O cenário global de saúde precisou lidar com a pandemia do Covid-19 nos últimos anos. Desde então, a vacinação em massa fez com que o número de casos e de mortes diminuísse e a doença, então, a OMS pode declarar o fim da emergência de saúde pública.
Entretanto, doenças que antes não pareciam tão ameaçadoras, passam a ganhar destaque entre especialistas em saúde, como é o caso da febre maculosa.
A febre maculosa pode variar entre casos leves e casos mais graves, podendo levar a mortes. Mas será que podemos especular que uma nova pandemia poderá surgir? Para que você entenda quais riscos a febre maculosa oferece no mundo pós Covid-19, a Politize! preparou este texto.
Veja também nosso vídeo sobre o surgimento de próximas pandemias!
O que é febre maculosa?
A febre maculosa, de acordo com o Ministério da Saúde, é uma doença infecciosa, febril aguda, cuja gravidade é variável, podendo apresentar casos clínicos leves ou graves, com elevada taxa de letalidade. A bactéria do gênero Rickettsia é quem causa a febre maculosa e sua transmissão ocorre através da picada de um carrapato.
No Brasil, existem duas espécies associadas a quadros clínicos da doença:
- Rickettsia rickettsii: responsável pelo quadro de Febre Maculosa Brasileira (FMB), considerada a doença grave. Já foi registrada no norte do estado do Paraná e nos estados do Sudeste;
- Rickettsia parkeri: esta espécie produz quadros clínicos menos graves e foi registrada em ambientes de Mata Atlântica, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Ceará.
Além disso, no território brasileiro, os principais vetores são os carrapatos do gênero Amblyomma, sobretudo as espécies A. cajennense e A. aureolatum, também conhecido como carrapato estrela.
Apesar disso, qualquer espécie de carrapato pode carregar consigo a bactéria causadora da febre maculosa, inclusive o carrapato de cachorro.
Ainda de acordo com o Ministério da Saúde, a febre maculosa não é contagiosa, ou seja, não pode ser transmitida de uma pessoa para a outra.
Quais são os sintomas?
O diagnóstico e o tratamento imediato da doença são cruciais para o bom gerenciamento da febre maculosa, portanto, saber identificar os sintomas previamente é extremamente importante.
Nesse sentido, os principais sintomas da febre maculosa são:
- Febre alta e súbita;
- Dor de cabeça intensa;
- Náuseas e vômitos;
- Diarreia e dor abdominal;
- Dor muscular constante;
- Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
- Gangrena nos dedos e orelhas.
Além desses sintomas, com a evolução da febre maculosa, é comum que apareçam manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou sola dos pés.
Durante os primeiros dias da manifestação da doença é difícil fazer o diagnóstico, isso porque os sintomas são parecidos com outras doenças, como leptospirose, dengue, hepatite viral, sarampo, dentre outras.
Entretanto, a avaliação dos sintomas, realização de exames junto a perguntas como local de residência e últimos locais em que esteve onde possa ter sido picado por um carrapato (como florestas, fazendas, trilhas ecológicas) podem ajudar a chegar ao diagnóstico.
Febre maculosa sempre existiu?
A primeira vez que a febre maculosa foi identificada ocorreu no final do século XIX nos Estados Unidos. No início do século XX, a bactéria Rickettsia rickettsii foi identificada, pelo patologista Howard Taylor Ricketts, como a causadora da doença e os carrapatos, os principais vetores da transmissão. A partir disso, a febre maculosa é registrada principalmente em áreas arborizadas e rurais.
Já no Brasil, a febre maculosa foi reconhecida pela primeira vez em 1929, em São Paulo. No país, a maioria dos casos concentram-se na região sudeste,dado que coincide com a presença do principal vetor da doença.
Há períodos do ano em que há maior incidência da doença, sendo de junho a outubro. Diversos fatores contribuem para o surgimento e disseminação da doença, como:
- Desequilíbrio ambiental;
- Transmissão zoonótica*;
- Fatores socioeconômicos (vulnerabilidades) e rápida urbanização;
- Mudanças climáticas.
*Transmissão zoonótica são doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas.
Entendendo os fatores que contribuem para o surgimento e disseminação da febre maculosa é importante para desenvolver estratégias de prevenção e controle da doença.
Crescimento no número de casos
Nos últimos anos, notou-se um crescimento no número de casos de febre maculosa no Brasil. Acredita-se que alguns fatores possam ter contribuído para que este aumento ocorresse, como o desmatamento, urbanização desordenada e mudanças climáticas. Esse conjunto de fatores podem ter influenciado na expansão dos habitats dos carrapatos, assim como na exposição humana.
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Além disso, não foram adotadas medidas preventivas para frear o aumento de casos ao longo dos anos.
Entre 2012 e 2022, o Brasil registrou 753 mortes por febre maculosa, sendo 62% só em São Paulo. Os dados do Ministério da Saúde apontam para registros de 2.157 casos confirmados ao longo desses 10 anos. Quanto às outras regiões do país, veja abaixo:
- Centro-Oeste: 31 casos e 1 morte;
- Nordeste: 16 casos e nenhuma morte;
- Norte: 16 casos e nenhuma morte;
- Sudeste: 1.354 casos e 673 mortes;
- Sul: 497 casos e 3 mortes.
