em referendo pela população em 2016. Os principais motivos para essa decisão foram por razões econômicas e de controle das fronteiras.
Em relação à economia, o argumento é de que países mais ricos, como é o caso do Reino Unido, sustentam os mais pobres, como Grécia e Espanha, e que essa situação é injusta. E sobre a imigração, argumenta-se que o país não tem o controle efetivo das fronteiras, e isso contribui para a entrada de um grande número de imigrantes.
Leia mais: Brexit: o que acontece agora?
Quais as consequências da extrema direita na Europa?
Como já explicamos, a insatisfação da população da Europa com a crise fez crescer pensamentos nacionalistas, isto é, a crença de que se deve proteger a economia e também a cultura do país de interferências estrangeiras.
Nesse sentido, podemos entender a proteção tanto em relação aos imigrantes e refugiados, quanto às interferências que os países acabam sofrendo por fazerem parte do bloco econômico. Portanto, para a União Europeia, a ascensão da extrema direita na Europa apresenta como principal risco, um enfraquecimento do bloco econômico.
A outra ameaça desse movimento está relacionada à fragilização das instituições democráticas, aos Direitos Humanos e ao crescimento de sentimentos xenófobos, racistas e de intolerância religiosa, muitas vezes vinculados à extrema direita.
Segundo o historiador Moshe Zimmermann, por exemplo, o partido Alternativa para a Alemanha pode ser considerado um potencial nazista no parlamento alemão. Para Zimmerman, da mesma forma como se reagiu à crise em 1930 no país, esse partido estimula o medo e o preconceito, além disso utiliza ideias simples para oferecer soluções aos problemas enfrentados pelo país.
Resumindo…
Neste texto, falamos sobre o crescimento da extrema direita na Europa, suas origens e as consequências desses movimentos.
No caso da Europa, a crise econômica e a chegada de imigrantes ao continente são as principais motivações para o fortalecimento de comportamentos extremistas. Em momentos de crise há uma tendência maior para o surgimento desse fenômeno, que propõe soluções simples para os problemas que são complexos, geralmente considerando algum grupo da sociedade como culpado ou como uma ameaça.
E aí, conseguiu entender como atua a extrema direita na Europa? O que achou desse conteúdo? Deixe seu comentário!
Referências:
- Crescimento da extrema direita na Europa: entenda esse fenômeno
- O Globo – Videográfico: A ascensão da extrema-direita na Europa
- Nexo – Por que a extrema direita cresce no mundo
- A ascensão da extrema direita na Europa: consequências para a União Europeia
- Guia do Estudante – Entenda o que é Brexit
- Nexo – Qual a agenda da extrema direita alemã?
- Mundorama. “Eleições 2017 na Europa: cenários e reflexos para a União Europeia, por Vinícius Pereira”. Mundorama – Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais. Disponível em: <https://www.mundorama.net/?p=23334>.
- G1 – Sucesso da AfD é comparável à ascensão dos nazistas, diz historiador
- O Globo- Extrema direita cresce na Alemanha com oportunismo digital’, diz professor da Universidade Livre de Berlim
- CNN- Análise: partido AfD da Alemanha foi longe demais mesmo para extrema direita da Europa
- G1- A extrema direita na França tem mais de 50 anos; por que só agora ela está perto do poder?