Em 2023, até junho, foram confirmados 49 casos e 6 óbitos.
Há risco de uma nova pandemia?
Para dizer se há ou não risco de uma nova pandemia, é preciso entender como surge uma pandemia. Mas o que pode ser afirmado é que o crescimento da febre maculosa não alerta para uma nova pandemia.
A pandemia da Covid-19 não foi a primeira doença que o mundo enfrentou. Gripe aviária, varíola dos macacos, ebola, chikungunya, são algumas doenças que o mundo teve que enfrentar só neste século.
Epidemiologistas não possuem um consenso sobre as causas do aumento de doenças, entretanto, acredita-se que a forma como humanos tem lidado com o meio ambiente, junto aos efeitos das mudanças climáticas têm contribuído para aumentar os riscos de contato entre humanos e agentes causadores e transmissores de doenças, como vírus e bactérias.
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Em entrevista à CNN em 2022, a atual ministra da saúde, Nísia Trindade, afirmou que a maior ocorrência de epidemias pode ser considerada uma marca deste início de século.
“Embora estejamos mais aptos a identificar essas emergências, não há dúvidas de que elas têm acontecido com mais frequência devido a fatores sociais, com destaque para aglomerações urbanas e aumento de desigualdades, além do intenso fluxo de pessoas e de mercadorias, característico de uma economia globalizada”, afirma Nísia.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, alerta para a importância dos países estarem preparados para lidar e enfrentar novas emergências sanitárias.
O contato inédito com microorganismos que podem provocar a infecção no organismo humano, geralmente, é o primeiro alerta para a emergência de uma nova doença.
Há, além disso, um fenômeno conhecido como “transbordamento”, diz respeito a capacidade de adaptação desse microrganismo para ir de um hospedeiro animal a uma pessoa. Para que isso ocorra, é preciso que haja condições favoráveis, o que inclui o comportamento humano.
A forma como esse fenômeno ocorre é estudado por especialistas em todo o mundo, porém é difícil prever como e quando poderá ocorrer, pois a recorrência não pode ser prevista.
Entretanto, como mencionado anteriormente, fatores humanos contribuem para o aumento dos riscos da exposição humana aos agentes causadores de doenças:
- Ocupação humana em áreas e reservas naturais que abrigam espécies silvestres;
- Serviços de higiene precários;
- Alimentação a base de animais silvestres;
- Falta de higienização no preparo de alimentos;
- Ausência de oferta de saneamento básico;
- Consequências causadas pelas mudanças climáticas.
Novas doenças no mundo pós pandemia de Covid-19
De 2020 até a declaração da OMS informando o fim da emergência global, em 2023, a Covid-19 foi uma das maiores preocupações para a saúde global. Porém, com o avanço da vacinação e, consequentemente, a diminuição de casos e mortes pelo vírus, outras doenças estão sendo alvo de preocupações.
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A varíola dos macacos, até maio de 2023, já registrou mais de 200 casos somente em países europeus. Além disso, em abril deste ano, a OMS alertou sobre um novo tipo de hepatite, a aguda, que causa inflamação do fígado. Pouco se sabe sobre as causas desse novo tipo de hepatite.
Novas e velhas doenças têm aparecido como surto, especialistas acreditam que algumas das razões se dão por estarmos mais vulneráveis depois da pandemia global da Covid-19. Além disso, apontam também que vivemos as consequências de desequilíbrios ambientais e crise sócio-econômica.
Após estes anos vivendo em isolamento social, nós estamos mudados, nosso corpo está mais vulnerável, a imunidade já não é mais a mesma. Essa nova realidade do mundo pós-pandemia, junto aos fatores que favorecem o surgimento de doenças, são possíveis razões para que vejamos novas doenças ganhando destaque.
Como evitar o surgimento de novas doenças
A ciência é a protagonista no desenvolvimento de pesquisas e elaboração de soluções para evitar o surgimento de novas doenças, mas especialistas acreditam que ela sozinha não basta. Isso porque é necessário um conjunto de políticas públicas que visem a proteção da saúde e do meio ambiente, além de garantir a justiça social, educação da população e envolver todos os cidadãos no debate.
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Desse modo, a vacinação em massa e medicamentos são eficazes no combate das doenças, mas para evitar que surjam é necessário promover segurança alimentar, controle de mosquitos e roedores, desenvolver programas de controle animal, tratamento de água e esgoto das regiões, por exemplo.
Além disso, a rápida identificação dos microrganismos e dos casos suspeitos auxiliam no controle de novos surtos de doenças novas e já conhecidas.
E aí, conseguiu entender o que é a febre maculosa? Deixe suas dúvidas nos comentários!
Referências
- Ministério da Saúde – Febre Maculosa
- CNN Brasil – Entenda por que a OMS alerta para a emergência de uma nova doença
- UOL – Varíola dos macacos, hepatite: por que estão surgindo novas doenças?
- Secretaria de Saúde de São Paulo – Febre maculosa: vetores
- G1 – Febre maculosa: cachorro pode carregar carrapato? E boi? Como tirar o parasita?
- A febre maculosa no Brasil
- G1 – A bactéria responsável pelo surto de febre maculosa que deixou pelo menos 4 mortos em Campinas não afeta os animais da mesma forma que pessoas, mas muitos deles podem carregar o carrapato-estrela, principal transmissor.